sexta-feira, 18 de junho de 2010

PT pediu dossiê, reafirma araponga

DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

Em comissão mista do Congresso, ex-delegado volta a dizer que proposta do partido era que montasse dossiê contra José Serra

Rosa Costa

BRASÍLIA - O delegado aposentado da Polícia Federal Onézimo Sousa disse ontem que recebeu uma proposta de integrantes da equipe de campanha da candidata do PT à Presidência, Dilma Rousseff, para espionar e preparar um dossiê contra o adversário do PSDB, José Serra.

Em depoimento à Comissão Mista de Controle das Atividades de Inteligência do Congresso, o delegado disse que foi convidado para um encontro em nome do coordenador da campanha de Dilma, Fernando Pimentel, para tratar de um problema de vazamento de informações no comitê eleitoral petista. Mas que, chegando ao local combinado, sentiu que o alvo do trabalho era outro e que, na realidade, os jornalistas Luiz Lanzetta, que integrava a campanha da petista, e Amaury Ribeiro queriam mesmo era que ele "vigiasse" o candidato tucano e pessoas ligadas a ele.

"Como eu recusei, notei que, ali, o tal contrato (ligado ao comitê) começou a fazer água", afirmou. "Porque depois se comprovou que eles não tinham interesse em investigar esse fato (vazamento de informações)". Onézimo insinuou que gravou a conversa, ao rebater a afirmação - atribuída a Luiz Lanzetta - de que ele teria oferecido o serviço contra Serra. "A recusa foi minha e eu tenho como provar", garantiu.

O policial disse que Lanzetta se apresentou como "representante" de Pimentel. Junto com os jornalistas, informou, estava "o Bené", depois identificado como o empresário Benedito de Oliveira, que teria sido o "responsável" pelo pagamento do serviço. O preço oferecido, segundo o depoente, seria de R$ 1,6 milhão, em 10 parcelas de R$ 160 mil, "preferencialmente" em dinheiro vivo.

Onézimo disse que quando recebeu a proposta - "me perdoem a impressão, que considerei indecente" - perguntou: "Vocês querem reeditar o Aloprados 2? ". Segundo ele, Amaury tentou convencê-lo, dizendo que tinha "dois tiros" contra Serra, um dos quais - na avaliação do policial - envolveria Verônica Serra, a filha do candidato.

Ele negou ter ouvido de seus interlocutores a palavra "grampo" e, sim, o pedido de fazer "um levantamento", embora tenha entendido que eles queriam, mesmo, era um serviço de escuta telefônica. "Se alguém queria saber tudo sobre determinada pessoa, como é que eu posso saber tudo? Para um bom entendedor, pingo é letra. Não existe outro tipo de conversa", ressaltou.

O delegado disse que os três interlocutores chegaram até ele, como revelou o Estado, por intermédio do sargento reformado da Aeronáutica Idalberto Martins de Araujo, seu amigo há muito anos. O ex-militar, conhecido por Dadá, também foi convidado pela comissão, mas não compareceu nem justificou a ausência. Como Onézimo disse que "parece que ele se aposentou há 60 dias", o líder da minoria na Câmara, deputado Gustavo Fruet (PSDB-PR), vai checar com a Aeronáutica se ele estava reformado na ocasião do suposto convite.

Genoino. Presente ao depoimento, o deputado José Genoino (PT-SP) tentou desqualificar as afirmações do policial. A certa altura, ele perguntou se houve a "proposta concreta" de fazer um dossiê ou se teria sido apenas uma "insinuação". "Foi uma proposta concreta, tanto que eu não aceitei", disse o ex-delegado.

Perguntado pelo senador Álvaro Dias (PSDB-PR) se a gravação seria a "carta na manga" respondeu: "Como profissional cuidadoso, eu pergunto ao senhor (senador), se faria isso". E acrescentou: "Se eu tivesse (a gravação), não iria apresentar aqui, pois como responderei a processo, apresento no momento oportuno, se a tiver".

O CASO DO DOSSIÊ

1º de junho
"Veja" relata que um grupo da campanha da petista Dilma Rousseff teria ensaiado a produção de um dossiê para atingir o tucano José Serra. Dilma nega

4 de junho
"Estado" revela que o esquema teve participação de arapongas ligados aos serviços secretos oficiais. Entre eles Idalberto Matias de Araújo, o Dadá

5 de junho
Onézimo Sousa, delegado aposentado da PF, confirma "operação dossiê" contra Serra. Dias depois, Onézimo e Dadá são convidados a depor na Comissão Mista de Controle das Atividades de Inteligência do Congresso

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