quarta-feira, 12 de maio de 2010

Aliança em processo de involução:: Rosângela Bittar

DEU NO VALOR ECONÔMICO

Em todo início de governo, principalmente, e ao longo do mandato, nos embates políticos, os partidos aliados, sempre em choque de interesses, atribuem suas dificuldades à ausência de um articulador político, um mago que possa conduzir as negociações entre eles dando vantagens a todos. É um clássico da política esta discussão sobre a falta que faz o coordenador que, no governo Lula, já foi José Dirceu (PT), Aldo Rebelo (PCdoB), Jaques Wagner (PT), Walfrido dos Mares Guia (PSB), José Múcio Monteiro (PTB), Alexandre Padilha (PT). A panaceia representada pelo pobre funcionário, em cujas mãos se depositam todas as esperanças de acerto, atingiu agora a campanha eleitoral.

É por sua ausência, alega-se, que PT e PMDB não se acertam e adiamentos inexplicáveis têm sido registrados na agenda da candidatura de Dilma Rousseff (PT) à Presidência da República. Se pudesse ser definido em uma palavra o estado da arte da aliança eleitoral do PT com o PMDB para as eleições presidenciais de 2010, neste momento exato, esta seria involução. E os analistas da campanha dizem que o andar de caranguejo se deve à falta desse profissional, um político competente para comandar os partidos.

A começar por Minas, e não só de Minas, surgem sinais fortes de mudança de propósitos que deixa inquietos aliados do governo fora do PT. Bem verdade que este projeto nunca esteve bem definido, mas tão pouco nítido, como agora, entrando no recuo, também nunca. O senador Hélio Costa (PMDB-MG), renhido candidato a governador de Minas com o apoio do PT, recolheu-se discretamente logo que terminou a prévia para escolha do candidato petista, oficialmente, a governador, na prática a senador na chapa de Costa. Terminada a prévia, escolhido Fernando Pimentel (PT-MG), o PT queria fazer o anúncio, mas foi o PMDB que pediu adiamento.

Suspeitam aliados de Dilma que por trás desse súbito recolhimento do PMDB esteja Aécio Neves (PSDB). Hélio Costa teria se convencido que, dividido, o PT não faria sua campanha, limitando-se a lutar pela vaga ao Senado sem preocupar-se em dividir o voto com o candidato do PSDB, Antonio Anastasia. Temendo o insucesso logo de início, estaria o senador pemedebista mais propenso agora a voltar ao Senado.

O mesmo sentimento viria determinando as decisões de vários candidatos pemedebistas ou apoiados por governadores do PMDB, segundo análises de aliados que colocam o PT sob o signo da desconfiança. No Rio Grande do Sul, o candidato do PMDB, José Fogaça, está anunciando que seguirá as decisões do núcleo regional de seu partido e este, como assinala a análise da campanha petista, "é José Serra".

"O PMDB de São Paulo é Serra, o de Pernambuco é Serra, Mato Grosso do Sul é Serra, Santa Catarina é Serra", cita o dirigente, não vendo muita saída para os candidatos do PMDB em alguns Estados. "Como o Fogaça vai fazer campanha para Dilma Rousseff com o PT batendo nele? E o Tarso Genro (candidato do PT no Rio Grande do Sul) vai bater em quem se não for no Fogaça"? Realmente, uma realidade sem sustentação politica.

Nem no Amazonas, onde os adversários da aliança PT-PMDB não se desenvolvem politicamente, a situação é tranquilizadora. O governador Eduardo Braga (PMDB) não quer apoiar Alfredo Nascimento (PR), o candidato de Dilma Rousseff, e dirige seus esforços para o candidato Omar Aziz, do PMN, partido cuja direção veta a campanha para a candidata petista à Presidência. No Ceará, o PT está impondo um candidato ao Senado, José Pimentel, que acabará afetando a eleição do pemedebista Eunício Oliveira, reconhecido como dono de muitos votos na Convenção Nacional do PMDB que vai aprovar ou não a aliança com o PT.

Até o presidente do partido, Michel Temer, apoiado por todos como o candidato a vice presidente na chapa do PT, tem feito movimentos surpreendentes. No dia seguinte a um jantar com Dilma Rousseff, quando anunciou à saída ter sido convidado para ser o candidato a vice, não produziu um grande ato, evitou o assunto e adiou a reunião do PMDB que faria uma espécie de lançamento oficial de seu nome de cuja escolha não há mais dúvidas.

O PT está cometendo dois erros, segundo os analistas internos da campanha que figuram entre os aliados. O primeiro, deu prioridade total ao desempenho nacional de sua candidata a presidente, e isto pressupunha concessões nos Estados, o que não ocorreu. O outro erro foi considerar o PMDB um partido nacional, que se contentaria com o lugar de vice na chapa concedido ao presidente do partido.

"O problema do PMDB não está na questão nacional, ser vice não resolve os problemas no Rio Grande do Sul, em Santa Catarina, em São Paulo, em Pernambuco, em Minas Gerais, no Mato Grosso do Sul, no Pará, no Amazonas, no Rio de Janeiro, na Bahia, no Ceará, no Maranhão".

Esta concepção equivocada do PT, segundo a análise de aliados, levou a erro de execução. Tendo o tempo de TV do PMDB, e já decidido que o presidente Lula vai eleger Dilma Rousseff, o PT partiu para se fortalecer como partido num futuro governo Dilma e foi tratar de buscar candidatos para fazer uma grande bancada, senadores e governadores. Os aliados do PMDB consideram, com isto, que o PT está jogando sozinho, e resolveram dar um tempo para ver a poeira baixar.

A pressão do funcionalismo público sobre o governo por aumento de salários e benefícios está para o governo como a pressão das centrais sindicais por mais verbas e benefícios trabalhistas. São recebidos como movimentos descompromissados com os resultados, além de terem efeitos eleitorais próximos de zero. A reação do governo, traduzida na tardia braveza presidencial com os funcionários em greve, a quem o presidente Lula mandou negar reajustes e cortar pontos, é também desprovida de efetividade. Tudo já foi dado a estas comunidades e, por isto, delas o governo sabe que não perde o apoio ou os votos. Para uma pressão retórica, uma reação retórica.

Rosângela Bittar é chefe da Redação, em Brasília. Escreve às quartas-feiras

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