terça-feira, 14 de setembro de 2010

Governo de Cuba cortará meio milhão de empregos públicos até 2011

DEU NA FOLHA.com

DA EFE, EM HAVANA

Mais de meio milhão de servidores públicos de Cuba perderão seus empregos nos próximos meses, ao mesmo tempo em que é anunciada uma transformação radical nos modelos salariais e de trabalho para atenuar a grave situação econômica. A mudança, que há semanas corria como um rumor pela ilha, se tornou pública nesta segunda-feira em um comunicado divulgado pela CTC (Central de Trabalhadores de Cuba), que aprovou a medida para "manter o controle sistemático do andamento do processo".

O comunicado informa sobre a "redução de mais de 500 mil postos de trabalho no setor estatal e, paralelamente, o aumento no setor privado", e detalha que este processo será realizado durante o próximo ano, mais precisamente "até o primeiro trimestre de 2011".

Alguns órgãos do Partido Comunista de Cuba -- único no país -- já foram instruídos para que expliquem aos trabalhadores o que está por vir, enquanto outros já orientaram os funcionários a elaborarem "listas" de pessoas mais ou menos necessárias.

O economista Juan Triana, pesquisador do Centro de Estudos da Economia Cubana, reconheceu que a medida de abrir mão de meio milhão de funcionários é difícil em um país onde a força de trabalho é de três milhões, mas lembrou que já existe meio milhão de trabalhadores no setor privado.

"As contas do Estado já estão saturadas e é muito duro para qualquer governo, mas já não existe mais remédio", disse Triana, além de acrescentar que a absorção desses desempregados deverá ficar a cargo de "pequenas empresas, cooperativas e empresas familiares, pois não acho que Cuba possa inventar nada novo".

O comunicado da CTC não garante uma nova função aos desempregados, mas sugere um "horizonte de opções com novos tipos de empregos não estatais como arrendamento, usufruto, cooperativas e o trabalho por conta própria para onde se deslocarão milhares de trabalhadores nos próximos anos".

CONTROLE

Em Cuba existem centenas de atividades e de negócios que fogem ao controle público, seja em transporte, alimentação, turismo ou quase todos os tipos de serviço, como pode ser comprovado por qualquer visitante "convidado" em plena rua a comprar vários tipos de produtos.

Mas se todas essas atividades não são legalizadas é pela enorme burocracia exigida da iniciativa privada, como lembra o economista dissidente Óscar Espinosa Chepe, que acredita que os problemas poderiam ser resolvidos através do desenvolvimento de um modelo tributário mais eficaz.

Paradoxalmente, o discurso de Chepe e de outros economistas contrários ao regime parece cada vez mais com o do próprio governo: o comunicado da CTC reconhece hoje que há "mudanças necessárias e inadiáveis a serem introduzidas na economia e na sociedade para transformar e tornar mais eficiente o atual processo de trabalho".

Foi o presidente Raúl Castro que insistiu na necessidade de introduzir mudanças e enxugar o governo inchado, o que acabou sendo feito em excesso com mais de um milhão de pessoas.

O presidente, em discurso realizado no dia 1º de agosto, quis tranqüilizar a sociedade: "Ninguém ficará abandonado a sua própria sorte" porque "o Estado Socialista oferecerá o apoio necessário para uma vida digna".

Na semana passada, o ex-ditador cubano, Fidel Castro, surpreendeu o mundo ao declarar a uma revista americana que o modelo cubano não funciona mais nem para Cuba, e embora tenha explicado dois dias que não se referia ao sistema capitalista, muitos em Havana acham que não havia outra interpretação.

Pelo que foi analisado, Fidel --considerado o "ideólogo" frente ao pragmático Raúl Castro-- dava um respaldo a seu irmão nesta nova readaptação do socialismo cubano cuja última atualização passa por dolorosos eufemismos tão frequentes em outros lugares como os "ajustes de emprego".

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