sexta-feira, 23 de julho de 2010

Tucano diz não ser de oposição

DEU NO VALOR ECONÔMICO

Raymundo Costa, de Brasília

Em entrevista concedida ontem ao canal de televisão pública EBC, o tucano José Serra rejeitou a classificação de candidato da oposição. "Não sou da oposição, sou candidato do pode mais e dá para fazer", disse Serra ao programa 3 a 1, na segunda da série de entrevistas com os principais presidenciáveis que se encerra hoje com Marina Silva, a candidata do PV.

Serra tomou a iniciativa de fazer a distinção quando um dos entrevistadores, a jornalista Teresa Cruvinel, presidente da EBC, perguntou o que ele mudaria no governo. "Você falou em situação e oposição", interveio. "Eu sou candidato para governar o Brasil no futuro", disse. "Não fico nunca jogando no quanto pior melhor. Pego as coisas que estão funcionando e melhoro, as que não estão funcionando eu corrijo", explicou.

O tucano evitou criticar o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, mesmo quando achou que deveria fazer reparos a políticas do atual governo. Mas foi severo com o PT. O tucano atacou o aparelhamento do Estado, o que estaria na origem, por exemplo, da quebra do sigilo fiscal do vice-presidente do PSDB Eduardo Jorge Caldas Pereira. Serra disse que foi ministro, prefeito e governador sem precisar aparelhar o Estado para aprovar projetos. "Isso depende de como o governante se comporta e da gula dos partidos (...), e o PT tem gula infinita para controlar tudo". Afirmou que a necessidade de construir maiorias não justifica aparelhamento. "Esta visão do mal necessário deixa muito a desejar e é cúmplice da corrupção".

Serra avaliou como positiva a atuação de Lula para "a projeção política internacional do Brasil", mas ressaltou que "não faria carinhos em algumas ditaduras políticas". Citou especificamente o Irã. "Em geral a projeção do Brasil na política internacional foi positiva", disse Serra, atribuindo essa projeção a Lula, mas classificou como "tíbia" a política externa em relação à economia.

Segundo Serra, "o instantâneo" da economia brasileira é bom, "o problema é o filme". E o dever do governante é "antecipar problemas", que de acordo com o tucano já são visíveis no horizonte devido ao investimento baixo e ao déficit externo. Sobre o câmbio, disse que não há uma única solução para a sobrevalorização do real. "Tem a ver com juros, impostos, gastos públicos (...) e a relação de nossa moeda com o dólar".

O candidato voltou a se comprometer com a reforma política "fatiada" - se eleito, pensa em enviar ao Congresso proposta instituindo o voto distrital puro já a partir de 2012, nas eleições municipais nas cidades com mais de 200 mil eleitores, que têm segundo turno. Defendeu o mesmo sistema para a reforma tributária. São duas reformas que, se forem negociadas no atacado, não andam, na opinião do tucano.

Citou o projeto Ficha Limpa como uma demonstração do anseio da sociedade pela moralização da política. Confrontado que o ex-governador Joaquim Roriz apoia o PSDB em Brasília, esquivou-se: "Eu só diria o seguinte: num torneio a candidata do governo perderia disparado em matéria de má companhia".

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