sábado, 3 de julho de 2010

Reflexão do dia – Presidente Lula


" Agora, obviamente, a seleção vai ganhar porque eu fico analisando: não temos adversários. Não temos muitos adversários. Não tem muita novidade para a Copa do Mundo. Em 18 Copas, o Brasil sozinho ganhou quase que um terço,


Presidente Lula, em O Estado de S. Paulo, 08/06/2010 )

A gestão chafariz :: Roberto Freire

DEU NO BRASIL ECONÔMICO

Alguém já chamou a gestão financeira do atual governo de "gestão chafariz". Basicamente é um tema típico da teoria do ciclo político econômico: gestores "poupam" nos dois primeiros anos. Para gastar nos dois últimos anos.

Seguindo essa lógica, prefeitos adoram construir chafarizes nas praças públicas e gostam mais ainda quando podem inaugurá-los nos últimos meses de mandato. Não faz mal se o chafariz foi ideia do último prefeito ou de outros.

O importante é colocar a placa. É inaugurar. Também serve reinaugurar. Nenhuma coincidência o fato do atual Plano Plurianual ter alterado toda sua lógica do núcleo central de investimentos do ensino fundamental para as obras do PAC, justamente no limite destes dois anos.

Muito menos é coincidência reinaugurar ou tomar no braço obras de terceiros e se apropriar delas nas propagandas do PAC.

A "gestão chafariz" olha apenas para o gasto e para o uso eleitoral dos recursos públicos. O grande problema é que, neste exato momento, o gasto público se aproxima do descontrole fiscal.

Os números estão aí na mídia nos últimos dias e são incontestáveis, apesar do tom de "normalidade"emprestado, por exemplo, pelo secretário do Tesouro Nacional, Arno Augostin.

Segundo este, o maior déficit fiscal do governo central desde 1999 é "neutro" e "cumpriremos sem qualquer problema a meta de superávit primário de 3,3% do PIB".

Para o referido secretário, o mais importante é o fato de que os investimentos do governo continuam a crescer, incluindo o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC).

Pouco importa que 30% dessas obras tenham sido contestadas pelo TCU, ou que o cronograma das mesmas esteja atrasado em quase 90% delas. Além de confundir financiamento com investimento!

Pequenas questões como o fato do pagamento dos juros, nos últimos 12 meses corridos, terem chegado à cerca de R$ 180 bilhões, algo por volta de 5,4% do PIB anual, ou da dívida pública já estar chegando em 42% do mesmo PIB não são relevantes para o secretário do Tesouro.

Relevante é que se gaste no PAC, porque o programa,segundo os gestores do governo, resolverá nossas questões de infraestrutura. Provavelmente não é apenas o presidente que não gosta de ler os jornais.

O uso político do gasto público, mesmo que fosse corretamente realizado em infraestrutura, é o uso feito agora. Esgotaram-se dois mandatos em outras questões "mais relevantes".

Não, o país não tem como crescer de forma "chinesa" pela simples razão de que vivemos o que se convencionou chamar de "custo Brasil" e que reflete todos os investimentos que não foram feitos nos últimos anos.

O uso político do gasto público não nos levará ao crescimento, mas sim à maior pressão inflacionária já agora e, mais à frente, a uma grave crise fiscal, que irá cair no colo do próximo presidente, seja lá quem for.

Brasileiros e brasileiras sabem, porque já conviveram com isso no passado, o que significa a soma de inflação ascendente e crise fiscal. Para encerrar: anotem que a expansão do gasto é tão violenta que é maior que a expansão recorde da arrecadação tributária. Tirem suas conclusões...


Roberto Freire é presidente do PPS

Agenda para o país :: Merval Pereira

DEU EM O GLOBO

Além dos problemas fiscais que se acumulam no horizonte, reforçados pela síndrome de "prefeito gastador em ano de eleição" que domina as ações do governo nesta sucessão presidencial, como bem definiu o economista Reinaldo Gonçalves, da UFRJ, o próximo presidente da República terá que enfrentar questões estruturais que a gestão Lula só enfrenta de maneira superficial e eleitoreira.

A consultoria Macroplan, Prospectiva, Estratégia e Gestão, do economista Claudio Porto, está distribuindo a seus clientes uma análise sobre a situação da educação e da infraestrutura como condições para melhorar a competitividade e permitir o desenvolvimento sustentável do Brasil.

Segundo o estudo, o risco de um apagão de mão de obra no país está maior, e ficou mais evidente com a superação da crise econômica.

Além do déficit de mão de obra qualificada, outro gargalo que persiste é o da infraestrutura.

Há claras evidências, segundo a análise, de que a educação e a infraestrutura se tornaram os principais gargalos estruturais no crescimento brasileiro, representando áreas que já fazem sombra ao atual cenário econômico.

Embora, na avaliação dos técnicos da Macroplan, o Brasil esteja atravessando um momento excepcionalmente favorável na sua trajetória econômica, o sucessor do presidente Lula terá que trabalhar "exaustivamente" para superar as defasagens e gargalos nos níveis educacionais da população, e na infraestrutura e logística de transportes, se quiser garantir um crescimento consolidado e permanente para o país.

As implicações mais visíveis da baixa escolaridade da população brasileira se evidenciam no crescente quadro de escassez de mão de obra qualificada no Brasil, segundo dados do Ipea:

· Déficit na construção civil em 71 mil trabalhadores

· Comércio: faltam 204 mil pessoas qualificadas somente nas regiões Sul e Sudeste.

· Tecnologia da informação: faltam 100 mil profissionais (podendo chegar a 200 mil em 2013).

Enquanto isso, cerca de seis milhões de trabalhadores de baixa qualificação não conseguirão um lugar no mercado de trabalho em 2010.

O quadro geral no Brasil, revela o estudo, mostra de um lado um grande contingente de desempregados com deficiências em sua formação, do ponto de vista educacional e profissional, e, de outro, uma sobra de postos de trabalho para profissionais qualificados.

O Brasil tem hoje uma escolaridade média de sete anos de estudo, com uma defasagem de cinco a sete anos em relação às dos países da OCDE.

Para definir as perspectivas para a educação para os próximos anos, a Macroplan traçou dois cenários para a área de educação.

No cenário A, menos otimista, baseado na média histórica de avanço da escolaridade dos últimos 20 anos, o Brasil só alcançará o atual nível de escolaridade da OCDE em 2040, um hiato de 30 anos.

No cenário B, mais otimista e o mais provável, que reflete a universalização do ensino fundamental e a intensificação do esforço de melhoria das condições de ensino, é possível reduzir este hiato para 20 anos, se for mantida a tendência do período de 2000-2007.

Ou seja, o Brasil alcançará o atual nível de escolaridade das nações da OCDE em 2030.

Na avaliação do PISA (Programa Internacional de Avaliação de Alunos), realizado pela OCDE, os alunos brasileiros com 15 anos de idade obtiveram médias, em 2006, que os colocam na 54ª posição em matemática (entre 57 países), na 53ª posição em ciências e na 49ª em leitura (entre 56).

O estudo ressalta que o problema não está no gasto público do Brasil com educação, que em 2007 chegou a 5,2% do PIB, contra 5,3% dos países desenvolvidos, segundo a UNESCO.

Para a Macroplan, parecem explicar melhor os determinantes da qualidade da educação no ensino fundamental vários fatores, tais como a gestão da rede escolar e de cada escola; as avaliações periódicas do desempenho dos alunos; a formação e didática dos professores e os incentivos ao bom desempenho; o foco no "feijão com arroz" do processo de ensino-aprendizagem; as condições socioeconômicas dos alunos; a educação das mães e o ambiente doméstico; e a participação dos pais no acompanhamento do desempenho escolar dos filhos.

No ensino médio, evidenciam-se, segundo o estudo da Macroplan, o baixo perfil de entrada da maioria dos alunos, que carrega um "estoque de deficiências" herdado no ensino fundamental, e o excesso de papeis que se impõe a este nível de ensino, tornando-o enciclopédico, sem foco e superficial.

Nos níveis de ensino profissionalizante e superior, a principal deficiência ainda é a baixa cobertura.

