domingo, 18 de julho de 2010

Reflexão do dia - Raimundo Santos

A eleição deste ano mostrará compreensões diferenciadas tanto no que se refere ao processo democrático em curso como em relação aos grandes temas postos em discussão. Estas notas registram uma controvérsia sobre a questão agrária e rural que tem a ver com os campos de esquerda que se representam nos dois principais candidatos. Com Serra estão conhecidas áreas de enraizada orientação reformista-democrática gradualista bem distintas das influentes tendências de esquerda que compõem o largo arco dos apoios à candidata Dilma Roussef. O artigo de Serra acerca dos 25 anos da Nova República e o seu discurso ao aceitar a candidatura presidencial divulgados pela imprensa de junho são bem expressivos do primeiro campo.


(Raimundo Santos, cf. Agronegócio, agricultura familiar e política, 2010.)

A lição das memórias de Lampreia :: Celso Lafer

DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

Em 1999 Luiz Felipe Lampreia publicou Diplomacia Brasileira, uma seleção de textos elaborados em função das suas responsabilidades como chanceler de Fernando Henrique Cardoso. Precedeu-os todos de excelentes notas introdutórias, explicativas dos contextos das suas palavras e razões. Observou que estava no tempo da ação diplomática e, por isso, seria prematuro escrever memórias. Com efeito, no tempo da ação diplomática, as palavras de um chanceler estão direcionadas para a ação. Não são memórias. São memoriais que dão conta do ofício de orientar, definir e explicar a política externa.

Outra é a natureza do seu recém-publicado O Brasil e os Ventos do Mundo - Memórias de Cinco Décadas na Cena Internacional, que, como toda narrativa autobiográfica, é fruto de um parar para pensar, organizador do significado de um percurso existencial. A palavra, neste caso, tem outros propósitos. Insere-se no tempo da meditação sobre a experiência vivida. Elucida o modo de ser da pessoa e a sua maneira de agir perante desafios e oportunidades. No caso das memórias de Lampreia, o foco da narrativa é dado pela sua reflexão sobre a política externa brasileira, de cuja execução participou no arco do tempo dos vários estágios de uma carreira diplomática que culminou com os seus seis anos de chanceler do governo FHC.

As memórias de Lampreia explicitam o seu modo de ser como diplomata, cabendo destacar, entre os traços do seu agir, a nitidez dos propósitos, a segurança no encaminhamento dos assuntos e a capacidade de hierarquizar o relevante na agenda internacional. Um bom exemplo dessa capacidade é o destaque que dá, na conclusiva avaliação do cenário contemporâneo, às mudanças climáticas como a questão central do nosso tempo e à proliferação nuclear como o maior perigo da atualidade. Em síntese, Lampreia não perde o rumo, pois não confunde o acidental com o importante e não se atrapalha com os ventos do mundo que, no correr da sua vida, sopraram em muitas direções. Por isso pôde ser, na condução do Itamaraty, um destacado e qualificado colaborador de FHC.

Lampreia tem muita clareza sobre a relevância da política externa para o desenvolvimento brasileiro. Esta clareza permeia a sua narrativa. Daí o significado que atribui à diplomacia econômica e por que suas importantes considerações sobre a política externa independente de Afonso Arinos e San Tiago Dantas - que marcaram o início de sua carreira - são antecedidas por observações sobre a Operação Pan-Americana, de Juscelino Kubitschek, e de como seu chanceler Horácio Lafer a ela conferiu a linha de uma diplomacia operacionalmente voltada para o desenvolvimento.

São altamente interessantes as observações de Lampreia sobre o choque da alta de preço do petróleo dos anos 70, que evidenciaram vulnerabilidades energéticas do Brasil, que ele viu de perto participando de comitivas brasileiras à Líbia, ao Iraque, ao Irã e à Arábia Saudita. Novas vulnerabilidades trazidas pelos ventos do mundo ele as viveu como chanceler, em razão das crises financeiras internacionais que impactaram o real. Daí a implícita crítica que faz a um voluntarismo diplomático que não estabelece prioridades e não equaciona meios e fins.

Nesse sentido são muito esclarecedoras as páginas dedicadas ao pragmatismo responsável de Azeredo da Silveira, de quem foi um dedicado colaborador e admirador. Destaco sua análise do personagem e da estratégia que definiu para sair de uma configuração de vulnerabilidades e dependências. Essa estratégia passava por boas relações com os EUA e pelo reforço das relações "diagonais", tanto as existentes com o Japão, a França, a Grã-Bretanha e a Alemanha quanto as novas que encetou com a China e a África.

Em matéria de diplomacia econômica, são muito relevantes as passagens sobre a sua atuação como embaixador em Genebra nas negociações que levaram à conclusão da Rodada Uruguai do Gatt; sobre a prioridade que, como chanceler, conferiu à Organização Mundial do Comércio (OMC); como tratou dos problemas do Mercosul, conduziu as batalhas da Alca e encarou as negociações com a União Europeia.

O pano de fundo das memórias de Lampreia articula um confronto, ora implícito, ora explícito, entre a sua visão da diplomacia e a política externa do governo Lula. Da sua viagem ao Líbano extrai a conclusão de que o Oriente Médio é um enigma político, talvez indecifrável, e que, bilateralmente, não se pode fazer muito, pois os riscos são enormes e a região está longe da esfera de influência do Brasil. Do seu trato com temas nucleares, da sua análise dos entendimentos com a Argentina, que levaram ao fim do risco de uma corrida armamentista nuclear na nossa região, e dos motivos que guiaram a adesão do Brasil ao Tratado de Não-Proliferação - que ele conduziu como chanceler - provém sua avaliação crítica da conduta do Irã e de por que não faz sentido, para o Brasil, respaldar um país e um regime que praticam um perigoso jogo duplo.

Das inúmeras e ricas análises da sua experiência, quero mencionar apenas duas passagens que são exemplos de como encaminhar tensões políticas no contexto da nossa vizinhança, que contrastam com o que vem sendo feito atualmente. A primeira é o relato do seu período como embaixador no Suriname e de como o Brasil logrou afastar o regime de Bouterse, no período da guerra fria, das tensões da influência cubana e endereçou Paramaribo para uma construtiva e cooperativa aproximação com o País. A segunda é o circunstanciado relato do papel mediador do Brasil no conflito territorial entre Peru e Equador, que é altamente esclarecedor do que deve fazer um terceiro em prol da paz para deslindar um histórico e difícil contencioso.

Dizia o padre Antonio Vieira - e esta é a lição de Lampreia: "Perdem-se as repúblicas porque os seus olhos veem o que não é, e não veem o que é."


