Deu no Blog Pitacos
Pitacos fez uma longa entrevista com Roberto Freire, um político que se destaca dos demais por dizer abertamente o que pensa e de não fugir de nenhum ponto polêmico.
Vamos aguçar a curiosidade de vocês e avançar algumas questões palpitantes que ele abordou. Em Breve publicaremos a entrevista na íntegra – Antônio Sérgio está tendo um trabalho danado para colocá-la no papel, com fidelidade máxima, com tudo que ela tem de nitroglicerina.
Claro que ele falou qual o papel que Serra deve jogar e, principalmente, o que o futuro reserva a Aécio, caso ele se coloque à altura das exigências que a história lhe fará, brevemente. Vêm novidades, da parte de Freire, mas não vamos contar antes da hora. Esperem a entrevista na íntegra.
Oposição boazinha
Roberto Freire foi cáustico, quanto ao desempenho da oposição, nos últimos oito anos. "Líderes oposicionistas defenderam mais a política econômica de Palocci e Lula do que o próprio PT”. Acha ele que a oposição pagou um preço por isto, nas últimas eleições.
Sem papas na língua, o presidente do PPS disse que a oposição tem que fazer autocrítica do tipo de oposição que fez, restringindo-se à denúncia dos casos de corrupção no governo e violações institucionais. É como se ele tivesse uma avaliação de que o DEM e o PSDB tivessem feito uma oposição tipo “udenista”, passando inteiramente ao largo da crítica à política econômica de Lula.
Para Roberto, o governo Lula apenas surfou na onda internacional favorável. Não inovou nada, muito menos em termos de uma política de esquerda. Sentou o sarrafo na “política redistribuitivista”, sem poupar o Bolsa-Família, que considerou como um programa necessário, mas humilhante para o país. “Esta política, nem é de direita nem é de esquerda. Ela é emergencial e aplicada em todos os quadrantes políticos”. Governos de “direita” e de “esquerda” podem adotar medidas socais compensatórias, que em si não têm nada de transformadoras.
Freire não esconde o seu orgulho diante a atitude diferenciada tomada pelo PPS em 2003, quando rompeu com o governo Lula por divergir dos rumos econômicos adotados pelo governo petista.
Conservadorismo na Campanha
Como explicar a derrota de Serra? Para Roberto Freire, isto aconteceu, em parte porque a oposição repetiu o mesmo erro de antes de não atacar as questões econômicas e os erros cometidos pelo governo Lula neste terreno. Deu para sentir que ele não concordava muito com aquele negócio de a oposição faria mais, do mesmo, só que de forma melhorada. De novo ele criticou os oposicionistas por ficarem apenas na crítica moral, na denúncia da corrupção.
Ficamos com a impressão que aquela imagem de Lula levada ao programa de Serra deve ter provocado urticária em Roberto. Mas o centro de sua crítica à campanha é outro: “houve um peso desproporcional e perigoso das forças políticas ligadas a religiões que conseguiram dar marca conservadora a questões de costumes. Felizmente Serra não caiu na condenação da união civil dos gays”. Mas não pensem que ele poupa Lula. Responsabiliza o presidente de ter introduzido, durante o seu governo, a questão religiosa, através da “Concordata com o Vaticano” e depois, “para compensar teve que inventar um Estatuto das Religiões”, para contemplar principalmente os evangélicos. Mas um pouquinho, o Brasil de Lula seria igualzinho à Argentina, onde existe uma religião oficial! Os governos dos “Hermanos” pagam os salários dos sacerdotes da Igreja Católica.
A oposição tem saída
Roberto Freire é um político realista e reconhece que, no Congresso Nacional, a oposição enfrentará enormes dificuldades, em função da diminuição de sua bancada. Mas acha que os partidos oposicionistas podem atuar unitariamente no Congresso, sem perder a identidade própria. Na sua cabeça, está em elaboração a proposta de um Protocolo das Oposições, que pautaria sua atuação parlamentar, assegurando a autonomia de cada partido.
Ele não acha que estas dificuldades deixaram a oposição no mato sem cachorro. Avalia que na sociedade a correlação de forças é outra, não só pela votação obtida por Serra, mas também pela eleição de um número expressivo de governadores e em Estados de peso, como São Paulo, Minas Gerais, Paraná, só para citar alguns.
Chamou ainda a atenção para mudanças no cenário internacional, onde o quadro de hoje é mais complexo do que a realidade dos dois governos de Lula. Segundo ele, isto levará a sociedade a se mexer, pois não basta agora o Brasil apenas surfar na onda.
Na sua avaliação, a crise só não nos atingiu com maior intensidade porque o Brasil tem uma inserção mínima na economia mundial: cerca de 1,6 % do comércio internacional. Essa participação já foi um pouco maior, antes dos governos de Lula. Mas alerta para os riscos de o nosso país ser apenas um exportador de matérias-primas e de sofrer uma forte desindustrialização, uma vez que o governo Lula não teve uma política de defesa do parque industrial brasileiro.