A Macroplan traçou a seguinte "agenda estratégica" para superar os problemas da educação:

(1) Universalizar a educação infantil;

(2) fazer a "revolução da qualidade" no ensino fundamental;

(3) reformular o currículo do ensino médio;

(4) multiplicar as oportunidades de acesso ao ensino profissional de nível médio e ao ensino superior;

(5) fortalecer a avaliação da qualidade do ensino público e privado;

(6) melhorar o desenvolvimento e o desempenho de professores;

(7) promover um "choque de gestão" nas unidades escolares e nas redes de ensino público;

(8) mobilizar e facilitar a participação das empresas e organizações da sociedade civil na melhoria da qualidade do ensino;

(9) estimular e valorizar o desejo da sociedade por uma educação de alta qualidade.

Arcanjo da imprensa livre :: Mauro Chaves

DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

Por mais que se tenha julgado indissociáveis, nas últimas décadas, a preservação da liberdade de imprensa e a plena vigência do Estado Democrático de Direito, resquícios contagiosos do autoritarismo, às vezes pouco perceptíveis - porque habilmente disfarçados de nobres princípios de "controle social" -, mantêm-se, em nosso país, como um fértil serpentário de cerceamento da liberdade de expressão. Os muitos recuos em tentativas - sejam acintosas ou sutis - de controlar a livre circulação de informações e opiniões na sociedade brasileira não significa que a mentalidade censória tenha sido banida do mapa político nacional.

As formas e os pretextos de que lançam mão os detentores de tal mentalidade podem muito variar.

Valores inquestionáveis são arregimentados numa aleivosa confrontação, como se sua preservação fosse incompatível com o direito de o profissional da comunicação informar e, mais importante, o de a sociedade ser informada. As razões da privacidade, do resguardo da imagem e da intimidade dos cidadãos têm sido, muitas vezes, invocadas para deixar em total opacidade as mais cabeludas falcatruas praticadas com a coisa pública.

Produzem-se projetos para a atividade da comunicação que, a pretexto de impor qualificação profissional ou "responsabilidade social", o que pretendem, no fundo, é a sujeição sindical, atrelada à conveniência política governamental. Propõem-se "diretrizes" de institucionalização do respeito aos direitos humanos que, além de tolher a liberdade de expressão, ofertam escoras de sustentação favoráveis aos veículos de comunicação que se mostrem mais dóceis aos detentores do poder - inclusive estabelecendo um ranking de classificação, realizado por comissão oficial de julgadores, sobre o que esta entenda ser o "grau de respeito" que cada veículo tenha, em relação aos "direitos humanos".

Esses projetos de "controle social" da atividade da comunicação - sempre impondo alguma forma de censura ou de cerceamento da liberdade de expressão, o que a nossa Constituição repudia com firmeza sem paralelo em outros textos constitucionais do mundo (afora a Primeira Emenda à Constituição norte-americana, matriz institucional da liberdade de imprensa das democracias contemporâneas) -, por mais que sejam minimizados ou "flexibilizados", por pressão da opinião púbica ou resistência da própria mídia, sempre dão a impressão de estar com data marcada de retorno - ou de recuperação de sua intolerância original.

Por outro lado, o chamado "segredo de Justiça", plenamente justificável em conflitos familiares com consequências judiciais - em especial quando há envolvimento de menores -, tem sido usado e abusado para sonegar à sociedade brasileira informações de relevante interesse público, por se referirem a crimes cometidos contra o patrimônio coletivo. Eis aí uma outra forma de cerceamento esconso da liberdade de expressão, das muitas que sobrevivem como entulho autoritário do País redemocratizado.

Acresce que em nosso continente latino-americano muitos já são os exemplos, atuais, de tolhimento e perseguição a veículos de comunicação e profissionais de imprensa não submissos aos detentores do poder. É como se um surto endêmico de censura estivesse incubado e emergisse forte, pondo fim ao prazo de validade do que supúnhamos ser uma vacina democratizante tomada pelas nações deste continente há cerca de duas décadas. É necessário, pois, que a sociedade brasileira se mantenha atenta a quaisquer indícios de ameaça ao sustentáculo maior do Estado Democrático de Direito - ou seja, a plena liberdade de expressão, que nossa dura experiência histórica fez o constituinte proteger com todas as ênfases, na Constituição promulgada há 22 anos.

Por tudo isso e pela preservação da consciência crítica, indispensável ao desenvolvimento da plena democracia no Brasil, independentemente dos partidos ou das pessoas que exerçam quaisquer dos Poderes de Estado, são mais do que oportunos os eventos de comemoração de um ano de existência do Instituto Vladimir Herzog, criado em homenagem ao jornalista morto em outubro de 1975 pelos órgãos de repressão da ditadura militar. O jornalista, que hoje teria completado 73 anos, tornou-se uma figura simbólica de resistência, tal como se fora um arcanjo incumbido de proteger, com coragem e vigor, a imprensa livre em nosso país. O instituto foi criado como um "espaço de reflexão e produção de informação que garanta o direito à justiça e o direito à vida".

Neste primeiro ano de existência já desenvolveu importantes atividades culturais, entre as quais a produção de debates, em escolas, sobre direitos humanos e liberdade de imprensa - com relatos e reprodução de textos do tempo em que a imprensa alternativa consignava sua resistência ao regime autoritário. Mas, por toda a sua carga simbólica, também imagino o Instituto Vladimir Herzog como um observatório avançado, atual, da liberdade de expressão, equipado para detectar quaisquer sinais de recidiva do autoritarismo censório. E nesse sentido merece todo o apoio da sociedade brasileira.


P. S.: Hoje à noite, às 21 horas, na Sala São Paulo, o Instituto Vladimir Herzog fará o evento que denominou Encontro Musical pela Democracia, Educação e Felicidade. Talvez seja para enfatizar que faltando algum dos dois primeiros valores a sociedade brasileira jamais chegará ao terceiro. Haverá a participação da Orquestra Filarmônica Bachiana Sesi-SP, da cantora Fafá de Belém, da bateria da escola de samba Vai-Vai e do coral A Música Venceu, de Paraisópolis, tudo sob a regência do maestro-pianista João Carlos Martins, um mestre exemplar do recomeço.


Jornalista, advogado, escritor, administrador de empresas e pintor

Empate e futuro:: Fernando Rodrigues

DEU NA FOLHA DE S. PAULO

BRASÍLIA - A corrida presidencial começa com um empate no primeiro lugar. O Datafolha deu 39% para José Serra (PSDB). Dilma Rousseff (PT) pontuou 38%. Esses percentuais só descrevem o cenário atual.

O mais relevante são as curvas de cada um. Dilma está em ascensão. Serra oscila numa mesma faixa há meses. Não avança.

O tucano se segura estoicamente entre os 78% dos eleitores que aprovam Lula. Cerca de um terço deles (34%) declara voto em Serra. É uma tarefa difícil conseguir ampliar esse tipo de voto.

Até porque quem avança nessa área é Dilma. Em dezembro de 2009, no papel de candidata oculta, tinha 32% entre os eleitores pró-Lula. Hoje está com 46%.

Analistas tucanos podem argumentar que a petista empacará nesse patamar. Essa é uma possibilidade, embora ainda sem elementos científicos para comprová-la.

Uma hipótese é Dilma ter péssimo desempenho em debates, em confronto direto com Serra. Haverá cinco encontros assim no primeiro turno. Mas é apenas futurologia saber como eles vão se sair.

Nas aparições controladas, Dilma teve mais êxito que Serra. Quando surgiu na TV -sempre ao lado de Lula-, reagiu positivamente nas pesquisas. Já Serra, ao estrelar comerciais, conseguiu, no máximo, ficar no mesmo lugar.

Outros três dados também devem ser levados em conta: 1) Dilma terá 50% a mais de tempo de TV na propaganda eleitoral na comparação com seu adversário tucano; 2) 25% dos eleitores ainda não sabem que ela é apoiada por Lula; 3) entre os atuais eleitores de Serra, 17% dizem que o apoio de Lula a um candidato os "levaria com certeza" a votar nessa pessoa.

Tudo considerado, os percentuais do empate na largada só traduzem ações da pré-campanha. Iluminam algo já consumado -como a imagem da lanterna na popa, tão usada por Roberto Campos.

Vices e suas histórias :: Villas-Bôas Corrêa

DEU NO JORNAL DO BRASIL

O gaiato ineditismo da escolha do até então desconhecido deputado federal Indio da Costa, dos Democratas do Rio de Janeiro, para vice da chapa do candidato da oposição, o tucano José Serra, ex-governador de São Paulo, não é apenas mais uma evidência da crise que desqualifica o Congresso e respinga nos partidos mas o flagrante do baixo nível regime democrático, que parece apostar com as duas décadas da ditadura militar dos cinco generais presidentes a taça da galhofa.

