sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

Depois do aborto, Cabral defende jogo livre no país

DEU EM O GLOBO

Depois de defender a descriminalização do aborto, o governador Sérgio Cabral ontem se disse a favor da legalização do jogo. Ele argumentou que o Brasil é o único país do Mercosul onde o jogo é proibido e lembrou que países da Europa, da América do Norte e até a China já liberaram a jogatina. "Chega de demagogia e hipocrisia. Para ter o jogo é só estabelecer regras rígidas e controle. Essa verba arrecadada poderia beneficiar muita gente e gerar empregos", disse Cabral, que criticou a Câmara por ter rejeitado, na terça, projeto que liberaria o bingo. "Como diria o grande Mário de Andrade, são as coisas do Brasil: a saúva, a jabuticaba... Francamente, temos problemas sérios, muito maiores, quando o jogo se torna ilegal", disse, lembrando que, na clandestinidade, o setor não paga impostos. "Então, deixo essa reflexão natalina para vocês e para 2011, com menos hipocrisia e mais vida como ela é", disse, durante evento realizado pela Loterj.

Cabral prega liberação do jogo

Para governador, Congresso errou ao derrubar projeto que legalizava o bingo

Ana Claudia Costa, Cassio Bruno e Natanael Damasceno

Depois de defender a legalização do aborto, o governador Sérgio Cabral voltou ontem a provocar polêmica ao se dizer a favor da liberação do jogo no Brasil. Ao entregar 16 veículos a instituições beneficentes devido a uma parceria da Loterj com o RioSolidário, o governador disse que o Brasil é o único país do Mercosul onde o jogo é proibido. Cabral lembrou também que Canadá, Estados Unidos, Europa e China têm o jogo liberado. Durante o discurso, o governador chegou a chamar de demagogia a proibição do jogo e afirmou que ele poderia ser liberado, se houvesse regras rígidas e controle.

- Chega de demagogia e hipocrisia. É isso que me deixa impressionado. Para ter o jogo é só estabelecer regras rígidas e controle. Essa verba arrecadada poderia beneficiar muita gente e gerar empregos.

Comparação com Cuba e Afeganistão

Cabral criticou a posição do Congresso, que derrubou o projeto de legalização dos jogos. Ele lembrou que jogos da Loterj e da Caixa são aceitos e questionou por que os outros não. O governador chegou a comparar o Brasil a países como Cuba e Afeganistão. Afirmou que, quando o jogo é ilegal, o lucro acaba não chegando às instituições sociais. Além disso, segundo ele, a legalização traria ganhos para o estado e para as instituições, gerando empregos formais. Por isso, defendeu que o Congresso volte a discutir o assunto.

- Então deixo essa reflexão natalina para vocês e para o ano de 2011, com menos hipocrisia e mais vida como ela é - disse.

À tarde, durante a diplomação de deputados federais, senadores e do governador, no Teatro Municipal, no Rio, a bancada federal fluminense preferiu não atacar Cabral, mas ficou dividida em relação ao tema. O senador eleito Marcelo Crivella (PRB) disse ser contra a proposta. Para ele, a legalização do jogo aumentaria a violência e atividades paralelas do crime. Já o deputado Chico Alencar (PSOL) ironizou Cabral:

- O Cabral está voltando a ser aquele jovem rapaz progressista. Outro dia falou do aborto, da legalização das drogas. São discussões que a sociedade brasileira tem que encarar. Eu saúdo esse governador aberto, deploro para que ele não apareça durante as campanhas. Aí, ele é bem conservador.

Chico, no entanto, disse que o jogo seria aceitável desde que fosse administrado pela Caixa Econômica Federal, que teria mais condições de evitar a corrupção e a lavagem de dinheiro. Mesma opinião do deputado Jair Bolsonaro (PP):

- Do jeito que está, quando alguém grita "bingo!", está lavando dinheiro. Acho que essa modalidade de jogo é aceitável somente se tiver sob a responsabilidade da Caixa Econômica.

O ex-jogador Romário (PSB), eleito deputado federal, também é outro deputado da bancada federal a favor da ideia:

- Dependendo do jogo, eu sou a favor da legalização. Já que (o bingo) é legal em vários países de primeiro mundo, por que não aqui?

Já o senador eleito Lindberg Farias (PT) afirmou que o caso foi discutido no Congresso de forma equivocada:

- Sou a favor da legalização. Sem ela, acabamos aumentado o suborno e a relação com os caça-níqueis.

O deputado federal Miro Teixeira (PDT) também diz que o projeto derrotado não abordou a questão da melhor forma e por isso foi derrotado. Ele afirmou, no entanto, que essa não é uma prioridade para o país.

- Esse projeto, acho que já está com o destino definido. O que não quer dizer que não se possa discutir, num ambiente saudável, amplo, público, a questão do jogo. Se houver uma discussão desse tipo, acho que se deve criar em cada região do Brasil uma determinada área onde existam cassinos, com jogos, diversão, lazer, emprego para músicos, garçons, cozinheiros, como existe nos Estados Unidos. Mas isso eu não considero também uma prioridade. O Brasil tem suas prioridades, e o jogo não é uma delas.

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