quarta-feira, 1 de setembro de 2010

José Serra é entrevistado pelo Jornal da Globo

Do G1, em São Paulo

O candidato do PSDB à Presidência da República, José Serra, foi entrevistado na edição desta terça-feira (31) do Jornal da Globo pelos apresentadores William Waack e Christiane Pelajo. A candidata Dilma Rousseff (PT) foi ouvida na edição de segunda-feira (30), e Marina Silva (PV) estará na de quarta (1º). A ordem das entrevistas foi definida em sorteio. A entrevista tem duração de 20 minutos e foi dividida em dois blocos. Leia a transcrição das perguntas e respostas.

Christiane Pelajo: Boa noite, candidato. Seja bem-vindo.

William Waack: Boa noite.

Christiane Pelajo: O senhor colocou as esperanças, suas esperanças eleitorais no início da propaganda na TV. Foi quando a vantagem da sua adversária aumentou. O que que deu errado, candidato?

José Serra: Olha, pesquisa é uma coisa que fotografa o momento, fotografa um instante, não é um filme, né? A campanha eleitoral de verdade está acelerando agora porque nós estamos no último mês de campanha de fato. É aí que as pessoas vão fazer a sua cabeça. Pesquisa é fotografia do instante como em outros instantes eu estava na frente, outros instantes estava atrás. O fundamental agora é trabalhar para mostrar para as pessoas quais são as nossas propostas, as nossas ideias pro Brasil. E eu estou muito confiante, Christiane, porque eu... Já é a minha nona campanha. Eu nunca vi pessoas na rua tão afetivas, tão engajadas, tão esperançosas de que a gente possa vencer e eu estou confiante em que isso vai acontecer.

William Waack: Parece que essas pessoas às quais o senhor se refere estão mais confiantes que aliás muitos dos seus colegas de coligação. Muitos não têm aparecido com o senhor na campanha. O que que está acontecendo?

José Serra: Não, olha, qualquer lugar que eu vá no Brasil inteiro sempre tem um pessoal que está batalhando ao meu lado. Isso é no Brasil inteiro. Cada um está fazendo sua campanha...

William Waack: Eu digo candidatos a governador. Alguns, parece que preferiram aparecer sozinhos, sem fazer menção à sua candidatura.

José Serra: Não, olha, inclusive, não é permitido a um candidato a governador, a um candidato ao senador, ao Senado, promover uma candidatura nacional. Você tem o risco de perder o tempo de televisão por um equívoco dessa natureza. É muito limitado o que candidatos locais podem fazer, em função, na TV, no horário eleitoral, em função da campanha nacional.

Christiane Pelajo: Alguns analistas dizem que a campanha do senhor nem parece de oposição. O senhor chegou a colocar uma foto sua ao lado do presidente Lula, exibir isso na televisão. Qual é, afinal, a bandeira da oposição?

José Serra: Não, não teve nada a ver com coisa de ser oposição. O que dizia lá era outra coisa. É que o Lula tinha uma história como eu, como outros, e que a Dilma não tinha essa história, era uma pessoa desconhecida - não tinha disputado eleição, não tinha uma história realmente conhecida, não era uma pessoa conhecida, experimentada na política como é o Lula, como sou eu. Foi só isso, isso está longe de ser qualquer espécie de agrado, é apenas uma constatação.

Christiane Pelajo: Mas por que então, candidato, os partidos de oposição - DEM e PSDB – hesitaram tanto em fazer oposição?

José Serra: Porque o Lula, veja, uma coisa é o que se fez quanto no Congresso. É que o PSDB tem um estilo que não é o de jogar no quanto pior, melhor, quando está na oposição. Trabalha pelo Brasil. Se tem alguma coisa do governo que presta, o partido apoia, não faz aquela oposição, sabe, de terra arrasada. Isso não é feito. Logo, às vezes isso é confundido com suavidade na oposição. Na verdade, a oposição não pode jogar contra o Brasil. Quem tinha experiência do quanto pior melhor é o PT. O PT não permitiu votar a favor de Tancredo Neves quando ele se elegeu, não homologou ou, vamos dizer assim, foi contra a atual Constituição, foi contra o Plano Real, foi contra a Lei de Responsabilidade Fiscal, votou contra o Fundef, que era mais dinheiro pras... para a educação nas regiões mais pobres do Brasil. Enfim, votou contra tudo na linha do quanto pior melhor quando era oposição. O PSDB no governo do PT não fez a mesma coisa...

William Waack: Candidato...

José Serra: Então isso às vezes é confundido com tibieza, com fraqueza da oposição. Não, é espírito público.

William Waack: Candidato, é evidente que nós estamos discutindo aqui as suas táticas eleitorais.

José Serra: Uhum....

William Waack: As três primeiras perguntas foram em relação a isso. Aparentemente ela não está funcionando. Isso que o senhor disse de suavidade e tibieza aparentemente é o que está sendo passado para o público...

José Serra: Não, não da campanha. Eu estava dizendo suavidade e tibieza porque ela falou do PSDB no governo, durante o governo, nos anos anteriores. Agora nós estamos...

William Waack: Ela falou em fazer oposição...

José Serra: Agora nós estamos em uma campanha eleitoral. A campanha eleitoral, para mim, não é algo para você ficar estrebuchando, para ficar, sabe, espumando. É para ir apresentando, pouco a pouco, as ideias. É apresentar aquilo que foi feito, sem mistificação, porque as coisas que estão apresentando que eu fiz, eu fiz de verdade. No caso, por exemplo, da candidata do PT, atribuem a ela coisas, inclusive, que ela não tem nada a ver, porque é uma coisa que está sendo construída. É ir mostrando... E eu tenho plena confiança de que essa campanha na TV, mais outras coisas, porque campanha não se resume a televisão, vai nos levar, William, a uma virada e à vitória. Eu estou convencido disso, sinceramente, e eu raciocínio nesses termos.

William Waack: Eu tenho mais uma pergunta sobre problemas na sua campanha. No inquérito do Mensalão do DEM de Brasília, por exemplo. A Polícia Federal...

José Serra: Olha, William...

William Waack: Posso, só posso completar a pergunta?

José Serra: Sim.

William Waack: A Polícia Federal chama o ex-governador de chefe de uma organização criminosa. Ele pertenceu ao DEM, um partido tradicionalmente aliado ao PSDB, como todas as pessoas interessadas em política sabem. Nós podemos assumir que isso prejudicou a sua campanha?

José Serra: Eu acho que não. Mas de... Já que você tocou no assunto criminoso, deixa eu tocar noutro assunto. Hoje veio a público um fato criminoso. Qual foi? O sigilo fiscal da minha filha foi quebrado num ato criminoso, no ano passado, para efeito de exploração política. Até porque blogs sujos da campanha do PT, que eles usam muito isso, já estavam pondo dados do ano passado. Não porque tenha algum problema, ela é ficha limpa, não tinha problema nenhum, mas eles começaram a pôr já naquela época. Ela até me disse: "olha, eu acho que devem ter andado espionando os meus dados, porque aí são só coisas que estão no Imposto de Renda", perfeitamente declarado, não houve... nunca caiu na malha nem nada parecido. Então este é um ato criminoso. Já há vários que tiveram seus sigilos quebrados para efeito político-eleitoral. E outros terão sido por outros motivos. Mas neste caso é claríssimo. E é um jogo, ao meu ver, sujo, é um jogo baixo. Aliás, utilizar filho dos outros para ganhar eleição eu só me lembrava do Collor ter feito isso com o Lula, lembra? O Collor utilizou uma filha do Lula, a turma do Collor montou essa história para ganhar do Lula em 89. E o Collor ganhou. Agora a turma da Dilma está fazendo a mesma coisa, pegando milha filha, que não faz política, que é uma mãe de três crianças pequenas, que trabalha muito para criar as crianças juntas, para poder viver... Meter nesse jogo político sujo para me chantagear porque tem preocupação quanto à minha vitória. Eu não tenho nenhuma... nenhum problema nesse sentido. A Dilma, aliás, está repetindo aquilo que o Collor fez e mais, agora o Collor está do lado dela. Quem sabe talvez ele tenha transferido a tecnologia.

William Waack: Candidato, a Receita está dizendo em Brasília que essa quebra de sigilo foi feita a pedido da sua filha...

José Serra: É mentira, mentira descarada. Mentira descarada. E agora, você sabe, esse pessoal mente, eles são profissionais da mentira. Então são profissionais da mentira. Eles já... Mentem e dizem qualquer coisa. Tem que provar isso.

Christiane Pelajo: Candidato, vamos voltar à pergunta anterior do William...

José Serra: Vamos voltar...

Christiane Pelajo: Sobre o mensalão do DEM...

José Serra: Mas eu, eu... Eu achei importante fazer esse esclarecimento, porque esse assunto está circulando, entrou assunto de criminoso... Criminosos são esses que estão usando a campanha, estão usando questões, atacando família, para efeito de colher dividendos eleitorais. Inútil, inútil. Porque estão trabalhando em cima de gente ficha limpa. Mas esses gestos são criminosos. Se eles fazem isso na campanha eleitoral da Dilma, imagina o que vão fazer se ganharem as eleições. Imagina o que fariam se ganhassem. Ainda bem que a minha expectativa é de eu ganhar.

Christiane Pelajo: Em relação ao mensalão do DEM, a pergunta que eu fiz para o senhor?

José Serra: Olha, o mensalão do DEM teve menos volume de toda maneira do que o mensalão do PT, menos gente. Segundo, teve uma diferença: o pessoal do mensalão foi expulso. É... o mensalão do DEM... foram todos mandados embora do DEM. No caso do PT, continuam mandando, como o José Dirceu. O José Dirceu é um dos comandantes da campanha da Dilma, cogitado inclusive para fazer parte do governo dela, e era o chefe... Aliás, de toda aquela quadrilha de 37, 38 pessoas que foram denunciadas pelo Ministério Público ao Supremo Tribunal Federal, ele era o chefe de tudo. E está aí, da mesma maneira que outros estão se candidatando, fazendo etc. Então foi, praticamente, só o Delúbio saiu depois de muito tempo. E, ainda, digamos assim, tem proximidade muito grande. No do DEM, pelo menos, foi todo mundo mandado embora e mais ainda, tinha um volume, um alcance, muito menor.

William Waack: Vamos seguir adiante com perguntas...

José Serra: Vamos.

William Waack: Um pouco mais conceituais...

José Serra: Claro, vamos lá.

