sexta-feira, 29 de outubro de 2010

Nos bastidores, Collor negociava a BR

DEU EM O GLOBO

Senador, que já indicara um diretor da estatal, queria botá-lo na presidência, mas divulgação suspendeu negociação

Geralda Doca
BRASÍLIA. A confirmação e divulgação do fato de que o senador Fernando Collor (AL) nomeou pelo menos um diretor da BR Distribuidora, subsidiária da Petrobras, puseram areia nos planos do ex-presidente e do seu partido, o PTB, que pretendiam tomar conta da empresa. Isso já estava sendo acordado nos bastidores, em caso de vitória da candidata do PT à Presidência, Dilma Rousseff, segundo interlocutores da empresa. A frente da negociação teria sido assumida pelo líder do PTB, o senador Gim Argello (DF), que se tornou o mais novo amigo de Dilma e do Planalto nos últimos meses.

Segundo fontes, José Zonis — indicado de Collor para a Diretoria de Operações — viraria presidente da BR, e o atual, José Lima de Andrade Neto, iria para uma diretoria da nova estatal do pré-sal no governo Dilma.

— A divulgação da influência de Collor na empresa caiu como uma bomba, e o acordo que vinha circulando fica sub judice. O medo é como a opinião pública vai reagir, pois qualquer nome ligado ao ex-presidente gera enorme resistência — diz a fonte.

Além de Zonis, é da quota do PTB a indicação do diretor da Rede de Postos e Serviços, Luiz Claudio Caseira Sanches. Os dois são funcionários de carreira da Petrobras.

A indicação deles foi sacramentada numa reunião do conselho de administração da BR no dia 22 de setembro de 2009, em Brasília. Geralmente, essas reuniões são realizadas no Rio. Participaram do encontro, os conselheiros ministros da Fazenda (Guido Mantega), da Casa Civil (Dilma Rousseff, na ocasião) e de Minas e Energia, Edison Lobão (PMDB-MA).

Outros dois diretores, o financeiro (Nestor Cerveró) e o de mercado consumidor (Andurte de Barros) só teriam conseguido se manter nos cargos devido à intervenção do PT, por meio do deputado Cândido Vaccarezza (SP) e do senador Delcídio Amaral (MS).

Com as indicações do PTB para as duas diretorias da BR, os ex-diretores Edimilson Santana (Operações) e Edimario Oliveira (rede de postos) perderam seus cargos. Conforme relatos, as demissões teriam causado desconforto, pois uma semana antes, o novo presidente da BR, Lima, que sucedeu José Eduardo Dutra (PT-SE), garantiu que não haveria mudanças.

O senador Gim Argello reafirmou a defesa da indicação de Collor. Ao ser perguntado sobre o acordo para que o PTB assumisse o comando da BR, disse não ter informação a respeito e negou acordos preliminares.

Vaccarezza foi na mesma linha: — Desconheço qualquer acordo.

Nunca na minha vida participei de qualquer negociação com o ex-presidente (Collor).

A influência de Collor na BR foi levantada pelo adversário de Dilma à Presidência, José Serra (PSDB), durante debate na rede Record, na segunda-feira.

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