Muitas histórias de traições e mutretas de vices venho colecionando nos meus 60 anos de exercício como repórter político. E, para não ir mais longe, vamos recuar até a eleição de Getulio Vargas, no retorno triunfal da eleição para o mandato de 31 de janeiro de 1954. Getulio resistiu aos apelos do movimento queremista, que foi perturbá-lo no seu retiro solitário no pampa gaúcho, em São Borja.

Enquanto Danton Coelho articulava a aliança com Adhemar de Barros, governador de São Paulo e impedido de deixar o governo pelo risco de entregá-lo ao vice Noveli Junior, genro do presidente Dutra e seu desafeto, que investigaria o que não podia ser apurado. O acordo com Adhemar, com a entrega do vice, resultou na chapa vitoriosa Getulio-Café Filho. A implacável oposição da UDN com a sua equipe de grandes oradores, desaguou no crime da Rua Tonelero, com a morte do major Rubem Vaz e o ferimento de Lacerda. O vice morre de inveja do presidente. E trai com a cara mais cínica. Café Filho entendeu-se com Carlos Lacerda e propôs a renúncia dupla que Getulio não podia aceitar e o levou ao suicídio.

Na campanha de Jânio Quadros, Milton Campos foi o candidato indicado pela UDN para vice o mais completo homem público que conheci, na síntese de Carlos Castello Branco. Pois Jânio traiu Milton Campos na manobra do Jan-Jan. Um caso perfeito de dupla traição: Jânio traiu Milton Campos e Jango Goulart, candidato a vice, que traiu o marechal Teixeira Lott, companheiro de chapa.

Como repórter de O Estado de S. Paulo, cobri grande parte da campanha de Jânio. Depois de giro por Minas, o DC-3 da Varig pousou em Belo Horizonte para o desembarque de vários passageiros. Estava eu conversando com Milton quando Jânio se aproximou para a despedida. O sereno Milton Campos comunicou ao seu companheiro de chapa que não o acompanharia na próxima viagem ao Rio Grande do Sul. E justificou: A minha eleição não tem a menor importância. Importante é a sua a presidente. E não quero constrangê-lo no seu entendimento com o deputado Fernando Ferrari.

Jânio traiu Milton Campos. Elegeu-se e garantiu a eleição de Jango Goulart, com os resultados conhecidos. E a campanha política do candidato a vice de José Serra, o deputado Indio da Costa, vai animar o baile do voto.

Curvas diferentes

DEU EM O GLOBO

Ao contrário do Ibope, Datafolha mostra Serra com 39% e Dilma com 38%, num empate técnico

Tatiana Farah e Marcelle Ribeiro

Diferentemente do que mostrara resultado do Ibope divulgado no dia 23 de junho, o candidato tucano à Presidência, José Serra, aparece numericamente à frente da petista Dilma Rousseff, num empate técnico, segundo pesquisa do Datafolha divulgada ontem pela "Folha de S. Paulo". De acordo com o Datafolha, Serra tem 39% das intenções de voto, e Dilma, 38%. Em relação à última consulta do mesmo instituto, o tucano subiu dois pontos e a petista, um, numa curva diferente da que apontara o Ibope - na qual a petista tinha subido e estava cinco pontos à frente do tucano (40% a 35%), que tinha caído.

No Datafolha, Marina Silva, candidata do PV, aparece em terceiro lugar, com 10% das intenções de voto. No Datafolha, ela oscilou dois pontos para baixo, já que tinha 10% na consulta anterior do instituto. Na do Ibope, ela aparecia com 9%.

Ao comentar a diferença nos resultados, o diretor do Datafolha, Mauro Paulino, disse ontem que é preciso levar em conta as datas das entrevistas e as metodologias empregadas:

- Há características de metodologias e estratégias diferentes de cada instituto. E têm de ser observados os históricos de cada instituto. O Datafolha já destoou outras vezes dos outros institutos e estava certo. E as pesquisas foram realizadas em períodos diferentes - diz Paulino, lembrando que as entrevistas para a sua pesquisa foram realizadas em 30 de junho e 1º de julho, enquanto as do Ibope foram feitas em 19 e 20 de junho.

Empate também no segundo turno

A diretora executiva do Ibope, Marcia Cavallari, não quis falar sobre a pesquisa divulgada no dia 23 passada, que apontava Dilma na frente. Segundo sua assessoria de imprensa, não faria sentido ela falar sobre uma "pesquisa antiga", uma vez que o Ibope estava concluindo ontem outro levantamento, encomendado pela Associação Comercial de São Paulo, que deve ser divulgado neste fim de semana pelo jornal da entidade, o Diário do Comércio. Essa pesquisa foi registrada dia 28 no Tribunal Superior Eleitoral (SE) sob o número 17245/2010 e só poderá ser divulgada cinco dias depois, ou seja, a partir de hoje.

Para Paulino, o mais importante da pesquisa Datafolha é que ela mostra o "cenário embolado", em que os candidatos Serra e Dilma estão numa situação de equilíbrio.

- Mesmo com resultados diferentes, todas as pesquisas estão mostrando uma situação de equilíbrio. A diferença (entre um instituto e outro) não é tão grande assim. Não dá para nenhum candidato sorrir ainda. Está embolado mesmo. É um cenário parecido com o jogo Brasil e Holanda: qualquer erro pode ser fatal.

A pesquisa Datafolha foi realizada com 2.658 eleitores em 163 cidades, nos dias 30 de junho e 1º de julho último e registrada no TSE sob o número 17162/2010. Mostra que 4% dos entrevistados responderam que vão votar nulo ou em branco. Em maio, eram 5%. Os indecisos oscilaram de 9% para 8%. Foi o primeiro levantamento realizado após a exibição dos programas eleitorais de PSDB, PPS, PTB e DEM.

O empate técnico entre Dilma e Serra se repete na pesquisa espontânea, na qual os entrevistados dizem em quem pretendem votar, sem a apresentação de uma lista. Dilma subiu de 19% para 22%, e Serra, de 14% para 19%. Os que declararam que vão votar no candidato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva somam 4%. Já os entrevistados que afirmaram que vão votar no próprio Lula permanecem em 5%. O número de indecisos caiu de 49% para 42%.

Há empate técnico também no cenário para o segundo turno, com vantagem para Serra: o tucano surge com 47% das intenções de voto, e a petista, com 45%. Na pesquisa anterior sobre segundo turno, Serra tinha 45% e Dilma, 46%.

A rejeição a Serra caiu de 27%, em maio, para 24%. O percentual dos que disseram que não votariam em Dilma se manteve em 20%.

O índice de eleitores que declararam ter visto alguma propaganda de José Serra na televisão nos últimos 30 dias saltou de 29% para 50%. O tucano apareceu nos programas e inserções do PSDB, DEM, PPS e PTB. Já o índice dos que viram Dilma em propagandas na TV caiu de 37% para 34%.
A popularidade do presidente Lula alcançou novo recorde: 78% consideraram o governo dele ótimo ou bom. Em maio, esse índice era de 76%. Os que avaliaram a gestão como regular foram 17% e os que a acham ruim ou péssima somam 4%.

'Percepção pública da crise do vice é nula'

DEU EM O GLOBO

SÃO PAULO. A crise na escolha do vice do tucano José Serra não repercutiu na pesquisa Datafolha, avaliaram especialistas ouvidos ontem pelo GLOBO. Para o cientista Cláudio Couto, da Fundação Getulio Vargas, o PSDB gastou muita "munição" com algo que terá pouca repercussão eleitoral. Os tucanos anunciaram o nome do senador Álvaro Dias (PSDB-PR), voltaram atrás, para conter a revolta do DEM, e anunciaram o deputado Indio da Costa (DEM-RJ) como vice.

- A percepção pública da crise do vice é nula. Para os eleitores, é uma grande bobagem essa discussão.

As cicatrizes vão ficar internamente, onde o estrago será sentido ainda por bastante tempo.

Para a cientista política Maria do Socorro Sousa Braga, da UFSCar, as pesquisas só deverão apontar os efeitos dessa crise quando começar a propaganda eleitoral.

- Quando o eleitor tomar conhecimento do que aconteceu, da confusão que foi para arranjar o vice, aí, sim, a pesquisa vai mostrar. O eleitor vai perguntar: por que não foi o Aécio (Neves), por exemplo?