Professor titular da Faculdade de Direito da USP, membro da Academia Brasileira de Ciências e da Academia Brasileira de Letras, foi Ministro das Relações Exteriores no governo FHC

Pela eficiência :: Merval Pereira

DEU EM O GLOBO

Será lançado amanhã na Fundação Getulio Vargas em São Paulo o Movimento Brasil Eficiente que, coordenado pelo Instituto Atlântico do economista Paulo Rabelo de Castro, pretende traçar um roteiro de ação para um “ajuste geral, corajoso e inteligente das contas públicas” com o objetivo de reduzir a carga tributária para 30% do PIB no prazo de dez anos, e criar um ambiente econômico que propicie crescimento sustentado de 6% ao ano, com o aumento de investimentos em infraestrutura para 25% do PIB.

A carga tributária, que hoje se aproxima de 40% do PIB quando somada ao déficit público, “chegou ao limite politicamente tolerável”, na definição do Movimento, que reúne Confederações do setor produtivo nacional, Federações empresariais e de trabalhadores, empresas de vários setores e de todos os portes, entidades de representação da Sociedade Civil do chamado Terceiro Setor, além de universidades e institutos de pesquisa.

Segundo estudos destacados pelos organizadores do Movimento, a carga tributária em níveis superiores a 30% do PIB “é deletéria não só aos investimentos do setor privado, como cria problemas de eficiência dentro da própria gestão de governo”.

O aumento de nossa taxa de investimento total, que continua "teimosamente amarrada num nível bem inferior a 20%, enquanto a necessidade do País é alcançar 25%”, viria de duas fontes.

O documento propõe que diferença de cerca de 7 pontos percentuais nos investimentos venha de uma contribuição extra de 4 pontos do setor privado, que se comprometeria a investir a parcela de economia que fará pela redução da carga fiscal sobre as pessoas jurídicas e físicas, enquanto se espera que o governo colabore com 3 pontos de PIB, elevando o investimento público de 2 para 5% do PIB.

“É um desafio planejável e alcançável”, garantem os autores do projeto, que pretendem levá-lo aos candidatos à presidência da República.

Segundo o documento, no período de 1987 a 2009, a implementação do “modelo de alto gasto público” tem feito explodir certos itens de despesa, com o Orçamento Geral da União se transformando em “uma grande folha de pagamento”.

Em 2005 eram cerca de 40 milhões de contracheques em benefícios assistenciais e previdenciários, além dos funcionários ativos, consumindo hoje quase 80% do gasto federal.

O Movimento Brasil Eficiente propõe uma mudança “bastante simples, mas radical” para o desafio do equilíbrio previdenciário.

A proposta é que o imposto sobre a renda, de pessoas físicas e jurídicas, passe a ser a fonte exclusiva da cobertura previdenciária, somada à contribuição patronal ao INSS, “esta podendo ter sua base redefinida para ficar neutra em relação à folha salarial”.

A soma dessas três fontes, incluída e fundida a atual Contribuição Sobre o Lucro Líquido, soma cerca de 10% do PIB, “o equivalente ao máximo admitido, numa boa família, como contribuição dos que trabalham para os que (como todo direito) folgam no seu ócio remunerado”.

Com esta mudança fundamental, seria possível, acham os autores da proposta, negociar no Congresso o orçamento dos aposentados “em função dos esforços despendidos pelos que labutam e pagam o imposto”.

O problema é que o peso dos gastos com inativos e pensionistas da União aumentou duas vezes, passando de 6,2%, em 1987, para 12,2% do total da despesa, em 2009, estando, portanto, acima dos 10% que os autores consideram o teto.

Com relação à carga tributária, os autores do projeto ressaltam que no Brasil, além dos impostos diretos, que são cobrados à vista do contribuinte, como o IR, IPTU e o IPVA, há os impostos indiretos ou escondidos, que estão embutidos nos preços dos produtos, “como o ICMS, o ISS, a famigerada Cofins e o PIS, e assim por diante, numa brutal carga de contribuições e taxas que incidem sobre praticamente todas as atividades econômicas, em toda a cadeia produtiva, transferindo os preços da indústria para o comércio e, finalmente, para os consumidores”.

Além disso, por ser um sistema tributário “tremendamente complicado, com alíquotas diferenciadas entre Estados, entre Municípios”, exige uma burocracia onerosa para sua operacionalização, a ponto de recente pesquisa internacional ter atribuído a nosso País “o mérito duvidoso de ser o campeão mundial disparado em horas gastas pelo contribuinte (2600 horas anuais) no atendimento às obrigações tributárias”.

Comparando com nossos vizinhos da América do Sul, o Brasil tem a maior relação entre carga tributária e PIB, 37,4%. Na Argentina, essa relação é de 26,8% e, no Uruguai, de 25%.

Para se atingir a redução da carga tributária, o Movimento Brasil Eficiente propõe as seguintes medidas:

- Simplificação e racionalização da estrutura tributária brasileira, mediante conjugação de impostos e contribuições diversas, assim reduzindo a sua quantidade e os custos de sua administração pelo contribuinte.

- Transparência total na cobrança dos tributos incidentes sobre a circulação econômica mediante adoção de um “Imposto sobre Valor Adicionado” (IVA) que aglutine todos os tributos hoje incidentes de cobrança federal ( como Cofins e PIS etc) e federativos (como ICMS e ISS) de modo que o contribuinte pague uma vez só e saiba que alíquota final está de fato pagando.

Os autores do projeto prometem que essa mudança de um modelo de “alto gasto público” para outro, de “alto investimento público”, trará o crescimento do PIB e da geração de empregos a um nível jamais conhecido por gerações anteriores, e dobrará a renda per capita em dez anos.

******

Estarei ausente por alguns dias. A coluna volta a ser publicada em 3 de agosto.

Dois pesos, uma medida:: Dora Kramer

DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

Embora não haja termos de comparação qualitativa e quantitativa entre o uso das máquinas federal e estadual (no caso de São Paulo), na essência o crime é o mesmo: o presidente da República e o governador de São Paulo se utilizam indevidamente dos postos em prol dos respectivos candidatos à Presidência.

Luiz Inácio da Silva mobiliza mundos e fundos, transgride, reincide e os subordinados o seguem nesse rumo. A falta de cerimônia da Secretaria Especial das Mulheres ao distribuir cartilhas com artigo de Dilma Rousseff em anexo e uma urna eletrônica na capa é o exemplo mais recente. A distribuição só parou a conselho do advogado-geral da União, depois que o Estado denunciou o caso.

Alberto Goldman (ao que se saiba) cita José Serra em discursos. Ainda que desproporcionais, os atos têm origem semelhante: a visão de que o que é público pode ser usado ao bel prazer do agente público.

