“ Serra e Marina tem percorrido o Brasil. Buscam apoios, dão entrevistas, tentam criar fatos novos. Dilma continua à sombra de Lula. Isto pode dar certo se a campanha for curta e os opositores não criarem situações que obriguem a candidata a sair da toca. O primeiro teste efetivo será o debate inicial entre os candidatos. Ninguém sabe o que "vai colar" na eleição. Pode ser que o eleitorado simpatize com Dilma (tudo é possível). Pode ser que vai colar na candidata a pecha de mero boneco do Lula. Tal qual a economia, o futebol, etc, ninguém sabe o que vai acontecer (os economistas sempre dizem que vai ocorrer uma crise mundial e os "analistas" de futebol desenham um cenário - como na Copa da África - e acaba acontecendo outra coisa). Que o jogo está equilibrado, sabemos (as pesquisas mostram isso). Que o governo vai usar a máquina e os "novos pelegos", também não é novidade (os últimos acontecimentos reforçam). Até agora nenhum dos principais candidatos cometeu algum erro grave. É aquela fase de "estudos" de um jogo de futebol. O que é certo, diversamente do que imaginava Lula, a transferência de prestígio não é automática. A diferença (hoje) entre a avaliação do governo e as intenções de voto da candidata é muito grande. “
(Marco Antonio Villa, ontem, no seu Blog)
Política e cultura, segundo uma opção democrática, constitucionalista, reformista, plural.
segunda-feira, 19 de julho de 2010
Reflexão do dia – Marco Antonio Villa
Um bismarquismo tardio :: Luiz Werneck Vianna
DEU NO VALOR ECONÔMICO
Há jornais que mantém a tradição de informar diariamente aos seus leitores o que, a critério de um editor especializado, teriam sido as notícias mais relevantes há 50 anos. Em um deles, na edição do dia 16 de julho, quando essa coluna está sendo escrita, a matéria dedicada a esse tema informou que o então senador John Kennedy tinha acabado de aceitar sua candidatura à Presidência do seu país. Nessa ocasião, Kennedy pronunciou a declaração, tornada célebre, apelando para que seu povo viesse a se orgulhar do que ele iria lhe pedir e não a lhe oferecer, afirmando que seus ideais de governo "falarão mais alto ao orgulho nacional do que ao bolso". Cada tempo com seus costumes, estamos, nos anos 1960, distantes anos-luz do marqueteiro de Bill Clinton, que explicava sarcasticamente o sucesso da sua campanha com a expressão "é a economia, estúpido!", com a qual aludia claramente ao bolso dos seus cidadãos.
Nos Estados Unidos, como aqui, era época de sucessão presidencial, e o mesmo jornal informava que o ministro da Guerra de Juscelino Kubitschek, o marechal Odilio Denys, afirmara que o "Exército, sem ficar indiferente aos assuntos importantes da vida do país, não pretende abandonar a sua posição de neutralidade em face da sucessão presidencial e absolutamente alheio à política". Aparentemente prosaica, a fala do ministro significava o oposto do seu enunciado, uma vez que, na verdade, era uma declaração de forte teor político, em uma circunstância em que um dos candidatos à Presidência era outro militar, o marechal Lott, candidatura que o ministro não endossaria. Indicava também que o poder moderador da República brasileira, como o Exército veio a ser chamado pela moderna historiografia, acompanhava com atenção o desenrolar dos acontecimentos. Constata-se, assim, que estamos, em 2010, com a ausência de manifestações públicas de dirigentes das Forças Armadas da política brasileira sobre o processo de sucessão em curso, distantes anos-luz dos anos 1950/60.
Edições anteriores desse tipo de matéria jornalística deixam patente que o elemento agonístico, tão forte na política em meados do século passado, está inteiramente ausente na atual competição eleitoral. Personagens e programas que naquelas décadas polarizavam a sociedade, ameaçando-a de divisão - que, aliás, virá, poucos anos depois - em golpes, contragolpes e sinais de revolução, se encontram, hoje, fora de cena, inclusive a corporação militar. E a outrora dramática questão agrária, em torno da qual se tentou gestar uma aliança operário-camponesa, agora se acha convertida em objeto de uma simples controvérsia parlamentar, envolvendo apenas - a sociedade mera espectadora - os setores diretamente interessados, tais como as representações do agronegócio, da agricultura familiar e das ONGs ambientalistas, aliás, três segmentos presentes na composição do governo.
Não pode haver lugar para a polarização quando os três principais candidatos se apresentam como portadores de um mesmo projeto, qual seja, o de garantir continuidade ao longo ciclo que, iniciado com o governo FHC, encontrou prolongamento no governo Lula. Esse ciclo é o do aprofundamento do capitalismo e da consolidação da ordem burguesa no país sob a égide das instituições da democracia política, rompendo com a nossa história de modernização sob regimes autoritários.
Em razão dessa nova qualidade, tal processo se encontra aberto às demandas por direitos e reivindicações substantivas da sociedade e da sua vida associativa, e tem assumido, sobretudo no governo Lula, fortes compromissos com políticas públicas orientadas para a democratização social. Na verdade, o que os três candidatos estariam disputando é qual deles, na avaliação do eleitor, teria as melhores credenciais para levar à frente esse ciclo, confiando a seus marqueteiros a tarefa de singularizar o personagem que devem encarnar.
Essa perspectiva, contudo, é a do espelho retrovisor. Qual o projeto de futuro para a nossa sociedade, quais as formas de relação devem presidir seus vínculos com o seu Estado, como perseguir os fins de realização de uma república democrática, fechando caminho à reprodução de um cidadão-cliente que se dissemina entre nós? Será um destino desejável para o país nos convertermos de presas em predadores, para usar as palavras do tema-título do excelente artigo de Rodrigo Marcilio, advogado especialista em mercado de capitais, publicado em Valor de 12/07/2010?
Segundo o artigo, "as multinacionais brasileiras têm encontrado um ambiente bastante propício para seus recentes movimentos de expansão além das fronteiras nacionais", nos últimos anos, realizando importantes aquisições de companhias estrangeiras, invertendo a lógica em que elas é que eram compradas. A Vale, a Camargo Corrêa, a Votorantim, entre outras, comporiam o elenco dessas multinacionais brasileiras, financiadas por incentivos estatais, BNDES à frente, política que se reforça com a criação recente de uma subsidiária desse banco em Londres, voltada para o financiamento realizado diretamente no exterior.
Nesse sentido, avizinhamo-nos, ainda sem ideologia, de um bismarquismo tardio, para o qual contamos, sem dúvida, com a nossa pesada tradição de modernização autoritária que nos vem das eras de Vargas e a do regime militar. Essa fusão entre economia e política em nome de objetivos grão-burgueses, com o sindicalismo crescentemente vinculado ao Estado, não é nada promissora para a democracia brasileira. A agenda dos candidatos à sucessão presidencial comprometidos com ela está equivocada: não se trata apenas de disputar, com os maneirismos do marketing político, o modo de continuar um ciclo feliz, mas de impedir o nascimento de um que ameace as conquistas democráticas já realizadas e a serem aperfeiçoadas.
Luiz Werneck Vianna é professor-pesquisador do Iuperj e ex-presidente da Anpocs. Escreve às segundas-feiras
Há jornais que mantém a tradição de informar diariamente aos seus leitores o que, a critério de um editor especializado, teriam sido as notícias mais relevantes há 50 anos. Em um deles, na edição do dia 16 de julho, quando essa coluna está sendo escrita, a matéria dedicada a esse tema informou que o então senador John Kennedy tinha acabado de aceitar sua candidatura à Presidência do seu país. Nessa ocasião, Kennedy pronunciou a declaração, tornada célebre, apelando para que seu povo viesse a se orgulhar do que ele iria lhe pedir e não a lhe oferecer, afirmando que seus ideais de governo "falarão mais alto ao orgulho nacional do que ao bolso". Cada tempo com seus costumes, estamos, nos anos 1960, distantes anos-luz do marqueteiro de Bill Clinton, que explicava sarcasticamente o sucesso da sua campanha com a expressão "é a economia, estúpido!", com a qual aludia claramente ao bolso dos seus cidadãos.
Nos Estados Unidos, como aqui, era época de sucessão presidencial, e o mesmo jornal informava que o ministro da Guerra de Juscelino Kubitschek, o marechal Odilio Denys, afirmara que o "Exército, sem ficar indiferente aos assuntos importantes da vida do país, não pretende abandonar a sua posição de neutralidade em face da sucessão presidencial e absolutamente alheio à política". Aparentemente prosaica, a fala do ministro significava o oposto do seu enunciado, uma vez que, na verdade, era uma declaração de forte teor político, em uma circunstância em que um dos candidatos à Presidência era outro militar, o marechal Lott, candidatura que o ministro não endossaria. Indicava também que o poder moderador da República brasileira, como o Exército veio a ser chamado pela moderna historiografia, acompanhava com atenção o desenrolar dos acontecimentos. Constata-se, assim, que estamos, em 2010, com a ausência de manifestações públicas de dirigentes das Forças Armadas da política brasileira sobre o processo de sucessão em curso, distantes anos-luz dos anos 1950/60.
Edições anteriores desse tipo de matéria jornalística deixam patente que o elemento agonístico, tão forte na política em meados do século passado, está inteiramente ausente na atual competição eleitoral. Personagens e programas que naquelas décadas polarizavam a sociedade, ameaçando-a de divisão - que, aliás, virá, poucos anos depois - em golpes, contragolpes e sinais de revolução, se encontram, hoje, fora de cena, inclusive a corporação militar. E a outrora dramática questão agrária, em torno da qual se tentou gestar uma aliança operário-camponesa, agora se acha convertida em objeto de uma simples controvérsia parlamentar, envolvendo apenas - a sociedade mera espectadora - os setores diretamente interessados, tais como as representações do agronegócio, da agricultura familiar e das ONGs ambientalistas, aliás, três segmentos presentes na composição do governo.
Não pode haver lugar para a polarização quando os três principais candidatos se apresentam como portadores de um mesmo projeto, qual seja, o de garantir continuidade ao longo ciclo que, iniciado com o governo FHC, encontrou prolongamento no governo Lula. Esse ciclo é o do aprofundamento do capitalismo e da consolidação da ordem burguesa no país sob a égide das instituições da democracia política, rompendo com a nossa história de modernização sob regimes autoritários.
Em razão dessa nova qualidade, tal processo se encontra aberto às demandas por direitos e reivindicações substantivas da sociedade e da sua vida associativa, e tem assumido, sobretudo no governo Lula, fortes compromissos com políticas públicas orientadas para a democratização social. Na verdade, o que os três candidatos estariam disputando é qual deles, na avaliação do eleitor, teria as melhores credenciais para levar à frente esse ciclo, confiando a seus marqueteiros a tarefa de singularizar o personagem que devem encarnar.
Essa perspectiva, contudo, é a do espelho retrovisor. Qual o projeto de futuro para a nossa sociedade, quais as formas de relação devem presidir seus vínculos com o seu Estado, como perseguir os fins de realização de uma república democrática, fechando caminho à reprodução de um cidadão-cliente que se dissemina entre nós? Será um destino desejável para o país nos convertermos de presas em predadores, para usar as palavras do tema-título do excelente artigo de Rodrigo Marcilio, advogado especialista em mercado de capitais, publicado em Valor de 12/07/2010?
Segundo o artigo, "as multinacionais brasileiras têm encontrado um ambiente bastante propício para seus recentes movimentos de expansão além das fronteiras nacionais", nos últimos anos, realizando importantes aquisições de companhias estrangeiras, invertendo a lógica em que elas é que eram compradas. A Vale, a Camargo Corrêa, a Votorantim, entre outras, comporiam o elenco dessas multinacionais brasileiras, financiadas por incentivos estatais, BNDES à frente, política que se reforça com a criação recente de uma subsidiária desse banco em Londres, voltada para o financiamento realizado diretamente no exterior.
Nesse sentido, avizinhamo-nos, ainda sem ideologia, de um bismarquismo tardio, para o qual contamos, sem dúvida, com a nossa pesada tradição de modernização autoritária que nos vem das eras de Vargas e a do regime militar. Essa fusão entre economia e política em nome de objetivos grão-burgueses, com o sindicalismo crescentemente vinculado ao Estado, não é nada promissora para a democracia brasileira. A agenda dos candidatos à sucessão presidencial comprometidos com ela está equivocada: não se trata apenas de disputar, com os maneirismos do marketing político, o modo de continuar um ciclo feliz, mas de impedir o nascimento de um que ameace as conquistas democráticas já realizadas e a serem aperfeiçoadas.
Luiz Werneck Vianna é professor-pesquisador do Iuperj e ex-presidente da Anpocs. Escreve às segundas-feiras
Ficção :: Fernando Rodrigues
DEU NA FOLHA DE S. PAULO
BRASÍLIA - PSDB e PT estão no poder há quase 16 anos: Fernando Henrique Cardoso (1995-2002) e Luiz Inácio Lula da Silva (2003-2010). O tucano e o petista fizeram poucos esforços para modernizar a política. Só houve alterações pontuais, muitas vezes para pior.
Na semana passada, o presidenciável José Serra (PSDB) falou sobre o tema: "Apesar das resistências, vou peitar a reforma política".
Dilma Rousseff (PT) também já se declarou a favor dessa reforma. Diz defender uma constituinte exclusiva -um Congresso com poderes especiais para alterar as regras com quorum facilitado.
Não está claro como Serra vai "peitar" esse obstáculo nem como Dilma fará uma constituinte limitada à reforma política. Nenhum deles forneceu detalhes em seus planos de governo entregues neste mês à Justiça Eleitoral.
Quando se observa a vida real, há razão de sobra para desconfiar da real intenção de ambos. No caso de Serra, ele critica a presença de candidatos nanicos em debates presidenciais.
Descreveu-os, sem muita gentileza, como "gente que não tem representatividade".
Serra está certo, mas sua declaração é curiosa. A aliança eleitoral do tucano abriga PMN e PT do B. Juntos, esses partidos tiveram 1,3% dos votos para deputado federal em 2006. Dilma tem o apoio de PTN, PSC e PTC -inexpressivos 2,9% do votos de quatro anos atrás.
Em público, a petista e o tucano falam genericamente em reformar a política. Na prática, aliam-se a uma parte considerável daquilo que dizem abominar. Esses partidos nanicos vivem como parasitas dos maiores. Sobrevivem à sombra de uma lei criada ainda no final da ditadura militar.
Nada contra a existência de siglas políticas pequenas. Uma democracia robusta deve abrigar todo o espectro político. O problema é a ficção no discurso de quem promete uma coisa e faz outra.
BRASÍLIA - PSDB e PT estão no poder há quase 16 anos: Fernando Henrique Cardoso (1995-2002) e Luiz Inácio Lula da Silva (2003-2010). O tucano e o petista fizeram poucos esforços para modernizar a política. Só houve alterações pontuais, muitas vezes para pior.
Na semana passada, o presidenciável José Serra (PSDB) falou sobre o tema: "Apesar das resistências, vou peitar a reforma política".
Dilma Rousseff (PT) também já se declarou a favor dessa reforma. Diz defender uma constituinte exclusiva -um Congresso com poderes especiais para alterar as regras com quorum facilitado.
Não está claro como Serra vai "peitar" esse obstáculo nem como Dilma fará uma constituinte limitada à reforma política. Nenhum deles forneceu detalhes em seus planos de governo entregues neste mês à Justiça Eleitoral.
Quando se observa a vida real, há razão de sobra para desconfiar da real intenção de ambos. No caso de Serra, ele critica a presença de candidatos nanicos em debates presidenciais.
Descreveu-os, sem muita gentileza, como "gente que não tem representatividade".
Serra está certo, mas sua declaração é curiosa. A aliança eleitoral do tucano abriga PMN e PT do B. Juntos, esses partidos tiveram 1,3% dos votos para deputado federal em 2006. Dilma tem o apoio de PTN, PSC e PTC -inexpressivos 2,9% do votos de quatro anos atrás.
Em público, a petista e o tucano falam genericamente em reformar a política. Na prática, aliam-se a uma parte considerável daquilo que dizem abominar. Esses partidos nanicos vivem como parasitas dos maiores. Sobrevivem à sombra de uma lei criada ainda no final da ditadura militar.
Nada contra a existência de siglas políticas pequenas. Uma democracia robusta deve abrigar todo o espectro político. O problema é a ficção no discurso de quem promete uma coisa e faz outra.
Dilma tem razão:: Ricardo Noblat
(Fernando Neves, advogado, ex-ministro do Tribunal Superior Eleitoral)
Na última sexta-feira, no Rio de Janeiro, durante aquele que passará à História como o Comício dos Mil, Lula disse a certa altura do seu discurso para militantes encharcados, porém felizes: “Há uma premeditação de me tirarem da campanha política para não permitir que eu ajude a companheira Dilma a ser a presidente da República deste país.” Evitou nomear o responsável pela premeditação. É uma técnica muito sua. E que funciona diante de plateias dispostas a acreditar em tudo o que ele diz. Acusa sem identificar o acusado. Assume a condição de vítima. E em seguida destila toda a sua coragem para enfrentar vilões e superar injustiças.
De volta ao Rio. Lula: “Na verdade, o que eles querem é me inibir para fingir que eu não conheço Dilma. É como se eu pudesse passar perto dela e eu passar de costas viradas e fingir que não a conheço. Mas eu não sou homem de duas caras. Eu passo perto dela e digo: é a minha companheira Dilma”.
Apesar da chuva, Lula estava no melhor da sua forma. Quem não se saiu bem foi Dilma – mas é compreensível. Era seu primeiro comício de campanha. E, convenhamos: nem mesmo os políticos mais experientes, alguns deles oradores admiráveis, se sentiriam à vontade para falar depois de Lula. Dilma deve ser testada longe dele.
