quarta-feira, 30 de junho de 2010

PSDB confia que capacidade de transferência de Lula já se esgotou

DEU NO VALOR ECONÔMICO

Raymundo Costa, de Brasília

Apesar de uma nova pesquisa confirmar que Dilma Rousseff ultrapassou José Serra em cinco pontos, a campanha do tucano considera que a eleição está tecnicamente empatada entre os candidatos do PT e do PSDB. A conclusão leva em conta os levantamentos internos da campanha e uma crítica aos dias escolhidos para o campo das pesquisas Ibope e Vox Populi, esta última divulgada ontem.

De acordo com o núcleo da campanha do PSDB, já haviam se dissipados os efeitos da propaganda de Serra, no rádio e e televisão, nos dias escolhidos para as entrevistas de campo dos dois institutos. Segundo os tucanos, o inesperado (baixo) desempenho de Serra no mês da propaganda partidária tem outras explicações. Gripado, Serra pouco falou para o Jornal Nacional, enquanto a viagem da ex-ministra Dilma ao exterior esteve sempre presente no horário nobre da TV Globo.

O comitê tucano também considera inadequada a comparação feita com o desempenho de Geraldo Alckmin, em 2006, após o programa e os comerciais partidárias. Alckmin saltou de 22% para 29% das îintenções de votos, mas ele era um candidato ainda desconhecido do país, à época - ou seja, tinha uma larga margem de crescimento.

Tanto no Ibope, da semana passada, quanto no Vox Populi divulgado ontem Dilma abriu cinco pontos em relação a Serra. O resultado deixou inquietos os líderes tucanos e reabriu discussões sobre a estratégia de campanha. Pelo menos por enquanto, é improvável que ocorra alguma mudança pelo menos no eixo da campanha, que é de comparação do currículo entre os candidatos do PSDB e do PT, conforme foi traçado pelo jornalista Luiz González, o comandante do marketing da campanha.

O Valor apurou que, na visão de González, até agora nada diferente ocorreu em relação às eleições passadas. O jornalista avalia que a próxima eleição presidencial será decidida no período da propaganda eleitoral, mais provavelmente a partir do início da segunda quinzena de setembro. "É como a entrega da declaração do Imposto de Renda, as pessoas deixam sempre para a última hora", costuma comparar.

De acordo com a campanha tucana, não há muito segredo no que deve ser feito. A expectativa do PSDB é que Dilma só dispõe de um recurso: dizer que o país nunca esteve tão bem e que para continuar bem é preciso manter o governo atual. Serra, por outro lado, deve dizer que independentemente de o país ir bem, há coisas boas (que devem ser mantidas) e coisas ruins (que precisam ser mudadas). E tentar mostrar que está mais bem preparado para gerenciar esta situação. "O Robinho nessa eleição é o Serra", entusiasmou-se, pouco antes do jogo entre Brasil e Chile, o jornalista González em conversa com um interlocutor.

O discurso de Serra deve variar de acordo com o público. "Uma entrega para cada público", disse González numa conversa recente. A propaganda de Serra pode até subir o tom de acordo com o público e a situação, mas quando isso ocorrer a responsabilidade será de González , que blindou efetivamente a campanha à influência dos palpites que oscilam de acordo com as pesquisas.

Claro que eles não concordam que a eleição já está ganha pela Dilma, têm números que mostram oscilação muito grande uma semana antes da eleição de 2006 e também uma análise compilada pelo professor Fernando Guilhon segundo a qual a capacidade de transferência de Lula está se esgotando.

Passada uma semana, os tucanos chamam a atenção para alguns números enunciados pela pesquisa Ibope. Um deles revela que o eleitorado disposto a votar em quem o presidente mandar pode estar em queda: em março último, 53% dos eleitores ouvidos pelo Ibope diziam que votariam no candidato de Lula; em junho, o percentual caiu para 48%, uma perda de 5% pontos, bem acima da margem de erro da pesquisa. Circulam também entre os tucanos estudos sobre a possibilidade de a capacidade de transferência de votos do presidente ter chegado ao limite (monitoramento, aliás, que também é feito no no PT).

O PSDB faz diariamente 500 entrevistas telefônicas. A avaliação é que já há uma certa percentagem firme de voto dos dois lados - em situação de empate técnico - e que o restante vai se decidir na campanha propriamente dita.

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