Na opinião do cientista político David Fleischer, da UnB, o contraste de resultados entre as pesquisas do Ibope (que mostra Dilma com 40% e Serra, com 35%) e Datafolha (Serra com 39% e Dilma, com 38%) pode ser explicada pela propaganda política dos partidos de oposição nos últimos dez dias - justamente a diferença do período entre a realização das duas pesquisas.

- Não falo do horário político, mas das inserções comerciais. Teve DEM, PSDB, PPS e PTD, com seus inserts, muitos, na TV. Isso é muito forte. Por outro lado, o presidente Lula não fez campanha com Dilma; ele ficou no Palácio, ela viajou- lembra Fleischer: - Não sei se tudo isso pode fazer a diferença de quase seis pontos, mas temos de lembrar que são institutos diferentes, com metodologias, questionários diferentes. (Tatiana Farah)

Datafolha: Serra tem 10 pontos à frente de Dilma no Sudeste; Ibope deu empate

DEU EM O GLOBO

Distribuição de votos por regiões também mostra divergências nos números

Marcelle Ribeiro e Tatiana Farah

SÃO PAULO. Os dados e tendências conflitantes entre as últimas pesquisas do Ibope e do Datafolha também aparecem na divisão das intenções de voto por região. O última levantamento do Datafolha mostra que o candidato tucano à Presidência, José Serra, teve um expressivo crescimento no Sul do país, subindo de 38% das intenções de voto em 20 e 21 de maio para 50% no levantamento feito em 30 de junho e 1º de julho. Na mesma região, Dilma Rousseff (PT) oscilou para baixo, de 35% em maio para 32%.

Já o levantamento do Ibope, divulgado em 23 de junho, mostrava que Serra estava à frente de Dilma no Sul, com 42% das intenções de voto contra 34%; no entanto, apontava para uma queda do tucano em relação à pesquisa Ibope anterior, e não para um crescimento, como no caso desta pesquisa Datafolha. A participação de Dilma, segundo o Ibope, está crescendo na região, o que mostra que os dois institutos de pesquisa apontam para tendências diferentes no Sul.

No Sul, segundo o Datafolha, a candidata do PV, Marina SIlva, caiu de 12% para 8%. A margem de erro é de dois pontos percentuais, para mais ou para menos.

Diretor do Datafolha, Mauro Paulino diz que o cenário Serra x Dilma reproduz o quadro eleitoral de 2006, entre o então candidato tucano à Presidência, Geraldo Alckmin, o presidente Lula, nessa região: - O Sul foi a região onde as propagandas do Serra nos últimos 30 dias tiveram a maior audiência, o que pode explicar esse crescimento (de 38% par 50%). E, em 2006, o Alckmin, obteve 51%, enquanto Lula teve 32% - afirmou Paulino.

Tucano cresceu no Sudeste

Segundo a pesquisa do Datafolha divulgada ontem, Serra também cresceu e está à frente de Dilma no Sudeste, maior colégio eleitoral do país, com dez pontos percentuais a mais que a petista. Serra tem 43% e Dilma, 33%. Já o Ibope mostrou empate técnico no Sudeste: Dilma aparece com 37% e Serra, com 36%.

Na Região Nordeste, a distância entre os dois principais candidatos está ainda maior e chega a 17 pontos percentuais, segundo o Datafolha. Em maio, era de 11 pontos percentuais. Dilma oscilou para cima, de 44% em maio para 47%. Já Serra oscilou para baixo, de 33% para 30%. Na opinião de Paulino Dilma pode ter maior crescimento no Nordeste, pois o presidente Lula tem aprovação maior e o eleitor ainda não a conhece:

- Lá está 47 a 30 para Dilma, mas lá tem a maior taxa de desconhecimento da candidatura dela, por conta da baixa escolaridade e da falta de contato com a informação. Lá, Lula é quase uma unanimidade. Tem 87% de ótimo e bom. É uma maneira de ver de que forma esse contingente de eleitores vai encarar a candidatura Dilma. Seu desafio é convencer esse eleitorado - diz Paulino.

A última pesquisa do Ibope no Nordeste coincide com o Datafolha e mostrou Serra com 30% e Dilma com 47%.

A região Nordeste é a que tem maior percentual de eleitores indecisos segundo o Datafolha, que chega a 12%. No Norte e no Centro-Oeste, tucano e petista cresceram na pesquisa de intenção de votos do Datafolha, tirando votos da presidenciável verde, que oscilou de 14% para 9%. A candidata do presidente Lula foi de 40% para 42% e o tucano saltou de 34% para 38%. Na pesquisa Ibope, Dilma já aparecia com vantagem em relação a Serra, com 40% das intenções, contra 34%.


Aliados de Serra e Dilma preveem disputa eleitoral acirrada até o fim

DEU EM O GLOBO

Tucanos se dizem aliviados com pesquisa; para PT, nada mudou

Adriana Vasconcelos e Gerson Camarotti

BRASÍLIA. A oposição respirou aliviada ontem com a nova pesquisa do Datafolha, na qual o tucano José Serra voltou à dianteira na disputa presidencial, ainda que seja por apenas um ponto sobre a candidata petista, Dilma Rousseff, e a margem de erro seja de dois pontos. A campanha de Serra enfrentou sua pior crise na última semana com o principal aliado, o DEM, por causa da escolha do candidato a vice. Os tucanos admitem, porém, que será dura a disputa. No PT, a pesquisa também foi avaliada como positiva e com a mesma ressalva: a eleição será acirrada até o fim.

Serra não quis comentar a pesquisa. Para o presidente do PSDB, senador Sérgio Guerra (PE), o resultado do Datafolha não surpreende. Segundo ele, bate com os dados de pesquisas internas do partido, que já sinalizavam uma recuperação:

- As coisas estão como foram previstas. Vamos entrar nesta segunda etapa da disputa competitivos e com chance de vitória, apesar da confusão jurídica reinante - disse.

Mesmo reconhecendo que a disputa não será fácil, Guerra disse acreditar que Serra tem condições de ampliar sua vantagem. Ele frisa que, em pesquisas qualitativas encomendadas pelo PSDB, Serra superaria Dilma em vários quesitos. O tucano é apontado, por exemplo, como o mais preparado para governar o país e com mais capacidade de liderança. Dilma, porém, seria considerada melhor que Serra na condução do programa Bolsa Família.

O presidente do DEM, deputado Rodrigo Maia (RJ), também prevê uma eleição disputadíssima, como ocorreu recentemente no Chile. Lá, o candidato governista Eduardo Frei perdeu a acirrada disputa para o representante da oposição, Sebastian Piñera, apesar da grande popularidade da ex-presidente Michelle Bachelet.

- Isso só mostra que a eleição não está decidida, como já imaginavam alguns governistas - afirmou Maia.

PT aposta na TV para reforçar elo entre Dilma e Lula

Para o presidente do PT, José Eduardo Dutra, o resultado do Datafolha está dentro do previsto pela campanha, com um empate entre Dilma e Serra no início deste mês. A estratégia do PT é reforçar a imagem de Dilma ao lado do presidente Lula. O partido aposta no horário eleitoral gratuito para que ela assuma a liderança da disputa.

Dutra ironizou as previsões dos tucanos para junho, por causa da aparição de Serra nos programas partidários na TV.

- Se alguém for pegar as manifestações dos tucanos há dois meses, vai encontrar a frase de que "maio seria o mês da Dilma e de que junho seria o do Serra, por causa da propaganda na televisão". Passou o mês de junho e nada aconteceu. A campanha está absolutamente dentro do que se esperava: os dois começam absolutamente empatados. Nada muda na nossa estratégia.
Vamos vincular Dilma ao projeto do governo Lula - disse Dutra. - Essa campanha será decidida nos 45 dias da propaganda na televisão.

Líder do governo e coordenador da campanha, o deputado Cândido Vaccarezza (PT-SP) disse considerar a pesquisa Datafolha favorável para Dilma. Mas afirmou que houve um desvio amostral na região Sul do país, onde o tucano cresceu muito.

- Acho a pesquisa Datafolha muito favorável. Tem um desvio exagerado na região Sul. Não é intencional, mas foi um resultado que saiu do padrão. Esperávamos que Dilma chegasse aos 25% agora, e ela está empatada com Serra. Esse resultado só reforça a tese de que estamos no caminho certo.

No staff da candidata Marina Silva (PV), que, segundo o Datafolha, está com 10% e, segundo o Ibope, com 9%, coube a um seus coordenadores de campanha, o vereador Alfredo Sirkis, comentar o resultado:

- Para nós, não muda muita coisa. A Marina tem oscilado entre 8 e 12 pontos. Ela apresenta crescimento consistente desde o final do ano passado.

