terça-feira, 8 de junho de 2010

Cúpula do PT soube de dossiê no fim de 2009

DEU EM O GLOBO

A cúpula petista da coordenação da campanha de Dilma Rousseff sabe, desde o fim de 2009, da existência de um suposto dossiê contra o tucano José Serra e sua filha, Verônica Serra. O material passou a ser visto como uma arma secreta, a ser usada em caso de necessidade.

Cúpula do PT sabia de dossiê

Além de Pimentel, dirigentes da campanha de Dilma conheciam material contra Serra

Gerson Camarotti e Jailton de Carvalho

BRASÍLIA - Apontado como bode expiatório no episódio do suposto dossiê contra o pré-candidato José Serra, o ex-prefeito de Belo Horizonte Fernando Pimentel (PT) não era o único que sabia das denúncias. Toda a cúpula petista que integra a coordenação de campanha da pré-candidata Dilma Rousseff tinha conhecimento, desde o fim de 2009, da existência de um farto material investigativo contra o tucano e sua filha, Verônica Serra. Ontem, dois jornalistas envolvidos no caso negaram a versão do delegado aposentado da Polícia Federal Onézimo das Graças Sousa, de que o comitê petista desejou contratar serviços de espionagem.

Segundo relatos feitos ao GLOBO por dirigentes do PT, o partido esperava que aliados do exgovernador Aécio Neves (PSDB-MG) usassem o material durante o processo de disputa interna no PSDB para a escolha do presidenciável tucano.

Como isso não ocorreu, contou um integrante da campanha petista, houve a decisão coletiva de se ter acesso a esse material, que estava sendo investigado pelo jornalista Amaury Ribeiro Junior. Na ocasião, Amaury acabara de sair do jornal “O Estado de Minas”.

Na coordenação de campanha de Dilma, o dossiê passou a ser usado internamente como “arma secreta”, para ser usada, se necessário.

Amaury foi procurado, então, pelo jornalista Luiz Lanzetta, dono da empresa Lanza Comunicação, contratada para a área de comunicação da pré-campanha. Lanzetta se desligou da campanha no fim de semana.

O acerto feito com Amaury teria o propósito de se produzir um livro com todas as investigações feitas pelo jornalista contra Serra.

Pela estratégia, que recebeu o aval de todos os integrantes da coordenação de campanha da Dilma, o livro-dossiê seria publicado no período eleitoral. Assim, Amaury foi integrado originalmente à campanha petista.

Só em abril, com a oficialização da pré-campanha, houve a decisão de um grupo do PT de ampliar o núcleo de inteligência do comitê de Dilma, o que causou um racha interno. Lanzetta, o empresário Benedito Oliveira Neto e Amaury participaram do encontro em abril com Onézimo.

Jornalistas querem ser acareados com delegado

No PT, a versão é que Onézimo foi infiltrado pela campanha tucana para detonar a crise no comitê de Dilma. Em entrevistas, Lanzetta e Amaury desafiaram ontem Onézimo a manter, em público, a acusação de que tenha sido sondado para montar esquema de espionagem contra Serra.

Segundo os dois, foi o delegado quem se ofereceu para desmontar um suposto grupo de produção de dossiês que teria sido organizado pelo deputado Marcelo Itagiba (PSDB-RJ) contra políticos da base aliada, principalmente do PMDB. Amaury disse que gostaria de ser acareado com Onézimo.

Os dois decidiram partir para o ataque depois de a revista “Veja” publicar, no fim de semana, entrevista em que Onézimo diz ser sido procurado para fazer investigações, inclusive com uso de grampos telefônicos, contra Serra e Itagiba. A proposta teria sido feita numa reunião em 20 de abril, num restaurante em Brasília.

— Se ele falou isso (sobre espionar Serra), vamos reconstituir os fatos: quem falou, a que horas falou, como foi. Vamos fazer uma acareação.

Esse negócio (de espionagem) é uma mentira, que tem que vir à tona — disse Amaury.

Lanzetta e Amaury contam que tiveram encontro com Onézimo porque estavam em busca de uma empresa para investigar vazamentos de dados confidenciais do escritório central da pré-campanha de Dilma. Os dois chegaram a Onézimo por sugestão de Idalberto Matias, o Dadá, ex-agente do Serviço de Inteligência da Aeronáutica. Amaury disse ainda que, duas semanas depois do primeiro encontro, Onézimo cobrou R$ 1,8 milhão para fazer o suposto serviço de contra-espionagem. A proposta não teria sido aceita, segundo Amaury.

Itagiba negou que tenha feito dossiês e disse que há uma tentativa de se desviar o foco do episódio: — O que temos hoje? De um lado um grupo que diz que estava lá porque foi chamado para fazer dossiês. E de outro, outro grupo que diz que recebeu a oferta de dossiês. De qualquer forma, estavam todos em uma reunião para praticar um delito. E que, quando confrontados, montaram suas historias para se justificar, querendo imputar a culpa a uma terceira pessoa. Que se instaure um inquérito policial para investigar o que eles faziam reunidos lá.

Procurado pelo GLOBO, Idalberto não retornou a ligação. Onézimo não foi localizado.

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