domingo, 5 de dezembro de 2010

Esquerda articula pacto com oposição na Câmara

DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

Partidos governistas, PC do B, PSB e PDT buscam se fortalecer no Legislativo, depois de escanteados pela prioridade do PT na coalizão com o PMDB

Denise Madueño / BRASÍLIA

Aliados do governo, os partidos da base considerados de esquerda - PC do B, PSB e PDT - articulam um pacto inédito na Câmara com a oposição para se contrapor à hegemonia do PT e do PMDB. Acima das diferenças e da ideologia, esses partidos governistas buscam entrar no jogo político no Legislativo, depois de escanteados pela prioridade dos petistas na coalizão com os peemedebistas, e a oposição procura a sobrevivência.

O acordo é pragmático. Os dois lados sabem das discordâncias entre si e não esperam estar juntos em todos os assuntos no Congresso nem em futuros projetos políticos de poder, mas não aceitam o "prato feito" que tem sido imposto pelos maiores partidos para os próximos quatro anos. O PT e o PMDB dividiram entre eles os dois biênios do comando da Câmara, repetindo o que foi feito nos últimos quatro anos.

O lançamento de um nome alternativo para disputar a presidência da Casa não é descartado por essa nova articulação. Sobre isso, porém, as discussões estão embrionárias.

Antes aliados preferenciais dos petistas, PC do B, PSB e PDT avaliam que o PT e o PMDB não apenas querem dividir o governo como também tomar conta da política no País, asfixiando os demais partidos. "O PT e o PMDB já resolveram tudo até 2014. A insatisfação é generalizada. Eles decidiram como vai ser e outros partidos ficarão na geral, batendo palmas", resumiu um líder.

No primeiro encontro do grupo, na semana passada, representantes das legendas reclamaram da gestão do presidente da Câmara e vice-presidente eleito, Michel Temer (PMDB-SP). Eles lembraram que Temer entregou todas as relatorias importantes para petistas e peemedebistas. Temer e seu antecessor, Arlindo Chinaglia (PT-SP), já foram eleitos no esquema de divisão do poder entre as duas legendas.

"Eles acham que são donos da Casa. Ninguém está satisfeito com essa hegemonia exagerada", afirmou José Carlos Aleluia (DEM-BA). O movimento do PMDB de constituir um bloco com outros quatro partidos da base - PR, PTB, PP e PSC, somando 202 deputados - preocupou os demais deputados.

Os partidos da base já alertaram o PT sobre o pacto. Na quarta-feira, representantes do PSB, do PDT e do PC do B tiveram uma reunião tensa com líderes petistas. "A oposição está de braços abertos para nós e o governo está nos virando as costas", disse um líder da base.

Nas contas do grupo, com outras pequenas bancadas, o bloco poderá somar cerca de 200 deputados, número suficiente para desequilibrar o jogo parlamentar.

Bloco é a saída para ''participar do jogo''

Os líderes apontam uma distorção resultante das eleições. Um partido médio, por exemplo, ficará sem espaço na Câmara se não se juntar a outras siglas. O regimento trata o bloco parlamentar como um único partido para efeito de distribuição dos cargos na Casa. "Queremos participar do jogo", avisa Rodrigo Maia (RJ).

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