quinta-feira, 19 de agosto de 2010

Na internet Serra e Dilma: O pau comeu

Dilma até que veio quente, logo no início do debate dos presidenciáveis promovido pela FOLHA/UOL. Mas acontece que Serra estava fervendo. Resultado: o pau comeu entre os dois. A candidata petista teve de ouvir poucas e boas, depois de ter provocado o tucano.

Há uma explicação para tanta belicosidade. Ao contrário da TV, o público de um debate na Internet é restrito e formado por iniciados políticos, que podem ficar em frente ao computador por mais de duas horas em pleno horário de expediente de trabalho.

Este tipo de público é mais afeito ao confronto de idéias e de propostas. Sua expectativa é o debate duro. É pule de dez que o mesmo clima não se reproduzirá em outros debates televisivos, particularmente no da TV Globo, onde a audiência se medirá na casa de dezenas milhões de expectadores.

Bateu, levou

Serra bateu não apenas em Dilma, mas também no PT e no governo Lula. Na verdade, aproveitou-se de uma besteira da petista, quando ela insinuou que o tucano era contra o PROUNI porque o “Democratas” é autor, no STF de uma ADIN contra este programa. Foi a deixa para Serra dizer: “em matéria do quanto pior, melhor, o PT é campeão. Vocês foram contra o Plano Real, ingressaram na Justiça contra o Fundef, e a Lei da Responsabilidade Fiscal e foram contra o PROER que depois você elogiou. Não votaram em Tancredo e não assinaram a Constituinte”.

De forma inédita, um candidato do PT - no caso, Dilma - teve que admitir publicamente ter sido um erro o Partido dos Trabalhadores de feito oposição ao Plano Real.

A partir daí foram três blocos de confronto entre os dois candidatos. Marina Silva fez o papel, em alguns momentos, de linha auxiliar da petista. Depois de um intervalo, voltou ao seu leito normal de equidistância entre as duas candidaturas, provavelmente aconselhada por assessores. É isto que explica sua crítica, quase ao final do debate, a Dilma e a Lula por quererem “infantilizar o Brasil com essa história do Pai e da Mãe dos brasileiros".

Não se pode dizer que Dilma fugiu da raia ou que perdeu o rumo. No entanto, o confronto não foi bom para ela. Toda vez que focava no governo FHC, recebia uma dura resposta de Serra. Sem papas na língua, o tucano responsabilizou Dilma e o governo pela elevação da tarifa energética, porque elevou brutalmente o imposto cobrado da energia.

Mentira

Faltou experiência à petista, pois deveria ter pedido um direito de resposta quando foi chamada de mentirosa por Serra, em virtude de ter insistido na cantilena de que Fernando Henrique ter criado uma lei que impedia o governo federal de criar escolas técnicas. Serra foi irretocável ao dizer que “Dilma fica tão focada no passado, que o retrovisor do seu carro é maior do que o para-brisa”.

Macaco velho, escolado em matéria de confronto, cobrou da candidata do PT o aumento de impostos por parte do governo Lula e por duas vezes ligou Zé Dirceu à candidatura petista, lembrando que o Ministério Público o acusou como chefe da quadrilha do “mensalão”. Dilma ficou caladinha da silva.

Prudentemente, Serra manteve o controle dos nervos e não partiu para cima de Marina, apesar de ela ter feito o jogo da Dilma nos dois primeiros blocos, particularmente quando falou da “favela virtual” do programa de Serra. Claro que nesta hora, Dilma abriu um amplo sorriso, como se estivesse agradecendo à mãozinha dada pela candidata do Partido Verde.

Em palpos de aranha

O pior para Dilma estava por vir.

Ela ficou em palpos de aranha quando perguntou o internauta Romeu:

"Dilma, há tempo atrás você falou que o vice do Serra foi improvisado, e eu concordo com você, eu acho que ele foi improvisado mesmo. Agora, você também não foi improvisada? Quer dizer, você é uma neopetista, com carreira política transparente, de bastidores, você nunca participou de nenhuma eleição. Você não foi quem sobrou? Ou você acha que se o Lula não tivesse tido que cortar a cabeça do Genoíno, do Zé Dirceu, do Palocci, por conta dos escândalos que eles se meteram. Você acha que ainda assim você teria alguma chance de ser candidata à presidência da República pelo PT?".

Visivelmente incomodada, respondeu com aquela história de foi a primeira mulher a ser isso, a primeira mulher a ser aquilo, desfiando todos os cargos que ocupou, até concluir: “sou uma política não tradicional, pois não tive uma atuação parlamentar.”

Ou seja, voto, que é bom, nunca disputou.

E para completar, ainda veio outro internauta com outra pergunta incômoda sobre a posição de Dilma sobre o aborto, lembrando que em 2007 a então Ministra deu declarações favoráveis à sua legalização. A hoje candidata não reafirmou esta posição, fez um discurso sobre a correção da lei atual, que trata o aborto como caso de saúde pública. Mas sua resposta deve ter deixado muitos religiosos de orelha em pé, pois faltou convicção em suas palavras.

Vencedor e vencidos

Está certo que é duro ficar duas horas e meia em frente do computador. Mas valeu o sacrifício. Afinal de contas o debate não foi tão modorrento como o são os debates televisivos, onde há uma camisa de força que impede qualquer confronto.

Neste debate, importa pouco titular o vencedor. Ele aconteceu num público majoritariamente “viciado”. A menos que algum dos candidatos derrapasse para além do esperado.

Se Pitacos fosse colocado contra a parede, obrigado a fornecer o IP (Índice Pitacos de avalição de candidatos em entrevistas e sabatinas), não teria dúvidas.
Serra obteria a maior pontuação. Foi consistente nas críticas e proposições, sem explodir seus nervos.

Dilma melhoraria, em relação às notas anteriores, na comparação de Dilma com ela mesma. No público não definido, talvez tenha perdido espaço, por ter fugido de algumas questões espinhosas, fazendo-se de surda. Ao fazer críticas baseada em dados infundados, num público qualificado, nada acrescenta à credibilidade que busca.

Marina Silva não foi bem. Oscilou entre descer o pau ora em Serra, ora em Dilma.

Nessa direção, não acumula. Confunde e divide suas fileiras. Saiu pouco menor do que entrou. E ainda terá de se explicar no seu círculo mais fechado.

O debate da Folha/Uol apontou uma direção. Em ambientes restritos, a luta será aberta. No amplo público, a moderação prevalecerá.

Espera-se.

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