William Waack: Falamos bastante da política diária. Por exemplo, o governo do qual o senhor fez parte... Aliás, não só o governo federal, mas na... Está na tradição do PSDB uma, uma visão de privatização de, de... De ativos estatais que viraram alvo do PT. E sumiu da propaganda tucana. O PSDB hoje tem vergonha das privatizações?

José Serra: Não, é porque não tem privatização no caminho. Não tem privatização. A... O caso...

William Waack: Não tem nada mais para privatizar?

José Serra: Não. O caso mais bem sucedido de privatização no Brasil foi telecomunicações, que o Lula já elogiou, que a Dilma já elogiou, que todo mundo elogia. Porque uma coisa é quando eles fazem campanha e outras é quando estão trabalhando. Foi altamente elogiada. Não fosse aquilo que foi feito pelo governo Fernando Henrique, não teria tanto celular e tanto telefone no Brasil. Eu declarava, Imposto de Renda, o telefone no Imposto de Renda, porque era uma raridade, lembra? Valia uma fortuna.

Christiane Pelajo: Quer dizer, num eventual governo do senhor, o senhor não privatizaria nada?

José Serra: Aquela... Não tem o que privatizar no horizonte. Agora, o Lula, o governo Lula privatizou dois bancos mais. Não refez nada do que tinha antes. Eles usam isso como campanha eleitoral. Agora, eles fizeram um tipo de privatização. Sabe qual é? De entregar, por exemplo, os Correios, que era uma empresa eficiente, para grupos políticos que ficam lá montando negócios. É um escândalo atrás do outro. Ou seja, usam o correio para fins privados. Eu, no governo, vou usar o correio para fins públicos. Essa privatização que tem hoje no Brasil, ela é muito pior do que qualquer outra, porque você tem uma Petrobras, você entrega a diretoria disso, a diretoria daquilo, para tal político ou para tal grupo de políticos, né, que vão aproveitar a Petrobras ou para fazer negócios ou para favorecer os amigos e tudo mais. Isto se espalhou por toda a administração. Que que eu vou fazer? Eu vou desprivatizar, nesse sentido, toda a administração pública, inclusive as empresas. O que é público vai continuar público e não sendo usado por políticos num loteamento. Veja, isso aí não tem nada a ver...

William Waack: Posso... Posso pedir sua licença? É que nós estamos chegando na metade da entrevista e temos mais dez minutos logo depois do intervalo. Fique aqui conosco por favor, nós voltamos daqui a um instante. Até já.

2º bloco

Christiane Pelajo: A gente volta agora nossa entrevista com o candidato do PSDB, José Serra. Nós temos nove minutos a partir de agora, candidato. Candidato, o senhor diz que o câmbio – como está – com o dólar muito barato é prejudicial à economia porque as exportações brasileiras dessa forma perdem competitividade. Mas como é possível fazer isso sem mexer no câmbio flutuante e livre, que é uma conquista que deve ser preservada?

José Serra: Sem dúvida nenhuma. Eu acho que é uma conquista que deve ser preservada. Agora, tem o seguinte, hoje, do jeito que tá, nós não conseguimos vender lá fora e mais ainda: a produção no Brasil vai sofrendo uma concorrência absolutamente injusta. Por exemplo, calçados, por exemplo, têxtil. Até indústria de colheitadeiras. Outro dia eu fui no Rio Grande do Sul, num município que produz, né, colheitadeiras. Agora estão entrando os chineses. E nós somos muito mais eficientes. Por quê? Por causa desse mecanismo torto da relação câmbio-juros. Agora, a causa disso são os juros siderais. Nós temos, continuamos com a maior taxa de juros do mundo. E, ao contrário do que a Dilma disse aqui ontem, aumentando a distância em relação ao resto do mundo, ao resto do mundo, e não convergindo como ela disse, que é um absurdo completo. Isso é falta de informação. Agora, aí o que que acontece? O câmbio muito alto provoca - porque entra dólar pra especulação, porque paga muito - que o câmbio artificialmente fique irreal. Resultado: em vez do turista ir pro Nordeste, ele vai pra Miami, que é mais barato. Em vez do, do... de a gente comprar brinquedo aqui, você compra brinquedo chinês. E várias outras coisas. Isso cria empregos noutros lugares, e não no Brasil. Eu vou mudar isso. Eu não vou mudar no, no tapa...

William Waack: Via juro?

José Serra: No susto... Com o quê? Formando uma equipe econômica entrosada, em vez de ficar cada um atirando pra um lado, entre Banco Central, Fazenda, Planejamento, que vão trabalhar direito tendo como meta uma política de juros e cambial que seja mais condizente com o que a gente quer, que é o emprego no Brasil e o crescimento sustentado. Porque essa outra política está levando a um déficit externo crescente. Nós estamos com um déficit vertiginoso - o maior da história do Brasil –, não tem reflexo a curto prazo, mas pode ter no ano que vem, no outro, no outro. Então, a gente tem que enfrentar isso com conhecimento, com cuidado, com paciência e com determinação.

William Waack: Candidato, o senhor tem sido uma voz crítica em relação a políticas econômicas do governo. Agora, quando foi a hora de mandar um programa de governo e registrá-lo no TSE, o senhor mandou trechos de discursos. Afinal qual é o seu plano...

José Serra: É, não foram trechos. Foram os discursos completos. Por quê? Porque o meu discurso não foi uma peça de propaganda. Lá está tudo o que eu considerei como as diretrizes fundamentais. Foi o discurso de introdução à candidatura e o discurso da convenção, que eu mesmo, pessoalmente, trabalhei vários dias. Lá es... tem, está a essência de tudo aquilo que a gente quer pro Brasil. Isso foi mandado pra Justiça Eleitoral. De lá pra cá, nós estamos trabalhando na internet, com reuniões por todo Brasil, recolhendo milhares e milhares de opiniões, de sugestões e vamos apresentar o detalhamento, como eu fiz quando fui eleito prefeito, quando eu fui eleito governador, com os pontos do programa... Vários eu já tenho apresentado, por exemplo, criar um milhão de vagas novas no ensino técnico no Brasil, fa... Cento e cinquenta e tantos ambulatórios médicos de especialidades, que são policlínicas. Tudo isso vai aparecer direitinho como propostas tópicas para cada ponto etc.

William Waack: O senhor me permite insistir nesse ponto...

José Serra: Agora, tudo isso eu já tinha dito e anunciado que iria fazer nos meus discursos, que são peças de programa de governo, e também no horário eleitoral e nas minhas dezenas de entrevistas, inclusive a esta emissora.

William Waack: Deixa eu voltar a esse ponto e amarrar essas duas perguntas, candidato.

José Serra: Sim.

William Waack: O senhor fala nos juros e isso todo mundo sabe. O senhor fala na piora das contas externas e o próprio governo admite. Agora...

José Serra: Admite mas não na... Na campanha eleitoral...

William Waack: Onde... O que é direito dele, até.

José Serra: Sim.

William Waack: Onde o senhor vai atacar? Quer dizer, o que todo mundo espera de um candidato Serra é um grau forte de intervencionismo na economia.

José Serra: Olha, o que deve se esperar de mim é uma atitude favorável à produção. À produção e ao emprego. Eu não vou ser contra nada. Eu vou ser a favor disso e vou trabalhar nessa direção. Eu, aliás, você sabe, eu sou economista, eu não sou médico - e muita gente pensa que eu sou médico porque fui ministro da Saúde – sei, entendo bastante de política econômica. No meu período de exílio, convivi em vários países, até assessorando, fazendo. Já ocupei cargos aqui no Brasil nessa área. No Congresso, durante um tempo, eu era talvez o parlamentar ligado, mais ligado à economia que tinha em todo o Congresso Nacional. Na Constituinte, fiz muita coisa nessa direção. Então é um assunto que eu tenho toda a informação, que eu sei trabalhar e vou trabalhar de maneira a que a gente possa manter o nosso crescimento, e inclusive acelerar, com vistas ao aumento do emprego, que é a questão fundamental. E o empresário que gera emprego, empresário que gera emprego também vai ganhar pra que possa ficar reinvestindo. Isso é fundamental. Agora, o Brasil tem três coisas perversas: a maior taxa de juros real do mundo – que não tem motivo pra isso. Segundo: a maior carga de impostos do mundo em desenvolvimento. Nenhum país em desenvolvimento cobra tanto imposto quanto o Brasil. Eu fui nesta semana, no dia lá que o impostômetro mostrou 800 bilhões de reais arrecadados até 31 de agosto. É muito dinheiro. Os brasileiros trabalham cinco meses do ano só pra pagar imposto. Nós temos a maior carga. Isso tem que diminuir ao longo do tempo até pra que a gente possa ter produção e emprego. E o terceiro aspecto é que a taxa de investimento governamental, ou seja, aquilo que o governo investe, em estradas, nisso, naquilo, é uma das mais baixas do mundo, era a penúltima do mundo. Só o Turcomenistão estava pior do que o Brasil.

Christiane Pelajo: Candidato...

José Serra: Você assistindo a televisão, propaganda, entrevista às vezes de gente do governo tende a pensar o contrário. Mas é um país que está sem investimentos nessa área, por isso que as coisas andam muito devagar.

Christiane Pelajo: Candidato, a gente queria...

José Serra: Nos estados em alguns lugares andou depressa porque os governadores – como foi o caso de São Paulo – trabalharam bem.

Christiane Pelajo: A gente queria abordar um outro tema. O senhor tem acusado o governo de países vizinhos de cumplicidade com o tráfico. Caso o senhor seja eleito, o senhor vai fazer o que com relação a esses países?

José Serra: Eu vou pressioná-los. É o caso da Bolívia. Diplomaticamente, ninguém vai intervir na Bolívia nem nada parecido. Mas o Brasil tem feito muitas coisas boas para a Bolívia, né? Deixou a Bolívia pegar a refinaria da Petrobras, tá fazendo uma estrada agora. Enfim, o Brasil ajuda a Bolívia. Eu acho que é normal um país, diplomaticamente, pressionar o outro para que procure impedir a exportação ilegal, contrabando de cocaína para o Brasil. Estima-se que, de 50% a 80% - dá na mesma, porque é tanto, é como cair do 50º ou do 80º andar. É muita cocaína. Ela vem da Bolívia. Eu acho que tem... É impossível que o governo boliviano não seja cúmplice disso, entende? Porque está se fazendo no seu território. Então é legítimo que o Brasil pressione. Uma coisa é ideologia, se são simpáticos ao governo boliviano, se o PT gosta etc., e outra coisa é o interesse nacional. No caso, o interesse da segurança da população, porque a droga leva ao crime e arruína a vida do jovem sob a forma do crack. Agora, isso não elimina também o nosso papel, que é de fazer... combater o contrabando, ocupando as nossas fronteiras que neste momento não estão ocupadas.