Para o crescente número de brasileiros decididos a votar em Dilma só por que Lula quer talvez não faça nenhuma diferença – mas para os que se preocupam com a consolidação da democracia entre nós é assustadora a vontade de Lula em eleger sua candidata a qualquer preço.
Uma coisa é um partido tentar se manter no poder. Quando chegam lá todos tentam.
Nada mais legítimo. Outra é abusar do poder e ignorar leis e procedimentos para não acabar removido dali. A Justiça assistiu calada Lula abusar do poder que o cargo lhe confere fazendo campanha para Dilma desde 2007. Foi um ato pensado de Lula.
O jornalista José Roberto Toledo, de o Estado de S. Paulo, deu-se ao trabalho de contar o número de vezes em que Lula citou Dilma em discursos e entrevistas de 2003 para cá. Fixemo-nos apenas no período 2007-2010. Nos 336 discursos que fez em 2007, Lula citou Dilma em 63. Nas 176 entrevistas que concedeu, citou Dilma em 19.
Em 2008 o número de discursos caiu para 330. Dilma foi citada em 80 deles. O número de entrevistas aumentou para 213 – e as menções a Dilma para 31. No ano passado, Lula mandou às favas todos os escrúpulos. Citou Dilma em 98 dos 313 discursos que fez. Concedeu 272 entrevistas, lembrando de Dilma em 87 delas.
Nos primeiros três meses deste ano, Lula se referiu a Dilma em 39 de 78 discursos. Apenas em março o nome de Dilma foi repetido por Lula 94 vezes em 20 discursos – mais do que Deus (47). Foi em março que a Justiça Eleitoral multou Lula duas vezes por fazer propaganda eleitoral antecipada para Dilma.
Lula calou-se em abril. Em maio não resistiu: falou de Dilma seis vezes e ganhou mais quatro multas. Na semana passada, deu-se ao requinte de falar de Dilma para exaltá-la e de falar novamente para se desculpar por ter falado dela – e dessa vez na presença do presidente do Tribunal Superior Eleitoral. Bateu seu recorde em matéria de cinismo.
Não se diga que Lula surpreendeu. Ele avisou no ano passado: “Meu projeto político é eleger Dilma”. Desde então não praticou um só ato de governo sem levar em conta os benefícios que poderia acarretar para sua candidata. De presidente da República passou a cabo eleitoral.
Um discurso de Dilma faz parte de um kit produzido e distribuído pelo governo com materiais de defesa do voto em mulheres – três mil livros, 20 mil cartazes e 215 mil cartilhas. Um senador pelo Amapá e sua mulher, deputada federal, foram cassados pela Justiça Eleitoral sob a acusação de comprarem dois votos – a R$ 26 cada um.
Anteontem, Dilma advertiu a Justiça: “Acho que não se pode na vida ter dois pesos e duas medidas”. Ela tem razão.
Na última sexta-feira, no Rio de Janeiro, durante aquele que passará à História como o Comício dos Mil, Lula disse a certa altura do seu discurso para militantes encharcados, porém felizes: “Há uma premeditação de me tirarem da campanha política para não permitir que eu ajude a companheira Dilma a ser a presidente da República deste país.” Evitou nomear o responsável pela premeditação. É uma técnica muito sua. E que funciona diante de plateias dispostas a acreditar em tudo o que ele diz. Acusa sem identificar o acusado. Assume a condição de vítima. E em seguida destila toda a sua coragem para enfrentar vilões e superar injustiças.
De volta ao Rio. Lula: “Na verdade, o que eles querem é me inibir para fingir que eu não conheço Dilma. É como se eu pudesse passar perto dela e eu passar de costas viradas e fingir que não a conheço. Mas eu não sou homem de duas caras. Eu passo perto dela e digo: é a minha companheira Dilma”.
Apesar da chuva, Lula estava no melhor da sua forma. Quem não se saiu bem foi Dilma – mas é compreensível. Era seu primeiro comício de campanha. E, convenhamos: nem mesmo os políticos mais experientes, alguns deles oradores admiráveis, se sentiriam à vontade para falar depois de Lula. Dilma deve ser testada longe dele.
Para o crescente número de brasileiros decididos a votar em Dilma só por que Lula quer talvez não faça nenhuma diferença – mas para os que se preocupam com a consolidação da democracia entre nós é assustadora a vontade de Lula em eleger sua candidata a qualquer preço.
Uma coisa é um partido tentar se manter no poder. Quando chegam lá todos tentam.
Nada mais legítimo. Outra é abusar do poder e ignorar leis e procedimentos para não acabar removido dali. A Justiça assistiu calada Lula abusar do poder que o cargo lhe confere fazendo campanha para Dilma desde 2007. Foi um ato pensado de Lula.
O jornalista José Roberto Toledo, de o Estado de S. Paulo, deu-se ao trabalho de contar o número de vezes em que Lula citou Dilma em discursos e entrevistas de 2003 para cá. Fixemo-nos apenas no período 2007-2010. Nos 336 discursos que fez em 2007, Lula citou Dilma em 63. Nas 176 entrevistas que concedeu, citou Dilma em 19.
Em 2008 o número de discursos caiu para 330. Dilma foi citada em 80 deles. O número de entrevistas aumentou para 213 – e as menções a Dilma para 31. No ano passado, Lula mandou às favas todos os escrúpulos. Citou Dilma em 98 dos 313 discursos que fez. Concedeu 272 entrevistas, lembrando de Dilma em 87 delas.
Nos primeiros três meses deste ano, Lula se referiu a Dilma em 39 de 78 discursos. Apenas em março o nome de Dilma foi repetido por Lula 94 vezes em 20 discursos – mais do que Deus (47). Foi em março que a Justiça Eleitoral multou Lula duas vezes por fazer propaganda eleitoral antecipada para Dilma.
Lula calou-se em abril. Em maio não resistiu: falou de Dilma seis vezes e ganhou mais quatro multas. Na semana passada, deu-se ao requinte de falar de Dilma para exaltá-la e de falar novamente para se desculpar por ter falado dela – e dessa vez na presença do presidente do Tribunal Superior Eleitoral. Bateu seu recorde em matéria de cinismo.
Não se diga que Lula surpreendeu. Ele avisou no ano passado: “Meu projeto político é eleger Dilma”. Desde então não praticou um só ato de governo sem levar em conta os benefícios que poderia acarretar para sua candidata. De presidente da República passou a cabo eleitoral.
Um discurso de Dilma faz parte de um kit produzido e distribuído pelo governo com materiais de defesa do voto em mulheres – três mil livros, 20 mil cartazes e 215 mil cartilhas. Um senador pelo Amapá e sua mulher, deputada federal, foram cassados pela Justiça Eleitoral sob a acusação de comprarem dois votos – a R$ 26 cada um.
Anteontem, Dilma advertiu a Justiça: “Acho que não se pode na vida ter dois pesos e duas medidas”. Ela tem razão.
Desvarios e abusos perigosos :: Paulo Brossard
DEU NO ZERO HORA (RS)
Como é natural, em um mundo cheio de conflitos que não acabam, mas se renovam, às vezes com nomes diferentes, não faltam motivos de sérias preocupações, como vem ocorrendo nos países do Mercado Comum Europeu. Por isso mesmo, chama a atenção a facilidade com que autoridades da mais alta hierarquia tratam de assuntos múltiplos sem enfrentar o principal. Assim, por exemplo, na linha da mais acintosa ilegalidade, foi divulgada a quebra do sigilo fiscal de pessoa ligada a um dos candidatos à Presidência da República, fato delituoso reconhecido às claras, chegando um jornal a divulgar que tivera acesso ao material sigiloso. O assunto é particularmente delicado, uma vez que a Receita é um dos segmentos mais importantes da administração e do governo, um dos melhor aparelhados, e o serviço se recolheu ao silêncio após a divulgação; agora, contudo, jornal de publicação nacional divulga que “Receita já sabe quem acessou IR de tucano, mas não conta”. O ato teria “motivação duvidosa” (sic), “motivação duvidosa” não passa de eufemismo reles que não engana a ninguém. “Já se sabe o dia, a hora, os computadores usados e os nomes dos funcionários que acessaram os dados” (sic), mas a sindicância deve estender-se por 120 dias... Desnecessário lembrar, mas isso traz à memória o episódio de que foi vítima o caseiro Francenildo Costa. E, desse modo, direito individual assegurado pela Constituição é acintosamente violado e a partir dessa agressão quem pode confiar no respeito oficial de direito constitucional proclamado e reiterado?
Enquanto isso, o presidente da República por seis vezes recebeu sanções pecuniárias do TSE por infração pública à lei eleitoral e nada acontece além do mau exemplo fornecido pelo chefe do governo e do Estado. A repercussão desfavorável foi grande, a ponto de, no dia seguinte, em entrevista no Itamaraty, durante a 4ª Cúpula Brasil-União Europeia, admitir que “possivelmente tenha cometido uma falha” (sic), voltou a louvar sua candidata, na cerimônia de lançamento do edital do trem-bala.
Depois que o governo do Brasil se acasalou com o do Irã, os desvarios têm continuado e sempre na mesma linha. Outro dia, o presidente Luiz Inácio tomou o rumo d’África e estanciou na Guiné Equatorial, onde impera , há 31 anos, a ditadura de Teodoro Obiang Nguema Mbasogo; ao encerramento da visita, ambos os governos “renovaram sua continuada adesão aos princípios da democracia e respeito aos direitos humanos”. Ora, até o escárnio tem limites. Colocar o Brasil em plano de igualdade com a Guiné Equatorial, em termos democráticos, é um ultraje ao nosso país. Justiça seja feita ao ministro Amorim, que, irritado com as críticas, calou em relação a democracia e direitos humanos, e disse tão só que “negócios são negócios”.
Mas alguma coisa ainda estava por acontecer. Faz pouco, o presidente da República voltou a Cuba para mais uma visita ao seu envelhecido caudilho, exatamente quando morria, ao cabo de 85 dias de greve de fome, o preso político Orlando Zapata, calando em todas as línguas a violência do modelo cubano; chegou a igualar os presos políticos do Comandante aos condenados em penitenciárias paulistas, que não são presos políticos e rendeu homenagem à justiça cubana. Ele, que poderia dizer alguma coisa útil a respeito, com a maior discrição, valendo-se da intimidade entre ambos os governantes, não disse nada. Eis senão que pelos esforços da Igreja Católica de um lado, de outro da Espanha de D. Juan Carlos, começaram a ser libertados presos políticos de Fidel. E eles externaram sua mágoa pela complacência ou conivência do presidente brasileiro.
Por fim, o governo brasileiro começava a distribuir 3 mil livros e 250 mil cartilhas com discurso de seis páginas da candidata oficial e subitamente cuidou de suspender a distribuição, ao que tudo indica, por receio de medida mais enérgica da Justiça Eleitoral.
Enfim, num resumo apertado, a despeito da variedade dos fatos, eles guardam um laço comum, todos a indicar o uso desbragado de recursos estatais em benefício de uma situação partidária e da candidatura que pretende continuá-la, custe o que custar.
*Jurista, ministro aposentado do STF
Como é natural, em um mundo cheio de conflitos que não acabam, mas se renovam, às vezes com nomes diferentes, não faltam motivos de sérias preocupações, como vem ocorrendo nos países do Mercado Comum Europeu. Por isso mesmo, chama a atenção a facilidade com que autoridades da mais alta hierarquia tratam de assuntos múltiplos sem enfrentar o principal. Assim, por exemplo, na linha da mais acintosa ilegalidade, foi divulgada a quebra do sigilo fiscal de pessoa ligada a um dos candidatos à Presidência da República, fato delituoso reconhecido às claras, chegando um jornal a divulgar que tivera acesso ao material sigiloso. O assunto é particularmente delicado, uma vez que a Receita é um dos segmentos mais importantes da administração e do governo, um dos melhor aparelhados, e o serviço se recolheu ao silêncio após a divulgação; agora, contudo, jornal de publicação nacional divulga que “Receita já sabe quem acessou IR de tucano, mas não conta”. O ato teria “motivação duvidosa” (sic), “motivação duvidosa” não passa de eufemismo reles que não engana a ninguém. “Já se sabe o dia, a hora, os computadores usados e os nomes dos funcionários que acessaram os dados” (sic), mas a sindicância deve estender-se por 120 dias... Desnecessário lembrar, mas isso traz à memória o episódio de que foi vítima o caseiro Francenildo Costa. E, desse modo, direito individual assegurado pela Constituição é acintosamente violado e a partir dessa agressão quem pode confiar no respeito oficial de direito constitucional proclamado e reiterado?
Enquanto isso, o presidente da República por seis vezes recebeu sanções pecuniárias do TSE por infração pública à lei eleitoral e nada acontece além do mau exemplo fornecido pelo chefe do governo e do Estado. A repercussão desfavorável foi grande, a ponto de, no dia seguinte, em entrevista no Itamaraty, durante a 4ª Cúpula Brasil-União Europeia, admitir que “possivelmente tenha cometido uma falha” (sic), voltou a louvar sua candidata, na cerimônia de lançamento do edital do trem-bala.
Depois que o governo do Brasil se acasalou com o do Irã, os desvarios têm continuado e sempre na mesma linha. Outro dia, o presidente Luiz Inácio tomou o rumo d’África e estanciou na Guiné Equatorial, onde impera , há 31 anos, a ditadura de Teodoro Obiang Nguema Mbasogo; ao encerramento da visita, ambos os governos “renovaram sua continuada adesão aos princípios da democracia e respeito aos direitos humanos”. Ora, até o escárnio tem limites. Colocar o Brasil em plano de igualdade com a Guiné Equatorial, em termos democráticos, é um ultraje ao nosso país. Justiça seja feita ao ministro Amorim, que, irritado com as críticas, calou em relação a democracia e direitos humanos, e disse tão só que “negócios são negócios”.
Mas alguma coisa ainda estava por acontecer. Faz pouco, o presidente da República voltou a Cuba para mais uma visita ao seu envelhecido caudilho, exatamente quando morria, ao cabo de 85 dias de greve de fome, o preso político Orlando Zapata, calando em todas as línguas a violência do modelo cubano; chegou a igualar os presos políticos do Comandante aos condenados em penitenciárias paulistas, que não são presos políticos e rendeu homenagem à justiça cubana. Ele, que poderia dizer alguma coisa útil a respeito, com a maior discrição, valendo-se da intimidade entre ambos os governantes, não disse nada. Eis senão que pelos esforços da Igreja Católica de um lado, de outro da Espanha de D. Juan Carlos, começaram a ser libertados presos políticos de Fidel. E eles externaram sua mágoa pela complacência ou conivência do presidente brasileiro.
Por fim, o governo brasileiro começava a distribuir 3 mil livros e 250 mil cartilhas com discurso de seis páginas da candidata oficial e subitamente cuidou de suspender a distribuição, ao que tudo indica, por receio de medida mais enérgica da Justiça Eleitoral.
Enfim, num resumo apertado, a despeito da variedade dos fatos, eles guardam um laço comum, todos a indicar o uso desbragado de recursos estatais em benefício de uma situação partidária e da candidatura que pretende continuá-la, custe o que custar.
*Jurista, ministro aposentado do STF
Quebra de sigilo fiscal é um retrocesso político - Editorial/Valor Econômico
A quebra do sigilo fiscal do vice-presidente do PSDB, Eduardo Jorge Caldas Pereira, por um servidor da própria Receita Federal, é criminosa e representa um retrocesso na política brasileira. O episódio remete o Brasil do século 21 aos piores momentos do coronelismo, quando nomear o delegado de polícia, o coletor de impostos e a diretora do grupo escolar eram a medida de poder do governante.
No poder, o PT tem mostrado especial apetite nessas áreas. É o aparelhamento o que explica sucessivos desvios, registrados ao longo dos oito anos, em instituições que a serviço do Estado deveriam proteger o interesse do cidadão e não ir contra eles.
Nem sequer pode ser alegado que a quebra do sigilo fiscal de EJ, como o tucano é mais conhecido, trata-se de um episódio isolado. Há método nos episódios em sucessão que a sociedade brasileira tem assistido. Ainda é vivo na memória de todos, por exemplo, a quebra do sigilo bancário de Francenildo Santos Costa.
Não custa lembrar: Francenildo é o caseiro que talvez tenha mudado o curso da atual sucessão presidencial ao colocar o ex-ministro Antonio Palocci (Fazenda) dentro de uma casa de má reputação, em Brasília. Palocci era então forte candidato a candidato a presidente da República pelo PT.
O testemunho ocular de Francenildo arruinou as chances de Palocci, apesar do empenho de servidores da Caixa Econômica Federal em xeretar a conta bancária do caseiro. O Brasil não só ficou sabendo o quanto ele tinha em conta corrente, como também o drama familiar que então vivia em função de reconhecimento de paternidade.
O cerco a EJ, por sinal, é recorrente, vem dos tempos em que ele era alto funcionário do governo de Fernando Henrique Cardoso. O tucano conseguiu livrar-se na Justiça de todas as acusações levantadas contra ele por procuradores federais de notória ligação partidária e que sumiram do mapa após a virada de governo. É fato a ser registrado. Mas o que importa aqui é lembrar que, à época, pelo menos um procurador incluiu o CPF de Eduardo Jorge em pedidos de quebra de sigilo em investigações que nada tinham a ver com o tucano.
A atuação dos procuradores fez mal ao Ministério Público Federal, cuja independência chegou a ser questionada mais tarde no próprio governo petista.
Assim como fez mal à imagem comercial da Caixa a quebra do sigilo bancário de Francenildo, é péssimo para a instituição Receita Federal as sucessivas notícias sobre a quebra de sigilo fiscal de contribuintes, sem a devida autorização judicial. A Receita Federal é a fiel depositária da biografia do contribuinte que a cada ano fiscal declara e deixa sua parte para a construção da nação brasileira. É óbvio que ela está sujeita a ação de vigaristas, como qualquer outra instituição, como parece ter sido o caso do vazamento dos dados de mais de 11 mil contribuintes no ano de 2000.