Uma verificação nos Estados País afora vai encontrar abusos a mancheias. O benefício proporcionado pelo poder independe de o personagem ser ou não candidato à reeleição. Os casos de Dilma Rousseff e José Serra dizem muito a respeito.

O de Minas Gerais, onde o governador (Aécio Neves) deixou o lugar para o vice (Antonio Anastasia) que concorre no cargo e se vale do que é conhecido como o partido mais poderoso de Minas, o PL ? Palácio da Liberdade (sede do governo) ?, também diz bastante. A maneira como o assunto é tratado diz o resto.

A licenciosidade é geral. A Justiça, por exemplo, só acordou para o fato recentemente quando começou a apertar os critérios de julgamento dos abusos cometidos durante eleições, cassando mandatos de governadores e prefeitos.

Mesmo assim, há quem considere isso uma afronta à democracia, um desrespeito à "vontade do eleitor"; como se ela não tivesse sido vilipendiada antes.

Já começam a circular na internet manifestações contrárias a posições mais duras da Justiça em relação às repetidas torpezas presidenciais, classificando como "tentativa de golpe" os avisos de que o presidente da República pode vir a ser alvo de processo por improbidade administrativa e, no limite, a candidata também pode vir a ter sua candidatura cassada.

É notável a facilidade com que se carimba de "golpista" alguém que invoca a lei e a dificuldade que existe para reconhecer o óbvio: o imperativo da preservação do Estado de Direito.

Há ainda outra linha de pensamento que atribuiu os abusos ao advento da reeleição. Dessa corrente fazem parte o presidente Lula, o candidato José Serra e até muita gente bem-intencionada que vê no fim da reeleição um fator de aprimoramento democrático, exatamente porque teria o condão de conter o ímpeto no uso da máquina pública.

Descontados os que sabem perfeitamente que sofismam, sobram os otimistas e os esquecidos a compartilhar dessa visão. Achando que é possível dar fim assim tão fácil a uma prática arraigada nos costumes de poder desde muito antes de 1997, quando foi instituída a reeleição.

Há mais ou menos uns 500 anos.

Contratos de risco. Toda incerteza que cerca o julgamento das impugnações de candidaturas de gente com contas abertas na Justiça ou que tenha renunciado ao mandato para escapar da perda dos direitos políticos, acaba funcionando a favor da lei da Ficha Limpa.

Os nomes das excelências circulam em ambiente crítico e para muitos a dúvida acaba sendo um desestímulo para a montagem de campanhas que podem resultar em cassação de candidaturas ou até de mandatos. Para financiadores passa a ser um risco alto.

Serventia. Para que servem os comícios? Cesar Maia levanta a questão, lembrando que antigamente serviam para as pessoas conhecerem os candidatos ao vivo. Com a televisão, isso acabou.

Hoje, diz o ex-prefeito do Rio, comícios servem para motivar a militância.

Caberia acrescentar que valem, sobretudo, para produzir boas imagens para o horário eleitoral.

Um presidente já à vista pelas costas:: Wilson Figueiredo

DEU NO JORNAL DO BRASIL

Entre os pretendentes com mais destaque nas pesquisas sobre a sucessão presidencial, o papel principal ainda cabe ao presidente Lula. No espaço preenchido com farpas pessoais trocadas pelos candidatos, ele se desloca com antecedência e pede preferência ao futuro. Empenha-se em marcar presença em três mandatos distintos. Dois dele e um de sua candidata. E, para salvar mais do que aparências, faz hora extra e interpretações legais com pontos de vista pessoais que não o comprometem.

Depois de esculpir num bloco de matéria burocrática a candidatura Dilma Rousseff, que soube simular surpresa com toque feminino, Lula aumentou a escala de provocações, inebriou-se com o pré-sal e passou a impressão de que tudo seria possível. Era apenas impressão. Finalmente, desmobilizou-se. A visão do fim do mandato despertou outras considerações que não lhe haviam ocorrido. Por exemplo: no dia em que acordar fora do governo, precisará de alguém para ouvir o que ele reservava para revelar mais tarde. Entre o último mandato e o próximo a que pode aspirar, terá de se contentar com o mandato alheio, a uma distância segura de surpresas que não terão sido devidamente calculadas.

Com alguma distância, orgulhoso de sua candidata (e mais orgulhoso de si mesmo), Lula já parece tocado pela graça que baixa sobre os presidentes, à medida que se aproxima o fim do mandato. Mas, no fundo ou no raso mesmo, não é impróprio considerar que o presidente se desloca discretamente no espaço político sem perder de vista a sucessão de 2014. Dialético mas ambivalente, Lula pensa também além das nossas fronteiras e percebe espaços a serem preenchidos com matéria-prima brasileira, da qual se considera, sem modéstia, artigo de exportação.

E, para não se perder em raciocínios vicinais, o presidente avalia igualmente a possibilidade de sua sucessora, na melhor hipótese, afeiçoar-se à repetição do mandato e fazer também da reeleição um programa. Mandatos se tornam vícios e criam dependência.

No caso de Lula, ainda bem que a ampla curva e o deslocamento dele para o centro (da História, bem entendido) o levaram a apostar contra as próprias convicções. Assim há de ser enquanto a reeleição não for trocada por mais um ano de mandato, como nunca devia ter deixado de ser. A falsa modéstia não resiste à popularidade sem se arrepender mais tarde. O primeiro mandato pareceu suficiente, mas não bastou a nenhum dos dois presidentes. A dúvida em relação a Dilma se tornará certeza, antes ou depois? Quem banirá a reeleição? As perguntas que não foram feitas antes se apresentarão certamente depois, para serem respondidas com iniciativas que pareceram dispensáveis quando Lula ainda não era um presidente visto pelas costas. Com base na fragilidade da natureza humana e na relatividade moral da política, Lula é bem capaz de um lance que ainda não está embutido nas circunstâncias.

O cadáver e o Messias:: Clóvis Rossi

DEU NA FOLHA DE S. PAULO

SÃO PAULO - O presidente Hugo Chávez tem todo o direito de tentar implantar na Venezuela o tal socialismo do século 21, ainda que, cada vez mais, incida no autoritarismo e na ineficácia que sepultaram o modelito século 20.

Não tem, no entanto, o direito de respaldar as Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia), grupo narcoterrorista.

Nem importa tanto saber se é verdadeira ou não a mais recente denúncia do governo da Colômbia que deu até as coordenadas completas de acampamentos do grupo na Venezuela.

Chávez já disse, tempos atrás, que "respeita" o projeto político das Farc.