Serra voltará a chamar Dilma para debates

DEU EM O GLOBO

Tucano busca confronto direto com petista.Líder do PSDB no Senado pede que candidatos não se "escafedam"

Gerson Camarotti

BRASÍLIA. Com a nova pesquisa Datafolha, o presidenciável José Serra (PSDB) disse ontem para tucanos do Paraná, durante visita a Londrina, que "é hora de chamar Dilma para o debate". Ou seja, ele vai reforçar a tática já exposta nos últimos dias de provocar o confronto direto com sua principal adversária, a presidenciável petista Dilma Rousseff. Segundo relatos, o candidato do PSDB deixou claro ontem que vai se dedicar pessoalmente nessa nova etapa da campanha que se inicia segunda-feira à tarefa de carimbar na petista a imagem de "fujona" do debate direto com seus adversários.

Serra e seus aliados tucanos e do DEM estão repetindo à exaustão que a candidata petista foi forjada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva e não tem experiência nem capacidade para enfrentar o confronto aberto de ideias e programas. Dizem que ela "fugiu" de debates na Confederação Nacional da Agricultura (CNA) no portal UOL, e também da entrevista para a jornalista Míriam Leitão na GloboNews.

No debate da CNA, onde foi o único presidenciável presente, anteontem, Serra já fez essa cobrança, mas sem citar o nome da adversária. Dilma e Marina foram convidadas, mas recusaram a participação no debate.

Para os tucanos paranaenses, o candidato tucano demonstrou estar muito animado e otimista. Na avaliação de Serra, será uma disputa acirrada e equilibrada, e agora a ordem é neutralizar a influência de Lula na campanha petista, chamando a candidata para os debates. A presidente da CNA, a senadora Kátia Abreu (DEM-TO), engrossou o discurso de Serra, dizendo que o silêncio "confunde os eleitores e lhes tira a oportunidade de conhecer melhor seus candidatos".

Tucano pede a adversários: não "se escafedam"

O líder do PSDB no Senado, Arthur Virgílio (AM), também cobrou a presença dos adversários de Serra nos debates previstos para a campanha eleitoral:

- Conclamo todos os candidatos, a Marina, o Serra e a Dilma, a não se escafederem de nenhum debate.

Nos Estados Unidos, se um candidato fugir de um debate, está liquidado. Eu não fujo. Apesar de desfrutar de posição privilegiada nas pesquisas, em meu estado, irei aonde me chamarem para debates, com quem quer que seja.

Carta social: o primeiro ato de campanha tucana

DEU EM O GLOBO

Serra adia para terça lançamento de programa de governo para incluir assinatura de compromisso

Silvia Amorim e Carolina Avansini

SÃO PAULO E LONDRINA (PR). O lançamento da prévia do plano de governo do presidenciável José Serra (PSDB) acontecerá na próxima terça-feira, em Curitiba, no mesmo ato em que o tucano assinará uma espécie de versão social da "Carta ao Povo Brasileiro", divulgada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva em 2002 - em que o petista se comprometeu com metas econômicas e a honrar contratos, num momento de crise nos mercados. Como antecipou O GLOBO, a carta reafirmará a paternidade do PSDB e conquistas tucanas na área social durante o governo Fernando Henrique Cardoso, e o compromisso com a continuidade e o aprofundamento dos avanços da atual gestão.

Inicialmente, o evento para a área social estava marcado para segunda-feira e não contemplava o anúncio sobre o programa de governo. Ontem, Serra pediu ao coordenador do programa de governo, Xico Graziano, que o ato fosse transferido para o dia seguinte para ser o evento de abertura da sua campanha. Segundo o calendário eleitoral, a campanha começa oficialmente na terça-feira. A decisão de lançar o esboço das suas propostas no mesmo evento também foi do candidato.

Esboço do programa de governo vai para o TSE

Antes do lançamento, a campanha de Serra enviará na segunda-feira à Justiça Eleitoral o documento com as diretrizes do programa de governo tucano. Segundo a equipe tucana, trata-se de um esboço do programa de governo, cuja versão final deve ser divulgada em agosto. Chamado de Diretrizes do Programa de Governo, o texto tem conteúdo mais conceitual e aborda princípios e fundamentos políticos e não um detalhamento das propostas.

A entrega do plano de governo à Justiça Eleitoral é uma novidade desta eleição. Conforme a lei 12.034, aprovada em 2009, os postulantes a cargos majoritários são obrigados a entregar um programa de governo no ato do pedido de registro de candidatura. O prazo para o requerimento termina segunda-feira.

Ontem, em Londrina, Serra justificou a escolha do Paraná para o lançamento do plano de governo pela relação afetiva com o estado.

- Vou me sentir em casa - disse, reforçando que tem "parceiros incríveis" no estado, referindo-se a Richa, ao candidato à vice-governador Flávio Arns e aos candidatos ao Senado Gustavo Fruet (PSDB) e Ricardo Barros (PP).

Ele afirmou que os curitibanos costumam resumir o comportamento da média nacional da população.

- Quando as empresas vão lançar algum produto no Brasil, lançam primeiro em Curitiba - explicou Serra.

O candidato tucano não entrou em detalhes sobre o conteúdo do plano de governo e o tom de sua campanha, mas ressaltou que não pretende ter ""duas caras"".

- Vou expor o que penso e participar dos debates. Quem não se expõe, não quer ser julgado - disse.

Diante da insistência dos jornalistas sobre o tema, ele justificou que não estaria em condições de comentar o plano de governo por causa da derrota da seleção brasileira.

- Estou triste, frustrado e chateado.

O tucano evitou polemizar sobre a conjuntura instalada no Estado após a escolha do deputado carioca Índio da Costa (DEM) em detrimento do paranaense Álvaro Dias à posição de candidato a vice-presidente.

-- O Álvaro Dias teve um comportamento digno. Infelizmente havia determinado entendimento que se frustrou, mas não foi por culpa do Álvaro, nem minha, nem do DEM, nem de ninguém, foi outro tipo de problema. Álvaro se comportou muito dignamente e vai estar, sem dúvida, me ajudando na campanha - disse Serra.

Campanha no Rio em compasso de espera

DEU EM O GLOBO

Assessores de candidatos adiaram agenda por causa de dúvidas a respeito das regras eleitorais

Fábio Vasconcellos e Natanael Damasceno


A campanha eleitoral no Rio deve começar morna para os dois principais candidatos ao governo do estado. De acordo com seus partidos, dúvidas a respeito das regras editadas pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) adiaram a definição da agenda de campanha de rua - a data inicial é a próxima terça-feira. A aposta é que o contato direto com os eleitores só se intensifique mesmo no próximo fim de semana.

O candidato da coligação PV-PSDB-DEM-PPS, Fernando Gabeira, afirmou que ainda está discutindo como será a agenda a partir da semana que vem, mas o que está praticamente certo é que ele vai iniciar a campanha pela Região Metropolitana. Segundo Gabeira, a primeira agenda, no dia 6, pode começar na Baixada Fluminense.

O candidato do PV acrescentou que um evento está praticamente confirmado para a próxima semana: uma caminhada em Petrópolis, na Região Serrana.

A equipe do governador Sérgio Cabral, que concorre pelo PMDB à reeleição, está em compasso de espera. A maior dúvida da equipe no momento é com relação à Justiça Eleitoral. Ou seja, se ela vai permitir o uso da imagem da candidata à Presidência pelo PT, Dilma Rousseff, no material de campanha. A expectativa é que o corpo a corpo com os eleitores seja intensificado no outro fim de semana, quando o TSE deverá se pronunciar sobre o uso de imagem, e o cadastro de CNPJ da candidatura já terá sido expedido pela Receita Federal.

No momento, o que se sabe é que Cabral manterá na maior parte do tempo a sua agenda como governador. De segunda à sexta, despachará como governador, mas poderá participar de eventos como candidato no início da manhã ou no fim da noite na capital ou em cidades da Região Metropolitana. Nos fins de semana, Cabral terá agendas como candidato no interior.

A estratégia de campanha do peemedebista conta com a ajuda dos prefeitos (91 deles apoiam a reeleição do governador) como cabos eleitorais. Mesmo em Campos, que é administrada pelo grupo político ligado ao ex-governador Anthony Garotinho (PR), há uma articulação para atrair dissidentes do PR.