O que hoje parece evidente é que o rigor do Estado quase sempre tem como alvo a oposição. Desde que Tarso Genro deixou o Ministério da Justiça não se veem mais ações espetaculares, sob medida para cinegrafistas, da Polícia Federal. Mas nem por isso alguém pode afirmar que o combate à corrupção passou a ser negligenciado na repartição. Por tudo isso cabe à Secretaria da Receita Federal esclarecer o quanto antes o que sabe sobre o "acesso" aos dados fiscais de EJ feito por seus próprios funcionários.
É demasiado o prazo de 120 dias pedido pela Secretaria para apresentar o resultado da investigação administrativa determinada para apurar a quebra do sigilo. Burocrático e desnecessário. Até hoje não se sabe quem violou o sigilo fiscal de Eduardo Jorge Caldas Pereira em 2001. O mesmo não deve ocorrer agora, quando existe a suspeita de que os dados foram retirados dos bancos de dados da Receita com objetivos eleitorais.
Suposta beneficiária, a candidata do PT já apontara o dedo para o Ministério Público Federal. Sabe-se agora que o "acesso" ocorreu dentro da própria Receita Federal. Para piorar a situação, existe a suspeita de que as informações fiscais de Eduardo Jorge seriam parte integrante de um dossiê montado por uma "equipe de inteligência" da campanha do PT, grupo, aliás, cuja constituição não chegou a se cumprir ou nem mesmo foi planejada, como assegura o comitê de Dilma Rousseff.
É um ambiente de insegurança que atinge a todos, mais uns do que a outros, de um tempo que se imaginava definitivamente no passado.
No poder, o PT tem mostrado especial apetite nessas áreas. É o aparelhamento o que explica sucessivos desvios, registrados ao longo dos oito anos, em instituições que a serviço do Estado deveriam proteger o interesse do cidadão e não ir contra eles.
Nem sequer pode ser alegado que a quebra do sigilo fiscal de EJ, como o tucano é mais conhecido, trata-se de um episódio isolado. Há método nos episódios em sucessão que a sociedade brasileira tem assistido. Ainda é vivo na memória de todos, por exemplo, a quebra do sigilo bancário de Francenildo Santos Costa.
Não custa lembrar: Francenildo é o caseiro que talvez tenha mudado o curso da atual sucessão presidencial ao colocar o ex-ministro Antonio Palocci (Fazenda) dentro de uma casa de má reputação, em Brasília. Palocci era então forte candidato a candidato a presidente da República pelo PT.
O testemunho ocular de Francenildo arruinou as chances de Palocci, apesar do empenho de servidores da Caixa Econômica Federal em xeretar a conta bancária do caseiro. O Brasil não só ficou sabendo o quanto ele tinha em conta corrente, como também o drama familiar que então vivia em função de reconhecimento de paternidade.
O cerco a EJ, por sinal, é recorrente, vem dos tempos em que ele era alto funcionário do governo de Fernando Henrique Cardoso. O tucano conseguiu livrar-se na Justiça de todas as acusações levantadas contra ele por procuradores federais de notória ligação partidária e que sumiram do mapa após a virada de governo. É fato a ser registrado. Mas o que importa aqui é lembrar que, à época, pelo menos um procurador incluiu o CPF de Eduardo Jorge em pedidos de quebra de sigilo em investigações que nada tinham a ver com o tucano.
A atuação dos procuradores fez mal ao Ministério Público Federal, cuja independência chegou a ser questionada mais tarde no próprio governo petista.
Assim como fez mal à imagem comercial da Caixa a quebra do sigilo bancário de Francenildo, é péssimo para a instituição Receita Federal as sucessivas notícias sobre a quebra de sigilo fiscal de contribuintes, sem a devida autorização judicial. A Receita Federal é a fiel depositária da biografia do contribuinte que a cada ano fiscal declara e deixa sua parte para a construção da nação brasileira. É óbvio que ela está sujeita a ação de vigaristas, como qualquer outra instituição, como parece ter sido o caso do vazamento dos dados de mais de 11 mil contribuintes no ano de 2000.
O que hoje parece evidente é que o rigor do Estado quase sempre tem como alvo a oposição. Desde que Tarso Genro deixou o Ministério da Justiça não se veem mais ações espetaculares, sob medida para cinegrafistas, da Polícia Federal. Mas nem por isso alguém pode afirmar que o combate à corrupção passou a ser negligenciado na repartição. Por tudo isso cabe à Secretaria da Receita Federal esclarecer o quanto antes o que sabe sobre o "acesso" aos dados fiscais de EJ feito por seus próprios funcionários.
É demasiado o prazo de 120 dias pedido pela Secretaria para apresentar o resultado da investigação administrativa determinada para apurar a quebra do sigilo. Burocrático e desnecessário. Até hoje não se sabe quem violou o sigilo fiscal de Eduardo Jorge Caldas Pereira em 2001. O mesmo não deve ocorrer agora, quando existe a suspeita de que os dados foram retirados dos bancos de dados da Receita com objetivos eleitorais.
Suposta beneficiária, a candidata do PT já apontara o dedo para o Ministério Público Federal. Sabe-se agora que o "acesso" ocorreu dentro da própria Receita Federal. Para piorar a situação, existe a suspeita de que as informações fiscais de Eduardo Jorge seriam parte integrante de um dossiê montado por uma "equipe de inteligência" da campanha do PT, grupo, aliás, cuja constituição não chegou a se cumprir ou nem mesmo foi planejada, como assegura o comitê de Dilma Rousseff.
É um ambiente de insegurança que atinge a todos, mais uns do que a outros, de um tempo que se imaginava definitivamente no passado.
Lula adia decisões e votações polêmicas para depois de outubro
DEU NO VALOR ECONÔMICO
Raymundo Costa, de Brasília
Entre o tucano José Serra, que defendeu a extradição, e a petista Dilma Rousseff, que falou em cumprir a decisão do Supremo Tribunal Federal (STF), o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva prefere deixar para depois de 3 de outubro a decisão sobre o pedido de refúgio político de Cesare Battisti no país. Até a eleição, a ordem no Palácio do Planalto e no comitê da candidata oficial é não fazer marola e nem provocar polêmicas que possam atrapalhar a campanha presidencial do PT.
Na letra fria da lei, Serra e Dilma nem chegam a divergir, uma vez que o julgamento do Supremo é pela extradição de Battisti. O tribunal, no entanto, deixou a prerrogativa da extradição nas mãos de Lula, cuja tendência é manter o ex-brigadista italiano no Brasil. Polêmica certa - há partidários da extradição e da concessão do refúgio - , a decisão de Lula entrou na relação de assuntos que podem fazer marola, atrapalhar a campanha eleitoral do PT e por isso vai ficar para depois do 3 de outubro.
Battisti é apenas um de vários outros assuntos espinhosos, atualmente em tramitação no Legislativo, que devem ficar para depois da eleição. Boa parte deles, na realidade, deve ficar para a decisão do próximo governo, como é o caso do aumento real do salário mínimo e de aposentadorias. A rigor, a lei que trata do mínimo só prevê aumento real a partir de 2012. Para 2011, a Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) não prevê índice ou valor.
Na prática isso significa que o governo pode não propor nada de aumento real ou alguma coisa como 0,1%. A avaliação é que o governo já forçou muito a mão com os aumentos concedidos neste ano, inclusive o polêmico reajuste de 7,7% concedido aos aposentados, e no próximo ano terá de segurar os gastos.
As centrais sindicais e os aposentados, aliados na hora do aumento salarial, já enviaram sinais ao comitê de Dilma de que pretendem reagir a qualquer tentativa de arrocho do novo governo. Mas mesmo no PT há quem avalie que Dilma terá um início de governo bem mais conservador na economia do que supõe a militância. Principalmente se o deputado Antonio Palocci mantiver a influência conquistada na campanha .
A votação da LDO já foi um breque no apetite expansionista do Congresso, comum às vésperas de eleições. Uma das regras propostas para 2011 significava aumento real de 3% no salário mínimo. A proposta foi derrubada. O governo deve mandar o projeto de lei do Orçamento da União até o próximo dia 31 de agosto. Provavelmente sem prever aumento real, deixando a decisão para o Congresso. Mas os parlamentares apenas vão analisar e votar o projeto no final do ano, depois que já estiverem eleitos presidente, governadores, senadores e deputados.
Até a eleição, há três "esforços concentrados" previstos - trata-se da tentativa de votar alguma coisa, num curto espaço de tempo, em um período em que os parlamentares estão empenhados na campanha. E a agenda prevista do "esforço" é indigesta, em termos eleitorais.
Estão na pauta, por exemplo, os dois projetos do pré-sal: o que trata do fundo social e da mudança no sistema de exploração do petróleo e o que estabelece os critérios para a distribuição de royalties.
Os novos critérios para a distribuição de royalties, sobretudo, têm o poder para desarrumar os palanques de Dilma em Estados produtores de petróleo, como o Rio de Janeiro e Espírito Santo, que se sente prejudicado com as votações ocorridas até agora, e também naqueles não-produtores, que querem uma fatia do bolo. O tucano Serra se equilibra em cima do muro: quer que os outros Estados entrem na partilha mas sem que os produtores percam o que já lhes é de direito.
Na pauta do "esforço" está também o novo código florestal, projeto que talvez não seja votado nem sequer depois da eleição. As posição estão radicalizadas. Seja qual for o voto do parlamentar, ele vira alvo de um dos lados da questão. O fim da cobrança da contribuição dos aposentados é uma ameaça que o Palácio do Planalto tenta jogar para depois de 3 de outubro, pois há risco de o Congresso aprovar. A oposição gostaria de votar a Emenda 29, desde que ela vincule recursos à Saúde. O governo é contrário à vinculação. Está na pauta também a revisão do tratado de Itaipu, outro assunto que a oposição pode levar para os palanques e que por isso não interessa ao governo discutir no momento.
Pronto para ser votado está o projeto que a candidata Dilma considera prioritário: a reforma tributária, nos termos do projeto do deputado Sandro Mabel (PR-GO). A reforma atravessou os dois mandatos do tucano Fernando Henrique Cardoso, os dois do petista Luiz Inácio Lula da Silva e certamente ainda vai consumir bastante tempo do próximo presidente. Projeto que mexe profundamente com interesses federativos, sua votação agora também tem impacto no processo eleitoral. Não interessa ao governo, mas também à oposição. É debate para governo novo. Assim como devem ficar para a próxima legislatura o projeto que reduz a jornada de trabalho para 40 horas e o que cria a previdência complementar do servidor público.
Raymundo Costa, de Brasília
Entre o tucano José Serra, que defendeu a extradição, e a petista Dilma Rousseff, que falou em cumprir a decisão do Supremo Tribunal Federal (STF), o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva prefere deixar para depois de 3 de outubro a decisão sobre o pedido de refúgio político de Cesare Battisti no país. Até a eleição, a ordem no Palácio do Planalto e no comitê da candidata oficial é não fazer marola e nem provocar polêmicas que possam atrapalhar a campanha presidencial do PT.
Na letra fria da lei, Serra e Dilma nem chegam a divergir, uma vez que o julgamento do Supremo é pela extradição de Battisti. O tribunal, no entanto, deixou a prerrogativa da extradição nas mãos de Lula, cuja tendência é manter o ex-brigadista italiano no Brasil. Polêmica certa - há partidários da extradição e da concessão do refúgio - , a decisão de Lula entrou na relação de assuntos que podem fazer marola, atrapalhar a campanha eleitoral do PT e por isso vai ficar para depois do 3 de outubro.
Battisti é apenas um de vários outros assuntos espinhosos, atualmente em tramitação no Legislativo, que devem ficar para depois da eleição. Boa parte deles, na realidade, deve ficar para a decisão do próximo governo, como é o caso do aumento real do salário mínimo e de aposentadorias. A rigor, a lei que trata do mínimo só prevê aumento real a partir de 2012. Para 2011, a Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) não prevê índice ou valor.
Na prática isso significa que o governo pode não propor nada de aumento real ou alguma coisa como 0,1%. A avaliação é que o governo já forçou muito a mão com os aumentos concedidos neste ano, inclusive o polêmico reajuste de 7,7% concedido aos aposentados, e no próximo ano terá de segurar os gastos.
As centrais sindicais e os aposentados, aliados na hora do aumento salarial, já enviaram sinais ao comitê de Dilma de que pretendem reagir a qualquer tentativa de arrocho do novo governo. Mas mesmo no PT há quem avalie que Dilma terá um início de governo bem mais conservador na economia do que supõe a militância. Principalmente se o deputado Antonio Palocci mantiver a influência conquistada na campanha .
A votação da LDO já foi um breque no apetite expansionista do Congresso, comum às vésperas de eleições. Uma das regras propostas para 2011 significava aumento real de 3% no salário mínimo. A proposta foi derrubada. O governo deve mandar o projeto de lei do Orçamento da União até o próximo dia 31 de agosto. Provavelmente sem prever aumento real, deixando a decisão para o Congresso. Mas os parlamentares apenas vão analisar e votar o projeto no final do ano, depois que já estiverem eleitos presidente, governadores, senadores e deputados.
Até a eleição, há três "esforços concentrados" previstos - trata-se da tentativa de votar alguma coisa, num curto espaço de tempo, em um período em que os parlamentares estão empenhados na campanha. E a agenda prevista do "esforço" é indigesta, em termos eleitorais.
Estão na pauta, por exemplo, os dois projetos do pré-sal: o que trata do fundo social e da mudança no sistema de exploração do petróleo e o que estabelece os critérios para a distribuição de royalties.
Os novos critérios para a distribuição de royalties, sobretudo, têm o poder para desarrumar os palanques de Dilma em Estados produtores de petróleo, como o Rio de Janeiro e Espírito Santo, que se sente prejudicado com as votações ocorridas até agora, e também naqueles não-produtores, que querem uma fatia do bolo. O tucano Serra se equilibra em cima do muro: quer que os outros Estados entrem na partilha mas sem que os produtores percam o que já lhes é de direito.
Na pauta do "esforço" está também o novo código florestal, projeto que talvez não seja votado nem sequer depois da eleição. As posição estão radicalizadas. Seja qual for o voto do parlamentar, ele vira alvo de um dos lados da questão. O fim da cobrança da contribuição dos aposentados é uma ameaça que o Palácio do Planalto tenta jogar para depois de 3 de outubro, pois há risco de o Congresso aprovar. A oposição gostaria de votar a Emenda 29, desde que ela vincule recursos à Saúde. O governo é contrário à vinculação. Está na pauta também a revisão do tratado de Itaipu, outro assunto que a oposição pode levar para os palanques e que por isso não interessa ao governo discutir no momento.
Pronto para ser votado está o projeto que a candidata Dilma considera prioritário: a reforma tributária, nos termos do projeto do deputado Sandro Mabel (PR-GO). A reforma atravessou os dois mandatos do tucano Fernando Henrique Cardoso, os dois do petista Luiz Inácio Lula da Silva e certamente ainda vai consumir bastante tempo do próximo presidente. Projeto que mexe profundamente com interesses federativos, sua votação agora também tem impacto no processo eleitoral. Não interessa ao governo, mas também à oposição. É debate para governo novo. Assim como devem ficar para a próxima legislatura o projeto que reduz a jornada de trabalho para 40 horas e o que cria a previdência complementar do servidor público.
Um bufão domesticado:: Moacyr Góes
DEU EM O DIA
As políticas culturais são decorrentes de uma concepção de Estado, da liberdade
Rio - Na quarta-feira passada eu fui a um encontro de intelectuais e artistas com o candidato a presidente José Serra. Eu não gosto dessas reuniões. Fui porque vou votar nele e para acompanhar o Gabeira. Saio meio deprimido porque de uns tempos pra cá elas viraram um muro de lamentações e pedidos. É meio constrangedor que não se discuta política, mas apenas reivindicações setoriais. O pessoal de cinema pede, o de teatro pede, o de música pede, o de literatura... A gente não se dá conta de que as políticas culturais são decorrentes de uma concepção de Estado, do valor da liberdade e dos direitos individuais. Sem essa perspectiva pouco importa o candidato, mas o quanto ele estará disposto a irrigar de grana na cultura. E se for muito dinheiro ele poderá até domesticar nossas consciências e adormecer ímpetos criativos, ou até mesmo a indignação contra laivos autoritários.
Eu defendo leis de incentivo, presença do poder público no fomento cultural, principalmente onde o mercado não sustenta a criação, mas diante da crise de valores fundamentais pela qual passamos, o que quero discutir é política. Quero saber o valor da democracia para cada um, das leis, o resguardo da liberdade individual, a importância da meritocracia, a honestidade, coisas assim. A política para a cultura vai resultar disso.
Um exemplo: o dinheiro das estatais está aparelhado ou não? Ele vai para os companheiros ou há critério por mérito? O que determina isso é a concepção que o governo tem do Estado, é política, estúpido!
Sou do tempo em que a gente se reunia para lutar por liberdade, em que os intelectuais levantavam a voz contra as ditaduras e a favor dos direitos fundamentais dos povos. Agora muita gente cala diante de Cuba, África e Irã e se derrete em sorrisos em coquetéis de estatais. Nada mais triste do que um bufão domesticado.
Diretor de teatro e cineasta
As políticas culturais são decorrentes de uma concepção de Estado, da liberdade
Rio - Na quarta-feira passada eu fui a um encontro de intelectuais e artistas com o candidato a presidente José Serra. Eu não gosto dessas reuniões. Fui porque vou votar nele e para acompanhar o Gabeira. Saio meio deprimido porque de uns tempos pra cá elas viraram um muro de lamentações e pedidos. É meio constrangedor que não se discuta política, mas apenas reivindicações setoriais. O pessoal de cinema pede, o de teatro pede, o de música pede, o de literatura... A gente não se dá conta de que as políticas culturais são decorrentes de uma concepção de Estado, do valor da liberdade e dos direitos individuais. Sem essa perspectiva pouco importa o candidato, mas o quanto ele estará disposto a irrigar de grana na cultura. E se for muito dinheiro ele poderá até domesticar nossas consciências e adormecer ímpetos criativos, ou até mesmo a indignação contra laivos autoritários.
