terça-feira, 14 de dezembro de 2010

Razões outras:: Dora Kramer

DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

Quase metade do ministério que toma posse com a presidente Dilma Rousseff no próximo dia 1º de janeiro já foi anunciada e até agora não se ouviu coisa alguma sobre a excelência profissional dos indicados para as respectivas pastas.

Uma exceção para confirmar a regra: Alexandre Tombini, do Banco Central, um funcionário de carreira reconhecido e respeitado.

Não que não existam competências entre os ministros escolhidos. Existem e até comprovadas, como é o caso de Antonio Palocci para a Casa Civil, não obstante o toque de impropriedade que o episódio da violação do sigilo bancário do caseiro Francenildo Costa confere à presença dele em tão estratégico posto.

Não pôde continuar à frente do Ministério da Fazenda, mas pode assumir um lugar que do ponto de vista do cotidiano de governo é o segundo depois da Presidência. Mas, como vivemos tempo de irrelevâncias no tocante ao conceito do ser e também parecer irretocável para se ocupar um cargo público, relevemos.

Ainda que o mérito tenha deixado de ser critério há muito tempo na escolha de auxiliares presidenciais, impossível não notar, e registrar, a arbitragem à deriva vigente na composição do Ministério Dilma em particular.

Tão exorbitante que é vista com a maior naturalidade a reserva de "cotas" à presidente dona da prerrogativa, conferida pela eleição, de nomear quem queira. E por conta desse exotismo não se pode perceber o que Dilma Rousseff realmente quer para o governo a ser iniciado em 18 dias.

Entretanto, já soubemos o que o presidente Luiz Inácio da Silva quis e a cada dia tomamos conhecimento de um novo desejo dele a ser satisfeito. Soubemos também que há ministros nomeados porque se mostraram "confiáveis" durante a campanha, bem como tivemos notícia de que o ministro da Agricultura continua porque o vice Michel Temer quer.

Pelo mesmo motivo Moreira Franco comandará a Secretaria de Assuntos Estratégicos para, entre outras funções, comandar o Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social e seu conhecido cardápio de sugestões solenemente ignoradas.

Fernando Pimentel irá para o Desenvolvimento porque é amigo de longa data de Dilma e perdeu a eleição em Minas; a escolha de Ideli Salvatti para a Pesca guarda relação com a reserva de mercado para o grupo petista de Santa Catarina.

Alfredo Nascimento continua nos Transportes não pela excelência (?) demonstrada à frente da pasta, mas porque assim quis o PR. Edison Lobão, cujo desastre na condução da última crise de energia dispensa apresentações, volta porque José Sarney quer.

O maranhense Pedro Novais vai para o Turismo - a pasta que libera emendas parlamentares a mancheias para entidades fantasmas - porque o PMDB da Câmara se articulou com Sarney.

Ciro Gomes está cotado para a Integração Nacional. Ciro, ou alguém de sua confiança, ganha uma pasta na cota do critério de prevenção de danos.

Para o Desenvolvimento Agrário, a indicação resultou do trabalho da ""cooperativa"" formada pelos governadores do PT no Nordeste para obter uma representação na equipe.

Antonio Carlos Valadares foi convidado para a pasta a ser criada das Micro e Pequenas Empresas, mas quer coisa melhor por causa da motivação de sua escolha: a necessidade de abrir vaga para José Eduardo Dutra no Senado.

O baile segue nessa toada onde sobram homens e mulheres, mas faltam ideias e todo mundo faz de conta que é assim mesmo. A exceção foi o senador eleito Eduardo Braga que deu uma entrevista ao Estado dizendo ter recusado a Previdência por falta de projeto para a área.

Pena que não era verdade. Não foi ministro porque Renan Calheiros vetou: precisava do cargo para acomodar Garibaldi Alves, pois era necessário afastá-lo da disputa pela presidência do Senado.

Da mesma forma, a disputa pela presidência da Câmara pautará a escolha de outro ministro do PT, partido campeão na ocupação de espaços na Esplanada a partir do critério da divisão de cargos entre as tendências internas do aparelho.

É bonito tudo isso? Feio de doer, mas é assim que a banda toca no retrógrado e viciado modo brasileiro de fazer política e governar o País.

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