PT e PSDB avaliam que disputa vai ser apertada

DEU NA FOLHA DE S. PAULO

Após Datafolha, Sérgio Guerra diz que Serra consolidou seu eleitorado

Presidente do PT afirma que a oposição está sem discurso em razão da elevada aprovação de Lula e de seu governo

Andreza Matais e Márcio Falcão

DE BRASÍLIA - Para as campanhas de José Serra (PSDB) e Dilma Rousseff (PT), o resultado da pesquisa Datafolha indica que o vencedor não terá ampla vantagem com relação aos seus adversários, ao contrário do que ocorreu em 2006.

A pesquisa, divulgada ontem, mostrou Serra com 39%, Dilma com 38% e Marina Silva (PV) com 10%.

Os coordenadores das campanhas apostam que o resultado aponta que se sairá melhor quem fizer um bom programa de TV e vencer os debates, sobretudo para os eleitores do Sul e do Sudeste.

Na campanha de Serra, a avaliação é que a pesquisa mostra que a eleição no Nordeste já está definida. Ali Dilma tem 47% das intenções de voto, contra 30% de Serra.

Para o presidente do PT, José Eduardo Dutra, Dilma conseguiu chegar bem ao início da campanha oficial (na terça) porque a oposição está sem discurso devido à popularidade de Lula e do seu governo. "Isso fica claro com os discursos do Serra. Dependendo do público, ele afaga ou bate no governo Lula."

Já o presidente do PSDB, senador Sérgio Guerra (PE), disse que Serra ter mantido sua vantagem mesmo com a "desavergonhada utilização da máquina pública em favor de Dilma" revela que ele consolidou seu eleitorado.

Segundo ele, a pesquisa tira do PT a euforia do "já ganhou" e equilibra a disputa. A Folha apurou que o PSDB vai manter a estratégia de evitar ataques diretos a Lula.

O líder do governo na Câmara, Cândido Vaccarezza (SP), duvidou do resultado da pesquisa na região Sul: "Não acredito que o Serra tenha 50% das intenções de votos por lá."

No Datafolha, Dilma e Serra voltam a aparecer em situação de empate técnico

DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

Sucessão. Tucano aparece com 39% das intenções de voto, e petista, com 38%. Resultado contrasta com dois levantamentos divulgados nos últimos dias, do Ibope e do Vox Populi, que indicavam 5 pontos porcentuais de vantagem para a candidata do PT

Daniel Bramatti

A mais recente pesquisa Datafolha, feita entre os dias 30 de junho e 1.º de julho, indica um empate técnico entre José Serra e Dilma Rousseff na corrida presidencial. O tucano aparece com 39% das intenções de voto, e a petista, com 38%.

O resultado contrasta com dois levantamentos divulgados nos últimos dias, do Ibope e do Vox Populi, que indicavam 5 pontos de vantagem para Dilma (40% a 35%).

Depois que Ibope e Vox Populi fizeram suas entrevistas, foram exibidos em rede nacional de rádio e televisão diversos anúncios de 30 segundos do PSDB que promoveram a candidatura do tucano.

A própria pesquisa Datafolha traz evidências de que a exposição midiática pode ter impulsionado Serra. Metade dos entrevistados disse ter visto propaganda do tucano na TV nos últimos 30 dias, e apenas 34% responderam o mesmo em relação a Dilma.

Nos dias 26 e 29 de junho, o PSDB exibiu em todo o País um total de 20 anúncios de 30 segundos, distribuídos ao longo da programação das emissoras.

Apesar de perder a batalha pela exposição na mídia, Dilma aparece como líder no quesito expectativa de vitória. Para 43% dos entrevistados, ela será a vencedora das eleições. Outros 33% acham que Serra será o próximo presidente.

Evolução. No levantamento anterior do Datafolha, feito em maio, Serra e Dilma também apareciam empatados ? cada um tinha 37% das intenções de voto.

Desde então, a região em que o tucano mais avançou foi a Sul, onde passou de 38% para 50%. No mesmo local, Dilma perdeu terreno, de 35% para 33%. No Sudeste, onde também lidera, o candidato do PSDB ampliou sua vantagem de 10 para 13 pontos porcentuais.

Em seu principal reduto, o Nordeste, Dilma passou de 44% para 47%, ampliando a vantagem sobre Serra de 11 para 17 pontos porcentuais.

No Norte/Centro-Oeste, os dois adversários avançaram: a petista de 40% para 42%, e o tucano, de 34% para 38%.

Gêneros. Diferentemente do Ibope, que pela primeira vez havia registrado um empate entre Serra e Dilma no eleitorado feminino, o Datafolha mostrou o tucano com larga vantagem nesse segmento.

Entre as mulheres, Serra tem 45% das preferências, 15 pontos porcentuais a mais do que a primeira mulher com chances de chegar ao Palácio do Planalto.

Entre os homens, dá-se o inverso: 46% deles pretendem votar em Dilma, e 34%, no tucano.

Terceira força. A candidata do PV, Marina Silva, aparece com 10% das intenções de voto na pesquisa Datafolha. Em relação ao levantamento anterior do mesmo instituto, feito em maio, Marina oscilou negativamente 2 pontos porcentuais.

A região em que a candidata verde aparece mais bem colocada é a Sudeste, com 13%. Entre os eleitores com curso superior, ela chega a 19% das preferências.

Todos os dados se referem ao cenário em que foram apresentados aos entrevistados um cartão com os nomes dos três principais candidatos. Quando os chamados "nanicos" foram incluídos na lista, Serra obteve 39% das preferências, e Dilma, 37%.

Confronto direto. Em um eventual segundo turno entre Serra e Dilma, o tucano teria 47%, e a petista, 45% ? um empate técnico. O mesmo ocorria um mês atrás, quando eles tinham 45% e 46% do eleitorado, respectivamente.

Os dois candidatos também estão empatados tecnicamente na pesquisa espontânea, na qual os entrevistados manifestam suas preferências antes de ler a lista de candidatos. A petista aparece com 22%, e o tucano, com 19%. Há ainda 10% de eleitores que se declaram dispostos a votar no presidente Luiz Inácio Lula da Silva, no candidato de Lula ou no candidato do PT.

A parcela de eleitores que rejeita a hipótese de votar em Serra caiu de 27% para 24%. Já a taxa de rejeição de Dilma se manteve estável, em 20%.

Tempo na TV. A rodada atual de pesquisas é a última a captar os efeitos da propaganda partidária - instrumento que, pela lei, deveria servir para divulgar as atividades e as propostas das legendas, mas que, na prática, serve como plataforma para os candidatos.

O cronograma de programas partidários e inserções se encerrou em junho. Agora, os candidatos só poderão fazer campanha na televisão em agosto, com o início do horário eleitoral gratuito.

Em um provável cenário com 11 presidenciáveis, Dilma ocupará, três vezes por semana, 10 minutos e 25 segundos em cada um dos dois blocos de 25 minutos da propaganda dos presidenciáveis. Isso equivale a 42% do total.

Já Serra ocupará 7 minutos e seis segundos no palanque eletrônico ? o equivalente a 28% do tempo total. Marina, que não conseguiu se coligar a nenhum partido com representação forte na Câmara dos Deputados, terá apenas 1 minuto e 12 segundos em cada bloco de propaganda.

Para serristas, pesquisa facilita ajustes

DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

Secretário-geral do PSDB diz que desafio é aproveitar esse ""fato novo positivo"" para mobilizar palanques estaduais e engajar simpatizantes

Christiane Samarco

Tucanos e aliados receberam o empate técnico entre José Serra e Dilma Rousseff , registrado pelo Datafolha, como endosso à pré-campanha do candidato do PSDB, no que se refere à comunicação no programa e comerciais do partido na TV. Serviu para "respirar", dizem tucanos, aliviados com a leve vantagem, dentro da margem de erro, sobre a petista.

Ao mesmo tempo, porém, avaliam nos bastidores que é hora de fazer ajuste definitivo na campanha, "que está muito fechada", para envolver os Estados e tirar a militância do imobilismo, sob pena de desandar a candidatura Serra. Afinal, admitem, como a trajetória ascendente de Dilma se manteve (oscilando um ponto para cima), o clima continua desfavorável a Serra.

Otimista, deputado Jutahy Júnior (DEM-BA) entende que a expectativa de vitória registrada pela pesquisa induz à unidade e à mobilização. Festeja, sobretudo, o "acerto da publicidade que produziu o crescimento de cinco pontos porcentuais, competindo com a "mais despudorada" campanha governamental.