Eu defendo leis de incentivo, presença do poder público no fomento cultural, principalmente onde o mercado não sustenta a criação, mas diante da crise de valores fundamentais pela qual passamos, o que quero discutir é política. Quero saber o valor da democracia para cada um, das leis, o resguardo da liberdade individual, a importância da meritocracia, a honestidade, coisas assim. A política para a cultura vai resultar disso.
Um exemplo: o dinheiro das estatais está aparelhado ou não? Ele vai para os companheiros ou há critério por mérito? O que determina isso é a concepção que o governo tem do Estado, é política, estúpido!
Sou do tempo em que a gente se reunia para lutar por liberdade, em que os intelectuais levantavam a voz contra as ditaduras e a favor dos direitos fundamentais dos povos. Agora muita gente cala diante de Cuba, África e Irã e se derrete em sorrisos em coquetéis de estatais. Nada mais triste do que um bufão domesticado.
Diretor de teatro e cineasta
(Publicado, ontem, 18/7/2010)
Discutindo o sexo dos candidatos:: José Roberto de Toledo
DEU EM O ESTADO DE S. PAULO
Os cerca de 20 mil candidatos às eleições de outubro não são um espelho preciso da sociedade que pretendem representar. Suas diferenças em comparação à média do eleitorado brasileiro chamam mais a atenção do que eventuais semelhanças.
O candidato típico é homem, tem 48 anos de idade, nível superior e é político profissional (ou empresário, ou funcionário público).
O eleitor típico é mulher, tem pouco mais de 40 anos, não foi além do ensino fundamental e é assalariada do setor privado (ou tem uma ocupação informal).
As chapas são dominadas por uma elite partidária tão afeita ao poder que, ao preencher sua ocupação no registro de candidatura, seus membros escrevem "deputado" ou "vereador". Ao menos 1.885 candidatos fizeram isso, tornando a "profissão" de político a mais comum entre as mencionadas pelos postulantes.
Das discrepâncias entre o perfil dos eleitores e o dos potenciais eleitos, a que mais chama a atenção é a de gênero. Apesar de as mulheres serem maioria do eleitorado, elas não passam, em 2010, de 21% do total de candidatos às assembleias legislativas e à Câmara dos Deputados.
A legislação prevê pelo menos 30% de candidatas mulheres para cargos proporcionais, mas não é cumprida desde sempre. Em 2006, menos de 9% das cadeiras da Câmara dos Deputados foram preenchidas por mulheres. "O partido é o grande funil, não o eleitorado", afirma a socióloga Fátima Pacheco Jordão, uma estudiosa do tema.
A soma da intenção de voto de Dilma Rousseff (PT) e Marina Silva (PV) nas pesquisas presidenciais mostra que a maioria dos eleitores não tem nada contra candidatas. Ao contrário: mulheres já foram eleitas prefeitas e governadoras do Rio Grande do Sul ao Pará, por diferentes legendas. Mas, dentro das agremiações políticas, o volume de filiadas não se reflete na cúpula.
Na composição dos principais órgãos de comando dos partidos, a proporção de mulheres é decorativa. No DEM, de 57 membros da comissão executiva nacional, só 4 são do sexo feminino. No PSDB, são 4 mulheres para 42 vagas. No PMDB, entre os 25 dirigentes, só há duas mulheres. No PT a participação é um pouco maior, mas ainda minoritária: 6 mulheres entre 21 caciques.
Fecha-se um circuito viciado: homens preterem mulheres no preenchimento das chapas partidárias, menos mulheres são eleitas, homens mantêm a maioria dos cargos de mando dentro dos partidos. Perpetua-se o machismo.
Praticamente nenhuma sigla escapa dessa regra. Na eleição para a Câmara dos Deputados, apenas um partido respeita a cota mínima de candidatas do sexo feminino na disputa de 2010: o PCO (Partido da Causa Operária), com 50% de mulheres ? embora elas sejam só 4.
Entre os grandes partidos, o PSDB está na média da desigualdade de gênero no pleito para deputado federal: 79% de candidatos homens e apenas 21% de mulheres. PMDB e PT têm uma proporção equivalente: 22% de postulantes do sexo feminino. Já o DEM tem apenas 14% de candidatas mulheres para a Câmara.
Na disputa dos cargos majoritários, o balanço revela uma desproporção ainda maior. A eleição para o Senado este ano tem 34 mulheres entre os 265 candidatos, ou seja, elas conseguiram 13% das vagas. E no pleito para os governos estaduais, há 18 candidatas num total de 167, o que significa só 11% de mulheres.
É um problema global, inscrito nos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio. Mas o Brasil está ficando para trás. O Congresso argentino, por exemplo, tem uma proporção de mulheres três vezes maior do que a registrada no Brasil.
A questão vai além do sexo do chefe de governo. Trata-se de assegurar a participação das mulheres em todas as arenas políticas. Relatório das Nações Unidas mostra que congressistas mulheres têm prioridades diferentes das dos homens, beneficiam mais as crianças e a família. E há ao menos três estudos que correlacionam o aumento da participação feminina no poder com menores níveis de corrupção.
Os cerca de 20 mil candidatos às eleições de outubro não são um espelho preciso da sociedade que pretendem representar. Suas diferenças em comparação à média do eleitorado brasileiro chamam mais a atenção do que eventuais semelhanças.
O candidato típico é homem, tem 48 anos de idade, nível superior e é político profissional (ou empresário, ou funcionário público).
O eleitor típico é mulher, tem pouco mais de 40 anos, não foi além do ensino fundamental e é assalariada do setor privado (ou tem uma ocupação informal).
As chapas são dominadas por uma elite partidária tão afeita ao poder que, ao preencher sua ocupação no registro de candidatura, seus membros escrevem "deputado" ou "vereador". Ao menos 1.885 candidatos fizeram isso, tornando a "profissão" de político a mais comum entre as mencionadas pelos postulantes.
Das discrepâncias entre o perfil dos eleitores e o dos potenciais eleitos, a que mais chama a atenção é a de gênero. Apesar de as mulheres serem maioria do eleitorado, elas não passam, em 2010, de 21% do total de candidatos às assembleias legislativas e à Câmara dos Deputados.
A legislação prevê pelo menos 30% de candidatas mulheres para cargos proporcionais, mas não é cumprida desde sempre. Em 2006, menos de 9% das cadeiras da Câmara dos Deputados foram preenchidas por mulheres. "O partido é o grande funil, não o eleitorado", afirma a socióloga Fátima Pacheco Jordão, uma estudiosa do tema.
A soma da intenção de voto de Dilma Rousseff (PT) e Marina Silva (PV) nas pesquisas presidenciais mostra que a maioria dos eleitores não tem nada contra candidatas. Ao contrário: mulheres já foram eleitas prefeitas e governadoras do Rio Grande do Sul ao Pará, por diferentes legendas. Mas, dentro das agremiações políticas, o volume de filiadas não se reflete na cúpula.
Na composição dos principais órgãos de comando dos partidos, a proporção de mulheres é decorativa. No DEM, de 57 membros da comissão executiva nacional, só 4 são do sexo feminino. No PSDB, são 4 mulheres para 42 vagas. No PMDB, entre os 25 dirigentes, só há duas mulheres. No PT a participação é um pouco maior, mas ainda minoritária: 6 mulheres entre 21 caciques.
Fecha-se um circuito viciado: homens preterem mulheres no preenchimento das chapas partidárias, menos mulheres são eleitas, homens mantêm a maioria dos cargos de mando dentro dos partidos. Perpetua-se o machismo.
Praticamente nenhuma sigla escapa dessa regra. Na eleição para a Câmara dos Deputados, apenas um partido respeita a cota mínima de candidatas do sexo feminino na disputa de 2010: o PCO (Partido da Causa Operária), com 50% de mulheres ? embora elas sejam só 4.
Entre os grandes partidos, o PSDB está na média da desigualdade de gênero no pleito para deputado federal: 79% de candidatos homens e apenas 21% de mulheres. PMDB e PT têm uma proporção equivalente: 22% de postulantes do sexo feminino. Já o DEM tem apenas 14% de candidatas mulheres para a Câmara.
Na disputa dos cargos majoritários, o balanço revela uma desproporção ainda maior. A eleição para o Senado este ano tem 34 mulheres entre os 265 candidatos, ou seja, elas conseguiram 13% das vagas. E no pleito para os governos estaduais, há 18 candidatas num total de 167, o que significa só 11% de mulheres.
É um problema global, inscrito nos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio. Mas o Brasil está ficando para trás. O Congresso argentino, por exemplo, tem uma proporção de mulheres três vezes maior do que a registrada no Brasil.
A questão vai além do sexo do chefe de governo. Trata-se de assegurar a participação das mulheres em todas as arenas políticas. Relatório das Nações Unidas mostra que congressistas mulheres têm prioridades diferentes das dos homens, beneficiam mais as crianças e a família. E há ao menos três estudos que correlacionam o aumento da participação feminina no poder com menores níveis de corrupção.
A saúde como sacerdócio:: José Serra
DEU NA FOLHA DE S. PAULO
Foi-se um amigo querido e o Brasil perdeu um homem de grande valor, um médico sanitarista dedicado de corpo e alma às políticas públicas
Eu estava deitado com minha neta, que se ajeitava para dormir e conversava comigo e com o irmão, com quem divide o beliche. Havia acabado de chegar da Bahia, no sábado à noite, e fora vê-los. Foi nesse momento de mansidão que um assessor entrou na casa, disse que precisava falar-me e deu a notícia terrível: o Barradas tivera um ataque cardíaco e morrera.
A calma que me dominava deu lugar a uma alucinante sensação de fragilidade e revolta, com o desaparecimento gratuito de alguém tão bom e tão próximo.
No final de março de 1998, quando aceitei o convite de Fernando Henrique Cardoso para assumir o Ministério da Saúde, fui tomado por uma ideia fixa: levar o Luiz Roberto Barradas comigo, para introduzir-me no mundo da saúde, instruir-me sobre o funcionamento do ministério, ajudar-me a escolher os colaboradores e dar os primeiros passos naquela área imensa, difícil e tão essencial para o nosso povo.
Ele era secretário-adjunto em São Paulo, não queria deixar o posto, mas aceitou afastar-se por uns três meses e trabalhar comigo em Brasília, viajando também pelo Brasil. Tempos depois, ficou comigo mais seis meses. De conhecidos, nos tornamos desde então amigos de infância, com um bônus interessante: um achando o outro engraçado no seu jeito de ser. E certa cumplicidade no estilo de trabalho.
A assessoria que me prestou foi impecável, condição mesmo para que, ao longo de quatro anos, déssemos passos largos no avanço da saúde no Brasil. Desde aquela época, costumo esclarecer que foi com o Barradas que aprendi, logo no início, a diferença entre vírus, verme, micróbio e bactéria...
Barradas era médico sanitarista, dedicado de corpo e alma às políticas públicas de saúde. Essa especialidade é, por sua natureza, cativa do setor governamental e, portanto, recebe salários relativamente modestos. Na verdade, a área dos sanitaristas exige muita vocação, um quase sacerdócio.
Não é pouca a contribuição que eles têm dado ao nosso país. Por exemplo, as campanhas de vacinação, numerosas, abrangentes e benfeitas, num país tão grande, heterogêneo e repleto de localidades pobres. Ou a criação do SUS, um sistema único da saúde inovador entre os países em desenvolvimento, que só precisa de governos bons para funcionar melhor.
A implantação e a consolidação do sistema de Organizações Sociais na gestão de unidades de saúde em São Paulo, iniciadas pelos governos Covas e Alckmin, que deram tão certo e hoje se reproduzem em outros Estados, deveram-se muito ao descortino e à capacidade de fazer acontecer do Barradas.
Ele teve também um papel decisivo no fortalecimento das entidades filantrópicas sérias e na aliança do governo com os hospitais universitários, ambos peças fundamentais do SUS. Para ele era clara a distinção que transformamos em norma no Ministério da Saúde: nem tudo o que é público é necessariamente governamental. Um hospital como o das Irmãs Marcelinas atende de graça e a qualquer pessoa: por isso é público, embora não pertença ao governo.
Muitos programas e ações de saúde tiveram a mão, a cabeça, a vontade e a dedicação do médico sanitarista Luiz Roberto Barradas.
De programas como o de distribuição gratuita de remédios -o Dose Certa- à primeira lei antifumo do Brasil. Da implantação do Instituto do Câncer Octavio Frias de Oliveira, desafio que fiz a ele quando foi meu secretário, ao Hospital Estadual de Ribeirão Preto, e outros nove hospitais estaduais somente nos últimos quatro anos. Da expansão da Furp -fábrica estadual de medicamentos- à produção da vacina antigripe, no Butantan. Da concepção e implantação dos Ambulatórios Médicos de Especialidades (AMEs) à ideia original das AMAs -Atendimento Médico Ambulatorial-, implementada quando fui prefeito de São Paulo.
As AMAs, que hoje recobrem a cidade de São Paulo, foram reproduzidas no Rio de Janeiro, como UPAs; os AMEs, no futuro próximo, virarão programa nacional, encurtando a demora em consultas e exames no âmbito do SUS.
Ficamos agora sem um grande servidor público -modesto, criativo, competente e sensato. Foi-se um amigo querido e o Brasil perdeu um homem de grande valor. Uma tragédia. Como ouvi dele mais de uma vez, sua motivação era "ajudar as pessoas".
Ausentou-se muito prematuramente, mas sua família e seus amigos podem orgulhar-se: ele cumpriu como ninguém seu generoso propósito de vida e continuará a ser um grande exemplo para os que compartilham sua vocação.
José Serra, 68, foi ministro da Saúde (1998-2002), prefeito de São Paulo (2005-06) e governador de São Paulo (2007-10). É candidato à Presidência pelo PSDB.
Foi-se um amigo querido e o Brasil perdeu um homem de grande valor, um médico sanitarista dedicado de corpo e alma às políticas públicas
Eu estava deitado com minha neta, que se ajeitava para dormir e conversava comigo e com o irmão, com quem divide o beliche. Havia acabado de chegar da Bahia, no sábado à noite, e fora vê-los. Foi nesse momento de mansidão que um assessor entrou na casa, disse que precisava falar-me e deu a notícia terrível: o Barradas tivera um ataque cardíaco e morrera.
A calma que me dominava deu lugar a uma alucinante sensação de fragilidade e revolta, com o desaparecimento gratuito de alguém tão bom e tão próximo.
No final de março de 1998, quando aceitei o convite de Fernando Henrique Cardoso para assumir o Ministério da Saúde, fui tomado por uma ideia fixa: levar o Luiz Roberto Barradas comigo, para introduzir-me no mundo da saúde, instruir-me sobre o funcionamento do ministério, ajudar-me a escolher os colaboradores e dar os primeiros passos naquela área imensa, difícil e tão essencial para o nosso povo.
Ele era secretário-adjunto em São Paulo, não queria deixar o posto, mas aceitou afastar-se por uns três meses e trabalhar comigo em Brasília, viajando também pelo Brasil. Tempos depois, ficou comigo mais seis meses. De conhecidos, nos tornamos desde então amigos de infância, com um bônus interessante: um achando o outro engraçado no seu jeito de ser. E certa cumplicidade no estilo de trabalho.
A assessoria que me prestou foi impecável, condição mesmo para que, ao longo de quatro anos, déssemos passos largos no avanço da saúde no Brasil. Desde aquela época, costumo esclarecer que foi com o Barradas que aprendi, logo no início, a diferença entre vírus, verme, micróbio e bactéria...
Barradas era médico sanitarista, dedicado de corpo e alma às políticas públicas de saúde. Essa especialidade é, por sua natureza, cativa do setor governamental e, portanto, recebe salários relativamente modestos. Na verdade, a área dos sanitaristas exige muita vocação, um quase sacerdócio.
Não é pouca a contribuição que eles têm dado ao nosso país. Por exemplo, as campanhas de vacinação, numerosas, abrangentes e benfeitas, num país tão grande, heterogêneo e repleto de localidades pobres. Ou a criação do SUS, um sistema único da saúde inovador entre os países em desenvolvimento, que só precisa de governos bons para funcionar melhor.
A implantação e a consolidação do sistema de Organizações Sociais na gestão de unidades de saúde em São Paulo, iniciadas pelos governos Covas e Alckmin, que deram tão certo e hoje se reproduzem em outros Estados, deveram-se muito ao descortino e à capacidade de fazer acontecer do Barradas.
Ele teve também um papel decisivo no fortalecimento das entidades filantrópicas sérias e na aliança do governo com os hospitais universitários, ambos peças fundamentais do SUS. Para ele era clara a distinção que transformamos em norma no Ministério da Saúde: nem tudo o que é público é necessariamente governamental. Um hospital como o das Irmãs Marcelinas atende de graça e a qualquer pessoa: por isso é público, embora não pertença ao governo.
Muitos programas e ações de saúde tiveram a mão, a cabeça, a vontade e a dedicação do médico sanitarista Luiz Roberto Barradas.
De programas como o de distribuição gratuita de remédios -o Dose Certa- à primeira lei antifumo do Brasil. Da implantação do Instituto do Câncer Octavio Frias de Oliveira, desafio que fiz a ele quando foi meu secretário, ao Hospital Estadual de Ribeirão Preto, e outros nove hospitais estaduais somente nos últimos quatro anos. Da expansão da Furp -fábrica estadual de medicamentos- à produção da vacina antigripe, no Butantan. Da concepção e implantação dos Ambulatórios Médicos de Especialidades (AMEs) à ideia original das AMAs -Atendimento Médico Ambulatorial-, implementada quando fui prefeito de São Paulo.
