terça-feira, 22 de junho de 2010

Cruz e caldeirinha no G20 :: Vinicius Torres Freire

DEU NA FOLHA DE S. PAULO

EUA querem que governo alemão abra a carteira; BCE e Alemanha podem causar nova recessão na Europa

NO PRÓXIMO fim de semana haverá cúpula do G20. Estava previsto o fracasso das conversas sobre a excessiva desvalorização da moeda chinesa, sobre a criação de um imposto mundial sobre transações financeiras e sobre um imposto sobre bancos. Cúpulas quase sempre terminam em fracasso.

Depois de arreganhar um pouco os dentes, a China espertamente deu um peteleco no yuan, deixando que ele se valorize um tico, sabe-se lá quanto e até quando. De qualquer modo, os chineses saíram da roda. Devem entrar os alemães.

Os EUA implicam com a Alemanha e com o Banco Central Europeu, uma instituição na prática alemã. Os EUA querem que os governos maiores da Europa, Alemanha em particular, não cortem gastos. Acham que isso pode deprimir de novo a economia europeia.

Moedas mais valorizadas em tese fazem um país exportar menos e importar, consumir, mais. Os americanos faz tempo pedem aos chineses que deixem o yuan subir, sendo periodicamente esnobados.

Os chineses e os alemães são os maiores exportadores do planeta. São economias superpoupadoras -poupança doméstica maior e um pouco de câmbio ajudam a exportar. Os alemães não podem ser acusados de manipular o câmbio, de desvalorizar o euro, que cai pelas tabelas devido à crise da dívida de países da periferia europeia.

Mas americanos -governo e alguns de seus principais economistas- acham que os alemães têm de gastar mais e que o governo poderia incentivar tal atitude.

Para começar, poderiam evitar o corte de gastos recém-anunciado pelos alemães e apoiado pelo BCE com o fim de "restaurar a confiança de consumidores, empresários e investidores". Na Alemanha, corte de gasto público pode aumentar a confiança dos consumidores. Não é bem esse o caso no sul da Europa.

Na verdade, a Alemanha vai cortar gastos apenas a partir do ano que vem, e só um pouco. Mas vai continuar superexportadora, ainda mais agora, com o euro em baixa.

A disciplina fiscal que a Alemanha vai impor ao resto da eurozona, porém, vai restringir o crescimento da economia a décimos de porcentagem, com exceção da Alemanha, que vai se beneficiar do euro fraco, da França e da Holanda. A Europa do Mediterrâneo vai ficar no zero ou mesmo permanecer em recessão.Mesmo crescendo neste ano, o nível do PIB da Europa dos 15 ainda será equivalente ao de 2006. A taxa de juro real do euro é zero. Deve ficar por aí até meados de 2012. Mesmo assim, a economia reage devagar.

Nessa situação, crescimento entre 0,5% e 1% em 2010 com taxa de juro zero, seria interessante manter o estímulo dos gastos dos governos.

Mas os mercados financeiros ameaçaram cortar o financiamento de Grécia e Portugal. O resto da Europa está com medo. No entanto, com recessão e queda de receita de impostos, a Grécia, pelo menos, não arrumará dinheiro para pagar sua dívida. Muita gente séria prevê calote formal da Grécia em 2012.

Ou seja, boa parte da Europa nem vai crescer nem vai melhorar sua situação fiscal. Está entre a cruz e a caldeirinha. Não é o caso da Alemanha, o caixa continental.

Talvez os americanos tenham razão. Assim como quem diz que seria melhor já organizar uma redução da dívida grega, um calote autorizado.

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