Quem respeita um projeto narcoterrorista não merece respeito.

Por incrível que pareça, nem o vínculo com as Farc assusta tanto quanto as esquisitices de Chávez. A mais recente: mandou exumar os restos mortais do libertador Simón Bolívar para investigar se morreu mesmo de tuberculose (versão oficial) ou foi assassinado.

As mensagens no Twitter em que anunciou a exumação que testemunhou são de arrepiar qualquer pessoa sadia:

"Alô, meus amigos. Que momentos tão impressionantes vivemos esta noite. Vimos os restos do grande Bolívar."

Depois: "Confesso que choramos. Digo a vocês: tem que ser Bolívar este esqueleto glorioso, pois pode-se sentir sua chama. Deus meu. Cristo meu".

Deus meu, Cristo meu, digo eu, caramba. Se alguém aparecer de repente na praça da Sé com a Bíblia na mão e esse discurso messiânico (ou necrófilo?), vira folclore. Não faz mal a ninguém, a não ser a ele próprio. Diverte os transeuntes.

Mas, se o cidadão com essa mentalidade é presidente da República, Deus meu, Cristo meu, transforma-se em um perigo ambulante. Não diverte ninguém, salvo sua corte. Menos ainda diverte os que são seus sócios no Mercosul.

Macumba :: Elio Gaspari

DEU EM O GLOBO

O Secretário da Receita Federal, Otacílio Cartaxo, não dá detalhes sobre o resultado da sindicância em torno do vazamento da declaração de Imposto de Renda do vice-presidente do PSDB, Eduardo Jorge Caldas Pereira. Ele sustenta que isso poderia levar ao prejulgamento dos responsáveis pelas "cinco ou seis" entradas nos números sigilosos de suas declarações de renda.

Sem violar sigilos, Cartaxo pode responder às seguintes perguntas:

1) Foram "cinco ou seis" acessos de cinco ou seis funcionários? Ou seis acessos de um só auditor?

2) O endereço fiscal de Eduardo Jorge está no Rio de Janeiro. Se a pesquisa partiu de lá, pode haver uma explicação para o caso. Se não partiu, é preciso que se explique a migração da curiosidade.

3) Quantos acessos partiram do setor de programação, alertado pelos computadores que, impessoalmente, apontam movimentações atípicas? Essas listas têm milhares de nomes. Se um programador entra na declaração de um desses contribuintes, não está xeretando, mas trabalhando. Qualquer acesso estranho ao setor de programação é batom na cueca. Com uma exceção: se ele partiu de alguma superintendência, trata-se de caso de jabuti em forquilha.
Alguém o pôs lá.

4) Numa operação rotineira, um auditor, advertido pelo sistema, deve acessar a declaração suspeita. Admitindo-se que viu algo esquisito, pode pedir apoio a um analista. Se o negócio é ainda mais esquisito, pode recorrer ao socorro do chefe. Assim, são três os acessos. Como se chega a "cinco ou seis"?

5) Por que a Receita levou mais de um mês para divulgar uma informação que podia ser obtida em 15 minutos?

Anistia bandida :: Elio Gaspari

DEU EM O GLOBO

De um escorpião, inspirado no polvo vidente:

"Dilma Rousseff e Marina Silva já anunciaram que defendem a convocação de uma mini-Constituinte para funcionar em 2011, com o objetivo de realizar diversas reformas, entre as quais a da legislação política.

A novidade precisará do apoio parlamentar dos partidos encalacrados em roubalheiras.

Alguém apresentará um projeto de anistia, beneficiando todos os condenados por infrações da legislação eleitoral. Com um pouco de imaginação, estende-se a anistia aos réus do "mensalão"".

Os defensores do surto reformista, inclusive José Serra, com sua ideia de "peitar" as mudanças, precisam explicar com que tipo de maioria parlamentar pretendem aprovar suas ideias. Se for de três quintos da Câmara e do Senado, como é hoje, tudo bem. Se quiserem reduzi-la, é golpismo, caminho para um conflito institucional com o Supremo Tribunal.

No início de campanha, Serra bate Dilma em número de propostas

DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

Cenário: Lucas de Abreu Maia

Das 24 promessas feitas pelos três principais candidatos ao Planalto desde o início da campanha, José Serra foi responsável por 11 delas. São quatro a mais que sua adversária do PT, Dilma Rousseff - que assumiu sete compromissos oficiais.

Existe uma explicação simples para o fato: no papel de oposição, Serra se vê obrigado a oferecer alternativas que sejam palpáveis ao eleitor. A petista, por sua vez, na posição confortável de candidata de um governo com quase 80% de aprovação, precisa apenas incorporar o discurso da continuidade.

O levantamento do Estado foi feito a partir de propostas feitas pelos candidatos desde o dia 6 deste mês - quando a campanha começou oficialmente. Foram incluídos discursos, entrevistas, informações de seus sites oficiais e os programas protocolados no Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Foram ignoradas as metas pouco específicas.

O período analisado não garante que a estatística observada agora se manterá ao longo da campanha. Afinal, como os políticos afirmam exaustivamente, o processo eleitoral está apenas no início. É possível, porém, observar que, impedido pela popularidade do presidente Lula de assumir um discurso demasiadamente crítico, Serra precisa oferecer alternativas, metas e objetivos. Está nas promessas - de preferência aquelas ligadas à Educação, Segurança e Saúde - a melhor maneira de se comunicar com o eleitorado.

A maior parte dos compromissos assumidos pelo candidato foi postada em seu site recém-inaugurado. Diariamente, a página é atualizada com propostas do tucano, se assumir à Presidência. Em sua maioria, são extensões para o resto do Brasil de programas que desenvolveu no governo e na Prefeitura de São Paulo. É o caso, por exemplo, da promessa de criar o programa Mãe Brasileira - uma expansão do Mãe Paulistana, projeto de auxílio a gestantes que desenvolveu quando prefeito.

Dilma, por sua vez, usa sua página na internet para divulgar, sobretudo, notícias favoráveis ao governo federal. Além, é claro, das inúmeras menções a Lula. São poucas as propostas concretas para um eventual governo.

Vista como candidata da causa ambiental, Marina Silva (PV) assumiu seis compromissos concretos. A verde afirma que quer fugir de "consensos ocos", e acaba evitando prometer o que acha que não poderá cumprir. O revés desta moeda, porém, é a dificuldade de encontrar um discurso objetivo, capaz de persuadir o eleitor de sua capacidade para governar o País.