As AMAs, que hoje recobrem a cidade de São Paulo, foram reproduzidas no Rio de Janeiro, como UPAs; os AMEs, no futuro próximo, virarão programa nacional, encurtando a demora em consultas e exames no âmbito do SUS.
Ficamos agora sem um grande servidor público -modesto, criativo, competente e sensato. Foi-se um amigo querido e o Brasil perdeu um homem de grande valor. Uma tragédia. Como ouvi dele mais de uma vez, sua motivação era "ajudar as pessoas".
Ausentou-se muito prematuramente, mas sua família e seus amigos podem orgulhar-se: ele cumpriu como ninguém seu generoso propósito de vida e continuará a ser um grande exemplo para os que compartilham sua vocação.
José Serra, 68, foi ministro da Saúde (1998-2002), prefeito de São Paulo (2005-06) e governador de São Paulo (2007-10). É candidato à Presidência pelo PSDB.
Para Freire, Barradas foi um pioneiro do sanitarismo
Agência Estado
Chiara Quintão
O presidente do PPS, Roberto Freire, disse hoje no velório do corpo do secretário estadual de Saúde de São Paulo, Luiz Roberto Barradas Barata, que ele foi "um grande médico, com visão social muito grande". "Ele foi um dos pioneiros de uma luta do chamado sanitarismo na política de saúde do Brasil. Foi muito maior que um simples médico, foi alguém que se preocupou com a saúde pública". Para Freire, Barradas "era político desde que se enveredou pelo sanitarismo". "É uma perda para ser lamentada por todos", disse Freire.
O presidente do PPS, que é candidato a deputado federal por São Paulo, afirmou que o secretário veio "de uma boa escola que tem inclusive relações muito estreitas com nosso partido desde Sérgio Arouca". Arouca, morto em 2 de agosto de 2003, foi médico e doutor em saúde pública e presidente da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz). Comunista assumido, coordenou a 8ª Conferência Nacional de Saúde, na qual foram lançados os alicerces do SUS (Sistema Único de Saúde).
O candidato ao Senado pelo PSDB de São Paulo e ex-chefe da Casa Civil do governo paulista, Aloysio Nunes Ferreira, também presente no velório, disse que Barradas esteve à frente de ações de saúde em São Paulo e no Brasil nos últimos 15 anos. "Ele deixa um legado que penso ser o mais importante individual, de aprimoramento do atendimento de saúde no nosso Estado. Foi sob sua responsabilidade que o governo do PSDB construiu 29 hospitais e inovou o modelo de gestão da saúde pública, com organismo sociais, que são êxito indiscutível pela qualidade do serviço que prestam, qualidade e transparência".
Segundo Aloysio, Barradas era um homem de princípios, muito aferrado aos princípios do SUS. "O secretário acreditava que o SUS poderia ser aprimorado, mas era uma grande conquista do povo brasileiro". Aloysio se referiu a Barradas como uma pessoa solidária, calorosa e um homem corajoso. "Foi um grande amigo e faz muita falta. Convivi com ele quatro ou cinco anos. Imagino a desolação que o (José) Serra deve estar sentindo também."
Luiz Roberto Barradas Barata morreu ontem à noite em decorrência de um ataque cardíaco. Barradas estava à frente da Secretaria de Saúde desde 2003, quando Geraldo Alckmin assumiu o governo. O corpo do secretário está sendo velado hoje no salão nobre da Provedoria da Santa Casa de São Paulo, aberto ao público até as 22 horas, e será cremado amanhã na Vila Alpina, na capital paulista, em cerimônia restrita aos familiares e amigos.
Chiara Quintão
O presidente do PPS, Roberto Freire, disse hoje no velório do corpo do secretário estadual de Saúde de São Paulo, Luiz Roberto Barradas Barata, que ele foi "um grande médico, com visão social muito grande". "Ele foi um dos pioneiros de uma luta do chamado sanitarismo na política de saúde do Brasil. Foi muito maior que um simples médico, foi alguém que se preocupou com a saúde pública". Para Freire, Barradas "era político desde que se enveredou pelo sanitarismo". "É uma perda para ser lamentada por todos", disse Freire.
O presidente do PPS, que é candidato a deputado federal por São Paulo, afirmou que o secretário veio "de uma boa escola que tem inclusive relações muito estreitas com nosso partido desde Sérgio Arouca". Arouca, morto em 2 de agosto de 2003, foi médico e doutor em saúde pública e presidente da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz). Comunista assumido, coordenou a 8ª Conferência Nacional de Saúde, na qual foram lançados os alicerces do SUS (Sistema Único de Saúde).
O candidato ao Senado pelo PSDB de São Paulo e ex-chefe da Casa Civil do governo paulista, Aloysio Nunes Ferreira, também presente no velório, disse que Barradas esteve à frente de ações de saúde em São Paulo e no Brasil nos últimos 15 anos. "Ele deixa um legado que penso ser o mais importante individual, de aprimoramento do atendimento de saúde no nosso Estado. Foi sob sua responsabilidade que o governo do PSDB construiu 29 hospitais e inovou o modelo de gestão da saúde pública, com organismo sociais, que são êxito indiscutível pela qualidade do serviço que prestam, qualidade e transparência".
Segundo Aloysio, Barradas era um homem de princípios, muito aferrado aos princípios do SUS. "O secretário acreditava que o SUS poderia ser aprimorado, mas era uma grande conquista do povo brasileiro". Aloysio se referiu a Barradas como uma pessoa solidária, calorosa e um homem corajoso. "Foi um grande amigo e faz muita falta. Convivi com ele quatro ou cinco anos. Imagino a desolação que o (José) Serra deve estar sentindo também."
Luiz Roberto Barradas Barata morreu ontem à noite em decorrência de um ataque cardíaco. Barradas estava à frente da Secretaria de Saúde desde 2003, quando Geraldo Alckmin assumiu o governo. O corpo do secretário está sendo velado hoje no salão nobre da Provedoria da Santa Casa de São Paulo, aberto ao público até as 22 horas, e será cremado amanhã na Vila Alpina, na capital paulista, em cerimônia restrita aos familiares e amigos.
A vida seguiu e a saúde venceu:: Luiz Roberto Barradas Barata
DEU NA FOLHA DE S. PAULO
Depois de um ano de lei antifumo, a realidade mudou radicalmente, e não demorou para os resultados positivos começarem a aparecer
Até a zero hora de 7/8/2009, qualquer cidadão paulista, ao adentrar um estabelecimento fechado, especialmente um bar, restaurante ou casa noturna, estava sujeito a inalar, de forma involuntária, quantidade expressiva de monóxido de carbono e outras substâncias tóxicas que saem da ponta de cigarros acesos.
Um ano depois, a realidade mudou radicalmente, felizmente para melhor. Uma cena antes comum, pessoas fumando em locais fechados de uso coletivo, hoje grita aos olhos como, no mínimo, estranha.
De fato é absurdo expor a maioria da população, composta por não fumantes, à poluição causada pelo tabaco, que tanto mal faz à saúde.
Essa mudança de comportamento, é verdade, veio por força de uma lei estadual que, diferentemente de legislações anteriores, atribuiu aos proprietários a responsabilidade por manter os ambientes livres do tabaco. O que faz todo o sentido sob o ponto de vista sanitário, já que é dever dos donos assegurar as condições de higiene e salubridade de seus estabelecimentos.
A lei antifumo paulista deu certo porque tanto os proprietários dos estabelecimentos quanto os síndicos de condomínio e a esmagadora maioria da população compreenderam que se trata de uma medida de saúde pública da maior importância para combater o tabagismo passivo, a terceira maior causa de morte evitável, segundo a Organização Mundial da Saúde.
Houve um trabalho prévio exemplar de orientação e educação, realizado por agentes da Vigilância Sanitária Estadual e do Procon-SP nos três meses anteriores à vigência da lei. O objetivo principal não era multar, punir, mas sim garantir ambientes saudáveis.
Quando a lei entrou em vigor, entretanto, rapidamente houve uma percepção generalizada de que, de fato, era para valer. Os agentes saíram às ruas e, desde então, realizaram mais de 350 mil inspeções.
Felizmente o resultado foi de adesão superior a 99% dos estabelecimentos vistoriados, que baniram o fumo, instalaram os avisos sobre a proibição e removeram os cinzeiros. Fumar, agora, só lá fora.
Não demorou para os resultados começarem a aparecer. Um estudo realizado pelo Instituto do Coração em cerca de 700 estabelecimentos do Estado apontou redução entre 68% e 73,5% nos níveis de monóxido de carbono dos ambientes fechados, conforme o tipo de local. Já a queda da contaminação no organismo de trabalhadores não fumantes chegou a 52,6%.
São dados que apontam inequivocamente para o acerto da legislação paulista em favor dos não fumantes.
Neste primeiro aniversário da lei antifumo, é hora de fazer justiça a uma medida que só trouxe benefícios a todos os cidadãos, aos fumantes inclusive, ao coibir a exposição passiva à fumaça do tabaco.
Parece até que foi ontem. A vida seguiu e a saúde pública, em São Paulo, saiu vencedora.
Luiz Roberto Barradas Barata (1953-2010) foi secretário de Estado da Saúde de São Paulo. Este era seu último artigo inédito.
Depois de um ano de lei antifumo, a realidade mudou radicalmente, e não demorou para os resultados positivos começarem a aparecer
Até a zero hora de 7/8/2009, qualquer cidadão paulista, ao adentrar um estabelecimento fechado, especialmente um bar, restaurante ou casa noturna, estava sujeito a inalar, de forma involuntária, quantidade expressiva de monóxido de carbono e outras substâncias tóxicas que saem da ponta de cigarros acesos.
Um ano depois, a realidade mudou radicalmente, felizmente para melhor. Uma cena antes comum, pessoas fumando em locais fechados de uso coletivo, hoje grita aos olhos como, no mínimo, estranha.
De fato é absurdo expor a maioria da população, composta por não fumantes, à poluição causada pelo tabaco, que tanto mal faz à saúde.
Essa mudança de comportamento, é verdade, veio por força de uma lei estadual que, diferentemente de legislações anteriores, atribuiu aos proprietários a responsabilidade por manter os ambientes livres do tabaco. O que faz todo o sentido sob o ponto de vista sanitário, já que é dever dos donos assegurar as condições de higiene e salubridade de seus estabelecimentos.
A lei antifumo paulista deu certo porque tanto os proprietários dos estabelecimentos quanto os síndicos de condomínio e a esmagadora maioria da população compreenderam que se trata de uma medida de saúde pública da maior importância para combater o tabagismo passivo, a terceira maior causa de morte evitável, segundo a Organização Mundial da Saúde.
Houve um trabalho prévio exemplar de orientação e educação, realizado por agentes da Vigilância Sanitária Estadual e do Procon-SP nos três meses anteriores à vigência da lei. O objetivo principal não era multar, punir, mas sim garantir ambientes saudáveis.
Quando a lei entrou em vigor, entretanto, rapidamente houve uma percepção generalizada de que, de fato, era para valer. Os agentes saíram às ruas e, desde então, realizaram mais de 350 mil inspeções.
Felizmente o resultado foi de adesão superior a 99% dos estabelecimentos vistoriados, que baniram o fumo, instalaram os avisos sobre a proibição e removeram os cinzeiros. Fumar, agora, só lá fora.
Não demorou para os resultados começarem a aparecer. Um estudo realizado pelo Instituto do Coração em cerca de 700 estabelecimentos do Estado apontou redução entre 68% e 73,5% nos níveis de monóxido de carbono dos ambientes fechados, conforme o tipo de local. Já a queda da contaminação no organismo de trabalhadores não fumantes chegou a 52,6%.
São dados que apontam inequivocamente para o acerto da legislação paulista em favor dos não fumantes.
Neste primeiro aniversário da lei antifumo, é hora de fazer justiça a uma medida que só trouxe benefícios a todos os cidadãos, aos fumantes inclusive, ao coibir a exposição passiva à fumaça do tabaco.
Parece até que foi ontem. A vida seguiu e a saúde pública, em São Paulo, saiu vencedora.
Luiz Roberto Barradas Barata (1953-2010) foi secretário de Estado da Saúde de São Paulo. Este era seu último artigo inédito.
O homem que se diz uma bomba
DEU NA VEJA
Demetrius Felinto, ex-funcionário do Palácio do Planalto, afirma que o governo escondeu imagens das câmeras de segurança que comprometem a candidata petista Dilma Rousseff
Daniel Pereira
Há sete meses o técnico de informática Demetrius Sampaio Felinto se comunica com gabinetes de senadores, conversa com autoridades do governo e mantém contatos com o comitê de campanha do PT oferecendo-se para revelar ou para não revelar, dependendo do interlocutor, uma história explosiva. Segundo ele, o Gabinete de Segurança Institucional (GSI) da Presidência da República escondeu as imagens que comprovam uma controversa reunião entre a ex-secretária da Receita Federal Lina Vieira e a então ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff. Na ocasião, a petista teria pressionado a secretária a encerrar uma investigação do Fisco sobre a família do presidente do Congresso, o senador José Sarney. A ordem, se verdadeira, configuraria um crime grave praticado pela candidata do PT à Presidência. Dilma, porém, sempre negou a existência do encontro, confirmado em detalhes pela ex-secretária da Receita no ano passado. Como não havia testemunhas da reunião, a única maneira de esclarecer a controvérsia seria recorrer às imagens do circuito interno de TV do Palácio do Planalto. Mas o serviço de segurança da Presidência informou que as fitas haviam sido apagadas - e o caso foi dado como encerrado, diante da impossibilidade de descobrir quem estava com a verdade. Isso agora pode mudar.
Responsável pelo sistema de câmeras do Palácio do Planalto até meados do ano passado, Demetrius Felinto garante que as imagens existem. Ele mesmo teria feito uma cópia de segurança dos arquivos e guardado o material em um computador instalado no Palácio do Planalto. O vídeo mostraria, com data, hora e local, o que há quase dois anos Dilma Rousseff estava tentando esconder: o momento exato em que Lina Vieira chega ao Palácio, dirige-se ao 4° andar, entra no gabinete da ministra, onde permanece por algum tempo, e, depois, faz o caminho de volta. De acordo com a ex-secretária da Receita, a reunião na qual Dilma lhe pediu que interferisse na investigação sobre a família Sarney ocorreu na manhã de 9 de outubro de 2008. O Gabinete de Segurança Institucional assegurou que o sistema apaga os arquivos a cada trinta dias e, por isso, não havia mais como acessar os vídeos gravados na data da suposta reunião. "Isso não é verdade", garantiu Demetrius Felinto em entrevista a VEJA. "O vídeo gravado está no Palácio do Planalto. Ele mostra que a ex-secretária esteve lá na Casa Civil.”
O problema do homem que se apresenta como uma bomba prestes a explodir é que para contar ou omitir o que sabe ele exige algumas compensações. VEJA manteve quatro contatos com o técnico de informática. No primeiro, em 12 de maio passado, ele pediu a uma amiga, a psicóloga Marizia Bonifácio, que ligasse para a redação da revista, em São Paulo. Forneceu sua identidade, detalhes do trabalho que exercia no Palácio do Planalto e disse que tinha o vídeo mostrando o exato momento em que Lina Vieira entrava e saía do gabinete da ministra Dilma Rousseff. Demetrius também contou que, por saber demais, estava sendo perseguido e "tinha medo de ser morto pelo PT". Por fim, queria saber quanto a revista pagaria pela história. Informado de que VEJA não compra informação, o técnico pediu um tempo para pensar sobre a possibilidade de conceder uma entrevista e encerrou a ligação.
Dias depois, o contato foi feito com o comitê de campanha da candidata petista Dilma Rousseff, em Brasília. A história foi repetida. Dessa vez, comprometendo-se a manter silêncio sobre o que diz saber, Demetrius pediu um emprego. Uma funcionária do comitê solicitou a ele que enviasse seus dados pelo correio eletrônico. Demetrius, que estava desempregado havia oito meses, foi contatado cinco dias depois por uma empresa prestadora de serviços ao Senado. A partir daí, o técnico de informática desapareceu. Em 23 de junho, VEJA conseguiu localizá-lo pelo telefone. Ele reclamou que sua situação pessoal continuava complicada, mas concordou em marcar um encontro em que narraria detalhes de tudo o que sabia. Na ligação que durou três minutos e dezoito segundos, parecia preocupado: "Queria contar tudo, mas tenho muito medo. Medo de não conseguir mais emprego. Medo de acontecer alguma coisa mais grave comigo". Dez minutos depois, Demetrius ligou de outro aparelho, explicando que aquele número era mais seguro. A conversa, dessa vez, durou dezesseis minutos e 54 segundos:
Você tem uma cópia desse vídeo?
Fiz uma cópia para me resguardar. Está num computador dentro do próprio Planalto. Tenho acesso a ele na hora que quiser.
Você está disposto a contar tudo?
A história envolve uma candidata à Presidência. Eu estou doente, sofrendo de síndrome do pânico por causa de tudo isso. Tenho muito medo de contar e me prejudicar ainda mais. Quem vai dar emprego a alguém envolvido em um escândalo desses?
Demetrius agendou um encontro para o dia seguinte. Horas depois, desmarcou. Diante da insistência da reportagem, enviou uma mensagem eletrônica: "Em que vocês podem me ajudar? Vão me arrumar emprego?". O técnico de informática foi contratado por uma empresa que presta serviços ao Senado Federal, a A7 Telecom, dias depois desta entrevista.
Ele está lotado na Secretaria de Telecomunicações e recebe um salário de 1 285 reais. No dia 10 de julho, VEJA procurou-o pela terceira vez. Demetrius ficou nervoso ao ser abordado pelos jornalistas: "Lembra daquilo que eu te falei? Naquela mesma semana que você me ligou, eu vim fazer uma entrevista e comecei a trabalhar. Estou há oito meses desempregado. Um escândalo como esse aí, eu garanto para você, estou na rua de novo. Eu não vou me envolver", disse.