William Waack: Candidato, olhando para o relógio, eu acho que a gente tem tempo para mais uma pergunta. E o senhor se referiu ao crack. Cracolândia, São Paulo, o senhor teve...

José Serra: Não é só São Paulo. Cracolândia tem em todo Brasil.

William Waack: Tem, mas a Cracolândia de São Paulo é um símbolo. É um símbolo que o senhor tentou acabar, como prefeito e governador. Foi difícil e não deu certo. O que falhou?

José Serra: Não, não é que não deu certo. Melhorou. Agora, você não pode, você não pode encarcerar um drogado. Quer dizer, você... Às vezes você vai num lugar e o pessoal que está já viciado na droga continua indo. Você tem que combater o traficante. Pela lei, você não pode prender um drogado. Agora, pra droga, tem muito a fazer. Tem que parar a entrada de droga no Brasil. Ela caiu, William, 50% de preço desde mil... desde os anos 80. Perdão, 50 vezes e não 50%. Ela virou de graça, porque entra à vontade no Brasil pela fronteira. Segundo, tem que combater por dentro, na fronteira, e os traficantes. Terceiro tem que fazer campanha educacional na nossa juventude, em todas as escolas, em tudo. Quarto, tem que tratar os dependentes químicos...

William Waack: Mas não está faltando justamente isso?

José Serra: Eu tratei, nós começamos, eu comecei como governador uma experiência diferente no Brasil de criar clínicas próprias para tratamento de dependentes químicos, coisa que o PT e o governo, o Ministério da Saúde, não são a favor, porque acham que não pode criar uma clínica para tratamento etc. Isso funcionou muito bem.

William Waack: Desculpa interrompê-lo. É que nosso tempo está acabando. O senhor concluiu, pelo menos, o seu raciocínio?

José Serra: Construí.

William Waack: Tá. Muito obrigado pela entrevista.

José Serra: Muito obrigado, William. Muito obrigado a vocês dois.

Cristiane Pelajo: Obrigada e boa noite.

José Serra: Muito bom para mim vir aqui dar esta entrevista.

William Waack: Obrigado.

Cristiane Pelajo: Obrigada.

PMDB na encruzilhada:: Merval Pereira

DEU EM O GLOBO

A primeira coisa que se avalia na cúpula do PMDB sobre as informações de que tanto o PT quanto o PSDB estariam se articulando para neutralizar a força política presumida do partido num futuro governo Dilma é que essas movimentações são uma constatação de que o PMDB será uma força real no futuro governo.

Justamente por isso o PMDB está tentando definir qual será o seu papel e a sua cara no futuro governo. Estão saindo desta eleição mais unidos do que em qualquer momento recente, e a tendência é que apostarão em um projeto conjunto com o governo Dilma, como já apostaram no governo Lula, o que se mostrou muito bom para o partido.

A tendência é que o PMDB saia desta eleição com um resultado muito bom para o Congresso e governos dos estados, como já havia saído muito bem na eleição municipal, o que pode significar para o PMDB um processo de crescimento.

Vai chegar uma hora em que o partido terá que decidir que atitude tomar na formação do novo governo: ou usa sua força para arrancar nacos de poder e contenta todos os segmentos, cada um com seu espaço; ou se vincula a uma agenda de poder.

Há um certo drama existencial dentro do PMDB. Na definição do ex-governador Moreira Franco, representante do partido na elaboração do programa de governo, há uma decisão majoritária no PMDB de mudar a sua prática, porque nos incomoda muito ter essa imagem de fisiológico.

Há riscos nas duas opções.

Negociar fisiologicamente, como vem acontecendo, reduz a perspectiva do partido, que não participará da orientação do governo.

Vincular-se a um projeto político, porém, aumenta seu risco. A avaliação é que o PMDB correu mais riscos ao apoiar Dilma do que em qualquer outro momento recente da história do partido. E um futuro governo Dilma é uma aposta renovada.

O partido tem tido uma preocupação grande de não começar agora a discussão sobre o novo governo. Inclusive porque o quadro eleitoral não está claro ainda, e o PMDB tem expectativas de se sair muito bem, o que aumentará seu cacife para negociar mais adiante.

Existe também um processo em curso de quebrar estranhamentos com o PT, e por isso não seria recomendável que se antecipe uma disputa que pode ser resolvida mais adiante, com todas as cartas na mesa.

O PMDB sabe muito claramente que ele assusta e preocupa o PT. Quando o presidente do partido e candidato a vice Michel Temer disse que estava disposto a repartir o pão com as bases do partido, houve quem no governo tenha comemorado, pois a frase foi vista como um movimento que assustava os demais partidos da base governista com o apetite do PMDB.

Uma coisa que preocupa o PT é a possibilidade de os partidos de centro-conservador que fazem parte da base aliada, como o PP e o PR, se aliarem ao PMDB.

Os satélites de esquerda, como o PSB, o PCdoB e o PDT, sairão fortalecidos das eleições, especialmente o PSB, e também começam a se mexer para neutralizar o PMDB. A visão do PT é que ele precisa formar uma maioria dentro da maioria, o que vai contra o PMDB.

Outro complicador, onde fatalmente as forças estarão se contrapondo, é o comando das duas Casas do Congresso. Na Câmara, a disputa se dá em torno de dois políticos muito importantes e representativos dos dois campos.

O candidato do PMDB é o deputado federal Henrique Eduardo Alves, que é muito ligado a Michel Temer e foi fundamental para que o partido assumisse formalmente a candidatura Dilma.

Ele estará no seu décimo mandato de deputado federal seguido, tornando-se o mais antigo da Câmara, e quer marcar o fato presidindo-a.

Do outro lado há o Cândido Vaccarezza, que é um deputado que cresceu muito dentro do PT, muito bem articulado com o Palácio do Planalto.

A solução pacífica desse embate seria repetir a fórmula do segundo governo Lula, quando o PMDB, embora tendo a maior bancada, deixou que o PT presidisse a Câmara com o Arlindo Chinaglia, para depois haver um revezamento e Michel Temer assumir a presidência.

Desta vez, o PMDB quer ter a prioridade.

A questão-chave é saber qual será a função do Michel Temer num eventual governo Dilma. Visto como uma ameaça, existirá o receio de que ele poderá usar sua capacidade de articulação no Congresso para tentar pressionar o governo.

Visto como um recurso, significará que o governo Dilma poderá usá-lo como um articulador político, e ao usá-lo nessa dimensão o governo estará emitindo um sinal de que confia no PMDB. Se isolá-lo no papel inócuo de vice, o sinal será de desconfiança.

Moreira Franco diz que hoje o PMDB está praticamente inteiro no apoio a Dilma, e os dissidentes estão isolados. A percepção no PMDB é de que o partido acabará a eleição num grau de unidade que só obteve quando se uniu em torno da candidatura de Tancredo Neves à Presidência, o que levaria ao fortalecimento de um projeto nacional que resgataria o papel do antigo PMDB.

Nossa geração passou a vida lutando por isso, diz Moreira Franco, que relembra a luta do antigo PMDB pela liberdade de imprensa, de opinião, de organização, pelos direitos civis. Não há hipótese de haver um retrocesso nesse campo, garante, ressaltando a maturidade da sociedade brasileira e as novas tecnologias que dão às pessoas hoje um canal de expressão que é impossível calar.

A relação entre PT e PMDB, portanto, está por ser construída. A relação evoluiu muito. Não apenas o PMDB deu um apoio a Dilma que nunca havia conseguido anteriormente, em unidade e envolvimento, como o Lula entregou ao PMDB parcelas de poder político de que o PT nunca abrira mão antes, como, por exemplo, não ter candidatos aos governos do Rio e de Minas.

O dilema Battisti :: Dora Kramer

DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

O presidente Luiz Inácio da Silva está decidido a manter o ex-ativista italiano Cesare Battisti no Brasil, apesar da extradição concedida pelo Supremo Tribunal Federal no ano passado.Obteve o sinal verde do primeiro-ministro Silvio Berlusconi, mas antes precisa resolver dois problemas: arrumar uma justificativa que não seja política e sondar se não criaria um confronto com o STF.

Oficialmente o caso Battisti não frequentou o encontro entre Lula e Berlusconi, no fim do último mês de junho em São Paulo.

Na verdade o presidente e o primeiro-ministro conversaram sobre o assunto e o italiano disse que o Brasil poderia "ficar" com Battisti. Não impunha reparos se Lula negasse a extradição, não faria pressão no período eleitoral, mas impunha uma condição. Pedia ao Brasil para não alegar que a extradição seria negada porque Battisti poderia ser perseguido na Itália.

Ocorre que o acordo de extradição entre o Brasil e a Itália prevê duas possibilidades de negativa de extradição: em caso de doença ou perseguição política. Como Battisti não está doente, restaria apenas a alegação vetada por Berlusconi.

No momento, o caso está nas mãos do advogado-geral da União, Luiz Inácio Adams.

Cesare Battisti foi condenado (à revelia) na Itália a prisão perpétua por quatro homicídios na década dos 70, quando integrava a organização Proletários Armados pelo Comunismo.

Fugiu para a França, depois para o Brasil, onde foi preso em 2007 e desde então está na Penitenciária da Papuda.

Em janeiro de 2009 o então ministro da Justiça Tarso Genro contrariou posição do Comitê Nacional para os Refugiados e concedeu refúgio político a Battisti, baseado no princípio do "fundado temor de perseguição por opinião política" repudiado pela Itália.

As autoridades italianas contestaram a decisão de Tarso Genro no Supremo Tribunal Federal, que julgou o caso no ano passado, decidindo que Battisti deveria ser mandado de volta para a Itália. Ao mesmo tempo, o STF remeteu a decisão final para o presidente Lula.

Na época o julgamento estremeceu as relações entre Brasil e Itália. Lá, as autoridades reclamavam veementemente da permanência de Battisti e aqui o presidente pedia "respeito a uma decisão soberana" do País. No caso, a soberania circunscrevia-se a Tarso Genro.

O Comitê para Refugiados e o Supremo achavam que Battisti havia sido julgado pela Justiça italiana por crime comum e a ela deveria obediência.

O acórdão da decisão do STF foi publicado em 17 de abril de 2010. Em tese haveria um prazo de 60 dias após o qual a Itália poderia cobrar o cumprimento da sentença, mas já se passaram quatro meses e meio e não se tocou mais no assunto. Em público.

Nos bastidores, Adams atua na administração da contenda.

Sim, porque o relator do caso e um dos mais ferrenhos defensores da extradição foi o ministro Cezar Peluso, hoje presidente do Supremo.