O eleitor volátil e a propaganda :: Márcia Cavallari Nunes e Silvia Cervellini

DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

Análise de resultados de uma série de três pesquisas mostra que mulheres e jovens tendem a oscilar mais ao manifestar sua intenção de voto

O Ibope Inteligência realizou e divulgou três pesquisas nacionais sobre a sucessão presidencial em um intervalo de menos de um mês. Constatamos um empate total entre os dois principais candidatos, Dilma Rousseff e José Serra, na primeira e na última pesquisa, enquanto a rodada do meio do período apontava vantagem estatisticamente significativa para a candidata do PT.

É conhecida a imagem usada pelos especialistas para descrever o significado dos resultados das pesquisas eleitorais, como "um retrato do momento". Por trás dessa metáfora do retrato existe um fenômeno muito real e importante conhecido na ciência política como "volatilidade" do voto ou do eleitor. A volatilidade é mais presente em períodos pré-campanha eleitoral, e, quanto maior ela for, maior a dificuldade para precisar os resultados finais de uma eleição.

A volatilidade, porém, não é homogeneamente distribuída em todo o eleitorado. Em cada sociedade, por conta de fatores culturais, históricos e políticos, alguns segmentos sociais apresentam um grau maior de volatilidade, ou seja, uma variabilidade acima da média nas intenções de voto. Além disso, o contexto de cada disputa eleitoral e até mesmo os diferentes momentos de uma campanha podem resultar em diferentes segmentos com maior volatilidade.

No Brasil, considerando as últimas eleições para presidente e para governador, temos observado sistematicamente uma volatilidade acima da média entre os eleitores mais jovens, que muitas vezes estão votando pela primeira vez. Ao mesmo tempo, as eleitoras brasileiras tendem a demorar mais para decidir o seu voto e, quando os homens já apresentam uma tendência mais estável, ainda observamos oscilações significativas entre as mulheres.

Essa maior volatilidade de jovens e mulheres pode ser confirmada nos resultados dessas três pesquisas recentes do Ibope Inteligência. Entre as mulheres a intenção de votar em Dilma cresceu de 33% para 37% entre a rodada do início de junho e a do meio do mês. Em seguida, a intenção de voto para Serra subiu 4 pontos porcentuais (de 37% para 41%) na rodada do final do mês, em detrimento de Dilma, cuja intenção de voto entre as eleitoras é hoje 3 pontos porcentuais inferior à registrada na pesquisa anterior. Já entre os homens, os porcentuais sofrem oscilações residuais.

O mesmo movimento é verificado entre os eleitores mais jovens, entre 16 e 24 anos, segmento no qual a intenção de voto de Dilma Rousseff subiu 6 pontos (de 34% para 40%) entre a pesquisa realizada no começo de junho e a do meio do mês e caiu 4 pontos (de 40% para 36%) entre esta e a última pesquisa. Ao mesmo tempo, aumentou em 7 pontos a intenção de voto de José Serra nesta parcela do eleitorado, atingindo 44% no final de junho.

Muitos fatores podem ter favorecido essas movimentações do eleitorado nesse período de praticamente 30 dias, mas a maior curiosidade refere-se ao impacto das propagandas partidárias veiculadas desde maio. Tivemos os programas e as inserções do PT na primeira quinzena de maio, depois a comunicação do DEM e por último o programa e as inserções do PSDB na segunda quinzena de junho.

Segundo estimativas do Ibope Mídia, a exposição do eleitorado brasileiro foi equivalente para a propaganda partidária do PT e do DEM e o alcance das inserções (comerciais ao longo da programação durante vários dias) foi quatro vezes maior do que o do programa (veiculado um dia só). Por outro lado, o alcance do programa eleitoral do PSDB foi cerca de 10% maior do que o do PT.

Em duas pesquisas perguntamos se "nas duas últimas semanas" o entrevistado tinha assistido/ouvido comerciais ou programas em que aparecia algum dos candidatos a presidente. O crescimento da exposição declarada às propagandas de José Serra entre início e final de junho foi significativamente maior entre mulheres, eleitores com nível superior, eleitores com renda familiar de até um salário mínimo, eleitores das regiões Norte/Centro-Oeste e Sudeste.

Desses cinco segmentos do eleitorado mais impactados pela propaganda do PSDB, três correspondem aos que identificamos como mais voláteis. Pode-se concluir, portanto, que, para as mulheres, eleitores com nível superior e eleitores do Sudeste, as propagandas partidárias provocaram movimentos relevantes, provavelmente potencializados pela volatilidade desses segmentos no contexto da disputa entre Dilma Rousseff e José Serra.


Diretora Executiva e Diretora de Atendimento e Planejamento do Ibope, respectivamente.

Vice de Serra liga o PT a guerrilha e narcotráfico

DEU NA FOLHA DE S. PAULO

Indio fez ataques em entrevista a portal do PSDB, que retirou vídeo do ar

Deputado chama Dilma de "esfinge do pau oco" e diz que ela pode dar "chute" em Lula para se aliar a mensaleiros

Bernardo Mello Franco
DE SÃO PAULO

Candidato a vice-presidente na chapa de José Serra (PSDB), o deputado Indio da Costa (DEM-RJ) radicalizou o embate com o PT e acusou o partido de ligação com o narcotráfico e guerrilheiros das Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia).

Ele fez os ataques em entrevista a usuários do portal "Mobiliza PSDB", que integra o aparato da campanha tucana na internet.

"Todo mundo sabe que o PT é ligado às Farc, ligado ao narcotráfico, ligado ao que há de pior. Não tenho dúvida nenhuma disso", afirmou Indio, que começou o bate-papo pedindo perguntas "picantes" aos internautas.

O vice também mirou na adversária Dilma Rousseff (PT). Disse que, se eleita, ela pode dar um "chute no Lula" para governar com petistas acusados de envolvimento no escândalo do mensalão.

"Quem nos garante que no dia seguinte à eleição ela não vai fazer o que no Brasil é comum entre criatura e criador? Dá um chute no Lula e vai governar sozinha, com as garras do PT por trás dela."

"Em janeiro, se a Dilma é eleita, o Lula volta para casa. Mas o PT fica com todos aqueles mensaleiros. O Lula tem poder sobre eles, mas eles têm muito poder sobre a Dilma", continuou Indio.

As declarações foram transmitidas ao vivo na noite de sexta-feira, enquanto Dilma participava de comício no Rio. Ontem, o vídeo sumiu da página tucana. Na capa do "Mobiliza PSDB", a única referência ao vice de Serra era uma chamada publicada no último dia 2, sobre sua participação nas mídias sociais.

"COITADO DO CUBANO"

Após atacar o PT, o deputado contou que, em visita a Cuba, tentou provocar autoridades da ilha circulando com uma revista que associava o partido às Farc.