Mas você disse que tinha uma cópia do vídeo.
É, mais ou menos.
Está em um computador no Palácio do Planalto?
Está em algum lugar. (...) Agora, me tira do foco. Porque tem como vocês recuperarem tudo o que vocês querem, da mesma forma que eu falei na época para o general (Jorge Félix) que tinha condições.
Você conversou com o general Félix pessoalmente?
Conversei pessoalmente. Não sei se você entende de informática, mas na informática nada se destrói. Então, há condições de você recuperar. É pegar os HDs, levar para uma empresa especializada e pedir para recuperar. Só isso.
E isso foi feito?
Na época foi mandado um arquivo para São Paulo e o cara lá falou que estava visualizando tudo direitinho.
Foi recuperado então?
Foi.
Demetrius deixou o Palácio do Planalto depois de a ex-secretária Lina Vieira revelar, em agosto, o polêmico encontro com Dilma Rousseff. O técnico era contratado por uma empresa terceirizada, a Telemática Após o escândalo, foi orientado a se esconder no Rio de Janeiro.
Oficialmente, estava fazendo um curso. Ex-funcionário da extinta Siderbrás, Demetrius conta que, para manter o silêncio sobre as fitas, recebeu a garantia de que quando retornasse do "curso" seria contratado pelo governo. “Ele ficou trancado em um hotel durante um mês, sendo pressionado para ficar calado e esperando que resolvessem sua questão funcional. Mas nada disso aconteceu", confirma a psicóloga Marizia Bonifácio. Depois disso, segundo ela, Demetrius decidiu contar o que sabia, mas precisava de alguma compensação. Antes dos contatos com a revista, ainda de acordo com a terapeuta e amiga. Demetrius recorreu a vários senadores. De fato, em 23 de dezembro do ano passado, o técnico encaminbou um mesmo e-mail a vários parlamentares no qual diz que a Telemática "armou um circo" com a Casa Civil para convencer a opinião pública de que as imagens haviam sido de fato apagadas. "Sob a promessa de fazer a minha reintegração no governo federal, tentaram me calar. Hoje, estou disposto a contar tudo o que sei, inclusive com provas, para que não seja mais um escândalo que possa ficar impune", escreveu no texto.
A mensagem foi divulgada pelo senador Álvaro Dias. Assustado, Demetrius negou à Polícia Legislativa do Senado a autoria do e-mail, culpou colegas de trabalho, mas não desmentiu o teor das informações. "Depois disso, ele passou a receber ameaças e desenvolveu síndrome do pânico", conta a terapeuta, lembrando que o governo ameaçou processá-lo com base em uma cláusula contratual de trabalho que prevê confidencialidade. Consultora jurídica da Telemática, a advogada Norma Novaes disse que Demetrius deixou a empresa porque os trabalhos no Planalto haviam sido concluídos e confirmou que os contratos exigem sigilo das partes envolvidas, o que a impediria de comentar a polêmica sobre o destino das imagens captadas. "Já houve no passado uma tentativa dele (Demetrius) de chantagear a empresa", disse a representante da Telemática. O GSI se limitou a ratificar que as imagens não existem. Já a A7 Telecom informou que Demetrius foi selecionado através de um banco de currículos e está em período de experiência na companhia. Por enquanto, mostra-se um profissional correto, competente e cumpridor de suas atribuições - e ainda encarnando o papel de uma enigmática bomba ambulante: "Se fiz cópia? Claro. Era uma obrigação minha", reafirmou a VEJA na última quinta-feira. Demetrius Felinto pode estar desesperado ou ter outras motivações para narrar essa história. Mas, pelo que ele já revelou até agora, sua narrativa precisa ser apurada pelas autoridades competentes, sob pena de o enredo causar mis danos debaixo do tapete do que à luz do dia.
Demetrius Felinto, ex-funcionário do Palácio do Planalto, afirma que o governo escondeu imagens das câmeras de segurança que comprometem a candidata petista Dilma Rousseff
Daniel Pereira
Há sete meses o técnico de informática Demetrius Sampaio Felinto se comunica com gabinetes de senadores, conversa com autoridades do governo e mantém contatos com o comitê de campanha do PT oferecendo-se para revelar ou para não revelar, dependendo do interlocutor, uma história explosiva. Segundo ele, o Gabinete de Segurança Institucional (GSI) da Presidência da República escondeu as imagens que comprovam uma controversa reunião entre a ex-secretária da Receita Federal Lina Vieira e a então ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff. Na ocasião, a petista teria pressionado a secretária a encerrar uma investigação do Fisco sobre a família do presidente do Congresso, o senador José Sarney. A ordem, se verdadeira, configuraria um crime grave praticado pela candidata do PT à Presidência. Dilma, porém, sempre negou a existência do encontro, confirmado em detalhes pela ex-secretária da Receita no ano passado. Como não havia testemunhas da reunião, a única maneira de esclarecer a controvérsia seria recorrer às imagens do circuito interno de TV do Palácio do Planalto. Mas o serviço de segurança da Presidência informou que as fitas haviam sido apagadas - e o caso foi dado como encerrado, diante da impossibilidade de descobrir quem estava com a verdade. Isso agora pode mudar.
Responsável pelo sistema de câmeras do Palácio do Planalto até meados do ano passado, Demetrius Felinto garante que as imagens existem. Ele mesmo teria feito uma cópia de segurança dos arquivos e guardado o material em um computador instalado no Palácio do Planalto. O vídeo mostraria, com data, hora e local, o que há quase dois anos Dilma Rousseff estava tentando esconder: o momento exato em que Lina Vieira chega ao Palácio, dirige-se ao 4° andar, entra no gabinete da ministra, onde permanece por algum tempo, e, depois, faz o caminho de volta. De acordo com a ex-secretária da Receita, a reunião na qual Dilma lhe pediu que interferisse na investigação sobre a família Sarney ocorreu na manhã de 9 de outubro de 2008. O Gabinete de Segurança Institucional assegurou que o sistema apaga os arquivos a cada trinta dias e, por isso, não havia mais como acessar os vídeos gravados na data da suposta reunião. "Isso não é verdade", garantiu Demetrius Felinto em entrevista a VEJA. "O vídeo gravado está no Palácio do Planalto. Ele mostra que a ex-secretária esteve lá na Casa Civil.”
O problema do homem que se apresenta como uma bomba prestes a explodir é que para contar ou omitir o que sabe ele exige algumas compensações. VEJA manteve quatro contatos com o técnico de informática. No primeiro, em 12 de maio passado, ele pediu a uma amiga, a psicóloga Marizia Bonifácio, que ligasse para a redação da revista, em São Paulo. Forneceu sua identidade, detalhes do trabalho que exercia no Palácio do Planalto e disse que tinha o vídeo mostrando o exato momento em que Lina Vieira entrava e saía do gabinete da ministra Dilma Rousseff. Demetrius também contou que, por saber demais, estava sendo perseguido e "tinha medo de ser morto pelo PT". Por fim, queria saber quanto a revista pagaria pela história. Informado de que VEJA não compra informação, o técnico pediu um tempo para pensar sobre a possibilidade de conceder uma entrevista e encerrou a ligação.
Dias depois, o contato foi feito com o comitê de campanha da candidata petista Dilma Rousseff, em Brasília. A história foi repetida. Dessa vez, comprometendo-se a manter silêncio sobre o que diz saber, Demetrius pediu um emprego. Uma funcionária do comitê solicitou a ele que enviasse seus dados pelo correio eletrônico. Demetrius, que estava desempregado havia oito meses, foi contatado cinco dias depois por uma empresa prestadora de serviços ao Senado. A partir daí, o técnico de informática desapareceu. Em 23 de junho, VEJA conseguiu localizá-lo pelo telefone. Ele reclamou que sua situação pessoal continuava complicada, mas concordou em marcar um encontro em que narraria detalhes de tudo o que sabia. Na ligação que durou três minutos e dezoito segundos, parecia preocupado: "Queria contar tudo, mas tenho muito medo. Medo de não conseguir mais emprego. Medo de acontecer alguma coisa mais grave comigo". Dez minutos depois, Demetrius ligou de outro aparelho, explicando que aquele número era mais seguro. A conversa, dessa vez, durou dezesseis minutos e 54 segundos:
Você tem uma cópia desse vídeo?
Fiz uma cópia para me resguardar. Está num computador dentro do próprio Planalto. Tenho acesso a ele na hora que quiser.
Você está disposto a contar tudo?
A história envolve uma candidata à Presidência. Eu estou doente, sofrendo de síndrome do pânico por causa de tudo isso. Tenho muito medo de contar e me prejudicar ainda mais. Quem vai dar emprego a alguém envolvido em um escândalo desses?
Demetrius agendou um encontro para o dia seguinte. Horas depois, desmarcou. Diante da insistência da reportagem, enviou uma mensagem eletrônica: "Em que vocês podem me ajudar? Vão me arrumar emprego?". O técnico de informática foi contratado por uma empresa que presta serviços ao Senado Federal, a A7 Telecom, dias depois desta entrevista.
Ele está lotado na Secretaria de Telecomunicações e recebe um salário de 1 285 reais. No dia 10 de julho, VEJA procurou-o pela terceira vez. Demetrius ficou nervoso ao ser abordado pelos jornalistas: "Lembra daquilo que eu te falei? Naquela mesma semana que você me ligou, eu vim fazer uma entrevista e comecei a trabalhar. Estou há oito meses desempregado. Um escândalo como esse aí, eu garanto para você, estou na rua de novo. Eu não vou me envolver", disse.
Mas você disse que tinha uma cópia do vídeo.
É, mais ou menos.
Está em um computador no Palácio do Planalto?
Está em algum lugar. (...) Agora, me tira do foco. Porque tem como vocês recuperarem tudo o que vocês querem, da mesma forma que eu falei na época para o general (Jorge Félix) que tinha condições.
Você conversou com o general Félix pessoalmente?
Conversei pessoalmente. Não sei se você entende de informática, mas na informática nada se destrói. Então, há condições de você recuperar. É pegar os HDs, levar para uma empresa especializada e pedir para recuperar. Só isso.
E isso foi feito?
Na época foi mandado um arquivo para São Paulo e o cara lá falou que estava visualizando tudo direitinho.
Foi recuperado então?
Foi.
Demetrius deixou o Palácio do Planalto depois de a ex-secretária Lina Vieira revelar, em agosto, o polêmico encontro com Dilma Rousseff. O técnico era contratado por uma empresa terceirizada, a Telemática Após o escândalo, foi orientado a se esconder no Rio de Janeiro.
Oficialmente, estava fazendo um curso. Ex-funcionário da extinta Siderbrás, Demetrius conta que, para manter o silêncio sobre as fitas, recebeu a garantia de que quando retornasse do "curso" seria contratado pelo governo. “Ele ficou trancado em um hotel durante um mês, sendo pressionado para ficar calado e esperando que resolvessem sua questão funcional. Mas nada disso aconteceu", confirma a psicóloga Marizia Bonifácio. Depois disso, segundo ela, Demetrius decidiu contar o que sabia, mas precisava de alguma compensação. Antes dos contatos com a revista, ainda de acordo com a terapeuta e amiga. Demetrius recorreu a vários senadores. De fato, em 23 de dezembro do ano passado, o técnico encaminbou um mesmo e-mail a vários parlamentares no qual diz que a Telemática "armou um circo" com a Casa Civil para convencer a opinião pública de que as imagens haviam sido de fato apagadas. "Sob a promessa de fazer a minha reintegração no governo federal, tentaram me calar. Hoje, estou disposto a contar tudo o que sei, inclusive com provas, para que não seja mais um escândalo que possa ficar impune", escreveu no texto.
A mensagem foi divulgada pelo senador Álvaro Dias. Assustado, Demetrius negou à Polícia Legislativa do Senado a autoria do e-mail, culpou colegas de trabalho, mas não desmentiu o teor das informações. "Depois disso, ele passou a receber ameaças e desenvolveu síndrome do pânico", conta a terapeuta, lembrando que o governo ameaçou processá-lo com base em uma cláusula contratual de trabalho que prevê confidencialidade. Consultora jurídica da Telemática, a advogada Norma Novaes disse que Demetrius deixou a empresa porque os trabalhos no Planalto haviam sido concluídos e confirmou que os contratos exigem sigilo das partes envolvidas, o que a impediria de comentar a polêmica sobre o destino das imagens captadas. "Já houve no passado uma tentativa dele (Demetrius) de chantagear a empresa", disse a representante da Telemática. O GSI se limitou a ratificar que as imagens não existem. Já a A7 Telecom informou que Demetrius foi selecionado através de um banco de currículos e está em período de experiência na companhia. Por enquanto, mostra-se um profissional correto, competente e cumpridor de suas atribuições - e ainda encarnando o papel de uma enigmática bomba ambulante: "Se fiz cópia? Claro. Era uma obrigação minha", reafirmou a VEJA na última quinta-feira. Demetrius Felinto pode estar desesperado ou ter outras motivações para narrar essa história. Mas, pelo que ele já revelou até agora, sua narrativa precisa ser apurada pelas autoridades competentes, sob pena de o enredo causar mis danos debaixo do tapete do que à luz do dia.
Embate pelo voto mineiro
DEU NO ESTADO DE MINAS
Candidatos à Presidência pelo PT e PSDB iniciam a semana com agenda em municípios de Minas, segundo maior colégio eleitoral do país e ponto estratégico na corrida ao Planalto
Alana Rizzo
Candidatos à Presidência pelo PT e PSDB iniciam a semana com agenda em municípios de Minas, segundo maior colégio eleitoral do país e ponto estratégico na corrida ao Planalto
Alana Rizzo
Quase 15 dias depois do início oficial da campanha, os principais candidatos à Presidência da República Dilma Rousseff (PT) e José Serra (PSDB) desembarcam esta semana em Minas Gerais com a mesma missão: atrair a atenção do segundo maior colégio eleitoral do país. A disputa no estado, que reúne cerca de 14,2 milhões de eleitores, ou 10,7% do total, não é fácil. O PT, além de ter de enfrentar a alta popularidade do ex-governador Aécio Neves (PSDB), candidato ao Senado, tem como obstáculo o fato de não ter conseguido encabeçar a chapa para o governo do estado. Já a oposição precisa quebrar a força do anagrama Dilmasia, criado para definir os eleitores que votariam no governador Antonio Anastasia (PSDB) para o Palácio da Liberdade e em Dilma para o Planalto.
Para tentar superar essas dificuldades em busca de votos e apoios importantes em terras mineiras, os coordenadores das duas campanhas traçam estratégias parecidas, que incluem incursões pela capital e interior do estado e a captação do maior número de prefeitos para as alianças.
Dilma e Serra não devem se encontrar durante esta passagem por Minas, como ocorreu em maio, durante a abertura da Expozebu, quando os então pré-candidatos dividiram palanque e apareceram juntos nas fotos da maior festa pecuária do estado, realizada anualmente em Uberaba, no Triangulo. O tucano começa a visita hoje por Belo Horizonte, onde participa da inauguração de um comitê virtual da campanha de Anastasia e Aécio.
Segundo o coordenador da campanha tucana no estado, o deputado federal Rodrigo de Castro (PSDB-MG), a estrutura dos candidatos estaduais será usada pelo presidenciável. Vamos fazer ações combinadas para fortalecer as três candidaturas de uma única vez e criar uma grande mobilização, afirma. Serão inaugurados comitês em 20 cidades polo para divulgar as propostas dos candidatos.
Um desses municípios será Divinópolis, no Centro-Oeste. O tucano seguirá de Belo Horizonte para a cidade, a 121 quilômetros da capital, um forte reduto dos tucanos. Comandada por Vladimir de Faria Azevedo e terra natal do líder da maioria, deputado estadual Domingos Sávio (PSDB-MG), Divinópolis deve se tornar uma base importante para Serra no estado. Ele vai se encontrar com líderes políticos locais e depois participa de uma carreata pelas ruas da cidade. A campanha tucana prevê ainda uma visita a Uberlândia, no Triângulo, mas a viagem ainda não está definida.
DISPUTA
Rodrigo de Castro não teme as investidas petistas nos prefeitos da oposição. Não acho que isso vai ocorrer em Minas. A disputa não é contra o Lula. É outro candidato, defende. Ele completa o discurso com a tese de que deverá ser reproduzida pelos tucanos durante a eleição, de que a parceria será mais eficiente com um presidente do PSDB. Vamos mostrar que se já deu certo com o governo estadual, será muito melhor com um presidente.
Os petistas querem combater esse argumento mostrando aos prefeitos mineiros os trabalhos realizados e os benefícios obtidos pelo governo federal no estado. Dilma, que nasceu em Belo Horizonte, tenta se mostrar cada vez mais próxima do estado, apesar de ter passado boa parte da vida no Rio Grande do Sul. Mesmo antes de se formalizar como a candidata do PT à Presidência da República, a ex-ministra da Casa Civil já incluía em seus discursos durante visitas a Minas o sentimento de retorno ao lar. Esta semana ela começa a agenda de campanha em Uberlândia, no Triângulo, amanhã de manhã. No roteiro da viagem pelo interior do estado está prevista uma passagem, na parte da tarde, por Montes Claros, no Norte de Minas.
PE: Peemedebista confirma retorno de Serra no dia 31
DEU NO JORNAL DO COMMERCIO (PE)
SERTÂNIA - Candidato a presidente pelo PSDB, José Serra, voltará a Pernambuco no dia 31. A informação foi dada pelo senador Jarbas Vasconcelos (PMDB), que confirmou a quarta visita do tucano só este ano a Pernambuco. A programação ainda não está fechada, mas o peemedebista vai levar o aliado a Petrolina e Exu. Eles combinaram a viagem na última sexta-feira, quando Serra esteve em Caruaru e Gravatá. Jarbas visitará nove municípios do São Francisco e viaja no dia 30, antes de Serra.
