quinta-feira, 9 de setembro de 2010

O país de Lula: esgoto em baixa, consumo em alta

DEU EM O GLOBO

A Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad 2009), divulgada pelo IBGE, confirma que o acesso a bens duráveis cresceu, mas o país ainda vive o drama da falta de saneamento. O número de lares ligados à rede coletora ficou praticamente estagnado, caindo de 59,3% para 59.1%, O desemprego subiu na crise, mas o brasileiro comprou mais DVDs e máquinas de lavar.

Crise afeta emprego e poupa renda

Desemprego sobe para 8,3% em 2009, mas salários aumentam 2,2%

Cássia Almeida, Clarice Spitz, Rennan Setti e Martha Beck

RIO e BRASÍLIA - Ainda sob os efeitos da crise financeira internacional, o Brasil viu sua taxa de desemprego subir de 7,1% para 8,3% no ano passado, segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad), o mais amplo levantamento anual sobre as condições de vida dos brasileiros, divulgada ontem pelo IBGE. Mesmo com a alta no desemprego, o poder de compra dos trabalhadores ficou maior 2,2%, chegando a R$ 1.106. Excluindose a renda do Norte rural (área do país que só começou a ser investigada em 2004), a renda ficou em R$ 1.111, a maior desde 1998, amparada pelo ganho real de 6,39% do salário mínimo em 2009. E a formalização do mercado de trabalho bateu recorde.

A Pnad mostrou ainda redução no trabalho infantil, avanços na educação e no acesso a bens e serviços pelos brasileiros. Mas constatou que o país não conseguiu melhorar o saneamento básico, ausente em 40% dos lares do país, e que o analfabetismo ainda atinge quase 10% dos brasileiros.

O retrato do desemprego que a Pnad mostrou, no entanto, já é passado. A pesquisa foi às ruas em setembro do ano passado e, em julho deste ano, a taxa de desemprego nas seis maiores regiões metropolitanas do país ficou em 6,9%, a menor desde 2002. E, apesar do aumento do desemprego em 2009, houve redução da pobreza e melhora na distribuição de renda.

O que segurou o emprego foi o impacto da crise no Brasil. No primeiro semestre, os efeitos foram muito fortes, mas diminuíram no segundo semestre, a tal ponto que a economia só recuou 0,2%. A formalização do mercado de trabalho contribuiu para amenizar o impacto da crise disse Eduardo Nunes, presidente do IBGE.

Na análise dos especialistas, diante da crise financeira internacional, a maior desde 1929, o mercado de trabalho reagiu muito bem.

Tudo melhorou. Renda subindo, desigualdade caindo e escolaridade aumentando. Até mesmo o desemprego já foi superado. A Pnad mal chegou a captar os efeitos da crise, que se concentraram no último trimestre de 2008 e no primeiro de 2009.

A recuperação foi muito rápida afirmou João Saboia, diretor do Instituto de Economia da UFRJ.

Até mesmo a taxa de desemprego, o lado ruim do mercado mostrado pela pesquisa, não significou corte de vagas.

O número de ocupados cresceu 0,3%, ou 294 mil. O que provocou a alta na taxa foi o aumento no número de desempregados, que chegou a 18,5%, a maior elevação desta década. Um milhão e 400 mil trabalhadores não encontrou uma vaga e isso fez a taxa subir. A indústria e a agricultura foram os dois setores que cortaram vagas em 2009, respectivamente, 2,8% e 2,4%. O primeiro setor foi o mais atingido pela crise, porém já está contratando. Os serviços domésticos foram os que mais aumentaram contratação: 9%.

Recorde no trabalho com carteira

O trabalho com carteira assinada alcançou 32,4 milhões de ocupados, 483 mil acima de 2008, atingindo 59,6% dos empregados. Se forem incluídas as domésticas, esse número sobe para 700 mil. E quem se manteve no mercado teve um ganho de renda, no ano passado, superior ao de 2008. Os salários avançaram 2,2%, para R$ 1.106, contra 1,7% no ano anterior, mas ainda abaixo do pico de 1996 (R$ 1.144).

Captamos o pouco efeito que a crise teve no lado real da economia avaliou Sergei Soares, do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea).

Para Marcos Galvão, de 47 anos, porém, a crise trouxe o drama do desemprego. Em 2009, ele foi demitido de um estaleiro. Conseguiu pouco tempo depois uma vaga de auxiliar administrativo em uma rede de supermercados mas, há cerca de dois meses, foi despedido novamente.

Envio dezenas de currículos por semana, mas está difícil. Só tenho conseguido alguns bicos como garçom. Se eu tivesse um diploma de ensino superior, tenho certeza de que já estaria empregado contou Galvão, que completou apenas o ensino médio.

O ministro do Planejamento, Paulo Bernardo, destacou que, embora a crise mundial tenha provocado um aumento do desemprego, a renda, a formalização e a contribuição para a Previdência Social subiram: A pesquisa foi feita no ano passado e reflete a realidade daquele momento.

Mas isso não impediu o aumento da renda dos brasileiros. A renda cresceu e isso se traduziu num maior consumo de bens como carros, televisores e eletrodomésticos.

Bernardo destacou que, entre 2004 e 2009, os rendimentos do trabalho no país tiveram um aumento de 20%.

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