segunda-feira, 12 de abril de 2010

Ainda tem vapor na caldeira da locomotiva? :: Marco Antonio Rocha

DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

A aptidão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva para a política ninguém nega e seus acertos nesse quesito até os adversários invejam. Mas terá ele cometido um grande erro de timing no lance mais importante da sua carreira? Será que investiu demais e prematuramente na promoção da sua candidata? Será que, por causa disso, seu estoque de popularidade injetável já não adicionará mais nada ao potencial de votos que granjeou para ela?

A indagação está em várias cabeças curiosas que tentam descobrir, nos resultados das muitas pesquisas, alguma indicação de quanta massa muscular o electoral trainer de Dilma conseguirá ainda bombear para dentro da esquálida pretendente a líder política dos brasileiros.

Lula tem dito que, tão logo a lei permita, partirá como uma locomotiva para decisivo corpo a corpo de apoio à figura que escolheu para dar continuidade ao seu "projeto nacional". Mas embora explique que, por causa da lei, na fase atual só pode fazer isso "fora do expediente", pois precisa "governar o Brasil" uma vez que "é essa minha obrigação", todo mundo sabe, vê, sente - e muitos deploram - que outra coisa ele não tem feito na verdade, fora ou dentro do expediente, do que batalhar pela ex-ministra.

É de perguntar, portanto, o que mais ele ainda poderá fazer, até a data do pleito, que possa, efetivamente, inflar o balão de Dilma Rousseff mais do que já foi inflado. E a pergunta tem mais cabimento ainda porque, com tudo o que ele fez por ela até agora - e que não tem paralelo na história eleitoral brasileira -, Dilma ainda resfolega atrás do seu principal oponente, cuja campanha está apenas iniciada e que não conta com uma turbina Lula-engineered para impulsioná-la. Na verdade, todo esforço de Serra até agora foi apenas para livrá-lo de bancos de areia movediça providenciados por companheiros desse ninho de ególatras inapaziguáveis chamado PSDB.

Não há por que, nem como, duvidar da fúria com que Lula se empenhará na missão que se impôs de fazer sua companheira presidente do Brasil pelos próximos quatro, quiçá oito anos. Mas aquela velha história de que voto não se transfere, principalmente no caso de eleição majoritária, ainda tem seu peso, que pode ser suficiente para barrar o ímpeto presidencial da senhora Rousseff. Com a ajuda substancial da pouca, ou nenhuma, vis atractiva que ela exerce sobre o público, que, por onde ela passa, só tem olhos para Lula.

Não é só por falta de tutano eleitoral - que seu chefe se esforça por transferir-lhe quando está junto dela - ou pela falta de carisma que, na ausência de Lula, aparece a ponto de constranger até os adeptos.

O problema é outro. Dilma Rousseff é presa de uma lastimável desarticulação oratória e de uma dispersão mental que a derrubam nesses momentos. E não tem nem um pingo da verve do chefe para encobrir a pobreza da mensagem. Os improvisos em que ela se arrisca, sempre atrapalhada, não passam de tagarelice infantil, na forma. E, no conteúdo, dão mais para lembrar os de Cantinflas. Nem são inteligíveis. Deles não se extrai a menor inspiração para se aderir a um projeto nacional de longo prazo, para o qual ela e Lula parecem querer cooptar o entusiasmo popular.

E uma campanha eleitoral ainda é feita, em boa medida, de discursos, sejam quais forem os expedientes de marketing e os avanços da tecnologia de que os candidatos se aproveitem no mundo moderno. A vitória de Obama foi fruto de diversos fatores favoráveis, mas um deles, importante, foi sua oratória, que empalidecia a do adversário. E discurso eleitoral é feito, principalmente, de duas coisas que precisam ser muito bem dosadas: brilho e racionalidade.

Nos debates inevitáveis entra um terceiro fator: presença de espírito para colocar o adversário em xeque e sair-se com a última palavra.

Nesse último quesito, nenhum dos dois oponentes principais do cenário atual é um Carlos Lacerda. Para quem não viveu no tempo dele, basta dizer que foi, entre os políticos brasileiros, um dos mais ágeis na arte de, com uma palavra ou meia frase, deixar o adversário a gaguejar em busca de réplica.

Mas nem Serra nem Dilma têm esse dom. Quanto ao brilho, escasseia nos dois. Resta a racionalidade. Nesse terreno Serra levaria vantagem, não só pelo conhecimento que assimilou de economia, de administração, de política internacional, como pela experiência como governante e consultor de governos aqui e no exterior.

Lula talvez já sinta que precisará estar escorando a pupila o tempo todo para evitar que ela embarque em "dilmásias", que o vice, Alencar, perplexo, pensou ser o nome de nova doença. Mas isso não será possível. E também não restam a Lula muitas mais armas secretas para arrancar novas adesões... O muito que podia fazer já está feito.

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