Esta mudança do cenário possibilitará a oposição ter um comportamento mais combativo. “Inevitavelmente, a sociedade se mexerá”, diz ele.
A nova esquerda
Deixamos para o fim um tema que angustia muitos pitaqueiros.
Como é que Roberto Freire vê o futuro da esquerda democrática no Brasil, a possibilidade de fusão com o PSDB ou a criação de uma nova formação política neste campo?
Não vamos entregar o ouro. Deixamos para a entrevista, a ser publicada no começo da semana.
Adiantamos a questão da esquerda. Esta “não é uma tarefa das oposições, mas da própria esquerda”. De cara, descarta qualquer incorporação do seu partido a outra agremiação de esquerda de maior capilaridade. Fala claramente. Nada de “entrismo” no PSDB, porque, no seu entendimento, este partido não é o estuário natural da esquerda e porque o PPS se esfacelaria.
Sua proposta é outra: criar uma nova formação política, democrática, de esquerda e laica, na qual “o PSDB é o leito principal e o PPS é a ‘sementinha’”. Sonha com algo chamado de Movimento Democrático de Esquerda (claro, citou uma sigla qualquer en passant). A esta nova formação (não gosta do termo “partido”, prefere “movimento”, até por ser mais moderno) se agregariam ainda setores do PMDB, do PDT e de outras formações políticas, além de muita gente sem partido, mas alinhado neste campo.
Lula, Chávez, Evo Morales
Claro que Roberto falou sobre o lulismo e suas afinidades com o peronismo (ou com o subperonismo, como o qualificou Fernando Henrique), sobre a aliança dos descamisados com o grande capital, com os movimentos sociais desfigurados e cooptados – características presentes no fascismo.
Apenas para despertar o apetite de vocês: Lula não tem nada de anticapitalista, segundo Roberto Freire. “Nisto, ele não chegou aonde chegou Chávez e nem aonde chegou Evo Morales”. De esquerda, Lula e hoje o seu PT não têm nada. “Governam pela centro-direita e têm um discurso de centro-esquerda”. Para inglês ver.
Nitroglicerina
Esperem a entrevista na íntegra. Foram duas horas de uma discussão franca, transparente, ousada, sobre a atualidade da política.
Os entrevistadores, Tibério Canuto e Antônio Sérgio Martins, sentiram que tinham nitroglicerina pura no gravador.
Pitacos fez uma longa entrevista com Roberto Freire, um político que se destaca dos demais por dizer abertamente o que pensa e de não fugir de nenhum ponto polêmico.
Vamos aguçar a curiosidade de vocês e avançar algumas questões palpitantes que ele abordou. Em Breve publicaremos a entrevista na íntegra – Antônio Sérgio está tendo um trabalho danado para colocá-la no papel, com fidelidade máxima, com tudo que ela tem de nitroglicerina.
Claro que ele falou qual o papel que Serra deve jogar e, principalmente, o que o futuro reserva a Aécio, caso ele se coloque à altura das exigências que a história lhe fará, brevemente. Vêm novidades, da parte de Freire, mas não vamos contar antes da hora. Esperem a entrevista na íntegra.
Oposição boazinha
Roberto Freire foi cáustico, quanto ao desempenho da oposição, nos últimos oito anos. "Líderes oposicionistas defenderam mais a política econômica de Palocci e Lula do que o próprio PT”. Acha ele que a oposição pagou um preço por isto, nas últimas eleições.
Sem papas na língua, o presidente do PPS disse que a oposição tem que fazer autocrítica do tipo de oposição que fez, restringindo-se à denúncia dos casos de corrupção no governo e violações institucionais. É como se ele tivesse uma avaliação de que o DEM e o PSDB tivessem feito uma oposição tipo “udenista”, passando inteiramente ao largo da crítica à política econômica de Lula.
Para Roberto, o governo Lula apenas surfou na onda internacional favorável. Não inovou nada, muito menos em termos de uma política de esquerda. Sentou o sarrafo na “política redistribuitivista”, sem poupar o Bolsa-Família, que considerou como um programa necessário, mas humilhante para o país. “Esta política, nem é de direita nem é de esquerda. Ela é emergencial e aplicada em todos os quadrantes políticos”. Governos de “direita” e de “esquerda” podem adotar medidas socais compensatórias, que em si não têm nada de transformadoras.
Freire não esconde o seu orgulho diante a atitude diferenciada tomada pelo PPS em 2003, quando rompeu com o governo Lula por divergir dos rumos econômicos adotados pelo governo petista.
Conservadorismo na Campanha
Como explicar a derrota de Serra? Para Roberto Freire, isto aconteceu, em parte porque a oposição repetiu o mesmo erro de antes de não atacar as questões econômicas e os erros cometidos pelo governo Lula neste terreno. Deu para sentir que ele não concordava muito com aquele negócio de a oposição faria mais, do mesmo, só que de forma melhorada. De novo ele criticou os oposicionistas por ficarem apenas na crítica moral, na denúncia da corrupção.