O dilema que se impõe é o seguinte: como Battisti está preso por ordem do STF, o que ocorrerá se Lula resolver negar a extradição e o Supremo decidir não soltar o preso?

O governo acha que poderia criar uma crise entre Poderes e que, por isso, antes de o presidente da República anunciar a decisão é preciso consultar o Judiciário para medir o grau de disposição ao confronto.

Nada, contudo, ocorrerá antes da eleição.

Último suspiro. É consenso no meio jornalístico que jornais levam pelo menos uma década para morrer. Pois o Jornal do Brasil levou mais de três. De fato o JB não morreu ontem quando circulou sua última edição em papel.

Acabou mesmo em 2001, quando a marca foi arrendada por gente mais interessada em usar o jornal como plataforma de negócios.

Não podia dar certo. Se algum dia houve a ilusão de que o JB velho das melhores guerras poderia renascer, nunca houve empenho, propósito e competência para isso.

Daí não valer a pena agora a missa de corpo há muito ausente, esplêndido e insubstituível.

Só instituições mais fortes impedirão a devassa geral :: José Nêumanne

DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

É difícil imaginar que possa haver algo ainda mais execrável, apesar de não necessariamente mais hediondo, do que o crime cometido pelo funcionário da Receita Federal que violou o sigilo que, pela Constituição, deveria proteger as declarações de Imposto de Renda de quatro tucanos de alta plumagem. No entanto, há algo que pode competir, não em delinquência, mas sim em desfaçatez: a forma como seus protagonistas têm tratado o assunto.

O primeiro lugar no pódio cabe à Receita. Depois de 60 dias de diligências (pelo visto, o termo definiria com mais precisão as carruagens que transportavam valores e passageiros no Oeste sem lei dos Estados Unidos na corrida do ouro na Califórnia do que o interesse em descobrir algo na investigação instaurada pelo órgão), o Fisco pareceu sempre mais empenhado em encobrir os mandantes do que em desvendar o crime. Em entrevista coletiva conjunta, o secretário Otacílio Cartaxo e o corregedor Antônio Carlos d"Ávila admitiram a existência de um grande "balcão de venda de sigilo" no ABC paulista. Mas não se dignaram a contar ao distinto público, do qual cobram impostos, o que descobriram nem o que farão para punir essa modalidade grave de banditismo que assola uma repartição que depende de fé pública para funcionar. Pior: nem mencionaram a hipótese no pedido de indiciamento das servidoras que acusaram. Ah, mas afirmaram que não veem motivação eleitoral no vazamento dos dados fiscais de cidadãos ligados ao candidato do PSDB à Presidência, José Serra! Ao invés de esclarecer o cidadão, fizeram de tudo para fazer valer a impunidade na corporação e poupar a candidata governista, Dilma Rousseff, e membros de seu quartel-general. Num estilo que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva inaugurou, ao atribuir, em Paris, a movimentação ilícita de dinheiro para comprar apoio ao governo no Parlamento a mero "caixa 2" de campanha, também ilegal, os dois dirigentes mandaram às favas, junto com os escrúpulos, a velha e boa lógica aristotélica.

Cui prodest? (a quem interessa?) - aprenderam da trágica grega Medeia os antigos romanos, dos quais Lula usa e abusa do in dubio pro reo (na dúvida, a favor do réu), mais conveniente para a "companheirada" que ele luta para proteger dos rigores da lei. Sendo cobradora de impostos, de quem, por dever de ofício, se exige lisura maior do que de quaisquer outros servidores públicos, a dupla dedica lerda tolerância a coleguinhas de carreira e de campanha eleitoral, oposta à ágil intolerância com que lida com o contribuinte, mesmo quando não lhe viola sigilo algum. Além de indiciar subalternos, deveria identificar a quem possa interessar a devassa dos dados fiscais de Eduardo Jorge Caldas Pereira, Ricardo Sérgio de Oliveira, Luiz Carlos Mendonça de Barros e Gregório Marin Preciado, todos notórios adversários do governo. Pois atribuí-la às próprias vítimas, como fez Dilma Rousseff, é confessar que nada do que o PT os acusou foi comprovado após lhes terem devassado a contabilidade.

Este é um paradoxo interessante de lógica elementar: a Receita não garante o sigilo dos contribuintes, mas tudo faz para guardar em segredo a identidade dos mandantes da violação. Contrariando o sentido da expressão on real time, usada no universo da cibernética para garantir que em computador tudo se desvenda imediatamente, os servidores Cartaxo e d"Ávila levaram dois meses para pedir o indiciamento de quem teria cometido o crime, mas apostam no que não poderiam saber sem conhecer os mandantes e seus motivos. Sem terem identificado de quem partiu a ordem, dizem-se capazes de adivinhar por que o delito foi consumado. Diante disso, o que restaria ao PT senão exigir na Justiça indenização do candidato tucano à Presidência pela "injúria" por ele cometida ao atribuir a autoria, que a corporação não consegue definir, baseado na evidência, mais velha que a Sé de Braga, de que o meio mais rápido e eficaz de encontrar o autor de um delito é buscá-lo entre os que deste podem tirar proveito? E quem se beneficiaria com a quebra do sigilo das vítimas, a não ser seus adversários políticos? O patriarca de Veneza? O bei de Túnis?

Nem a atitude de José Serra no episódio pode ser considerada exemplar. Como pretendente a primeiro guardião da ordem institucional, et pour cause, do direito do cidadão à privacidade, o ex-governador paulista não fez bem em tentar tirar proveito eleitoral do crime. Afinal, tudo indica que o eleitorado que ele disputa com a petista de última hora Dilma Rousseff não tem o mínimo interesse pelo assunto. Melhor ele faria, a meu ver, se assumisse a postura de defensor desses direitos de uma forma até mais dura, mas genérica, não se colocando como vítima, mas como promotor.

A indiferença geral com que esse gravíssimo delito tem sido recebido pelas vítimas em potencial - quaisquer cidadãos que possam ter o Imposto de Renda devassado por um servidor da Receita que "socialize" sua senha - permitiu à candidata governista condenar a "baixaria". "Baixaria" de quem, cara-pálida? Do criminoso pago pelo erário para servir a interesses partidários nada republicanos, para vender as informações no balcão revelado, mas não denunciado, pelos maiorais do Fisco ou para detonar uma bomba de efeito eleitoral? Ou "baixaria" seria denunciar o delito?

Com o presidente mais dedicado a fazer da favorita sucessora do que a cumprir o dever jurado, e com o Congresso ajoelhado a seus pés para debicar as migalhas jogadas do alto de sua inusitada popularidade, pouco há a fazer para salvar o resto de honra republicana que ainda se pode resgatar. Ao permitir que a vítima violada rompesse a barreira de gelo do segredo que protegia os violadores, a Justiça deu a esperança de que as instituições poderão resistir a esse cínico descaso quanto aos direitos básicos da cidadania. Só o fortalecimento destas nos salvará de mais quebras impunes de sigilo.

JORNALISTA E ESCRITOR, É EDITORIALISTA DO "JORNAL DA TARDE"

Domínio oligárquico :: Marco Antonio Villa

DEU NA FOLHA DE S. PAULO

A cada quatro anos, grandes partidos se aliam a oligarcas; é um engano

EM 1982, o PDS, partido do regime militar, venceu as eleições em todos os nove Estados do Nordeste. A região passava por uma seca. Com milhões de flagelados, a União montou um programa associando ajuda econômica às eleições. Não era a primeira vez que ocorria (pode ser lembrado 1958), porém nunca tinha alcançado aquelas proporções.

Tudo com o objetivo de controlar o Colégio Eleitoral, que se reuniria em 1985, para eleger o presidente da República. Se em 1982 deu tudo certo, na hora da eleição, Tancredo Neves acabou eleito presidente.

Parte considerável da elite acabou se bandeando para Tancredo. Tanto que, na eleição seguinte, os candidatos da Aliança Democrática venceram em todos os Estados da região. Ou seja, em duas eleições o quadro político tinha mudado. Mas só na aparência. A AD foi vitoriosa mas com frações da antiga elite que tinha servido o regime, como Fernando Collor, que fez parte da Arena e foi eleito governador de Alagoas.

Mas o melhor (e triste) exemplo desta elite perversa é José Sarney. Usou e abusou do regime militar e por obra do acaso chegou à Presidência da República. Fez um governo desastroso. Saiu sob apupos gerais. Hoje, graças a Lula, transformou-se em condestável da República.

Como os grandes partidos consideram que, para vencer a eleição, necessitam do apoio oligárquico, a cada quatro anos estabelecem alianças com essas lideranças. É um engano: a eleição poderia servir para que os setores modernos da política nacional (e regional) pudessem ter contato direto com os milhões de oprimidos e subjugados pelos oligarcas.

Nesta eleição, o quadro se repete. Nos últimos oito anos foram recriadas agências (como a Sudene) e os bancos oficiais e as empresas estatais estiveram à serviço da oligarquia (que só admitiu partilhar do saque do Estado com os egressos da máfia sindical).

Sem uma economia real, são os pagamentos da aposentadoria rural e do Bolsa Família que movimentam o comércio do interior nordestino. Apesar disso, a região não é tema eleitoral. Do lado do governo, é explicável; mas não do lado oposicionista.

E os intelectuais? Estão satisfeitíssimos, locupletando-se com as doações estatais. Em Canudos, no sertão baiano, organizaram uma oficina de cinema. Segundo dados oficiais, os empregos não passam de 1.000 (entre 15 mil habitantes). A produtividade da agricultura e pecuária é baixíssima. Há centenas de desempregados. Para os otimistas, resta imaginar que surja um Visconti e faça um novo "La Terra Trema".


MARCO ANTONIO VILLA é professor do Departamento de Ciências Sociais da UFSCar

Da ideologia ao personalismo :: Roberto DaMatta

DEU EM O GLOBO

O PT foi o partido mais ideológico do Brasil. Ele se estruturava em teses socialistas, mas era também banhado por um lado social-democrata que se ampliou depois que o Lula virou o Lulinha paz e amor e, graças a um marketing genial (a Cesar o que é de Cesar...) penetrou no imaginário dos segmentos elitistas, tornando-se um candidato viável. Pois, como o próprio Lula teoriza, com sua conhecida sensibilidade sociológica, pobre não vota em pobre. Hoje, porém, graças ao que ele dramatiza na sua figura, pobre vota em pobre votado e admirado por seus patrões. Foi essa convergência cultural que permitiu a aceitação do operário candidato radical no operário pleno de paz e amor como presidente.

