domingo, 21 de novembro de 2010

Entrevista de Roberto Freire, um aperitivo

Deu no Blog Pitacos

Pitacos fez uma longa entrevista com Roberto Freire, um político que se destaca dos demais por dizer abertamente o que pensa e de não fugir de nenhum ponto polêmico.

Vamos aguçar a curiosidade de vocês e avançar algumas questões palpitantes que ele abordou. Em Breve publicaremos a entrevista na íntegra – Antônio Sérgio está tendo um trabalho danado para colocá-la no papel, com fidelidade máxima, com tudo que ela tem de nitroglicerina.

Claro que ele falou qual o papel que Serra deve jogar e, principalmente, o que o futuro reserva a Aécio, caso ele se coloque à altura das exigências que a história lhe fará, brevemente. Vêm novidades, da parte de Freire, mas não vamos contar antes da hora. Esperem a entrevista na íntegra.

Oposição boazinha

Roberto Freire foi cáustico, quanto ao desempenho da oposição, nos últimos oito anos. "Líderes oposicionistas defenderam mais a política econômica de Palocci e Lula do que o próprio PT”. Acha ele que a oposição pagou um preço por isto, nas últimas eleições.

Sem papas na língua, o presidente do PPS disse que a oposição tem que fazer autocrítica do tipo de oposição que fez, restringindo-se à denúncia dos casos de corrupção no governo e violações institucionais. É como se ele tivesse uma avaliação de que o DEM e o PSDB tivessem feito uma oposição tipo “udenista”, passando inteiramente ao largo da crítica à política econômica de Lula.

Para Roberto, o governo Lula apenas surfou na onda internacional favorável. Não inovou nada, muito menos em termos de uma política de esquerda. Sentou o sarrafo na “política redistribuitivista”, sem poupar o Bolsa-Família, que considerou como um programa necessário, mas humilhante para o país. “Esta política, nem é de direita nem é de esquerda. Ela é emergencial e aplicada em todos os quadrantes políticos”. Governos de “direita” e de “esquerda” podem adotar medidas socais compensatórias, que em si não têm nada de transformadoras.

Freire não esconde o seu orgulho diante a atitude diferenciada tomada pelo PPS em 2003, quando rompeu com o governo Lula por divergir dos rumos econômicos adotados pelo governo petista.

Conservadorismo na Campanha

Como explicar a derrota de Serra? Para Roberto Freire, isto aconteceu, em parte porque a oposição repetiu o mesmo erro de antes de não atacar as questões econômicas e os erros cometidos pelo governo Lula neste terreno. Deu para sentir que ele não concordava muito com aquele negócio de a oposição faria mais, do mesmo, só que de forma melhorada. De novo ele criticou os oposicionistas por ficarem apenas na crítica moral, na denúncia da corrupção.

Ficamos com a impressão que aquela imagem de Lula levada ao programa de Serra deve ter provocado urticária em Roberto. Mas o centro de sua crítica à campanha é outro: “houve um peso desproporcional e perigoso das forças políticas ligadas a religiões que conseguiram dar marca conservadora a questões de costumes. Felizmente Serra não caiu na condenação da união civil dos gays”. Mas não pensem que ele poupa Lula. Responsabiliza o presidente de ter introduzido, durante o seu governo, a questão religiosa, através da “Concordata com o Vaticano” e depois, “para compensar teve que inventar um Estatuto das Religiões”, para contemplar principalmente os evangélicos. Mas um pouquinho, o Brasil de Lula seria igualzinho à Argentina, onde existe uma religião oficial! Os governos dos “Hermanos” pagam os salários dos sacerdotes da Igreja Católica.

A oposição tem saída

Roberto Freire é um político realista e reconhece que, no Congresso Nacional, a oposição enfrentará enormes dificuldades, em função da diminuição de sua bancada. Mas acha que os partidos oposicionistas podem atuar unitariamente no Congresso, sem perder a identidade própria. Na sua cabeça, está em elaboração a proposta de um Protocolo das Oposições, que pautaria sua atuação parlamentar, assegurando a autonomia de cada partido.

Ele não acha que estas dificuldades deixaram a oposição no mato sem cachorro. Avalia que na sociedade a correlação de forças é outra, não só pela votação obtida por Serra, mas também pela eleição de um número expressivo de governadores e em Estados de peso, como São Paulo, Minas Gerais, Paraná, só para citar alguns.

Chamou ainda a atenção para mudanças no cenário internacional, onde o quadro de hoje é mais complexo do que a realidade dos dois governos de Lula. Segundo ele, isto levará a sociedade a se mexer, pois não basta agora o Brasil apenas surfar na onda.

Na sua avaliação, a crise só não nos atingiu com maior intensidade porque o Brasil tem uma inserção mínima na economia mundial: cerca de 1,6 % do comércio internacional. Essa participação já foi um pouco maior, antes dos governos de Lula. Mas alerta para os riscos de o nosso país ser apenas um exportador de matérias-primas e de sofrer uma forte desindustrialização, uma vez que o governo Lula não teve uma política de defesa do parque industrial brasileiro.

Esta mudança do cenário possibilitará a oposição ter um comportamento mais combativo. “Inevitavelmente, a sociedade se mexerá”, diz ele.

A nova esquerda

Deixamos para o fim um tema que angustia muitos pitaqueiros.

Como é que Roberto Freire vê o futuro da esquerda democrática no Brasil, a possibilidade de fusão com o PSDB ou a criação de uma nova formação política neste campo?

Não vamos entregar o ouro. Deixamos para a entrevista, a ser publicada no começo da semana.

Adiantamos a questão da esquerda. Esta “não é uma tarefa das oposições, mas da própria esquerda”. De cara, descarta qualquer incorporação do seu partido a outra agremiação de esquerda de maior capilaridade. Fala claramente. Nada de “entrismo” no PSDB, porque, no seu entendimento, este partido não é o estuário natural da esquerda e porque o PPS se esfacelaria.

Sua proposta é outra: criar uma nova formação política, democrática, de esquerda e laica, na qual “o PSDB é o leito principal e o PPS é a ‘sementinha’”. Sonha com algo chamado de Movimento Democrático de Esquerda (claro, citou uma sigla qualquer en passant). A esta nova formação (não gosta do termo “partido”, prefere “movimento”, até por ser mais moderno) se agregariam ainda setores do PMDB, do PDT e de outras formações políticas, além de muita gente sem partido, mas alinhado neste campo.

Lula, Chávez, Evo Morales

Claro que Roberto falou sobre o lulismo e suas afinidades com o peronismo (ou com o subperonismo, como o qualificou Fernando Henrique), sobre a aliança dos descamisados com o grande capital, com os movimentos sociais desfigurados e cooptados – características presentes no fascismo.

Apenas para despertar o apetite de vocês: Lula não tem nada de anticapitalista, segundo Roberto Freire. “Nisto, ele não chegou aonde chegou Chávez e nem aonde chegou Evo Morales”. De esquerda, Lula e hoje o seu PT não têm nada. “Governam pela centro-direita e têm um discurso de centro-esquerda”. Para inglês ver.

Nitroglicerina

Esperem a entrevista na íntegra. Foram duas horas de uma discussão franca, transparente, ousada, sobre a atualidade da política.

Os entrevistadores, Tibério Canuto e Antônio Sérgio Martins, sentiram que tinham nitroglicerina pura no gravador.

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