quarta-feira, 30 de junho de 2010

Ainda à espera de um vice

DEU EM O GLOBO

DEM chega ao dia da convenção sem resolver impasse com o PSDB e Serra

Adriana Vasconcelos, Gerson Camarotti e Silvia Amorim
BRASÍLIA e SÃO PAULO - Com sua campanha mergulhada numa crise com o aliado DEM, o candidato do PSDB à Presidência, José Serra, chega hoje, fim do prazo para a realização das convenções partidárias, ainda sem um vice oficial. Após duas longas e tumultuadas reuniões em menos de 24 horas em São Paulo — uma segunda-feira à noite, com a presença de Serra, e outra, ontem, com a participação do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso —, as cúpulas de PSDB e DEM admitiram que persistia o impasse. Mas estavam dispostas a entrar pela madrugada, em novas reuniões, para garantir a aprovação da aliança formal entre os dois partidos, na convenção do DEM. No fim da noite, integrantes das duas siglas apostavam num entendimento.

Até o início da nova rodada de negociações, ontem à noite em Brasília, o PSDB insistia na indicação feita na última sexta-feira — e que acabou deflagrando a crise com o DEM — do senador Álvaro Dias (PSDB-PR) para a vaga de vice. O DEM, por sua vez, continuava a rejeitar essa composição; em parte, por conta dos boatos de que o senador tucano teria se referido ao DEM como um partido de mensaleiros, o que Dias nega. A crise começou quando o PSDB avisou ao PTB que escolhera Dias antes de comunicar ao DEM: presidente do PTB, o deputado cassado Roberto Jefferson anunciou o nome no Twitter, irritando os democratas.

Ontem à tarde, em São Paulo, após mais de três horas de conversa e da convocação de Fernando Henrique, as cúpulas dos dois partidos admitiram o fracasso da nova rodada de negociações.

Ao reafirmar que não aceitavam Dias, os líderes do DEM deixaram claro que não se conformavam com o fato de não terem sido consultados: — Aguardamos, por parte do PSDB, a sugestão, zerado o jogo, de um encaminhamento novo para novos nomes — afirmou o líder do DEM no Senado, José Agripino (RN), ao deixar a reunião, num hotel em São Paulo.

O presidente nacional do DEM, deputado Rodrigo Maia (RJ), disse que a relação com o PSDB virou um “casamento em crise”.

— O casamento está em crise. Mas todas as crises precisam de maturidade para que possam ser superadas — disse Rodrigo, que chegou a usar a campanha da adversária, Dilma Rousseff (PT), como exemplo: — Em todas as alianças feitas nos últimos anos um partido indica o candidato a presidente e o outro, o vice. É assim com a campanha da Dilma e foi assim nas duas campanhas do Fernando Henrique.

Na mesa de negociação com Fernando Henrique e o coordenador da campanha de Serra e presidente nacional do PSDB, senador Sérgio Guerra (PE), Rodrigo reiterou que a união da oposição passa pelo direito de o DEM participar do processo de escolha do vice. Ele negou que o partido tenha indicado algum nome ao PSDB.

— Não quero indicar nomes. Quero a tese vencedora. A tese de que os partidos são maiores que as pessoas.

O PSDB indicou o Serra. Entendemos que o DEM, independentemente de nome, deve indicar o vice, porque isso gera unidade — disse Rodrigo.

Perguntado se o partido aceitaria a indicação do ex-ministro Pimenta da Veiga (do PSDB), como teriam sugerido tucanos, o deputado não demonstrou entusiasmo: — Acho que o Pimenta já não disputa eleições (há tempo). É um grande quadro, mas acredito que o DEM tem grandes quadros também. Nossa vontade é estar junto com o PSDB.

Por isso vamos esgotar todo o diálogo para que o partido possa fazer a convenção e apoiar José Serra.

Pelo Twitter, o deputado José Carlos Aleluia (DEM-BA) anunciou sua candidatura ao Senado, encerrando as especulações de que poderia ser vice na chapa de Serra.

Além de Rodrigo e Agripino, participou da reunião de ontem à tarde, pelo DEM, Jorge Bornhausen, ex-presidente da sigla. Na saída, Fernando Henrique se disse otimista, mas afirmou que ainda não havia certeza de que o DEM estaria com Serra.

— Certeza, a gente nunca pode dizer que sim. Mas estou otimista — disse FH, que ironizou o prazo apertado para buscar um acordo: — Tem tanto tempo daqui até amanhã (hoje). Política não se faz precipitadamente. O importante é que cada um entenda que o que está em jogo não são pessoas, mas um processo histórico e político que tem que ser discutido abertamente com o país.

Mais difícil do que convocar a seleção

Na noite anterior, em reunião que avançou pela madrugada, Serra participou de nova tentativa de convencer os aliados a aceitar o nome de Dias. O encontro foi entre os líderes dos dois partidos no apartamento do prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab (DEM).

Serra expôs os motivos que o levaram a escolher Dias, sem sucesso.

Ontem, em entrevista a Míriam Leitão, na Globonews, Serra procurou minimizar a crise: — Vice, tem muitos. É mais difícil escolher um vice do que fazer a convocação da seleção. Mas tenho certeza que chegaremos a uma boa solução — disse Serra. Ele evitou comentar a declaração dada na véspera por Guerra, para quem a crise com o DEM pode “comprometer a nossa vitória”: — Não ouvi esta declaração e parece que não está muito clara. Aqui você faz um encaminhamento, usa uma metodologia que, na prática, dá outro resultado, com Twitter, isso ou aquilo.

Então houve um problema de desinformação, de aceleração das coisas.

Mas isso é normal na política.

Um pouco antes das 22h de ontem, Rodrigo Maia desembarcou em Brasília, acompanhado de Jorge Bornhausen, para um encontro ampliado, na casa do senador Heráclito Fortes (PI). De madrugada, Rodrigo ainda voltaria a São Paulo para uma conversa definitiva com Serra.

Para reduzir a resistência do DEM, os tucanos cederam à pressão dos democratas em Sergipe e no Pará. Valéria Pires, do DEM, teve sua candidatura ao Senado confirmada na chapa do candidato tucano ao governo do Pará, Simon Jatene. A aliança entre os tucanos e democratas também teria sido confirmada em Sergipe, embora o deputado Albano Franco (PSDB-SE) preferisse apoiar a reeleição do governador petista Marcelo Déda.

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