"Ia para tudo que era canto com ela debaixo do braço. Até queria ser preso, para ver como é que era lá em Cuba essa história que tanto falam. Mas é um horror aquilo. Vocês não podem imaginar. Coitado do cubano", disse.

Em março de 2005, a revista "Veja" disse ter tido acesso a dossiê da Abin (Agência Brasileira de Inteligência) que relataria o envio de US$ 5 milhões das Farc para o PT na campanha de 2002. O partido negou a acusação, que nunca foi comprovada.

Depois da entrevista, Indio fez novos ataques a Dilma no Twitter, onde se referiu à candidata como "ateia" e "esfinge do pau oco".

Ele reagiu à declaração da petista de que seu vice -o deputado Michel Temer (PMDB-SP) - não foi improvisado e "não caiu do céu".

"Para uma ateia, deve ser duro ter um adversário que cai do céu", escreveu, por volta de 0h de sábado.

Ainda na madrugada, o vice de Serra usou o microblog para acusar Dilma de "dissimular sobre religião". "Ela nem consegue olhar nos olhos do eleitor. Esfínge [sic] do pau oco", atacou.

Os comentários foram republicados por dezenas de internautas pró e contra Dilma. Petistas acusaram o deputado de "apelar" e baixar o nível do debate eleitoral.

A candidata não quis comentar as declarações, segundo sua assessoria. Ela tem se apresentado na campanha como católica. Em sabatina na Folha em 2007, disse não ter certeza sobre a existência de Deus: "Eu me equilibro nessa questão. Será que há? Será que não há?"

Serra faz caminhada no centro comercial de Itabuna e volta a defender criação do Ministério da Segurança

Agência A Tarde

Biaggio Talento

ITABUNA (BA) - Com duas horas de atraso e debaixo de chuva, o candidato do PSDB à Presidência da República, José Serra, realizou neste sábado uma caminhada na Avenida Centenário, centro comercial da cidade de Itabuna (sul da Bahia, a cerca de 400 quilômetros de Salvador). Com ele estavam o candidato ao governo do estado pelo DEM, Paulo Souto, o deputado federal ACM Neto, candidatos a deputado e cerca de 200 cabos eleitorais de PSDB, DEM e PPS, muitos portando cartazes, faixas e balões. Para participar do ato, eles receberam R$ 10 reais cada um.

Esta foi a primeira visita de Serra à Bahia depois de ter sua candidatura à Presidência homologada oficialmente. Ele passou uma hora cumprimentando pessoas, abraçando-as e tirando fotos, em meio a grande tumulto. O candidato também entrou várias vezes em lojas que começavam a fechar suas portas, no início da tarde deste sábado.

Durante a caminhada, o presidenciável 'botou o dedo' na principal ferida do estado: a questão da segurança pública. "Aqui na Bahia, o quadro de segurança tem piorado muito, e eu quero criar o Ministério da Segurança Pública precisamente para ter uma união nacional na luta pela segurança das famílias", afirmou.

Ele comentou, ainda, que a questão do contrabando de armas e drogas é uma tarefa exclusiva do governo federal.

Ele lembrou que Itabuna é a cidade de maior mortalidade de jovens pela violência urbana e classificou o problema como "crítico". Reforçou que criará um Ministério da Segurança e uma Força Nacional, "estável e permanente" para ajudar os estados a combater a violência.

- É preciso ter um fichário nacional de criminosos que, por incrível que pareça não existe - declarou, assinalando que o governo brasileiro não controla as fronteiras, principalmente a da Bolívia de onde vem, conforme o tucano, 80% da droga que entra no Brasil.

'Hoje em Ilhéus não tem tititi'

Segundo Serra o governo boliviano "não dá bola pra isso" e por essa razão pretende, se foreleito presidente, "fazer pressão diplomática "nos países que exportam cocaína pra cá". Foi o único momento em que ele se dispôs a tratar de temas nacionais. Quando indagado sobre as sucessivas burlas da lei eleitoral pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva e da oposição ferrenha que vem sofrendo das centrais sindicais ligadas à candidatura dapetista Dilma Rousseff, encerrou com uma frase: "hoje à tarde, aqui em Ilhéus, não tem tititi".

Serra passou o sábado entre Ilhéus e Itabuna, as duas principais cidades do sul da Bahia. Dos três grandes problemas que afetam a economia dos dois municípios, o precário aeroporto de Ilhéus, as dívidas dos cacauicultores e a estruturação da Zona de Processamento de Exportação (ZPE) o candidato do PSDB só quis se comprometer em resolver imediatamente, caso chegue ao Planalto, a questão do campo de pouso. Ele sentiu na pele o problema: devido às chuvas, seu avião não pode pousar em Ilhéus, só teve condições no aeroporto da Ilha de Comandatuba, a cerca de cem quilômetros.

- A situação do aeroporto é lamentável, deplorável, não sei pra que a Infraero, que cuida de aeroportos, existe, porque é um aeroporto (de Ilhéus) que não tem instrumentos, a pista precisa ser ampliada" - reclamou, logo após degustar alguns quibes no Bar Vesúvio, de Ilhéus, que o escritor Jorge Amado tornou famoso no romance "Gabriela, Cravo e Canela". Serra assinalou que "várias coisas que envolvem o turismo e a região, podem ser feitas logo, é barato. Isso sem dúvida nenhuma ajudaria o turismo e os negócios em geral". Ele qualificou de "inacreditável" o fato de um município como Ilhéus, pólo de turismo e de negócios ficar "sem comunicação aérea regular".

Por outro lado, deixou meio decepcionados os cacauicultores da região que vem sofrendo com as dívidas da lavoura desde que a praga "vassoura-de-bruxa" devastou os cacauais a partir de década de 1980. O tucano preferiu não fazer promessas irresponsáveis. "A questão do cacau, exige um tratamento mais sério. Não adianta eu vir aqui na véspera de eleição e falar: ta bom, eu vou resolver, tem tal promessa, vou fazer isso". Prometeu apenas "disposição de enfrentar o problema" encontrando uma "saída responsável". Salientou que a praga não é mais um problema já que se encontrou maneiras de evitá-la e que agora é preciso enfrentar a falta de capitalização dos produtores. "E isso a gente vai ter que enfrentar de forma responsável, construtiva, em parceria com o governo do Estado e os municípios", declarou, sem querer detalhar o que pretende fazer exatamente.

Tucano reclama de aeroporto "malfeito" na BA

DEU NA FOLHA DE S. PAULO

Matheus Magenta
ENVIADO ESPECIAL A ITABUNA (BA)
O candidato do PSDB à Presidência, José Serra, participou ontem de uma caminhada pelo centro de Itabuna (sul da Bahia) ao lado de políticos do DEM e do PSDB baiano. Ele posou para fotos, beijou crianças e fez o "V" de vitória para as câmeras.

