sábado, 9 de outubro de 2010

Triunfo nas urnas, crises entre aliados

DEU EM O GLOBO

Lula, Dilma e Temer apagam incêndios

José Casado

Nunca antes um triunfo nas urnas provocou tantas crises entre aliados políticos.

O presidente Lula, sua candidata Dilma Rousseff e o vice Michel Temer têm gastado mais tempo na tentativa de apagar incêndios no PT e no PMDB do que na preparação da campanha para o segundo turno.

Em Minas Gerais, a crise eclodiu antes mesmo de encerrada a apuração dos votos, na noite de domingo. O PT mineiro comunicou sua implosão ao presidente e sua candidata.

Dilma obteve 46,9% dos votos no estado. Venceu com 16 pontos de vantagem seus adversários do PSDB, José Serra (30,7%), e do PV, Marina Silva (21,2%).

Mas isso não foi suficiente para garantir a unidade petista no segundo maior colégio eleitoral do país.

A cúpula do PT mineiro rachou no embate entre Patrus Ananias, candidato a vice na chapa derrotada de Hélio Costa ao governo estadual, e Fernando Pimentel, derrotado na disputa pelo Senado. A fragmentação do partido durante a campanha teve reflexos na mobilização eleitoral em Belo Horizonte. Na capital, Dilma perdeu a eleição — teve 126 mil votos a menos que Marina Silva (PV).

A disputa entre Patrus e Pimentel é pelo controle do PT mineiro e, aparentemente, não tem solução imediata. Patrus responsabiliza Pimentel por ter permitido o avanço do PSDB de Aécio Neves em redutos eleitorais antes controlados pelo PT, a partir da coalizão na eleição municipal de 2008.

Patrus estava no comando da campanha de Dilma, mas a candidata mantém uma longa amizade com Pimentel e o escolheu como principal conselheiro no estado.

No início da semana, Patrus informou a Lula que não mais aceitaria a participação de Pimentel nas decisões do comitê. E informou a Dilma: caso seja eleita e venha a considerar Pimentel para o ministério, ela deveria ponderar que ele não seria um representante do PT de Minas — apenas uma escolha pessoal.

Na emergência, Lula apelou ao vice-presidente José Alencar (PR), cujo estado de saúde é frágil, para representálo no comando da campanha de Dilma em Minas durante o segundo turno eleitoral. Na quinta-feira, Dilma passou por Belo Horizonte.

Durante todo o tempo posou para câmeras ao lado de Pimentel.

O presidente e sua candidata têm motivos para aflições, também, com os múltiplos impasses no PMDB e no PR, assim como na relação desses partidos com o PT nos estados. Pediram ao candidato a vice-presidente Michel Temer para tentar conter os descontentes — tarefa difícil, pois o mapa da discórdia segue a trilha da expressiva votação de Dilma nas cidades médias de Minas, atravessa o Nordeste, especialmente a Bahia, e segue até o Amazonas.

Inclui, também, o estado do Rio, onde personagens do PR, como Anthony Garotinho, desfiam um rosário de queixas.

Na Bahia, Temer acredita ter tido um relativo sucesso em conversas com baianos como Geddel Vieira (PMDB), candidato derrotado ao governo, e César Borges (PR), que perdeu a disputa para o Senado. Mas não obteve garantias de engajamento de Geddel e Borges, entre outros, na campanha do segundo turno. O candidato a vice-presidente saiu dessas e de reuniões semelhantes com a impressão de que manter uma coalizão com o PT de Dilma será muito mais complexo do que foi, no passado, a aliança com o PSDB no governo e no Congresso.

Outro dos sinais percebidos por Temer foi a relutância demonstrada pela cúpula petista, nesta semana, em deixar o PMDB na Presidência da Câmara dos Deputados, a partir de fevereiro de 2011. A melhor tradução do ânimo pemedebista nas relações com o PT foi feita na quarta-feira pelo líder do partido na Câmara, Henrique Alves, indicado por Temer para a Presidência da Câmara no ano que vem: “Ou ganhamos todos juntos ou não ganha ninguém.” O acordo político que previa a “partilha” do poder entre os PMDB e o PT, no governo e no Congresso, virou uma ação de alto risco na bolsa de apostas do segundo turno da eleição presidencial.

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