No primeiro governo havia uma herança maldita, mas os fundamentos do sistema econômico implantado com o Plano Real prosseguiram. Depois veio o mensalão, que implodiu o PT como partido, promoveu um expurgo e uma ascensão dos petistas possíveis.

Agora, debaixo da batuta do único sobrevivente o próprio Lula o partido antes ideológico depende de uma pessoa.

Lula salvou-se a si mesmo invocando, como Cristo, a traição de alguns companheiros que, no mensalão, exageraram a dose, dentro de um sistema político de resto igualmente marcado pela corrupção e antiliberal.

Há uma transformação crucial. O candidato que representava o operariado nacional e era um duríssimo opositor torna-se presidente e, neste papel, ele representa o trabalhador e o pobre. Mas é preciso não esquecer que ele próprio foi um pobre. Ele é a dramatização de si mesmo como um operário sem escolaridade e diploma, como sempre enfatiza, do mesmo modo que provoca dizendo que tem azia quando lê. Mas, como presidente de uma sociedade hierarquizada até o gargalo, ele sabe que pode dizer e fazer tudo quando se mora num palácio. Faz então um governo de coalizão e amplia sem limites as suas bases realizando alianças nas quais os partidos e os movimentos sociais não são mais peçaschaves, mas atores subordinados às personalidades e às relações sociais mais do que políticas dos seus membros e donos.

O universo da casa, das simpatias pessoais, domina a cena e começa a canibalizar o campo econômico em nome de um retorno de um estado forte, que servirá como instrumento de aristocratização. A coalizão compadresca começa a abalar aquilo que o poeta William Blake chamava de moinho satânico, porque o mercado capitalista autorregulado não para diante de ninguém. Menos, é obvio, neste Brasil que se faz e desfaz de tempos em tempos.

No palco nacional, a ênfase no ideológico típica dos movimentos populares é paralisada. E os velhos coronéis da política marcada pelas teias de relações pessoais retornam ao puder. Mas com uma diferença: agora, a esquerda oficial e a direita mais reacionária estão juntas. Formam um time de futebol e o seu técnico e principal craque é o Lula, um misto raro de atacante matador e de goleiro perfeito. No ataque, o PT atua nominalmente ao lado dos sindicalistas e dos empresários fornecedores do Estado estruturado pelo PAC. Na defesa, jogam os sarneys, os barbalhos, os collors os políticos personalistas que governavam na base do aos inimigos a lei; aos amigos tudo! Articulam-se assim, tendo como figura-chave um ator magistral e central um Rei Lear da política nacional.

O velho e bom personalismo que forma a espinha dorsal do nosso sistema social, como eu tenho dito na minha modesta e largamente ignorada obra sociológica, volta a englobar as regras democráticas liberais e as marcações ideológicas.

Com Lula tudo iria mudar e eu mesmo pensei que o governo do PT, como o do Brizola, no Rio, iria realmente promover uma transformação na administração pública. Mas a inércia cultural e a ausência de análise e percepção promoveram o retorno da linguagem da casa, de modo que me assusta (e diverte) ver o fruto de um partido ideológico, como o Lula, criar e impor uma candidata, usando metáforas da casa, da família e do parentesco.

Dilma não vai ser apenas uma presidenta; ela será a mãe inventada pelo Lula, que, como tal, vai cuidar diretamente do povo e não administrar os recursos produzidos por este povo.

Como um bloco de carnaval, demos alguns passos para a frente, mas agora ensaiamos um retorno ao ponto de partida. O que chamei de dilema brasileiro o mal-estar entre leis que valem para todos e as obrigações pessoais que só se aplicam aos amigos faz o seu freudiano retorno. Lula reencarna Getúlio. Mas, diferentemente de Vargas, poderia se quisesse ser aclamado presidente perpétuo do Brasil. Louvo-o por seu desprendimento. Pena que um craque do seu calibre jogue contra uma oposição que joga contra si mesma e, assim, atropela e inviabiliza um liberalismo decente entre nós.

E, sem oposição e uma consciência de limites do poder, vamos ter um longo campeonato no qual haverá apenas um campeão. No esporte isso representa o fim do próprio jogo. Na vida pública, isso significa o fim da política como ação social e o início de um domínio à la Casa Grande & Senzala: repleto de confraternizações e agregados. De vez em quando alguém leva uma chibatada, mas não por mal; recursos serão sempre esbanjados, mas o Brasil é rico. Afinal, como resistir a um personalismo que funda parte do sistema e jamais foi discutido em seus confrontos com o nosso lado liberal e igualitário? Paciência. Só fomos ideológicos para trazer de volta um habitual personalismo que deve eleger este sim é um fato jamais visto na nossa história não uma mulher-presidenta, mas (como quer o Lula) a mãe do Brasil.


ROBERTO DaMATTA é antropólogo.

A dubiedade do discurso e as reformas:: Rosângela Bittar

DEU NO VALOR ECONÔMICO

Dilma pode sair das eleições em condições políticas de fazer as reformas se não fizer alarde demais, avalia o comando de sua campanha

Na campanha de Dilma Rousseff informa-se que faz parte da estratégia de qualquer disputa eleitoral não falar em reformas constitucionais. Estas, ensina um dos especialistas, são temas para presidente eleito, não para candidato. Reformas não rendem voto, perdem. Falar de reforma constitucional é ameaça ao direito adquirido, é choque certo com o desejo das corporações que encontram acolhida na opinião pública.

É o caso das reformas da Previdência, em primeiro lugar, da Trabalhista, da Administrativa, da Tributária, da criação de impostos com aumento da carga, mesmo que peremptoriamente negados. O candidato do PSDB a presidente, que no momento faz mudanças em sua campanha para levar a disputa ao segundo turno, tem dito com toda clareza que a carga é muito alta e que não recriará o imposto do cheque. Na campanha de Dilma, líder das intenções de voto, talvez até por isso, espertamente, como em vários temas, há dubiedade, e a saída tem sido desconversar. Não se admite objetivamente o aumento da carga, mas lamenta-se até hoje a perda da CPMF, tributo que, vendido como sendo dinheiro para a saúde, foi fazer superávit para enfrentar descompensação fiscal.

A reforma política deve vir aí, pelas mãos do presidente atual. Lula definiu melhor ontem o que vem sendo insinuado por seus auxiliares. Admitiu que vai comandá-la, só não explicou como. "Pretendo participar do encaminhamento das grandes questões nacionais, como é o caso da reforma política. Fora da Presidência vou me dedicar de corpo e alma através do PT, e em acerto com outros partidos, ao esforço de promover uma reforma que represente uma modernização das nossas práticas políticas", disse em entrevista a jornais do interior. A intenção de fazer a reforma da Previdência do funcionalismo público foi admitida como estudo da campanha e desmentida no dia seguinte.

Genéricas, dúbias, camufladas, estão aí as reformas na campanha eleitoral da candidata líder. As campanhas, por aqui, ao contrário de sociedades mais desenvolvidas, têm sido um momento de pura fantasia. Não servem, e tem-se visto à exaustão, à exposição de ideias, projetos e aferição da capacidade dos candidatos para decidir os destinos do país. A escolha é no escuro, ambiente em que o slogan e a propaganda encontram eco.

Assim, as reformas se perdem. Em caso de eleger-se, aí sim, é hora de o candidato chegar com seu pacote de mudanças constitucionais e infra-constitucionais. De preferência nos primeiros 100 dias. Até porque, exatamente por serem impopulares, estas reformas precisam surgir bem no início de cada governo, quando o presidente eleito ainda está forte e tem pleno domínio do Congresso. Se tiver.

Também porque as reformas exigem, no mínimo, consenso, e é em início de governo, com amplo apoio, que o presidente eleito tem condições de construí-lo.

Fernando Henrique Cardoso teve um início de governo muito forte e conseguiu construir consensos em torno das reformas, conseguindo fazer a quebra do monopólio estatal (petróleo, telefonia, navegação de cabotagem, abriu o capital da Petrobras para investidores privados), a reforma da previdência social e parte da reforma administrativa.

O presidente Lula, segundo analistas do próprio governo, não fez reformas porque, argumentam alguns de seus intérpretes, queria introduzir com prioridade a agenda do desenvolvimento social - aqui entendidos não as bolsas, a que ninguém se opunha, mas aos privilégios concedidos aos sindicatos, ao MST, ao funcionalismo público, ao reajuste do salário mínimo.

Era demais para um governo que viveu um primeiro mandato dramático, o do mensalão, abrir tão numerosas frentes polêmicas. E para reformas é preciso contar com o Congresso, protagonista do escândalo.

Analistas do comando da campanha do PT avaliam que Dilma Rousseff, se vencer, terá força suficiente para as reformas, terá saído do zero para os 50% de adesão, hoje. "Pode priorizar as reformas, avançar nesse campo, sem muito alarde, sem falar antes da hora, senão provoca atritos desnecessários."

A falta de conexão no discurso da candidata, porém, a ausência de um plano coerente de ação - o que limita o discurso a uma imprecisa "continuidade" -, a ambiguidade, tudo se deve, segundo justificam, às dificuldades em assumir posições polêmicas durante a campanha.

A candidata renega o programa de seu partido que insiste fazer o controle da imprensa, mas se diz favorável à construção de um marco regulatório na área. Qual, ainda não diz, está em campanha. A candidata condena ações violentas do MST, em seguida diz que não as criminaliza. Acha que o tamanho do Estado é hoje suficiente, a iniciativa privada terá espaço, mas defende a criação de novas estatais, como a Telebrás, porque é "necessário". "Governo é isso, é ir procurando construir consensos", explica um interlocutor da campanha. Mas só quando esta terminar.

O ex-ministro Antonio Palocci, à medida que a candidata do PT foi crescendo nas pesquisas de intenção de voto, aumentou também seu grau de discrição. Exatamente o contrário do que seria de se esperar. Passou a despachar mais em São Paulo, onde mantém encontros e faz articulação política e financeira, distante do comitê eleitoral de Dilma Rousseff. Mas o abrigo antiaéreo não o tem preservado de todo. O ex-ministro José Dirceu, de cuja influência no PT, no governo e na campanha presidencial ninguém duvida, não o quer na Casa Civil da Presidência se a eleita for a candidata petista.

O grupo que fala em nome do ex-chefe da Casa Civil de Lula diz que Palocci ficaria melhor no Ministério da Saúde, e que para a Casa Civil pode ir o ex-prefeito de Belo Horizonte Fernando Pimentel. Os líderes petistas que temem sua presença na área econômica de um futuro governo caso a eleição efetive a dianteira de hoje asseguram que Guido Mantega quer e pode permanecer no cargo. Os empresários e banqueiros, a quem está avalizando a candidata Dilma Rousseff, esperam que Palocci tenha influência decisiva. E o próprio, principal dirigente político e administrativo da campanha presidencial do PT, salta de especulação em especulação como brasa incandescente.


