quinta-feira, 19 de agosto de 2010

Presidenciáveis elevam tom de ataques em novo debate

DEU EM O GLOBO

Marina e Dilma miram em Serra, que acusa petista de conivência com corrupção
Leila Suwwan e Silvia Amorim

SÃO PAULO. Ataques duros marcaram o segundo debate de candidatos a presidente, promovido ontem pelo "Portal UOL" e o jornal "Folha de S. Paulo". José Serra (PSDB) foi alvo de Dilma Rousseff (PT) e Marina Silva (PV). Mas reagiu, dizendo que a petista tinha cumplicidade com corrupção e vazamentos de dados sigilosos. Dilma disse que o DEM, aliado de Serra, é contra o ProUni, e acusou o governo Fernando Henrique Cardoso de não ter investido em saneamento. Marina ironizou o programa eleitoral de Serra por usar um cenário imitando uma favela.

Dilma questionou Serra sobre a ação direta de inconstitucionalidade que o DEM move contra o ProUni, programa de bolsa para estudantes carentes em universidades privadas, questionando o sistema de cotas para afrodescendentes. O tucano minimizou o tema para responder que Dilma é ingrata com o governo de Fernando Henrique Cardoso:

- O PT ganha nesse torneio do quanto pior melhor, inclusive em matéria de ingratidão. Você tem fixação no passado. É muito ingrata com o Fernando Henrique, porque ele fez Plano Real e o Fundef, que é dinheiro para a educação no Nordeste.

Em seguida, o tucano ligou o vazamento da prova do Enem em 2009 ao vazamento de dados sigilosos da Receita Federal de um dos vice-presidentes do PSDB, Eduardo Jorge:

- Vocês quebraram o sigilo bancário de um vice-presidente do PSDB e passaram esse resultado para a "Folha".

Dilma disse que a acusação era uma calúnia. E protagonizou uma saia justa ao responsabilizar a gráfica que imprimiu as provas do Enem pelo vazamento do exame - para elogiá-la em seguida, pois os cadernos foram furtados no parque gráfico do Grupo Folha. Também disse que é preciso olhar para o passado:

- Essa história de que não dá para olhar para o retrovisor é um perigo enorme para um país que tem a história que nós temos. Temos uma história de ditadura e temos de olhar para ela para valorizar a democracia.

Outro momento de desconforto foi quando Dilma foi perguntada sobre o câncer que enfrentou no ano passado.

- É preciso acabar com o preconceito que cerca o câncer, uma doença curável, ainda mais se detectada no início, como foi meu caso - respondeu.

Em resposta à críticas de Serra sobre o aumento de impostos no setor de saneamento, a petista disse o governo Fernando Henrique Cardoso "não fez nada" no setor. Ela também atacou a atuação do adversário, quando governador de São Paulo, na crise financeira de 2009:

- Você supôs que a crise ia ser mais profunda do que foi. Até seria, se tivéssemos adotado os padrões vigentes no governo de vocês.

Marina a Serra: "Não entendi uma favela virtual"

Dilma não conseguiu direito de resposta para as acusações de Serra de que o governo Lula de compactua com o fisiologismo, feito em resposta a uma pergunta de um internauta.

- O loteamento chegou em todas as esferas. Veja agora o que aconteceu com os Correios: tudo loteado entre partidos e setores e grupos de deputados - disse o tucano. - O José Dirceu, que é considerado o chefe, pelo Ministério Público, da quadrilha do mensalão, hoje tem um papel muito importante dentro do PT e da própria campanha da Dilma. Eu não passo a mão na cabeça de quem transgrediu.

Marina foi aplaudida em dois momentos, e teve José Serra (PSDB) como alvo preferencial. A crítica mais contundente ao tucano veio quando indagou sobre o uso de uma favela cenográfica no programa de estreia de Serra no horário eleitoral:

- Sinceramente, não entendi por que no seu programa teve uma favela virtual, quando nós temos uma favela tão real como a que eu visitei em São Paulo.

Marina também criticou o ex-governador paulista com críticas na área da educação.

- No estado de São Paulo, Serra, infelizmente, mesmo com 20 anos de governo do PSDB, temos graves problemas.

Dilma também foi alvo de Marina. Questionada sobre seu eventual apoio à petista num segundo turno entre PT e PSDB, a verde criticou ambos e acusou Dilma de promover uma "infantilização da política":

- Não encontro muita diferença entre o governador Serra e ministra Dilma. Ambos são bons gerentes e muito bons na esgrima. Mas não foram capazes de atualizar seus pensamentos. A infraestrutura não tem planejamento, mesmo com toda essa história de PAC, de mãe, de tio e de avó. O Brasil amadureceu e não precisa ser uma sociedade infantilizada. Estão querendo infantilizar com essa história de pai e de mãe - disse.

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