"Estamos enfrentando a maior orgia publicitária, em que o governo usa sua estrutura, o dinheiro do contribuinte e dos acionistas das estatais, para fazer campanha para o PT", ataca Jutahy, que integra o grupo de conselheiros de Serra.
O secretário-geral do PSDB, deputado Rodrigo de Castro (MG), adverte, no entanto, que o desafio é aproveitar esse "fato novo positivo da pesquisa" para mobilizar palanques estaduais e engajar simpatizantes de Serra na campanha. "A chance é agora. Se não fizermos uma coisa diferente, perdemos a oportunidade."

Expectativa. O presidente do DEM, deputado Rodrigo Maia (RJ), destaca que o único ponto negativo da pesquisa refere-se à expectativa do eleitorado. Segundo o Datafolha, apenas 33% acreditam que Serra será eleito presidente, enquanto 39% declararam voto para o tucano na disputa presidencial. A expectativa de vitória da presidenciável do PT é bem maior: 43% apostam que Dilma ganhará a eleição.

"Isso mostra que a campanha dela está mais mobilizada que a nossa e que a candidata petista está passando a impressão de que é favorita", afirma Maia. Ele lembra que, há cerca de dez dias, o presidente do PSDB, senador Sérgio Guerra (PE), anunciou a criação de um conselho político da campanha, constituído pelos presidentes dos partidos aliados - PSDB, DEM, PPS e PTB , além do senador Tasso Jereissati (CE), do ex-presidente do DEM Jorge Bornhausen (SC) e do ex-governador Aécio Neves (MG).

"Se esse conselho for efetivado na próxima semana, será um bom começo para marcar a abertura oficial da campanha, no dia 5", sugere Maia. "Quanto mais tivermos oportunidade de debater os rumos, maior será nossa capacidade de mobilizar as lideranças e as bases nos Estados."

Estresse. Apesar do atropelo na escolha do vice na chapa presidencial da oposição, Jutahy diz que é hora de olhar para frente. "A escolha está feita e o deputado Índio da Costa (DEM-RJ) é uma força nova e jovem, de um Estado importante, que vai ajudar muito na campanha."

O tucanato avalia que o episódio gerou estresse na oposição, mas não no eleitorado. Também diz que o dado positivo da crise é que Serra se articulou, conversou muito e ouviu muita gente.

Tucano deve abrir campanha com ato em Curitiba

DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

José Antonio Pedriali

O candidato do PSDB à Presidência, José Serra, afirmou ontem em Londrina (PR) que fará o primeiro ato público de sua campanha em Curitiba, provavelmente na Boca Maldita, tradicional centro de manifestações e comícios da capital paranaense. A data ainda não está confirmada, mas, segundo sua assessoria, será segunda ou terça-feira da semana que vem. "Curitiba representa a média do sentimento nacional", justificou o tucano.

Serra não quis comentar a pesquisa Datafolha divulgada ontem, em que aparece com 39% das intenções de voto contra 38% da petista Dilma Rousseff. "Não comento pesquisas", disse.

O tucano criticou a ausência de Dilma em sabatina promovida na véspera, em Brasília, pela Confederação Nacional de Agricultura: "É ruim para o eleitor." Ele observou que a ausência da rival a privou de apresentar seu pensamento sobre o MST ao lado dele. "Em vez disso, ela preferiu atacar-me a distância."

Números do Datafolha surpreendem petistas

DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

Levantamento que mostrou empate técnico com Serra chegou quando aliados de Dilma ainda comemoravam vantagem no Ibope e no Vox Populi

João Domingos

O comando da campanha da candidata Dilma Rousseff e os petistas foram pegos de surpresa pela pesquisa Datafolha publicada ontem pelo jornal Folha de S. Paulo, que apurou empate técnico entre os dois principais candidatos: 39% da preferência dos eleitores para o tucano José Serra e 38% para a candidata do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Os petistas ainda comemoravam os números das pesquisas do Ibope/CNI (divulgada na quarta-feira, 23) e do Vox Populi (terça-feira, 29), que apontavam 40% da preferência dos eleitores para Dilma e 35% para Serra.

Tanto é que o secretário de Comunicação do PT, André Vargas, ao comentar o empate apontado pelo Datafolha no site de relacionamentos Twitter, acabou revelando um segredo petista.
"Datafolha arruma empate para Serra, mas pesquisa interna do PT dá vantagem a Dilma em 8%", postou Vargas no Twitter. Ele fez ainda a insinuação de que a pesquisa era esquisita, embora escondesse "algum potencial espontâneo" (32% para Dilma).

Já o presidente do PT e chefe da campanha de Dilma, José Eduardo Dutra, afirmou que o resultado foi normal, dentro das expectativas. "Absolutamente normal e dentro do previsível", disse ele ao Estado, ao comentar o fato de que o tucano apareceu nos programas do DEM, do PSDB, do PPS e do PTB. "A oposição vinha afirmando que depois de junho, com a monumental exposição de seu candidato nos meios de comunicação, Serra passaria muito à frente. Não passou. Ficou tudo dentro do previsível. Vamos continuar tocando nossa campanha do jeito que está, porque estamos no caminho certo."

Jogo. A presidenciável do PT viu a derrota da seleção brasileira de futebol para a Holanda, por 2 a 1, ao lado do presidente Lula, no Palácio da Alvorada. Estavam presentes também sete ministros. De acordo com um deles, apesar de estar com as atenções voltadas para a partida, Lula chegou a comentar com Dilma que os números das três últimas pesquisas publicadas eram muito bons para ela, apesar do empate técnico registrado ontem pelo levantamento do Datafolha. E a aconselhou a continuar no mesmo caminho.

O deputado João Paulo Cunha (PT-SP), que participou da equipe de Dilma Rousseff no início da montagem da campanha, também foi pego de surpresa pela pesquisa Datafolha. Estava tão entusiasmado com os resultados do Ibope/CNI e do Vox Populi, que mandou a seus eleitores um comentário a respeito dos números, antes de falar de si mesmo e de sua campanha. "Por duas semanas consecutivas as pesquisas demonstram que a candidata petista Dilma Rousseff está à frente na corrida pela disputa presidencial", comemorou o deputado. Depois, falou dos números do Vox Populi, que para ele ainda eram os últimos divulgados pelos meios de comunicação: "Levantamento do Vox Populi realizado esta semana aponta 40% das intenções de voto para Dilma, contra 35% do candidato tucano."

Eleitores ''vaivém'' explicam números do levantamento

DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

José Roberto Toledo

A pesquisa Datafolha que mostra empate técnico entre José Serra (39%) e Dilma Rousseff (38%) é uma reviravolta na corrida presidencial? Não. Ela é facilmente comparável às anteriores (Vox Populi e Ibope) que mostravam vantagem da candidata do governo (40% a 35%).

Vale notar que as variações na intenção de voto estimulada para o total do eleitorado estão dentro do intervalo da margem de erro.

Dilma, pelo Datafolha, poderia ter até dois pontos a mais, e chegar aos 40% indicados pelos outros institutos. O mesmo vale para Serra: o tucano poderia ter até dois pontos a menos, o que lhe daria 37% ? o mesmo porcentual a que ele chegaria somando-se a margem de erro de Vox Populi e Ibope.

Mas essa não é a explicação principal. As sondagens são de datas diferentes. O Datafolha teve tempo de captar o impacto dos spots de 30 segundos que o PSDB veiculou entre 26 e 29 de junho na TV. A propaganda tucana, camuflada nos intervalos comerciais, alcançou o objetivo que o programa de 10 minutos do partido não conseguiu: foi lembrada por metade dos eleitores.

É o chamado efeito "recall": a memória mais fresca na cabeça daqueles eleitores que ainda não fizeram uma opção firme. Eles oscilam entre Serra e Dilma, e respondem aos pesquisadores o último nome que ouviram no rádio ou na TV. É possível estimar o tamanho desse eleitorado oscilante? Quantos podem ser chamados de "eleitor vaivém"?

Até maio, eles eram cerca de 10% do total. O aumento do grau de identificação de Dilma com o presidente Lula fez com que a petista absorvesse metade desses eleitores pendulares. Desde o começo de junho, o contingente dos "vaivém" não passa de 5%. Mas, como eles saltam de Serra para Dilma e vice-versa, acabam tendo seu peso dobrado.

A julgar pelos cruzamentos do Datafolha, os "vaivém" são preponderantemente mulheres e/ou eleitores com baixa escolaridade. Obviamente isso não significa que a maioria das mulheres e dos eleitores que estudaram pouco têm esse comportamento errático.