Rosângela Bittar é chefe da Redação, em Brasília. Escreve às quartas-feiras

Maciel lista obras no revide a Lula

DEU NO JORNAL DO COMMERCIO (PE)

Alvo de duro ataque do presidente na última sexta-feira, senador ocupa a tribuna da Casa e, num discurso de 13 páginas, relata o que já fez pelo Estado

Cecília Ramos

Discreto e silencioso, o senador Marco Maciel (DEM), 70 anos, foi a Brasília com a ideia fixa: deixar um registro histórico no Senado sobre sua atuação em mais de 50 anos de vida pública.
Consultou alguns aliados mais próximos sobre o assunto, mas já com a decisão tomada. Preparou, durante o fim de semana, aquele que foi seu discurso de 13 páginas, lidas uma a uma, ontem, na tribuna da Casa. O documento, intitulado Prestando contas a Pernambuco, não cita nenhuma vez o motivador dele, o presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Desde o comício da última sexta-feira (27), no Marco Zero, no Recife, quando o petista disparou um discurso forte contra Maciel, que o senador não sossegou.

Ontem, na tribuna do Senado, o primeiro revide a Lula veio na abertura do discurso, quando Marco Maciel cita o francês Louis Buffon, para quem o estilo é o homem. A forma de nos portarmos e de encarar a vida identifica o que somos, discursou (ver trechos na arte). No comício, Lula estava em seu melhor estilo apresentador de programa de auditório, passeando pelo palco. O ponto alto foi quando o presidente, jogando para o público, perguntou: Lembrem do tempo que ele era vice-presidente e que tinha o presidente lá (Fernando Henrique Cardoso-PSDB) e o que eles trouxeram para Pernambuco?. Nada!, gritou a massa presente, sob risos e aplausos, inclusive palmas do governador Eduardo Campos (PSB), do vice, João Lyra (PDT), e de Humberto Costa (PT), candidato a senador. Já o deputado Armando Monteiro (PTB), que disputa o Senado, ficou com os braços cruzados para trás, com um ar constrangido. O DEM tem uma aliança branca com o trabalhista, no Estado.

E se o mantra dos adversários é o de que Marco Maciel não fez nada, ele dedicou nove, das 13 páginas do discurso, a listar suas ações na saúde, educação, infraestrutura, etc. Mencionando os cargos que já ocupou, citou: A consciência vale mais que mil testemunhas, uma de suas frases prediletas e que ele, inclusive, diz em latim. Em outro momento, destacou o slogan desta sua campanha: O futuro de Pernambuco não é obra de um homem só e nem começou agora. O futuro de Pernambuco vem de longe. Eu, graças a Deus, cumpro com o meu dever em todos os cargos que exerci, participando ativamente da construção desse futuro.

JARBAS AUSENTE

Maciel foi aparteado por cinco senadores, que se solidarizaram. O conterrâneo Jarbas Vasconcelos (PMDB) não estava na hora do discurso. Mas telefonou ao aliado, elogiando a iniciativa. No comício, Jarbas também foi alvo de Lula, que ironizou o peemedebista (sem citar nome) ao dizer que ele iria terminar a eleição devendo pontos ao Ibope.

Durante a sessão de ontem, o senador Papaléo Paes (PSDB-AP) disse falar em nome do partido e criticou: Lula se acha professor de Deus. Já Augusto Botelho, do PT de Lula em Roraima, contou não ter lido nada sobre o assunto, mas quem quer que tenha falado de Vossa Excelência está errado. O aparte mais contundente foi o de Heráclito Fortes (DEM-PI). Ele levantou uma dúvida que pairou pós-comício. Acho que Vossa Excelência vai terminar sendo beneficiado pela infelicidade do gesto e do pronunciamento inadequado.

Mentor do guia eleitoral de Maciel, o ex-ministro Gustavo Krause (DEM) disse ao JC que a propaganda do senador que vai ao ar hoje mostrará o Metrô do Recife. Ele conseguiu empréstimo no Banco Mundial para começar a obra. É assim, com a verdade histórica, que vamos desmentindo esse mantrazinho dos críticos de Marco. Ele tem biografia suficiente para não precisar se pendurar na biografia de ninguém. Krause revelou que o ataque de Lula na sexta provocou mudança no guia do senador exibido segunda, sobre Suape. Resolvemos antecipar, pois Suape é uma obra emblemática. Temos mais de 22 horas de imagens históricas para mostrar que o futuro vem de longe.

Procuradoria move ação contra Cabral

DEU EM O GLOBO

Governador é acusado de abuso de poder; ele nega ter participado de reunião
A Procuradoria Regional Eleitoral do Rio entrou com ação para investigar suposto crime de abuso de poder político contra o governador Sérgio Cabral (PMDB), candidato à reeleição; o deputado Jorge Picciani, candidato ao Senado; o filho dele, o deputado federal candidato à reeleição Leonardo Picciani; o deputado Altineu Cortes, que concorre à reeleição; o prefeito de Italva, Joelson Gomes Soares; e o secretário de Saúde daquele município, Gilberto Willys de Faria.

O prefeito e o secretário teriam feito uma reunião na sede do governo para pedir aos servidores empenho nas campanhas de Cabral, Picciani e Altineu para garantir investimentos ao município.

O grupo responderá ainda por conduta vedada (quando afeta a igualdade de oportunidades entre candidatos). Em nota, a campanha de Cabral afirmou que ele desconhecia a reunião e que, naquele dia (4 de agosto), ele participou de missa e de entrevista na TV Brasil: O governador repudia veementemente o uso da máquina pública em prol de quaisquer campanhas. A assessoria do prefeito disse em nota que a reunião teve cunho político-partidário e que o prefeito, presidente do PDT de Italva, gozando de direitos políticos, legitimados pela constituição a qualquer cidadão, reuniu-se com correligionários.

Ontem, ao participar do 8º Encontro de Tecnologia de Negócios, no Rio, Cabral atribuiu ao ex-prefeito Cesar Maia (DEM) o fracasso do estado no Índice de Desenvolvimento da Educação Básica. No ensino médio, o Rio ficou em penúltimo no ranking dos estados mais bem colocados. Por nota, Maia, rebateu: O governador é tão mentiroso que a nota do Enem é para o estado todo e não só para a capital. O sistema de ciclos foi introduzido na capital, onde as escolas tiveram as melhores notas.

Gabeira flagra hospital sem 'maquiagem'

DEU EM O GLOBO

Verde faz visita surpresa ao Carlos Chagas, do estado, e encontra atendimento improvisado e pacientes nos corredores

Rafael Galdo

O candidato do PV ao governo do Rio, Fernando Gabeira, fez ontem visita surpresa ao Hospital Estadual Carlos Chagas, em Marechal Hermes, e viu 14 pessoas em leitos improvisados no corredor da emergência, além de ouvir queixas de falta de material e de médicos. Uma realidade, segundo Gabeira, diferente do que é mostrado na propaganda do adversário, o candidato à reeleição pelo PMDB, Sérgio Cabral, e que poderia ter sido mascarada caso ele informasse sobre a visita: Poderiam ser retiradas as macas do corredor, as imagens evidentes da superlotação disse Gabeira, que visitou, em julho, o Hospital Estadual Getúlio Vargas e recebeu denúncia de que a unidade, antes de sua chegada, recebera maquiagem Anteontem, o verde havia divulgado visita ao Hospital Estadual Pedro II, em Santa Cruz, onde era aguardado por assessores da Secretaria de Saúde. Ele foi recebido pela diretora da unidade, Angela Aranda. Segundo o verde, enquanto a emergência estava lotada (a direção confirmou 26 pacientes no corredor), no segundo andar enfermarias reservadas a pacientes vindos da Unidade de Pronto Atendimento (UPA) tinham leitos vagos.

O hospital está sendo colocado num segundo plano.

Achamos que não tem sentido abrir UPA para fechar hospital.

Há vários leitos vazios esperando pessoas da UPA, pois a UPA é o carro-chefe da propaganda (de Cabral) disse ele.

Gabeira foi abordado por funcionários.

Um deles afirmou que o hospital fazia mais de 600 cirurgias eletivas ao ano, contra cerca de 30 em 2010. Já a cirurgiã Rachel Dias Leoni disse que, embora a unidade seja de alta complexidade, tem apenas dois cirurgiões por plantão e não conta com serviços de neurocirurgia e ortopedia. A subsecretária estadual de Atenção à Saúde, Hellen Miyamoto, disse que os pacientes que estavam ontem na emergência do Carlos Chagas tinham chegado recentemente, a maioria na madrugada anterior, e aguardavam transferência.

Em nota, Hellen confirmou que o hospital tem leitos de retaguarda para as UPAs, mas que o índice de remoção dessas unidades é de menos de 1%. Ainda segundo ela, o hospital não tem emergência aberta e recebe apenas pacientes encaminhados.

Segundo Hellen, o abastecimento de medicamentos é regular e este ano foram feitas 110 cirurgias eletivas

Campanha precisa ser espontânea, afirma FHC

DEU NA FOLHA DE S. PAULO

Ex-presidente critica ideia de apresentar o tucano como candidato da continuidade

Renata Lo Prete
Editora do Painel

Fernando Henrique Cardoso critica a comunicação da campanha do correligionário José Serra por apresentá-lo como um "candidato de continuidade" do governo Lula. Diz ainda que falta "espontaneidade" aos programas de televisão do tucano.

Na opinião do ex-presidente da República, a eventual eleição de Dilma Rousseff (PT) representa risco não à economia, mas à "vida institucional" do país. De acordo com FHC, o PT "não pratica gestos tresloucados, mas desvirtua as instituições por dentro".

Folha - O sr. teria feito, em palestra para um grupo de economistas, críticas ao marketing da campanha de José Serra. Quais são os erros, em seu entender?

FHC - Fiz e ouvi críticas. À falta de espontaneidade e à ideia de que ele seria um candidato de continuidade.

Folha - Segundo relato, o sr., nessa apresentação, não se mostrou pessimista com o futuro do país em caso de vitória de Dilma Rousseff. É verdade?

FHC - O que eu disse foi outra coisa: que a economia brasileira dispõe de motores fortes. Nesse sentido, eu não sou pessimista. Mas, quanto a riscos de passo atrás na política, na vida institucional, eles estão por todos os lados.

Folha - Que riscos seriam esses?

