quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

Inflação do aluguel é de 11%, mas no Rio preços dobram

DEU EM O GLOBO

O Índice Geral de Preços-Mercado (IGP-M), o mais usado nos contratos de aluguel no país, fechou o ano em 11,32%, o maior nível desde 2004. Altas de preços de produtos básicos (como minério de ferro e algodão) acabaram influenciando o índice. Mas, como o mercado imobiliário está aquecido, sobretudo no Rio, além do repasse da inflação, está havendo negociação para renovação de contratos. Nestes casos, há preços dobrando, como o de um apartamento de quarto e sala em Botafogo, de R$ 730 para R$ 1.500. “O mercado está aquecido e como os aluguéis representam entre 0,5% e 1% do valor de compra, os reajustes estão sendo muito acima do IGP-M”, disse Pedro Carsalade, presidente da Associação Brasileira das Administradoras de Imóveis (Abadi)

Inflação do aluguel dispara

IGP-M fecha ano em 11,32%, o maior desde 2004. Mercado aquecido faz locação até dobrar

Luciana Casemiro e Ronaldo D"Ercole

OÍndice Geral de Preços - Mercado (IGP-M), o mais usado nos contratos de aluguel no país, fechou 2010 em 11,32%, o maior patamar dos últimos seis anos - em 2004, avançara 12,41%. A alta do índice, no entanto, não é o único problema que vem tirando o sono de inquilinos. Com o mercado imobiliário do Rio superaquecido, alguns aluguéis vêm até dobrando de valor na hora da renovação do contrato.

Segundo Leonardo Schneider, vice-presidente do Sindicato da Habitação (Secovi-RJ) e diretor da imobiliária Apsa, diante da alta do índice, está havendo uma grande movimentação de inquilinos à procura de informações:

- Como o mercado está muito aquecido, não sabemos se haverá negociação, a tendência é realmente de alta. O poder de barganhar está na mão dos proprietários e não mais dos inquilinos. Mas vamos esperar os próximos 30, 60 dias para ver como fica.

Pedro Carsalade, presidente da Associação Brasileira das Administradoras de Imóveis (Abadi), diz que a oferta de unidades para alugar é menor do que a demanda.

- O mercado está aquecido, faltam imóveis para locação e a procura é grande. O reajuste anual é sempre uma negociação entre inquilino e proprietário e uma boa relação conta nessa hora. Mas o fato é que os imóveis subiram muito, alguns mais de 60%, em bairros como Botafogo e Ipanema, onde há muita procura por empresas com vistas à Copa e às Olimpíadas. E os aluguéis representam entre 0,5% e 1% do valor da unidade. Para adequar o aluguel ao preço do mercado, muitos terão reajustes acima do IGP-M.

Índice deve ser menor em 2011

O contrato do apartamento de 40 metros quadrados, sem garagem, na Praia de Botafogo, em que Jacqueline Mota e o marido Rômulo Elizardo moram vence dia 31 de janeiro e o casal já sabe que não terá outra opção a não ser a mudança. É que a proprietária já avisou que, para renovar o contrato, o valor sairia dos atuais R$730 para R$1.500.

- Imaginávamos que aluguel poderia ir para uns mil reais, mas R$1.500 nossa renda não suporta. Já olhamos outros apartamentos no bairro e também em Copacabana e no Flamengo. Estão todos nessa faixa. E até agora, de todos os que vimos, o nosso é o melhor. Para pagar um aluguel em torno de mil reais, achamos que teremos que deixar a Zona Sul e ir para a Tijuca. É incrível pensar que, quando entramos, há 30 meses, tivemos até uma pequena redução do aluguel ao fim do primeiro ano e descontos para fazer obras e instalar armários.

Para Salomão Quadros, coordenador de análises econômicas da Fundação Getulio Vargas (FGV), instituição que calcula o índice, embora muito elevada, a taxa do IGP-M este ano tem um forte componente da recuperação de preços depois das fortes quedas que se seguiram à crise econômica mundial do fim de 2008. O próprio IGP-M refletiu essas quedas, ao fechar 2009 com deflação de 1,72%, a primeira variação negativa nos 20 anos em que o índice é calculado, lembra Quadros:

- A taxa deste ano é muito alta, mas está associada à anterior, e reflete uma recuperação de preços, que vêm de níveis muito baixos. Por isso, é improvável que haja repetição de uma alta desta ordem em 2011. Tanto que estamos fechando o ano com uma taxa (0,69%) bem menor que a média do ano (que foi superior a 1%).

A expectativa é que o índice recue ao longo do ano. Mas não muito: 2011 será, de novo, um ano de inflação sob pressão, apontam os economistas.

- Para os próximos meses haverá ainda alguma pressão das commodities agrícolas, por razões sazonais e pelo fenômeno La Niña. Desacelerando-se mais adiante - diz Thais Marzola Zara, economista da consultoria Rosenberg Associados.

A vantagem, ressalta Thais, é que o IGP-M não tem mais o impacto de antes sobre os preços administrados, como tarifas elétricas e de telefonia, que passaram a ser corrigidos por índices que captam apenas parte da alta do IGP-M:

- O IGP-M ainda tem certo peso, mas não tanto quanto no passado.

O IGP-M desacelerou este mês, com alta de 0,69%, depois de subir 1,45% em novembro. Dos três indicadores que compõem o índice, o que mede as variações de preços no atacado (IPA) foi o que apresentou maior variação, de 13,9% no ano. O Índice de Preços ao Consumidor (IPC) avançou 6,09%, em linha com a taxa esperada para a inflação oficial (o IPCA), de 5,9%. E o Índice Nacional de Custos da Construção (INCC), 7,58%.

- Como o IGP-M capta preços sujeitos a elevações bruscas, como o das commodities, em 2011 continuará mostrando que o mundo se mantém volátil e a especulação permanece forte neste mercado. E os problemas climáticos estão aumentando. O que pode suavizar é que a necessidade de recuperação de preços no mundo agora é menor - disse Quadros, da FGV.

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