Os "vaivém" são um pequeno grupo que tem preocupações maiores do que a eleição. Ao serem abordados pelo pesquisador, resolvem o problema sobre o qual não tinham pensado com uma resposta que puxa mais pela memória do que pelo raciocínio. A diferença dos "vaivém" para os indecisos é que esses últimos indicam nenhum nome aos pesquisadores e, assim, acabam fora das análises.

Os dois grupos devem continuar diminuindo, à medida que os presidenciáveis se tornam mais conhecidos e adquirem uma identidade no imaginário de mais eleitores.

Segundo o Datafolha, ainda há 25% de eleitores que não sabem quem é o candidato de Lula. É um contingente maior do que a soma de indecisos e dos "vaivém". Essa conta alimenta a expectativa dos petistas de que Dilma retomará seu crescimento assim que mais eleitores descobrirem quem Lula apoia.

É possível, mas, por enquanto, o principal efeito da pesquisa Datafolha é devolver esperança à campanha de Serra, depois de uma sequência de trapalhadas que ameaçou afundar o barco antes de ele deixar o porto.


É jornalista especializado em estatísticas

Governo Lula duplica gastos de publicidade

DEU NA FOLHA DE S. PAULO

A média mensal de gastos com publicidade do governo federal duplicou no primeiro semestre na comparação com iguais períodos de 2007, 2008 e 2009.
O incremento desses gastos é uma manobra para fazer frente às restrições do ano eleitoral, relata Rubens Valente. Houve um movimento similar em 2006.
Governo duplica gasto com publicidade

De janeiro a junho, União desembolsa média de R$ 24,3 mi por mês contra R$ 12,3 mi dos três anos anteriores

Lei Eleitoral é dúbia sobre a legalidade do aumento no período da pré-campanha; governo diz que obedece à lei

Rubens Valente
DE BRASÍLIA= O governo federal turbinou seus gastos publicitários nos meses anteriores à disputa presidencial de 2010.

A média mensal dos valores pagos entre janeiro e junho de 2010 dobrou, em comparação com a média do mesmo período de 2009, 2008 e 2007.

A curva suscita dúvida sobre desobediência à Lei Eleitoral. O texto legal exige que a despesa com propaganda oficial no período da pré-campanha, no ano eleitoral, não ultrapasse a "média dos três anos anteriores".

A redação da lei é dúbia, o que permite ao governo dizer que a média citada é a anual, não a semestral. Assim, o governo diz que cumprirá a média anual, ao final de 2010.

O incremento do gasto publicitário no primeiro semestre é uma manobra do governo para fazer frente às restrições do ano eleitoral.

A partir de hoje e até o final das eleições está vetada, salvo exceções, a publicidade da administração direta (ministérios e Presidência).

Com os possíveis candidatos impedidos de fazer campanha antes de julho, a máquina da propaganda federal invadiu os veículos de comunicação na pré-campanha.

Entre janeiro e 23 de junho último, o governo, sem contar as estatais, desembolsou R$ 146 milhões, uma média mensal de R$ 24,3 milhões.

Nos primeiros semestres dos três anteriores, a média foi de R$ 12,31 milhões, em valores corrigidos pelo IPCA.

A parte das peças publicitárias sob responsabilidade direta da Presidência custou R$ 61,6 milhões nos seis primeiros meses, média de R$ 10,2 milhões mensais -nos três anos anteriores ela foi de R$ 4,57 milhões.

No primeiro semestre de 2006, ano em que o presidente Lula foi reeleito, a administração direta gastou R$ 121 milhões, já corrigidos, valor 17% inferior ao de 2010.

O levantamento feito pela Folha foi comparado com outro feito pela liderança do DEM no Senado, ambos com base no Siafi, o sistema de acompanhamento de gastos do governo.

O TSE (Tribunal Superior Eleitoral) não é conclusivo sobre a questão da média de gastos -se anual ou mensal- referida pela Lei Eleitoral (nº 9.504/97).

Em resposta a uma consulta da Folha, o tribunal respondeu: "Não encontramos julgado que definisse o conceito "média de gastos" ou explicitasse a forma de cálculo de tal média".

Ao analisar dois processos semelhantes no passado, ministros tomaram decisões opostas. Em um dos casos, foi cancelada a multa que havia sido aplicada a um candidato. Em outro, a punição foi mantida.

Segundo a assessoria do TSE, o tribunal poderá ter que examinar novamente a questão da média.

Governo decide levar adiante propostas sobre setor de mídia

DEU NA FOLHA DE S. PAULO

Administração de Lula deve enviar projetos de lei para o Congresso até o final do ano

Andreza Matais

DE BRASÍLIA- O governo decidiu dar um encaminhamento às propostas aprovadas pela Confecom (Conferência Nacional de Comunicação), realizada em dezembro do ano passado.

Muitas das 633 sugestões desse encontro patrocinado pela administração do presidente Luiz Inácio Lula da Silva visam a regular o funcionamento dos meio de comunicação. A ideia do Planalto é enviar até o final do ano ao Congresso projetos para viabilizar algumas das medidas aprovadas na Confecom.

O assunto foi discutido em reunião com Lula conduzida pelo ministro Franklin Martins (Secretaria de Comunicação Social), segunda-feira.

Após a Copa do Mundo deve ser editado um decreto para formar um grupo de trabalho interministerial que será responsável por definir quais propostas serão incorporadas pelo governo e redigir os projetos que dependem de mudança na legislação.

Há cinco eixos principais: marco regulatório da internet; direitos autorais; legislação geral para a comunicação pública; regulamentação do artigo 221 da Constituição pelo qual as TVs devem priorizar conteúdo nacional e o marco regulatório para o setor de comunicação.

A Confecom contou com a participação do governo e da sociedade civil. As principais entidades representativas das empresas de mídia no Brasil não participaram por considerar que muitas das teses defendidas pelas entidades sociais, em maioria no evento, eram restritivas à liberdade de expressão e de livre associação empresarial.

Havia propostas como a criação de um "tribunal de mídia" e a criação de punições para jornalistas "que excluam a sociedade civil e o governo da verdadeira expressão da verdade".

A Confecom não é deliberativa, por isso depende do governo ou do Congresso para que as propostas aprovadas se viabilizem. A Folha apurou que não há determinação do governo para que todas as ideias sejam colocadas em prática.

Ode ao dois de julho :: Castro Alves

(Recitada no Teatro de São Paulo)

Era no Dous de Julho. A pugna imensa
Travara-se nos cerros da Bahia...
O anjo da morte pálido cosia
Uma vasta mortalha em Pirajá.
"Neste lençol tão largo, tão extenso,
"Como um pedaço roto do infinito ...
O mundo perguntava erguendo um grito:
"Qual dos gigantes morto rolará?! ...

Debruçados do céu. . . a noite e os astros
Seguiam da peleja o incerto fado...
Era tocha — o fuzil avermelhado!
Era o Circo de Roma — o vasto chão!
Por palmas — o troar da artilharia!
Por feras — os canhões negros rugiam!
Por atletas — dous povos se batiam!
Enorme anfiteatro — era a amplidão!

Não! Não eram dous povos os que abalavam
Naquele instante o solo ensangüentado...
Era o porvir — em frente do passado,
A liberdade — em frente à escravidão.
Era a luta das águias — e do abutre,
A revolta do pulso — contra os ferros,
O pugilato da razão — com os erros,
O duelo da treva — e do clarão! ...

No entanto a luta recrescia indômita
As bandeiras - corno águias eriçadas —
"Se abismavam com as asas desdobradas
Na selva escura da fumaça atroz...
Tonto de espanto, cego de metralha
O arcanjo do triunfo vacilava...
E a glória desgrenhada acalentava
O cadáver sangrento dos heróis!


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Mas quando a branca estrela matutina
Surgiu do espaço e as brisas forasteiras
No verde leque das gentis palmeiras
Foram cantar os hinos do arrebol,
Lá do campo deserto da batalha
Uma voz se elevou clara e divina.
Eras tu — liberdade peregrina!
Esposa do porvir — noiva do Sol!...

Eras tu que, com os dedos ensopados
No sangue dos avós mortos na guerra,
Livre sagravas a Colúmbia terra,
Sagravas livre a nova geração!
Tu que erguias, subida na pirâmide
Formada pelos mortos do Cabrito,
Um pedaço de gládio — no infinito...
Um trapo de bandeira — n'amplidão!. ..



(S. Paulo, junho de 1868)