FHC - O abuso da máquina pública para propósitos partidários, como se vê escandalosamente na atual campanha. Depois, o fortalecimento de uma tendência corporativa, cimentando a aliança entre fundos de pensão, sindicatos e grandes empresas, com o fim político óbvio.

Folha - O sr. também teria dito que o PT não vai fazer "nenhuma maluquice", como não fez no governo Lula.

FHC - Depende do que se entenda por fazer maluquice. O PT tem corroído as instituições públicas por dentro, como cupim. Não pratica atitudes tresloucadas, mas desvirtua as instituições por dentro, como está fazendo, por exemplo, na ANP (Agência Nacional do Petróleo).

Folha - O sr. acha mesmo que há no país uma tendência à estatização, e que ela será mantida independentemente de quem vença a eleição?

FHC - Não. Eu disse que a matriz estatizante é enraizada no país, em todos os partidos. Mas é óbvio que ela vai se acentuar num eventual governo Dilma, na direção dos sinais visíveis nos dois últimos anos do governo Lula.

Dados sigilosos da filha de Serra também foram violados na Receita

DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

Devassa ocorreu 8 dias antes de acesso ilegal a informações fiscais de Eduardo Jorge e outros tucanos próximos do candidato do PSDB

Leandro Colon , Ana Paula Scinocca, Rui Nogueira / BRASÍLIA

Documentos da investigação feita pela corregedoria da Receita Federal revelam que o sigilo fiscal de Verônica Serra, filha do candidato tucano à Presidência da República, José Serra, foi violado no dia 30 de setembro de 2009. O acesso ocorreu em Santo André (SP), onde é lotada a funcionária Lúcia de Fátima Gonçalves Milan, autora da coleta dos dados fiscais de Verônica Serra.

A funcionária entrou no sistema e, segundo os documentos da corregedoria a que o Estado teve acesso, coletou as declarações de Imposto de Renda dos anos de 2008 e 2009 da filha de Serra. A informação foi revelada ontem à noite, com exclusividade, pelo portal estadão.com.br.

Na noite de ontem, a assessoria do Ministério da Fazenda disse ao Estado que a corregedoria da Receita tem um documento mostrando que a funcionária Lúcia Milan acessou os dados fiscais a pedido da própria Verônica Serra. A assessoria do candidato tucano informou que Verônica não pediu nenhuma quebra de sigilo.

A Receita não sabe dizer por que uma contribuinte de São Paulo entraria com ofício para quebra consentida de sigilo em Santo André. Por meio da assessoria da Fazenda, acrescentou que no dia 29 de setembro de 2009 "uma pessoa apareceu na delegacia de Santo André com uma procuração pedindo os dados fiscais de 2008 e 2009 de Verônica Serra".

Segundo informação da corregedoria, a procuração era assinada pela própria Verônica e tinha firma reconhecida. "Diante desse ofício, a funcionária (Lúcia Milan), cumpriu o pedido e não fez nada de errado", avaliou a assessoria do Ministério da Fazenda.

Outras violações. A violação dos dados fiscais de Verônica Serra antecedeu os acessos, igualmente ilegais, aos IRs de outras quatro pessoas, todas ligadas ao PSDB ou próximas do candidato José Serra. O portal estadão.com.br antecipou, também com exclusividade, na semana passada, que no dia 8 de outubro de 2009, semana seguinte à violação dos dados de Verônica Serra, foram acessadas, sem justificativa legal ou funcional, informações fiscais do vice-presidente do PSDB, Eduardo Jorge, do economista Luiz Carlos Mendonça de Barros; de Gregorio Marin Preciado, empresário casado com uma prima de Serra, e de Ricardo Sérgio, ex-diretor do Banco do Brasil, no governo Fernando Henrique Cardoso (1995-2002).

Depois de ter feito dois indiciamentos na delegacia de Mauá (SP), antecipados pelo Estado na edição de ontem, a corregedoria da Receita Federal formalizou também, na segunda-feira, a acusação contra mais duas funcionárias: Ana Maria Caroto Cano e a própria Lúcia de Fátima Gonçalves Milan. Elas passaram de testemunhas a acusadas.

Ontem, porém, depois de dizer que a funcionária Lúcia Milan tinha um ofício mostrando que coletou os dados sigilosos de Verônica Serra a pedido da própria contribuinte, o Ministério da Fazenda informou que a corregedoria da Receita já estudava retirar a acusação contra essa funcionária de Santo André.

Se não houver nenhum recuo da corregedoria, já são quatro as servidoras na condição de acusadas por envolvimento na violação de dados fiscais dos tucanos.

Senhas. Além de Ana Caroto e Lúcia Milan, a Receita já havia indiciado as funcionárias Adeildda Ferreira Leão dos Santos e Antônia Aparecida Rodrigues dos Santos Neves Silva. Foi no computador de Adeildda, mas com a senha de Antônia, na delegacia de Mauá (SP), que foram violados os dados fiscais dos tucanos.

O conteúdo das representações que a corregedoria vem fazendo contradizem o discurso da cúpula da Receita, que, na sexta-feira passada, havia dito, por meio do secretário Otacílio Cartaxo, ter indícios de esquema de venda de dados fiscais mediante "encomenda externa" e "pagamento de propina".

Agora, a Receita trata o assunto como ilícito funcional, isto é, os funcionários só erraram ao trocar entre si as senhas de trabalho, que são sigilosas. A estratégia do órgão é despolitizar as violações.

O CASO

Primeiro alvo

Em 12 de junho de 2010, vem à tona a quebra de sigilo fiscal do vice-presidente do PSDB, Eduardo Jorge. O vazamento dos dados é atribuído a um grupo ligado à campanha de Dilma, que nega ligação com o caso.

Investigação
No fim de junho, a Receita abre sindicância.

Auditora
No dia 21 de julho, a Receita divulga que afastou a analista tributária Antonia Aparecida Rodrigues dos Santos Neves Silva, cuja senha teria sido usada para acessar dados de Eduardo Jorge.

Mais alvos
Na semana passada, é revelado que a quebra de sigilo atingiu mais três tucanos: Luiz Carlos Mendonça de Barros, Ricardo Sérgio de Oliveira e Gregório Marin Preciado.

Versões
Após anunciar, sexta-feira, que tinha indícios de "pagamento de propina" na delegacia de Mauá, a Receita exclui essa versão do relatório entregue anteontem ao Ministério Público com o indiciamento de duas servidoras.

Governo tenta barrar acesso de Eduardo Jorge à investigação

DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

Advocacia-Geral da União entra com recurso na Justiça para suspender [br]a liberação dos autos para vice do PSDB

Vannildo Mendes / BRASÍLIA

Por meio da Advocacia-Geral da União (AGU), o governo desencadeou ontem uma operação para manter a investigação sobre a violação dos sigilos fiscais de lideranças tucanas e da filha do presidenciável José Serra (PSDB) em segredo.

Três advogados da AGU foram ao Tribunal Regional Federal (TRF) e protocolaram recurso para tentar suspender o acesso do vice-presidente do PSDB, Eduardo Jorge Caldas - e também alvo da quebra de sigilo -, aos autos da sindicância da Corregedoria da Receita Federal.

Advogada do tucano, Ana Luiza Caldas Pereira disse "estranhar a rapidez e o empenho exagerado do governo para impedir" a liberação do material. A AGU alega que o acesso do tucano está causando danos à investigação e comprometendo informações que são protegidas por sigilo legal. O juiz Marcos Augusto de Sousa, da primeira turma do TRF, considerou-se incompetente para julgar o caso. A redistribuição do caso será feita hoje.

O conteúdo das representações que a corregedoria vem fazendo contradizem o discurso da cúpula da Receita que, na sexta-feira passada, havia dito, por meio do secretário Otacílio Cartaxo, ter indícios de esquema de venda de dados fiscais mediante "encomenda externa" e "pagamento de propina". "Há indícios de uma intermediação feita por alguém de fora da Receita. Os indícios são de um suposto balcão de compra e venda de informação. Isso nós vamos repassar ao Ministério Público ", disse o corregedor Antonio d"Ávila.

A estratégia era tentar despolitizar a violação fiscal dos tucanos e desvinculá-la da campanha presidencial de Dilma Rousseff (PT), para onde foi enviada boa parte dessas informações dentro de um dossiê contra adversários. "Nós não identificamos qualquer ilação político-partidária", fez questão de frisar o corregedor da Receita. / Colaborou L.C.

Filha de Serra teve dados fiscais abertos

DEU EM O GLOBO

O esquema usado para devassar dados fiscais de 140 pessoas serviu também para abrir declarações de renda de Verônica Serra, filha do candidato tucano ao Planalto, José Serra. Segundo a Corregedoria da Receita, o grupo acessou e pode ter vazado os dados de Verônica.

Filha de Serra também teve sigilo quebrado

Corregedoria da Receita investiga se dados de Verônica foram vazados; indignado, tucano compara Dilma a Collor

Jailton de Carvalho e Roberto Maltchik

BRASÍLIA. A Corregedoria da Receita Federal encontrou indícios de que o mesmo esquema usado para devassar dados fiscais de 140 pessoas também consultou e pode ter vazado as declarações de renda de Verônica Serra, filha do candidato do PSDB à Presidência, José Serra.

O acesso teria sido feito por uma das quatro servidoras que estão sob investigação e são classificadas pela Corregedoria como de acusadas vazamento. A consulta aos dados de Verônica Serra ocorreu antes do acesso às declarações de renda de quatro tucanos, entre eles o vice-presidente do PSDB, Eduardo Jorge.

Serra ficou indignado. No início da madrugada de hoje, em entrevista ao Jornal da Globo, ele comparou a candidata do PT, Dilma Rousseff, ao ex-presidente Fernando Collor: É ato criminoso, cometido para efeito político eleitoral. É jogo sujo! Usar a filha dos outros para ganhar eleição... Eu só lembro do Collor fazendo isso com a filha no Lula. Dilma está repetindo o que Collor fez. A turma da Dilma está fazendo a mesma coisa para me chantagear.

O acesso às informações de Verônica não ocorreu no terminal em que trabalha a servidora Adeildda Leão dos Santos, acusada do crime. Por isso, a Receita investiga se os dados foram coletados em outro terminal na delegacia de Santo André.

À noite, a Receita Federal informou que os dados foram acessados a pedido da própria Verônica. Serra protestou: É mentira descarada! Autoridades da Receita encarregadas da investigação sobre a quebra de sigilo fiscal de Eduardo Jorge suspeitam que cópias de declarações obtidas por meios ilegais eram vendidas no mercado clandestino de informações por menos de R$ 1 mil. A Corregedoria também abriu uma nova frente de investigação, que põe em evidência a Delegacia em Santo André. É lá que trabalha a servidora Lucia de Fátima Gonçalves Milan, notificada segunda-feira como acusada de envolvimento no caso.