Ficamos com a impressão que aquela imagem de Lula levada ao programa de Serra deve ter provocado urticária em Roberto. Mas o centro de sua crítica à campanha é outro: “houve um peso desproporcional e perigoso das forças políticas ligadas a religiões que conseguiram dar marca conservadora a questões de costumes. Felizmente Serra não caiu na condenação da união civil dos gays”. Mas não pensem que ele poupa Lula. Responsabiliza o presidente de ter introduzido, durante o seu governo, a questão religiosa, através da “Concordata com o Vaticano” e depois, “para compensar teve que inventar um Estatuto das Religiões”, para contemplar principalmente os evangélicos. Mas um pouquinho, o Brasil de Lula seria igualzinho à Argentina, onde existe uma religião oficial! Os governos dos “Hermanos” pagam os salários dos sacerdotes da Igreja Católica.
A oposição tem saída
Roberto Freire é um político realista e reconhece que, no Congresso Nacional, a oposição enfrentará enormes dificuldades, em função da diminuição de sua bancada. Mas acha que os partidos oposicionistas podem atuar unitariamente no Congresso, sem perder a identidade própria. Na sua cabeça, está em elaboração a proposta de um Protocolo das Oposições, que pautaria sua atuação parlamentar, assegurando a autonomia de cada partido.
Ele não acha que estas dificuldades deixaram a oposição no mato sem cachorro. Avalia que na sociedade a correlação de forças é outra, não só pela votação obtida por Serra, mas também pela eleição de um número expressivo de governadores e em Estados de peso, como São Paulo, Minas Gerais, Paraná, só para citar alguns.
Chamou ainda a atenção para mudanças no cenário internacional, onde o quadro de hoje é mais complexo do que a realidade dos dois governos de Lula. Segundo ele, isto levará a sociedade a se mexer, pois não basta agora o Brasil apenas surfar na onda.
Na sua avaliação, a crise só não nos atingiu com maior intensidade porque o Brasil tem uma inserção mínima na economia mundial: cerca de 1,6 % do comércio internacional. Essa participação já foi um pouco maior, antes dos governos de Lula. Mas alerta para os riscos de o nosso país ser apenas um exportador de matérias-primas e de sofrer uma forte desindustrialização, uma vez que o governo Lula não teve uma política de defesa do parque industrial brasileiro.
Esta mudança do cenário possibilitará a oposição ter um comportamento mais combativo. “Inevitavelmente, a sociedade se mexerá”, diz ele.
A nova esquerda
Deixamos para o fim um tema que angustia muitos pitaqueiros.
Como é que Roberto Freire vê o futuro da esquerda democrática no Brasil, a possibilidade de fusão com o PSDB ou a criação de uma nova formação política neste campo?
Não vamos entregar o ouro. Deixamos para a entrevista, a ser publicada no começo da semana.
Adiantamos a questão da esquerda. Esta “não é uma tarefa das oposições, mas da própria esquerda”. De cara, descarta qualquer incorporação do seu partido a outra agremiação de esquerda de maior capilaridade. Fala claramente. Nada de “entrismo” no PSDB, porque, no seu entendimento, este partido não é o estuário natural da esquerda e porque o PPS se esfacelaria.
Sua proposta é outra: criar uma nova formação política, democrática, de esquerda e laica, na qual “o PSDB é o leito principal e o PPS é a ‘sementinha’”. Sonha com algo chamado de Movimento Democrático de Esquerda (claro, citou uma sigla qualquer en passant). A esta nova formação (não gosta do termo “partido”, prefere “movimento”, até por ser mais moderno) se agregariam ainda setores do PMDB, do PDT e de outras formações políticas, além de muita gente sem partido, mas alinhado neste campo.
Lula, Chávez, Evo Morales
Claro que Roberto falou sobre o lulismo e suas afinidades com o peronismo (ou com o subperonismo, como o qualificou Fernando Henrique), sobre a aliança dos descamisados com o grande capital, com os movimentos sociais desfigurados e cooptados – características presentes no fascismo.
Apenas para despertar o apetite de vocês: Lula não tem nada de anticapitalista, segundo Roberto Freire. “Nisto, ele não chegou aonde chegou Chávez e nem aonde chegou Evo Morales”. De esquerda, Lula e hoje o seu PT não têm nada. “Governam pela centro-direita e têm um discurso de centro-esquerda”. Para inglês ver.
Nitroglicerina
Esperem a entrevista na íntegra. Foram duas horas de uma discussão franca, transparente, ousada, sobre a atualidade da política.
Os entrevistadores, Tibério Canuto e Antônio Sérgio Martins, sentiram que tinham nitroglicerina pura no gravador.
Nenhum comentário:
Postar um comentário