terça-feira, 22 de junho de 2010

Lula veio para sacudir e voltar:: Wilson Figueiredo

DEU NO JORNAL DO BRASIL

Qualquer versão – seja oficial, seja da oposição – tem duração limitada até ficar convenientemente explicada a razão pela qual o que subjetivamente tinha tudo para dar errado e, da noite para o dia, se converteu objetivamente em resultados de boa cotação política. Cada vez mais se fornecem previsões eleitorais, facilidades, proteção a candidaturas e demais ingredientes que a democracia prefere não ver. Pela ordem natural, a reeleição se reserva para ser a matériaprima de uma crise política de bom tamanho, só não se sabe quando. Tudo vai depender da placa tectônica chamada crise institucional, deslocada para países localizados mais embaixo na escala do desenvolvimento econômico, que infelizmente não fechou – no Brasil – um pacto duradouro com a democracia. Depois que Franklin Roosevelt obteve nas urnas quatro mandatos presidenciais nos Estados Unidos, e só deu conta de três, antes de morrer pouco depois da quarta posse, já nos anos 40, uma emenda à Constituição americana limitou o privilégio a uma reeleição (que lá deu certo). E não se ouviram queixas.

Mas, como nem tudo que é bom para os Estados Unidos pode considerar-se bom para o Brasil, a reeleição brasileira foi ficando para trás e acabou adotando uma expectativa de direito assegurada a quem se elege presidente.

Não se falou mais em varrer esse artigo, que empana o saneamento trazido à sucessão presidencial pela exigência da maioria absoluta de votos. Com dois turnos, o resultado da eleição fora do alcance de suspeitas manipuladas com teor golpista. A reeleição esperou praticamente um século, do lado de fora das Constituições brasileiras, e cada um que se reelege se explica por aceitar um mandato com o qual não concorda. Em princípio, claro. Na prática é diferente, graças à natureza humana.

O presidente Fernando Henrique não repetiu no segundo mandato a plenitude do primeiro, que parecia a última palavra da social-democracia, nem percebeu que logo atrás viria o PT, sem compromisso com o passado e nada mais a ver com o futuro. Só o presente interessa ao petismo.

Tinha a medida exata para o presidente Lula emergir. No segundo mandato de Fernando Henrique, esvaziou-se o estoque de soluções que a social-democracia tinha a oferecer, e o sucessor entendeu que não precisava ir mais longe para fazer história. Nos seus dois mandatos, mesmo sendo (em princípio) contra a reeleição, Lula reproduziu a falta de fôlego do seu antecessor, em matéria de reforma política, mas inverteu a ordem dos fatores. Dissipou o crédito político do petismo no primeiro mandato e, no segundo, cuidou exclusivamente da sucessão, quando converteu em certeza a suspeita de que não veio ao mundo para mudar, mas apenas sacudir. E voltar.

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