Jarbas e seus companheiros de chapa, a vice Miriam Lacerda (DEM) e os candidatos ao Senado Marco Maciel (DEM) e Raul Jungmann (PPS) defenderam Serra como o candidato “mais preparado para presidir o Brasil”. Eles também fizeram questão de lembrar que o presidente Lula “não é mais candidato”. Jarbas disse que “Lula botou (para ser candidata) uma senhora que quer levar o país para uma aventura”. “Uma senhora sem experiência", discursou Jarbas, referindo-se a Dilma Rousseff (PT).
O senador Sérgio Guerra (PSDB) esteve em Sertânia, mas só participou do almoço na fazenda da ex-vereadora Fátima e o marido Romero Lafayette (ambos do DEM). O grupo é ligado a Marco Maciel. Guerra passou 40 minutos no local. Posou para fotos ao lado de Jarbas, com quem trocou poucas palavras. O incômodo era visível. “Não estou brigado com Jarbas. Quantas vezes vou dizer isso”, disse Guerra. O tucano disse que avisou a Jarbas que iria para Sertânia. O peemedebista negou. “Não sabia que ele vinha.” Indagado sobre como se sentia com os rumores de mal-estar com Guerra, demonstrou estar chateado. “Não vou mais falar desse assunto”, disse Jarbas, ao visitar a feira de caprinos e ovinos.
SERTÂNIA - Candidato a presidente pelo PSDB, José Serra, voltará a Pernambuco no dia 31. A informação foi dada pelo senador Jarbas Vasconcelos (PMDB), que confirmou a quarta visita do tucano só este ano a Pernambuco. A programação ainda não está fechada, mas o peemedebista vai levar o aliado a Petrolina e Exu. Eles combinaram a viagem na última sexta-feira, quando Serra esteve em Caruaru e Gravatá. Jarbas visitará nove municípios do São Francisco e viaja no dia 30, antes de Serra.
Jarbas e seus companheiros de chapa, a vice Miriam Lacerda (DEM) e os candidatos ao Senado Marco Maciel (DEM) e Raul Jungmann (PPS) defenderam Serra como o candidato “mais preparado para presidir o Brasil”. Eles também fizeram questão de lembrar que o presidente Lula “não é mais candidato”. Jarbas disse que “Lula botou (para ser candidata) uma senhora que quer levar o país para uma aventura”. “Uma senhora sem experiência", discursou Jarbas, referindo-se a Dilma Rousseff (PT).
O senador Sérgio Guerra (PSDB) esteve em Sertânia, mas só participou do almoço na fazenda da ex-vereadora Fátima e o marido Romero Lafayette (ambos do DEM). O grupo é ligado a Marco Maciel. Guerra passou 40 minutos no local. Posou para fotos ao lado de Jarbas, com quem trocou poucas palavras. O incômodo era visível. “Não estou brigado com Jarbas. Quantas vezes vou dizer isso”, disse Guerra. O tucano disse que avisou a Jarbas que iria para Sertânia. O peemedebista negou. “Não sabia que ele vinha.” Indagado sobre como se sentia com os rumores de mal-estar com Guerra, demonstrou estar chateado. “Não vou mais falar desse assunto”, disse Jarbas, ao visitar a feira de caprinos e ovinos.
PT estuda retaliação a procuradora eleitoral
DEU EM O ESTADO DE S. PAULO
O PT avalia entrar com representação contra a vice-procuradora-geral eleitoral, Sandra Cureau, no Conselho Nacional do Ministério Público. Para petistas, ela age com excessivo rigor ao pedir investigação contra o presidente Lula, sob acusação de abuso de poder político em favor da candidatura de Dilma Rousseff. "Não tenho dúvidas de que ela está exagerando e extrapolando", afirma o presidente do PT, José Eduardo Dutra. A interlocutores Sandra Cureau tem dito que está fazendo o seu trabalho. Hoje, a cúpula do PT reúne-se para discutir a possibilidade de processar o candidato a vice na chapa de José Serra (PSDB) Índio da Costa (DEM), que ligou o partido ao narcotráfico.
Comando do PT estuda retaliação contra vice-procuradora eleitoral
Marcelo de Moraes
O PT estuda possibilidade de entrar com representação no Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP) contra a vice-procuradora-geral eleitoral, Sandra Cureau. Para o partido, ela age com excessivo rigor ao pedir investigações contra o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, sob acusação de abuso de poder político em favor da candidatura de Dilma Rousseff.
O presidente nacional do PT, José Eduardo Dutra, confirmou ao Estado que encomendou um estudo aos advogados da legenda para saber se vale a pena apresentar ou não a representação contra a procuradora, pedindo algum tipo de sanção contra ela.
Independentemente dessa ação, Dutra diz que, na sua avaliação, Sandra Cureau está "extrapolando as suas funções". O dirigente petista afirma que, para fazer essa crítica, baseia-se "no conjunto da obra" da procuradora - que estaria dando um tratamento mais rigoroso aos aliados da campanha petista do que à campanha da oposição.
"Não tenho dúvidas de que ela está exagerando e extrapolando", diz Dutra. Ele confirmou, em sua página no Twitter, que o partido está recolhendo material para uma eventual ação.
Pressão. Na prática, apresentando ou não a representação, o movimento do PT tem um claro objetivo estratégico: fazer pressão política sobre Sandra Cureau. Especialmente depois de ela ter dito que poderia investigar as declarações feitas por Lula a favor de Dilma - nas quais ele atribuiu à ex-ministra-chefe da Casa Civil o sucesso do projeto do trem-bala - para verificar se houve violação da legislação eleitoral da parte do presidente.
Além de ter associado a presidenciável petista àquele projeto, Lula repetiu o procedimento no dia seguinte à sua primeira fala. Dessa vez, alegando que queria pedir desculpas por ter feito algo em desacordo com as normas eleitorais.
"Duas caras". Logo depois da manifestação da promotora alertando sobre a possibilidade da abertura de investigação, Lula e Dilma decidiram aumentar o tom, passando a criticá-la publicamente, embora sem ne nhuma menção direta ao seu nome.
"Na verdade, o que eles querem é me inibir, para fingir que eu não conheço a Dilma. É como se eu pudesse passar perto dela, ter uma procuradora qualquer aí, e eu vou passar de costas viradas e fingir que não a conheço. Mas eu não sou homem de duas caras. Passo perto dela e digo para vocês: é a minha companheira Dilma, que foi chefe da Casa Civil e está preparada para a Presidência da República deste País", disse Lula em referência à procuradora, durante comício na sexta-feira, no Rio de Janeiro.
O PT avalia entrar com representação contra a vice-procuradora-geral eleitoral, Sandra Cureau, no Conselho Nacional do Ministério Público. Para petistas, ela age com excessivo rigor ao pedir investigação contra o presidente Lula, sob acusação de abuso de poder político em favor da candidatura de Dilma Rousseff. "Não tenho dúvidas de que ela está exagerando e extrapolando", afirma o presidente do PT, José Eduardo Dutra. A interlocutores Sandra Cureau tem dito que está fazendo o seu trabalho. Hoje, a cúpula do PT reúne-se para discutir a possibilidade de processar o candidato a vice na chapa de José Serra (PSDB) Índio da Costa (DEM), que ligou o partido ao narcotráfico.
Comando do PT estuda retaliação contra vice-procuradora eleitoral
Marcelo de Moraes
O PT estuda possibilidade de entrar com representação no Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP) contra a vice-procuradora-geral eleitoral, Sandra Cureau. Para o partido, ela age com excessivo rigor ao pedir investigações contra o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, sob acusação de abuso de poder político em favor da candidatura de Dilma Rousseff.
O presidente nacional do PT, José Eduardo Dutra, confirmou ao Estado que encomendou um estudo aos advogados da legenda para saber se vale a pena apresentar ou não a representação contra a procuradora, pedindo algum tipo de sanção contra ela.
Independentemente dessa ação, Dutra diz que, na sua avaliação, Sandra Cureau está "extrapolando as suas funções". O dirigente petista afirma que, para fazer essa crítica, baseia-se "no conjunto da obra" da procuradora - que estaria dando um tratamento mais rigoroso aos aliados da campanha petista do que à campanha da oposição.
"Não tenho dúvidas de que ela está exagerando e extrapolando", diz Dutra. Ele confirmou, em sua página no Twitter, que o partido está recolhendo material para uma eventual ação.
Pressão. Na prática, apresentando ou não a representação, o movimento do PT tem um claro objetivo estratégico: fazer pressão política sobre Sandra Cureau. Especialmente depois de ela ter dito que poderia investigar as declarações feitas por Lula a favor de Dilma - nas quais ele atribuiu à ex-ministra-chefe da Casa Civil o sucesso do projeto do trem-bala - para verificar se houve violação da legislação eleitoral da parte do presidente.
Além de ter associado a presidenciável petista àquele projeto, Lula repetiu o procedimento no dia seguinte à sua primeira fala. Dessa vez, alegando que queria pedir desculpas por ter feito algo em desacordo com as normas eleitorais.
"Duas caras". Logo depois da manifestação da promotora alertando sobre a possibilidade da abertura de investigação, Lula e Dilma decidiram aumentar o tom, passando a criticá-la publicamente, embora sem ne nhuma menção direta ao seu nome.
"Na verdade, o que eles querem é me inibir, para fingir que eu não conheço a Dilma. É como se eu pudesse passar perto dela, ter uma procuradora qualquer aí, e eu vou passar de costas viradas e fingir que não a conheço. Mas eu não sou homem de duas caras. Passo perto dela e digo para vocês: é a minha companheira Dilma, que foi chefe da Casa Civil e está preparada para a Presidência da República deste País", disse Lula em referência à procuradora, durante comício na sexta-feira, no Rio de Janeiro.
O passo seguinte ocorreu sábado, em Jales, no interior de São Paulo. Dessa vez foi Dilma quem reclamou, depois de ser perguntada sobre o assunto. "Acho que não se pode na vida ter dois pesos e duas medidas", afirmou. E mesmo dizendo que "não entraria em polêmica" com a procuradora, a candidata aproveitou para capitalizar também, para seu nome, o projeto do trem-bala.
"Tenho certeza de que vocês hão de convir comigo que, no caso do trem de alta velocidade, fui a responsável pela construção do projeto. Então, não é um elogio e sim a constatação da verdade", alegou.
Sandra Cureau diz que está fazendo seu trabalho
DEU EM O ESTADO DE S. PAULO
Felipe Recondo
A vice-procuradora-geral eleitoral, Sandra Cureau, tem dito a interlocutores que "está fazendo" o seu trabalho e que "muitas das acusações contra os candidatos chegam a ela por outros partidos e até por cidadãos comuns".
Na semana passada, ela propôs ao TSE representações contra o presidenciável José Serra e 3 diretórios tucanos - BA, RS e SP. Serra e o diretório gaúcho são acusados de desvirtuar a propaganda partidária nas inserções de 16 e 21 de junho. Ela pede a condenação no grau máximo previsto na lei: R$ 25 mil. No caso mais recente, disse publicamente que elogios do governador Alberto Goldman em evento oficial configuram abuso de poder político. ""Não pode", afirmou. "Está indicando à população que Serra é a pessoa ideal para governar o País."
Felipe Recondo
A vice-procuradora-geral eleitoral, Sandra Cureau, tem dito a interlocutores que "está fazendo" o seu trabalho e que "muitas das acusações contra os candidatos chegam a ela por outros partidos e até por cidadãos comuns".
Na semana passada, ela propôs ao TSE representações contra o presidenciável José Serra e 3 diretórios tucanos - BA, RS e SP. Serra e o diretório gaúcho são acusados de desvirtuar a propaganda partidária nas inserções de 16 e 21 de junho. Ela pede a condenação no grau máximo previsto na lei: R$ 25 mil. No caso mais recente, disse publicamente que elogios do governador Alberto Goldman em evento oficial configuram abuso de poder político. ""Não pode", afirmou. "Está indicando à população que Serra é a pessoa ideal para governar o País."
Presidente da SIP diz que Lula é 'falso democrata'
DEU EM O GLOBO
Governo é comparado ao da Venezuela
A exemplo de outros governos da América Latina, o do presidente Luiz Inácio Lula da Silva não pode ser chamado de democrático. A avaliação é do presidente Sociedade Interamericana de Imprensa (SIP), Alejandro Aguirre. Em reunião do comitê executivo da entidade, realizada nos Estados Unidos, Aguirre incluiu Lula no grupo dos presidentes "falsos democratas", como os de Venezuela, Hugo Chávez; Bolívia, Evo Morales; e Argentina, Cristina Kirchner. Todos, segundo ele, são eleitos democraticamente, mas usam o governo para reduzir a liberdade de imprensa.
O presidente da SIP disse que o uso oficial da publicidade, a tentativa de aprovar leis no Congresso Nacional que limitam a liberdade de imprensa e o apoio moral à ditadura em Cuba são exemplos de como atuam os "falsos democratas" da região.
- Temos governos que se beneficiaram das instituições democráticas, de eleições livres, e estão se beneficiando da fé e do poder que o povo neles depositou para destruir as instituições democráticas. Esses governos não podem continuar a se chamar de democráticos. Não podem seguir falando em nome de líderes democráticos do mundo porque não atuam dessa forma - afirmou Aguirre, acrescentando que Lula faz parte desse grupo de governantes.
Para Aguirre, o caráter de "falso democrata" de Lula está relacionado também a outros casos, como o fato de não ter se pronunciado sobre a censura do Tribunal de Justiça do Distrito Federal ao jornal "O Estado de S.Paulo". O veículo está proibido pela Justiça de publicar notícias sobre a Operação Boi Barrica, da Polícia Federal, que envolve Fernando Sarney, filho do presidente do Senado, José Sarney. De acordo com Aguirre, a Venezuela é o país onde é mais clara a tentativa de interferência na liberdade de imprensa.
Governo é comparado ao da Venezuela
A exemplo de outros governos da América Latina, o do presidente Luiz Inácio Lula da Silva não pode ser chamado de democrático. A avaliação é do presidente Sociedade Interamericana de Imprensa (SIP), Alejandro Aguirre. Em reunião do comitê executivo da entidade, realizada nos Estados Unidos, Aguirre incluiu Lula no grupo dos presidentes "falsos democratas", como os de Venezuela, Hugo Chávez; Bolívia, Evo Morales; e Argentina, Cristina Kirchner. Todos, segundo ele, são eleitos democraticamente, mas usam o governo para reduzir a liberdade de imprensa.
O presidente da SIP disse que o uso oficial da publicidade, a tentativa de aprovar leis no Congresso Nacional que limitam a liberdade de imprensa e o apoio moral à ditadura em Cuba são exemplos de como atuam os "falsos democratas" da região.
- Temos governos que se beneficiaram das instituições democráticas, de eleições livres, e estão se beneficiando da fé e do poder que o povo neles depositou para destruir as instituições democráticas. Esses governos não podem continuar a se chamar de democráticos. Não podem seguir falando em nome de líderes democráticos do mundo porque não atuam dessa forma - afirmou Aguirre, acrescentando que Lula faz parte desse grupo de governantes.
Para Aguirre, o caráter de "falso democrata" de Lula está relacionado também a outros casos, como o fato de não ter se pronunciado sobre a censura do Tribunal de Justiça do Distrito Federal ao jornal "O Estado de S.Paulo". O veículo está proibido pela Justiça de publicar notícias sobre a Operação Boi Barrica, da Polícia Federal, que envolve Fernando Sarney, filho do presidente do Senado, José Sarney. De acordo com Aguirre, a Venezuela é o país onde é mais clara a tentativa de interferência na liberdade de imprensa.
PT quer processar vice de Serra e procuradora
DEU EM O GLOBO
O PT ameaçou entrar com ação na Justiça contra o deputado Índio da Costa (DEM-RJ), candidato a vice na chapa do tucano José Serra, que, pela internet, acusou o partido de estar ligado ao narcotráfico e às Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc). Os petistas também estudam propor representação ao Conselho Nacional do Ministério Público contra a procuradora eleitoral Sandra Cureau.
PT ameaça processar vice de Serra
Indio da Costa, que acusou a legenda de ligações com o narcotráfico e as Farc, é chamado de desqualificado
Cristiane Jungblut, Isabel Braga e Tatiana Farah
BRASÍLIA e SÃO PAULO. O PT ameaça entrar com uma ação na Justiça contra o candidato a vice na chapa do tucano José Serra, o deputado Indio da Costa (DEM-RJ). Em entrevista ao site Mobiliza PSDB, Indio acusou o PT de estar ligado às Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) e ao narcotráfico. Para ele, o PT está envolvido com "o que há de pior". No Twitter, Indio chamou a candidata do PT à Presidência, Dilma Rousseff, de "ateia e esfinge do pau oco", em resposta à crítica de Dilma de ele seria um candidato improvisado, que teria caído do céu.
Irritado com os ataques, o presidente do PT, José Eduardo Dutra, coordenador da campanha de Dilma, disse que decidirá hoje, com os advogados, se processará Indio.
- São declarações de um desqualificado. A que ponto chega a política. Quando se coloca uma pessoa sem capacidade para concorrer, ela se deslumbra e fala bobagens. É a mesma coisa que pegar um jogador da terceira divisão e botar para jogar no Maracanã. Estamos pensando em processar. O problema é que ele (Indio) não vale o custo do papel necessário para a petição - disse Dutra.
O líder do governo na Câmara, Cândido Vaccarezza (PT-SP), chamou Indio de "babaquara".
- Acho que o Serra está profundamente arrependido de ter cedido à pressão do DEM. Ele (Indio) é um boboca.
Os ataques causaram constrangimento entre os tucanos. Serra não quis comentar o assunto. Na saída do velório do secretário de Saúde de São Paulo, Luiz Roberto Barrada Baratas, ele demonstrou irritação ao ser abordado por jornalistas sobre o tema. Seus colegas de partido, no entanto, tentaram deixar Indio da Costa isolado em suas afirmações. Aloyzio Nunes Ferreira, candidato a senador, discordou de Indio:
- Eu não vejo ligação, e não há nada que me faça ter uma análise dessas. Minhas críticas ao PT são outras. Não acho que Serra pense dessa maneira.