Durante uma rápida entrevista, o candidato tucano criticou o aumento da violência na região e também a situação do aeroporto de Ilhéus, município vizinho.

"É um absurdo uma região turística com esse peso, uma das melhores do Brasil, ter esse aeroporto acanhado e malfeito. Isso não custa nada, vamos ser francos. Custa só critérios e prioridade. O que a Infraero está fazendo?", questionou.

Serra também falou sobre a situação da lavoura cacaueira da região, que está em decadência desde a década de 80, por conta da praga da vassoura-de-bruxa.

O tucano disse que não fará promessas "vazias", mas vai buscar o apoio do povo baiano e de quem "conhece a situação".

"Vamos enfrentar esse problema para que, num prazo de cinco anos, a situação esteja refeita", afirmou.

Os produtores de cacau reivindicam a renegociação de dívidas que chegam a quase R$ 1 bilhão, o que os impedem de conseguir novos financiamentos para reerguer a lavoura.Na tarde de ontem, Serra visitou também bairros periféricos de Ilhéus.

PPS-Bahia prestigiado por Serra

DEU EM A TARDE (BA)

Paixão Barbosa

Depois das confusões criadas por dissidentes, o PPS da Bahia mostra que está mais firme do que nunca no caminho traçado para estas eleições, que inclui o apoio a candidatura de José Serra (PSDB) no plano nacional e ao nome do deputado federal Geddel Vieira Lima (PMDB) para governador. Depois de receber um documento oficial do pre4sidente da legenda, Roberto Freire (PE), confirmando as decisões tomadas na Convenção Estadual, o PPS marca posição ao lado do candidatotucano neste sábado, em Ilhéus.

Afinal, será na sede do Diretório Regional do PPS, naquela cidade, que irá funcionar o Comitê Suprapartidário Pró-Serra em terras do Sul da Bahia. O comitê será inaugurado pelo próprio Serra, neste sábado, logo depois de um encontro que terá com cacauicultores, o que, de certa forma, mostra que os dirigentes regionais da legenda, à frente o presidente regional George Gurgel, estão prestigiados pelo comando da campanha tucana.

Marina recebe apoio de aliados de Dilma no Ceará

DEU EM O GLOBO

FORTALEZA - A senadora Marina Silva, candidata do PV à Presidência da República, recebeu neste sábado, em Fortaleza, apoio de parlamentares e militantes de partidos da base aliada da petista Dilma Rousseff (PT), sua adversária na disputa presidencial.

Ex-mulher do deputado Ciro Gomes (PSB-CE), a senadora Patrícia Saboya (PDT-CE) declarou que vota em Marina e que poderá se engajar na campanha dela. Colegas no Senado há oito anos, ela enalteceu a coragem e a obstinação da candidata verde.

A candidata do PV inaugurou nesse sábado a primeira Casa de Marina do Nordeste no bairro Serviluz, periferia de Fortaleza. Ao agradecer o acolhimento, disse que o eleitor precisa sair das sombras e não pode aceitar que "caciques" e "donos das estruturas e palanques" digam em quem eles devem votar.

- Entrei nesse movimento para dizer que não me conformei com o papel de anônimo que quiseream me dar há 30 anos, ainda mais em pleno século XXI, disse Marina lembrando do tempo em que se alfabetizou pelo Mobral.

Marina também recebeu apoio do deputado federal Pedro Ribeiro (PR-CE), que disse ter sido liberado pelo partido para apoiá-la. Até um ex-vereador do PT, José Maria Pontes, compareceu ao encontro partidário realizado na manhã de hoje num hotel em Fortaleza.
Anteontem, Ciro Gomes também declarou que não vai se engajar na campanha de Dilma . Patrícia fez duras críticas à candidata do PT durante a pré-campanha, inclusive durante a visita que fez ao Ceará quando Ciro ainda lutava para sair candidato a presidente. Na sexta-feira, em visita a Goiânia, Marina criticou a atuação de Lula em favor de Dilma.

O homem que se diz uma bomba: Dilma volta a negar que pressionou Secretária da Receita

DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

'Afirmo que tive reuniões com ela (Lina Vieira), que não foram a que ela relatou', esclareceu a petista

Paulo Reis Aruca

A candidata do Partido dos Trabalhadores à presidência da República, Dilma Roussef, voltou a negar que tenha se encontrado com a ex-secretária da Receita Federal, Lina Vieira, para pressioná-la à encerrar uma investigação fiscal contra a família Sarney.

"Afirmo que tive reuniões com ela (Lina Vieira), que não foram a que ela relatou", disse, no inicio da tarde deste sábado, 17, antes de encontro político realizado em Jales, no interior de São Paulo.

A ex-ministra voltou a ser questionada sobre a denúncia da controversa reunião com Lina Vieira, supostamente ocorrida em 9 de outubro de 2008, porque a revista Veja publicou reportagem neste sábado trazendo uma nova versão que confirmaria a história contada pela ex-secretária da Receita federal. "Não tive acesso ainda à reportagem e não acredito nisto", reafirmou.

Segundo a revista Veja, o técnico de informática Demetrius Sampaio Felinto revelou que existe cópia da suposta reunião gravada no circuito interno de TV do Palácio do Planalto.

Única maneira de provar que diz verdade, se Dilma ou se Lina Vieira, as imagens teriam sido apagadas, segundo informações divulgadas à época do escândalo pelo serviço de segurança da Presidência, levando o caso a ser encerrado.

À Veja, Felinto disse mais. Que vinha sofrendo pressão para não revelar a existência do vídeo. Ainda segundo a revista semanal, o denunciante vinha há sete meses negociando com o comitê de campanha do PT a não divulgação das imagens. E que também vinha tentando obter vantagem para divulgar ou não, dependendo do interesse de quem se propusesse a pagar.

A reportagem de Veja reacende o escândalo e traz de volta a suspeita de que um crime grave foi praticado pela candidata de Luis Inácio Lula da Silva à presidência da República.

Após Lula, Dilma critica Justiça Eleitoral

Agência Estado

Um dia depois do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, a candidata do PT à presidência da República, Dilma Roussef, insinuou que a Justiça Eleitoral dá tratamentos diferentes ao analisar as ações de sua campanha eleitoral e a do candidato de oposição José Serra, do PSDB.

“Acho que não se pode na vida ter dois pesos e duas medidas”, disse, em Jales, no interior de São Paulo, ao ser indagada sobre a possibilidade de a subprocuradora eleitoral Sandra Cureau entrar com ação contra o presidente Luiz Inácio Lula da Silva por ter citado o nome da candidata petista durante a cerimônia de lançamento do edital do trem-bala.

