quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

Uma queixa de discriminação:: Rosângela Bittar

DEU NO VALOR ECONÔMICO

Por mais insensato e contraditório que possa parecer, o PT não está politicamente satisfeito e teme ficar sem representantes no ministério do governo Dilma. Até agora, não teria nenhum, quando vários dos convidados e até anunciados são do partido.

Guido Mantega e Miriam Belchior, os dois principais ministros da área econômica, são do PT. Antonio Palocci, Gilberto Carvalho e Alexandre Padilha, os principais postos com gabinete no Palácio do Planalto, também. Paulo Bernardo (Comunicações), José Eduardo Cardozo (Justiça), Fernando Haddad (Educação), José Sergio Gabrielli (Petrobras), são estrelas do PT. Também são os presidentes de fundos de pensão mais importantes, que continuam sendo os locais de dinheiro nas estruturas do poder. Por onde se olha há petistas em cargos de primeiro, segundo e terceiro escalões.

Mas não é disso que o partido se queixa. Na última reunião do grupo Construindo um Novo Brasil, semana passada, em que se fez um seminário considerado de alto nível por todos, com integrantes do grupo majoritário do Brasil inteiro e ouvintes de todas as tendências, foi feita uma avaliação do governo Luiz Inácio Lula da Silva na economia, na política, no parlamento, nas relações exteriores, um balanço de vitórias e derrotas. Uma conferência de Nelson Barbosa, o secretário de Política Econômica, sobre a crise, encantou o auditório. O partido, no entanto, caiu das nuvens nas conversas entre os grupos, ao fim das conferências, quando se detiveram no ministério Dilma.

O PT notou que seu presidente, José Eduardo Dutra, estava com dificuldades para ser interlocutor dos partidos que nele não confiavam para encaminhar suas propostas de participação no governo Dilma. Era visto como presidente do PT e não como integrante do núcleo de transição de governo, com mandato para ouvir o PMDB, o PSB, o PCdoB, o PR. Os presidentes de partidos falavam com ele mas não entregavam lista de nomes, escondiam o jogo.

A presidente eleita, diante disso, alterou as missões, passando a Antonio Palocci a atribuição de conversar com os partidos e fazer sondagens a ministros. José Eduardo Dutra, como presidente do PT, levaria também as propostas do seu partido a Palocci. Do ponto de vista pessoal, seu futuro ficou decidido: Antônio Carlos Valadares (PSB-SE) será nomeado ministro, numa das vagas do PT, para que Dutra, seu suplente, assuma a cadeira de senador.

A partir desta solução, decidiram formar uma comissão para entregar a Dutra suas indicações.Todos aqueles ministros anunciados, convidados, sondados ou cotados, são escolha pessoal da presidente eleita (caso de Fernando Pimentel), ou imposição do presidente Lula (Guido Mantega e Fernando Haddad), que está interferindo mais do que todos esperavam e previam. Quando confrontado com o exagero, responde, como fez ontem: "Queriam que ela nomeasse a oposição?" Típica e recorrente resposta.

Lula demonstra querer manter posições pessoais estratégicas, embora em algumas não estejam ainda claras suas razões.

Esta semana mesmo fez um dia inteiro de teatro educacional, com uma solenidade atrás da outra para promover o "lobby" da permanência de Fernando Haddad. Mas o Lula precisa disso? Dilma resistia? Incompreensível. A não ser porque, como a área, como a saúde e a segurança, pontuou dezenas de programas eleitorais e promessas de campanha da então candidata Dilma Rousseff, exija melhor justificativa para manter o status. Não o foi, certamente, por excesso de realizações e soluções dos problemas.

O ministério que vem aparecendo aos poucos, inclusive, está pronto desde, no mínimo, agosto, quando já se falava que os agora citados integrariam o governo Dilma. Outra incógnita é por que a presidente eleita está demorando tanto a formalizar indicações que estavam nos gabinetes e na praça há quatro meses.

Nas conversas dos grupos que participaram de seminário no fim de semana, duas questões se destacaram. Uma, foi a escolha do ex-prefeito de Belo Horizonte, Fernando Pimentel, para o cargo de ministro do Desenvolvimento. Desde que Dilma foi designada candidata a presidente, não há dúvidas de que Pimentel seria ministro em um governo seu. A argumentação do partido, entretanto, é que há uma fissura irreconciliável no PT de Minas, e o problema não se resolve com a escolha "do amigo", deixando os seus adversários petistas à margem.

A outra questão é de princípio. Todos os partidos da aliança estão sendo ouvidos ou ainda serão para indicar seus representantes na coalizão de governo. Para os convites aos ministros petistas, o PT não foi ouvido. A discriminação, um recurso de retórica e de disputa política recorrente no discurso do presidente Lula, é a segunda das questões nos debates dos representantes de diferentes correntes que participaram do encontro do CNB: "Há uma discriminação inaceitável, só o PT não se manifesta sobre a formação do governo".

Há duas explicações plausíveis para o choro petista. A primeira é sua inclinação à hegemonia. Por isso, nunca está satisfeito. Outra é algo mais intangível. Partido pensa em voto. Até agora, não é a lógica eleitoral o norte do ministério de Dilma no que diz respeito ao PT. Afinal, Miriam Belchior, Gilberto Carvalho, Guido Mantega, Fernando Haddad não têm votos, não são do ramo como são Jaques Wagner, que quer o Ministério da Integração Nacional, verdadeira máquina eleitoral, ou os petistas que pensam disputar as prefeituras nas eleições de 2012.

Mas se há alguém que está sendo ouvido na montagem do governo Dilma, é o PT de São Paulo. Até agora já emplacou ou está por emplacar, quatro dos quatro ministros do Palácio do Planalto: Antonio Palocci, Alexandre Padilha, Gilberto Carvalho e Marco Aurélio Garcia.

Na equipe econômica, Guido Mantega e Miriam Belchior são confirmados no paulistério. José Eduardo Cardozo e Fernando Haddad, o primeiro com um convite ainda genérico, e o segundo apadrinhado por Lula mas ainda não sacramentado, têm origem bandeirante. Na lista de espera está o irrecusável Aloysio Mercadante, nome constante de todas as bolsas de apostas.


Rosângela Bittar é chefe da Redação, em Brasília. Escreve às quartas-feiras

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