terça-feira, 24 de agosto de 2010

Farc propõem apresentar 'suas visões' na Unasul para buscar saída política

DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

Aceno à diplomacia. Guerrilha colombiana emite comunicado pedindo voz na organização sul-americana e oferecendo a possibilidade de diálogo; em resposta, governo rejeita negociar com rebeldes enquanto eles não "renunciarem ao terrorismo"

BOGOTÁ – As Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) propuseram ontem uma reunião com os presidentes da União das Nações Sul-Americanas (Unasul) para expor a visão do grupo sobre o conflito colombiano. O governo rechaçou a proposta, afirmando que não aceitará intermediários para o diálogo com a guerrilha. O Equador, atualmente na presidência do bloco, disse que respeitará a decisão de Bogotá sobre o pedido.

O anúncio das Farc poderia ser um esforço para recuperar protagonismo em nível internacional, de acordo com analistas. A proposta de envolver a Unasul na mediação foi feita ao governo do presidente Juan Manuel Santos, que anteriormente já tinha descartado toda a possibilidade de mediação de governos estrangeiros e líderes políticos numa eventual negociação com a guerrilha.

Em comunicado divulgado no site da Agência de Noticias Nueva Colômbia (Anncol), que costuma divulgar as notas da guerrilha, as Farc reiteraram que "as pessoas esquecem que na Colômbia não há garantias para a oposição política". "Alguns aludem frequentemente à obsolescência da luta armada revolucionária, mas nada dizem das condições e garantias para a luta política na Colômbia", afirmou o comando rebelde.

"Ainda que a Colômbia mantenha fechada a porta do diálogo contra a insurgência, encorajado pela miragem de uma vitória militar e pela ingerência de Washington, queremos reiterar à Unasul nossa irredutível vontade de buscar uma saída política para o conflito", diz a nota.

O vice-presidente Angelino Garzón, que ontem retomou parcialmente as funções após uma cirurgia cardíaca, insistiu que os temas relacionados à guerrilha são conduzidos pessoalmente por Santos. Garzón ressaltou que a guerrilha deve libertar todos os reféns ainda em seu poder sem precondições e renunciar ao terrorismo se quiser negociar com o governo. "Se fizerem isso, terão a generosidade do presidente para começar o diálogo", acrescentou.

"O governo do Equador, atualmente na presidência da Unasul, respeitará absolutamente os critérios estabelecidos pelo governo da Colômbia em relação a essa comunicação da parte das Farc", afirmou, em Quito, o chanceler equatoriano, Ricardo Patiño. O ministro da Defesa colombiano, Rodrigo Rivera, afirmou que a presença da guerrilha num organismo internacional seria "inaceitável". "O que aconteceria se a comunidade internacional abrisse as portas para que Osama bin Laden apresentasse seu ponto de vista?", questionou.

Fundadas em 1964, as Farc são atualmente a guerrilha ativa mais antiga da região.

O grupo manteve diálogo com o governo do ex-presidente Andrés Pastrana entre 1998 e 2002, As negociações naufragaram depois de a guerrilha ter sido acusada por Bogotá de aproveitar a vasta área de 42 mil quilômetros quadrados - que serviria de sede para as conversações - para intensificara as operações de sequestro e a atividade armada e vinculada ao narcotráfico. Desde então, o Exército, com o apoio dos EUA, vem promovendo uma série de ofensivas que tem enfraquecido a guerrilha, confinando e isolando seus batalhões e cortando a comunicação entre eles.

A POSIÇÃO DO BRASIL

País pede a grupo que deixe luta armada

Embora não considere as Farc um grupo terrorista - como o fazem os EUA, a União Europeia e a própria Colômbia -, o governo brasileiro tem renovado nos últimos meses o apelo para que a guerrilha abandone as armas, liberte os seus reféns e inicie negociações de paz. "Se, num continente como o nosso, um índio e um metalúrgico podem chegar à Presidência, por que alguém das Farc, disputando eleições, não pode?", disse o presidente Lula, no ano passado.

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