Ela disse que o governador de São Paulo, Alberto Goldman (PSDB), cita o nome do tucano José Serra em atos oficiais. ”Eu não vou entrar nessa polêmica com a (sub) procuradora. É prudente prestarmos atenção”, disse.

Dilma disse não haver campanha no ato do trem-bala. “Eu tenho certeza que vocês hão de convir comigo que no caso do Trem de Alta Velocidade eu fui responsável pela construção do projeto. Então, não é um elogio e sim a constatação da verdade”, defendeu.

Na sexta-feira, em discurso ao lado da candidata, Lula já havia atacado indiretamente a subprocuradora. “O que eles querem é me inibir para eu fingir que não conheço a companheira Dilma. É como se eu pudesse passar perto dela, e tem uma procuradora qualquer aí, e eu passar de costas viradas e fingir que não a conheço”, disse o presidente no Rio.

Dilma critica procuradora do MPE e diz que não se pode ter 'dois pesos e duas medidas'

DEU EM O GLOBO

Jocelito Paganelli

JALES - A candidata do PT à Presidência da República, a ex-ministra Dilma Rousseff, criticou na manhã deste sábado a vice-procuradora geral eleitoral Sandra Cureau, que estuda entrar na Justiça Eleitoral contra o presidente Luiz Inácio Lula da Silva por ele ter elogiado Dilma durante a cerimônia de lançamento do projeto de trem-bala , que ligará Campinas, São Paulo e Rio de Janeiro, durante esta semana. Sem citar o nome da procuradora, Dilma disse aos repórteres:

- Eu não vou entrar nessa polêmica com a procuradora, mas não se pode na vida ter dois pesos e duas medidas - disse ela que, questionada sobre se havia tratamento diferenciado para os candidatos, respondeu: - É prudente a gente prestar atenção.

Dilma defendeu as declarações de Lula durante o lançamento do trem-bala, afirmando que não se tratava de campanha eleitoral:

- Tenho certeza de que vocês hão de convir comigo que, no caso do Trem de Alta Velocidade, eu fui responsável. Não foi um elogio. É a constatação da realidade.

A candidata, acompanhada de dois ministros, Wagner Rossi (PMDB), da Agricultura, e Alexandre Padilha (PT), da Articulação Política, participou do encontro regional do PT e do PMDB em Jales, a 585 quilômetros de São Paulo. O evento reuniu cerca de 1,8 mil pessoas. Ao lado do deputado Michel Temer (PMDB-SP), candidato a vice-presidente, a petista falou em tom de chacota sobre a escolha do candidato a vice-presidente da chapa tucana, o deputado Índio da Costa (DEM-RJ):

- Estou aqui com o Michel, que é um vice que não é improvisado. Tem histórico de competência e dirige o Congresso Nacional.

Também participaram do evento os candidatos da coligação petista ao governo paulista e ao Senado, Aloizio Mercadante, Marta Suplicy e Netinho.

O menino tolo:: Luiz Carlos Bresser-Pereira

DEU NA FOLHA S. PAULO

Só um bobo dá a estrangeiros serviços públicos como as telefonias fixa e móvel

João é dono de um jogo de armar. Dois meninos mais velhos e mais espertos, Gonçalo e Manuel, persuadem João a trocar o seu belo jogo por um pirulito.

Feita a troca, e comido o pirulito, João fica olhando Gonçalo e Manoel, primeiro, se divertirem com o jogo de armar, e, depois, montarem uma briga para ver quem fica o único dono. Alguma semelhança entre essa estoriazinha e a realidade?

Não é preciso muita imaginação para descobrir. João é o Brasil que abriu a telefonia fixa e a celular para estrangeiros. Gonçalo é a Espanha e sua Telefônica, Manuel é Portugal e a Portugal Telecom; os dois se engalfinham diante da oferta "irrecusável" da Telefônica para assumir o controle da Vivo, hoje partilhado por ela com os portugueses.

Mas por que eu estou chamando o Brasil de menino bobo? Porque só um tolo entrega a empresas estrangeiras serviços públicos, como são a telefonia fixa e a móvel, que garantem a seus proprietários uma renda permanente e segura.

No caso da telefonia fixa, a privatização é inaceitável porque se trata de monopólio natural. No caso da telefonia móvel, há alguma competição, de forma que a privatização é bem-vinda, mas nunca para estrangeiros.

Estou, portanto, pensando em termos do "condenável" nacionalismo econômico cuja melhor justificação está no interesse que foi demonstrado pelos governos da Espanha e de Portugal.

O governo espanhol, nos anos 90, aproveitou a hegemonia neoliberal da época para subsidiar de várias maneiras suas empresas a comprarem os serviços públicos que estavam então sendo privatizados. Foram bem-sucedidos nessa tarefa.

Neste caso, foram os espanhóis os nacionalistas, enquanto os latino-americanos, inclusive os brasileiros, foram os colonialistas, ou os tolos.

Agora, quando a espanhola Telefônica faz uma oferta pelas ações da Vivo de propriedade da Portugal Telecom, o governo português entra no jogo e proíbe a transação.

A União Europeia já considerou ilegal essa atitude, mas o que importa aqui é que, neste caso, os nacionalistas são os portugueses que sabem como um serviço público é uma pepineira, e não querem que seu país a perca.

O menino tolo é o Brasil, que vê o nacionalismo econômico dos portugueses e dos espanhóis e, neste caso, nada tem a fazer senão honrar os contratos que assinou.

Vamos um dia ficar espertos novamente? Creio que sim. Nestes últimos anos, o governo brasileiro começou a reaprender, e está tratando de dar apoio a suas empresas.

Para horror dos liberais locais, está ajudando a criar campeões nacionais. Ou seja, está fazendo exatamente a mesma coisa que fazem os países ricos, que, apesar de seu propalado liberalismo, também não têm dúvida em defender suas empresas nacionais.

Se o setor econômico da empresa é altamente competitivo, não há razão para uma política dessa natureza. Quando, porém, o mercado é controlado por poucas empresas, ou, no caso dos serviços públicos, quando é monopolista ou quase monopolista, não faz sentido para um país pagar ao outro uma renda permanente ao fazer concessões públicas a empresas estrangeiras.

A briga entre espanhóis e portugueses pela Vivo é uma confirmação do que estou afirmando.

Solidão:: Graziela Melo


Há tempos
que não te vejo!

Distante
Do teu olhar

Vai-se a luz
A alegria

A solidão
É companhia

Que tenta
Me consolar...


Rio, 17/7/2010