O presidente do PPS, deputado Roberto Freire, disse não acreditar que Indio tenha feito ligação entre as Farc e o PT:
- Não se tem nenhuma notícia disso (da suposta ligação).
Mas o DEM saiu em defesa de Indio. O partido acusou o PT de viés autoritário e de querer censurar a oposição e a Justiça Eleitoral. Para o líder do DEM na Câmara, Paulo Bornhausen (SC), o PT não aceita críticas:
- Todo mundo sabe da ligação do PT com os regimes totalitários de esquerda do mundo. O representante das Farc é fugitivo da Justiça e tem status de exilado no Brasil. Eles (do PT) não querem nem a oposição, nem a Justiça. Só que não estão na Venezuela. Com a Dilma, aparece muito mais o viés autoritário do PT. Lula era mais jeitoso.
Ontem, Indio não quis dar entrevistas e não tratou da polêmica no Twitter. À tarde, ele foi chamado para uma reunião no PSDB, em São Paulo.
O PT ameaçou entrar com ação na Justiça contra o deputado Índio da Costa (DEM-RJ), candidato a vice na chapa do tucano José Serra, que, pela internet, acusou o partido de estar ligado ao narcotráfico e às Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc). Os petistas também estudam propor representação ao Conselho Nacional do Ministério Público contra a procuradora eleitoral Sandra Cureau.
PT ameaça processar vice de Serra
Indio da Costa, que acusou a legenda de ligações com o narcotráfico e as Farc, é chamado de desqualificado
Cristiane Jungblut, Isabel Braga e Tatiana Farah
BRASÍLIA e SÃO PAULO. O PT ameaça entrar com uma ação na Justiça contra o candidato a vice na chapa do tucano José Serra, o deputado Indio da Costa (DEM-RJ). Em entrevista ao site Mobiliza PSDB, Indio acusou o PT de estar ligado às Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) e ao narcotráfico. Para ele, o PT está envolvido com "o que há de pior". No Twitter, Indio chamou a candidata do PT à Presidência, Dilma Rousseff, de "ateia e esfinge do pau oco", em resposta à crítica de Dilma de ele seria um candidato improvisado, que teria caído do céu.
Irritado com os ataques, o presidente do PT, José Eduardo Dutra, coordenador da campanha de Dilma, disse que decidirá hoje, com os advogados, se processará Indio.
- São declarações de um desqualificado. A que ponto chega a política. Quando se coloca uma pessoa sem capacidade para concorrer, ela se deslumbra e fala bobagens. É a mesma coisa que pegar um jogador da terceira divisão e botar para jogar no Maracanã. Estamos pensando em processar. O problema é que ele (Indio) não vale o custo do papel necessário para a petição - disse Dutra.
O líder do governo na Câmara, Cândido Vaccarezza (PT-SP), chamou Indio de "babaquara".
- Acho que o Serra está profundamente arrependido de ter cedido à pressão do DEM. Ele (Indio) é um boboca.
Os ataques causaram constrangimento entre os tucanos. Serra não quis comentar o assunto. Na saída do velório do secretário de Saúde de São Paulo, Luiz Roberto Barrada Baratas, ele demonstrou irritação ao ser abordado por jornalistas sobre o tema. Seus colegas de partido, no entanto, tentaram deixar Indio da Costa isolado em suas afirmações. Aloyzio Nunes Ferreira, candidato a senador, discordou de Indio:
- Eu não vejo ligação, e não há nada que me faça ter uma análise dessas. Minhas críticas ao PT são outras. Não acho que Serra pense dessa maneira.
O presidente do PPS, deputado Roberto Freire, disse não acreditar que Indio tenha feito ligação entre as Farc e o PT:
- Não se tem nenhuma notícia disso (da suposta ligação).
Mas o DEM saiu em defesa de Indio. O partido acusou o PT de viés autoritário e de querer censurar a oposição e a Justiça Eleitoral. Para o líder do DEM na Câmara, Paulo Bornhausen (SC), o PT não aceita críticas:
- Todo mundo sabe da ligação do PT com os regimes totalitários de esquerda do mundo. O representante das Farc é fugitivo da Justiça e tem status de exilado no Brasil. Eles (do PT) não querem nem a oposição, nem a Justiça. Só que não estão na Venezuela. Com a Dilma, aparece muito mais o viés autoritário do PT. Lula era mais jeitoso.
Ontem, Indio não quis dar entrevistas e não tratou da polêmica no Twitter. À tarde, ele foi chamado para uma reunião no PSDB, em São Paulo.
Presidente do PT afirma que vice de Serra é 'medíocre'
DEU NA FOLHA DE S. PAULO
Ao comentar ataques de Indio da Costa (DEM-RJ) a Dilma Rousseff, o presidente do PT, José Eduardo Dutra, o chamou de "medíocre" e "desqualificado". Na sexta, em bate-papo com militantes do PSDB, o vice de Serra acusou o PT de ser ligado ao narcotráfico e às Farc (guerrilha colombiana). Antes, chamou Dilma de "esfinge do pau oco".
PT avalia processar vice de Serra após acusações
Presidente da sigla diz que Indio da Costa é "desqualificado" e "medíocre"
Em entrevista dada a militantes do PSDB, deputado ligou PT a guerrilha e narcotráfico e atacou Dilma Rousseff
DE BRASÍLIA
O PT irá analisar se vai processar o vice do tucano José Serra, Indio da Costa (DEM-RJ), segundo o presidente do partido, José Eduardo Dutra.
"É um personagem tão medíocre que não sei se vale a pena lhe garantir mais publicidade", provocou.
"Isso que dá colocar um desqualificado como candidato a vice. Pegar um jogador de terceira divisão e colocar para jogar no Maracanã dá nisso", atacou Dutra.
Numa entrevista dada sexta-feira a militantes tucanos no site Mobiliza PSDB, Indio disse que o PT possui ligação com as Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia) e com o narcotráfico.
"Todo mundo sabe que o PT é ligado às Farc, ligado ao narcotráfico, ligado ao que há de pior", afirmou.
Além disso, Indio criticou a adversária Dilma Rousseff. Segundo ele, a ex-ministra pode dar um "chute no Lula" se ganhar as eleições e governar com "as garras do PT" -a campanha petista recusou-se a falar sobre o tema.
Para Dutra, as declarações são "irresponsáveis" e partem de um "desqualificado" que não deve fazer acusações sem ter como provar.
O presidente petista já tinha mostrado disposição, via Twitter, de processar Indio depois que o deputado chamou Dilma de "esfinge do pau oco" e "ateia", em resposta à provocação de que ele havia "caído do céu".
Na sexta-feira, a candidata petista criticou Indio, ao compará-lo com o seu vice, Michel Temer (PMDB-SP). "Meu vice não caiu do céu, não é improvisado. É competente e capaz", afirmou.
Agora, Dutra diz preferir analisar o assunto com os advogados pelo fato "envolver um personagem menor".
Outros petistas subiram o tom contra Indio. O líder do governo na Câmara, Cândido Vaccarezza (PT-SP), disse que "isso [as declarações] é uma molecagem, uma irresponsabilidade. Acho que o Serra deverá puxar a orelha dele", afirmou.
As declarações também foram criticadas pelo secretário de comunicação do PT, André Vargas, que atacou a campanha tucana. "Isso que dá escolher um vice sem pensar. É uma crítica infundada", disse.
No Piauí, a candidata do PV à Presidência, Marina Silva, entrou na polêmica e criticou seus dois principais adversários na corrida presidencial. "É a guerra dos dossiês e agora esse tipo de declaração. Creio que agora o plebiscito é para saber quem vai fazer mais baixarias", disse.
Ao comentar ataques de Indio da Costa (DEM-RJ) a Dilma Rousseff, o presidente do PT, José Eduardo Dutra, o chamou de "medíocre" e "desqualificado". Na sexta, em bate-papo com militantes do PSDB, o vice de Serra acusou o PT de ser ligado ao narcotráfico e às Farc (guerrilha colombiana). Antes, chamou Dilma de "esfinge do pau oco".
PT avalia processar vice de Serra após acusações
Presidente da sigla diz que Indio da Costa é "desqualificado" e "medíocre"
Em entrevista dada a militantes do PSDB, deputado ligou PT a guerrilha e narcotráfico e atacou Dilma Rousseff
DE BRASÍLIA
O PT irá analisar se vai processar o vice do tucano José Serra, Indio da Costa (DEM-RJ), segundo o presidente do partido, José Eduardo Dutra.
"É um personagem tão medíocre que não sei se vale a pena lhe garantir mais publicidade", provocou.
"Isso que dá colocar um desqualificado como candidato a vice. Pegar um jogador de terceira divisão e colocar para jogar no Maracanã dá nisso", atacou Dutra.
Numa entrevista dada sexta-feira a militantes tucanos no site Mobiliza PSDB, Indio disse que o PT possui ligação com as Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia) e com o narcotráfico.
"Todo mundo sabe que o PT é ligado às Farc, ligado ao narcotráfico, ligado ao que há de pior", afirmou.
Além disso, Indio criticou a adversária Dilma Rousseff. Segundo ele, a ex-ministra pode dar um "chute no Lula" se ganhar as eleições e governar com "as garras do PT" -a campanha petista recusou-se a falar sobre o tema.
Para Dutra, as declarações são "irresponsáveis" e partem de um "desqualificado" que não deve fazer acusações sem ter como provar.
O presidente petista já tinha mostrado disposição, via Twitter, de processar Indio depois que o deputado chamou Dilma de "esfinge do pau oco" e "ateia", em resposta à provocação de que ele havia "caído do céu".
Na sexta-feira, a candidata petista criticou Indio, ao compará-lo com o seu vice, Michel Temer (PMDB-SP). "Meu vice não caiu do céu, não é improvisado. É competente e capaz", afirmou.
Agora, Dutra diz preferir analisar o assunto com os advogados pelo fato "envolver um personagem menor".
Outros petistas subiram o tom contra Indio. O líder do governo na Câmara, Cândido Vaccarezza (PT-SP), disse que "isso [as declarações] é uma molecagem, uma irresponsabilidade. Acho que o Serra deverá puxar a orelha dele", afirmou.
As declarações também foram criticadas pelo secretário de comunicação do PT, André Vargas, que atacou a campanha tucana. "Isso que dá escolher um vice sem pensar. É uma crítica infundada", disse.
No Piauí, a candidata do PV à Presidência, Marina Silva, entrou na polêmica e criticou seus dois principais adversários na corrida presidencial. "É a guerra dos dossiês e agora esse tipo de declaração. Creio que agora o plebiscito é para saber quem vai fazer mais baixarias", disse.
Serra avalia que Lula vai acabar por ofuscar Dilma
DEU NA FOLHA DE S. PAULO
Catia Seabra
SÃO PAULO - O candidato do PSDB à Presidência, José Serra, alimenta, em conversas com interlocutores, a expectativa de que uma superexposição do presidente Lula ofusque sua candidata Dilma Rousseff.
A torcida é para que o comando da campanha petista exagere na dose, reforçando uma imagem de dependência de Dilma. Nas palavras de um íntimo colaborador de Serra, "quanto mais forte Lula, mais fraca é Dilma".
Uma overdose de Lula poderia facilitar a estratégia desenhada na oposição: abalar a confiança em Dilma. Sob dúvida, ela seria obrigada a se expor sozinha. Não é à toa que, nas conversas, Serra diz que insistirá na tecla de que governo não se terceiriza.
"Vamos explorar a debilidade da adversária. Uma candidata que não aparece, não debate, que assina um documento e volta atrás", afirma o presidente do PSDB, Sérgio Guerra (PE).
"Quero vê-la num palanque sem o ventríloquo", desafia o líder do PSDB na Câmara, João Almeida.
FIASCO
Catia Seabra
SÃO PAULO - O candidato do PSDB à Presidência, José Serra, alimenta, em conversas com interlocutores, a expectativa de que uma superexposição do presidente Lula ofusque sua candidata Dilma Rousseff.
A torcida é para que o comando da campanha petista exagere na dose, reforçando uma imagem de dependência de Dilma. Nas palavras de um íntimo colaborador de Serra, "quanto mais forte Lula, mais fraca é Dilma".
Uma overdose de Lula poderia facilitar a estratégia desenhada na oposição: abalar a confiança em Dilma. Sob dúvida, ela seria obrigada a se expor sozinha. Não é à toa que, nas conversas, Serra diz que insistirá na tecla de que governo não se terceiriza.
"Vamos explorar a debilidade da adversária. Uma candidata que não aparece, não debate, que assina um documento e volta atrás", afirma o presidente do PSDB, Sérgio Guerra (PE).
"Quero vê-la num palanque sem o ventríloquo", desafia o líder do PSDB na Câmara, João Almeida.
FIASCO
Anteontem, os tucanos estavam apreensivos com a organização do comício de Dilma no Rio. Prejudicado pela chuva, o evento --que chegou a reunir cerca de 15 mil pessoas à tarde--, terminou com apenas mil pessoas.
Apesar do fiasco petista, a situação do Rio preocupa o PSDB. Hoje, a cúpula da campanha reconhece que errou ao fechar uma aliança com o PV de Fernando Gabeira (e de Marina Silva) que deixou Serra sem nenhum palanque próprio no Estado.
Insatisfeito com a articulação, Serra até se afastou do patrocinador do acordo: seu amigo e candidato a vice-governador, Márcio Fortes.
Apesar do fiasco petista, a situação do Rio preocupa o PSDB. Hoje, a cúpula da campanha reconhece que errou ao fechar uma aliança com o PV de Fernando Gabeira (e de Marina Silva) que deixou Serra sem nenhum palanque próprio no Estado.
Insatisfeito com a articulação, Serra até se afastou do patrocinador do acordo: seu amigo e candidato a vice-governador, Márcio Fortes.
Fome :: Graziela Melo
Pensando, pensando e pensando, nos tristes espaços vazios dos domingos longos, monótonos e solitários, recordei um episódio de minha longínqua infância: meio quilo de farinha.
Na carteira da Associação Pernambucana de Imprensa, do meu pai, ele estava registrado como "correspondente". Isso significava que apesar de escrever para dois jornais, não era remunerado.
Por outro lado, no Ministério da Saúde, onde trabalhava como extranumerário, quase todos os anos, as verbas caiam em "exercício findo". Muitos servidores passavam seis, sete a até dez meses sem receber salário. Dessa forma, era natural que a fome, pudesse sim, fazer parte da nossa rotina.
Comíamos as frutas do quintal, as frutas de estação colhidas na Mata Atlântica que encobria de verde a Ilha de Itamaracá e os peixes que se reproduziam no mar límpido e belo.
Num desses dias de fome, o único alimento que minha mãe tinha em casa para todos nós, era um quilo de farinha.
Logo de manhã, bate na porta um casal de retirantes fugido das secas do sertão, com caras famélicas, arrastando seis crianças raquíticas e sem forças até para chorar:
- dona, me dê uma coisa prá cumê!
E minha mãe, com a alma enternecida, pensou logo no único alimento que tinha em casa: um quilo de farinha!
- A senhora aceita farinha?
Aceito sim, dona! Carqué coisa serve!!!
E lá se foi meio, daquele único quilo!
E eu??? Digo, digo e repito: mãe, há muito que te foste. Mas até hoje sinto orgulho de tua alma!
Na carteira da Associação Pernambucana de Imprensa, do meu pai, ele estava registrado como "correspondente". Isso significava que apesar de escrever para dois jornais, não era remunerado.
Por outro lado, no Ministério da Saúde, onde trabalhava como extranumerário, quase todos os anos, as verbas caiam em "exercício findo". Muitos servidores passavam seis, sete a até dez meses sem receber salário. Dessa forma, era natural que a fome, pudesse sim, fazer parte da nossa rotina.
Comíamos as frutas do quintal, as frutas de estação colhidas na Mata Atlântica que encobria de verde a Ilha de Itamaracá e os peixes que se reproduziam no mar límpido e belo.
Num desses dias de fome, o único alimento que minha mãe tinha em casa para todos nós, era um quilo de farinha.
Logo de manhã, bate na porta um casal de retirantes fugido das secas do sertão, com caras famélicas, arrastando seis crianças raquíticas e sem forças até para chorar:
- dona, me dê uma coisa prá cumê!
E minha mãe, com a alma enternecida, pensou logo no único alimento que tinha em casa: um quilo de farinha!
- A senhora aceita farinha?
Aceito sim, dona! Carqué coisa serve!!!
E lá se foi meio, daquele único quilo!
E eu??? Digo, digo e repito: mãe, há muito que te foste. Mas até hoje sinto orgulho de tua alma!
Nova canção do exílio :: Ferreira Gullar
Minha amada tem palmeiras
Onde cantam passarinhos
e as aves que ali gorjeiam
em seus seios fazem ninhos
Ao brincarmos sós à noite
nem me dou conta de mim:
seu corpo branco na noite
luze mais do que o jasmim
Minha amada tem palmeiras
tem regatos tem cascata
e as aves que ali gorjeiam
são como flautas de prata
Não permita Deus que eu viva
perdido noutros caminhos
sem gozar das alegrias
que se escondem em seus carinhos
sem me perder nas palmeiras
onde cantam os passarinhos
Onde cantam passarinhos
e as aves que ali gorjeiam
em seus seios fazem ninhos
Ao brincarmos sós à noite
nem me dou conta de mim:
seu corpo branco na noite
luze mais do que o jasmim
Minha amada tem palmeiras
tem regatos tem cascata
e as aves que ali gorjeiam
são como flautas de prata
Não permita Deus que eu viva
perdido noutros caminhos
sem gozar das alegrias
que se escondem em seus carinhos
sem me perder nas palmeiras
onde cantam os passarinhos