Curiosamente, menos de 24 horas após a Corregedoria qualificar a servidora como acusada, a Receita, que alega sigilo para não prestar esclarecimentos, veio a público para informar que Lucia já foi investigada e que o acesso feito por ela ao terminal da Receita foi justificado, o que afastaria as suspeitas. Mas a Receita não se manifestou sobre a situação de outra servidora: a analista do Serpro Ana Maria Caroto Cano, lotada em Mauá.

Ana Maria é uma das três funcionárias da delegacia paulista que teriam usado a mesma senha para acessar informações que podem ter abastecido um suposto dossiê do PT contra Serra. Além de Lucia e Ana Maria, Antônia Rodrigues (portadora da senha) e Adeildda são consideradas suspeitas.

Dilma e Serra trocam acusações sobre vazamentos

DEU EM O GLOBO

Petista acusa PSDB de histórico de divulgações; tucano diz que PT usa a técnica do "pega ladrão"

Leila Suwwan, Chico de Gois, Adriana Vasconcelos e Flávio Freire

SÃO PAULO e BRASÍLIA. Em entrevista ao Jornal da Globo, a candidata do PT à Presidência, Dilma Rousseff, ao falar do suposto envolvimento de petistas em vazamentos e na produção de dossiês contra tucanos, afirmou que o PSDB tem um histórico expressivo de vazamentos, sem apresentar provas.

O partido do candidato meu adversário tem trajetória de vazamentos e grampos absolutamente expressiva, como, por exemplo, o vazamento das dívidas dos deputados federais com o Banco do Brasil, nas vésperas da votação da emenda de reeleição, os grampos no BNDES e também os grampos feitos no próprio gabinete do secretário da Presidência da República.

Ontem, em São Paulo, o candidato do PSDB, José Serra, disse que o PT usa a estratégia do pega ladrão, metáfora sobre quem rouba e acusa o outro pelo crime. Depois de corpo a corpo em Cidade Tiradentes, bairro da periferia, o tucano disse que os adversários continuam fazendo jogo sujo na campanha.

Eles (o PT) fazem a estratégia do pega ladrão, que é quando o sujeito bate a carteira de alguém, enfia no bolso e sai gritando pega ladrão, pega ladrão . O PT está seguindo a estratégia de sempre, quando as vítimas são os culpados. Mas tudo o que foi feito nesta campanha foi para proveito da campanha dos petistas e organizado pela campanha dos petistas.

Os três episódios denunciados por Dilma não ocorreram durante uma campanha eleitoral e os alvos não foram do PT.

No caso dos grampos do BNDES, em 1998, ocorreram escutas clandestinas nos leilões das teles que indicavam tráfico de influência. A polêmica lista do BB, de 1996, contém dados bancários de nove deputados do então PPB, que foi vazada na época da votação da emenda de reeleição. O grampo no Planalto se refere à escuta telefônica da PF na linha do embaixador Julio Cesar Gomes dos Santos, chefe do cerimonial da Presidência, na esteira da briga de lobbies do contrato do Sivam, em 1995.

A declaração de Dilma Rousseff irritou a oposição, que acusou a petista de mentirosa e de tentar confundir a opinião pública.

O líder do PSDB na Câmara, João Almeida (BA), disse que os exemplos citados por Dilma para atacar os tucanos não servem.

Para Almeida, os vazamentos quando o PSDB era governo (1995-2002) foram utilizados para prejudicar o próprio PSDB.

O vazamento (do BNDES) deve ter sido promovido pela mesma quadrilha que serve ao PT. E tinha o mesmo objetivo que agora: nos prejudicar. Eles (os petistas) já estavam desde aquela época fazendo dossiês.

Toda vez que o PT é acusado de algo, eles rapidamente dizem que outros fizeram igual. Isso não é conversa de gente honesta disse Sérgio Guerra, presidente do PSDB.

O líder do DEM na Câmara, Paulo Bornhausen (SC), também saiu em defesa do aliado: Dilma é cara de pau. Quem tem compulsão por mentir, como faz ao longo do tempo, é ela.

Quer tentar se defender do que é indefensável, essa indústria de arapongagem que ela e o governo dela montaram.

Dilma recusa debate com leitores e colunistas do GLOBO

DEU EM O GLOBO

A candidata do PT ao Planalto, Dilma Rousseff, recusou o convite para debater, com colunistas leitores do GLOBO e internautas, seu projeto de governo e os problemas nacionais. Os candidatos Marina Silva (PV) e José Serra (PSDB) confirmaram presença em suas sabatinas nos dias 9 e 10 de setembro. As entrevistas serão transmitidas em tempo real para o site.

Dilma se recusa a debater no GLOBO

Colunistas e leitores terão encontros com Serra e Marina no jornal; candidatos a governador e senador também serão entrevistados

Líder nas pesquisas, a candidata do PT à Presidência, Dilma Rousseff, se recusou a debater com colunistas e leitores do GLOBO os problemas do país e seus planos para solucioná-los, caso seja eleita. Convidada com grande antecedência, Dilma recusou o convite do jornal, que reunirá em sua sede, no Rio, 1 7 colunistas e editores, além de leitores e internaut as, com transmissão em tempo real para o site e redes sociais.

A candidata do PV a presidente, Marina Silva, confirmou participação no encontro, e será sabatinada no dia 9 de setembro, às 11h. José Serra, do PSDB, também já está confirmado: será entrevistado no dia 10, às 11h. As entrevistas serão publicadas no jornal no dia seguinte.

As sabatinas com colunistas, editores e leitores são uma tradição no GLOBO, que abre espaço para o debate sobre o país ao longo de todas as campanhas eleitorais, e visam a ajudar seus leitores a decidir melhor o voto.

Para marcar o início oficial da campanha, em julho, O GLOBO pediu a Dilma, Serra e Marina que respondessem a uma pergunta apenas Por que quero presidir o Brasil? , com gravação em vídeo. Sem conhecer previamente a pergunta, Dilma se recusou a responder. Serra e Marina deram seus depoimentos, que foram publicados no site e no jornal. Somente depois de assistir às respostas dos adversários, e usando equipamentos e recursos sofisticados de vídeo, Dilma fez com sua equipe uma resposta e enviou para o jornal, que a publicou no site.Os encontros serão realizados no auditório do GLOBO, na Rua Irineu Marinho 35, Cidade Nova, Rio de Janeiro.

A capacidade é para 150 pessoas por dia, e os leitores poderão entrar por ordem de chegada. Os portões serão abertos com uma hora de antecedência.

A entrada será proibida para pessoas com bandeiras, camisetas de candidatos ou qualquer outro material de campanha. Também não será permitida a entrada de pessoas com bermuda, chinelo ou camiseta sem mangas.

O candidato do PSOL, Plínio de Arruda Sampaio, sabatinado em São Paulo, terá a entrevista publicada no próximo dia 6 de setembro.

Após as sabatinas com os candidatos a presidente, O GLOBO fará entrevistas com os candidatos a governador e a senador do Rio.

As entrevistas com os candidatos ao governo do Estado do Rio começam a ser publicadas no dia 13 de setembro, uma segunda-feira. Em seguida, o espaço será aberto para os principais candidatos a senador pelo Rio.

O jornal também já realizou sabatinas com os principais candidatos aos governos de São Paulo e Minas Gerais.

Lula deixa para o sucessor orçamento com mais gastos

DEU EM O GLOBO

Proposta para 2011 diminui esforço fiscal e prevê mínimo sem aumento real

O sucessor ou a sucessora do presidente Luiz Inácio Lula da Silva herdará um Orçamento, em seu primeiro ano de governo, com previsão maior de recursos para investimentos e redução do esforço fiscal. A previsão do superávit primário (economia para pagar juros), que inicialmente era de 3,3% do PIB, caiu para 3,22%. Enquanto isso, os recursos para o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), por exemplo, cresceram 36,8%: de R$ 31,8 bilhões este ano para R$ 43,5 bilhões em 2011. A proposta não prevê aumento real de salário mínimo, que foi fixado em R$ 538,15, mas o governo admite negociar.

Mais gasto, menos economia

Proposta de Orçamento do governo para novo presidente reduz meta de esforço fiscal

Cristiane Jungblut e Luiza Damé

BRASÍLIA - Confiante na vitória da candidata do PT à Presidência, Dilma Rousseff, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva enviou ao Congresso uma proposta de Orçamento da União para 2011 com mais recursos para investimentos, em especial para o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), e com um esforço fiscal mais contido. Pela primeira vez, e cumprindo regra aprovada anteriormente na Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO), o governo fixou o superávit primário (economia para pagamento de juros) em valores nominais, e não em percentual do PIB, como era a tradição.

Com a mudança, o superávit estabelecido na proposta orçamentária será de R$ 125,5 bilhões ou 3,22% do PIB estimado para 2011.

Abaixo, portanto, da meta de 3,3% do PIB que vem sendo cumprida nos últimos anos.

O PAC, que se tornou bandeira de campanha da candidata petista, foi inflado para R$ 43,52 bilhões, contra R$ 31,85 bilhões previstos no Orçamento de 2010. Isso significa um aumento de quase R$ 12 bilhões, só com verbas do Orçamento Geral da União (OGU) para as obras do programa, ou quase 37%.

Virou um Pacão disse o ministro do Planejamento, Paulo Bernardo, ao explicar o novo Orçamento.

O valor global para investimentos também cresceu em torno de 15%, passando de R$ 138,5 bilhões disponíveis este ano para R$ 159,6 bilhões. Desse total, R$ 52 bilhões são do Orçamento da União (incluindo o PAC) e outros R$ 107,6 bilhões, das estatais. Só a Petrobras será responsável por investir R$ 78,7 bilhões.

Devido ao crescimento do PIB, a meta de superávit primário ficou em 3,22% do PIB, abaixo da meta prometida e fixada nos últimos anos, de 3,3%. Ao explicar essa meta (a economia que o governo faz para pagar juros), o ministro sustentou que a previsão do superávit em reais R$ 125,5 bilhões não muda a política de ajuste fical. A diferença de 3,3% para 3,22% se deu porque, quando o governo estabeleceu o valor nominal do superávit, a soma das riquezas do país (PIB) para 2011 era estimada em R$ 3,802 trilhões. E agora foi revisada e aumentou para R$ 3,892 trilhões. Como o valor a ser economizado permaneceu o mesmo (R$ 125 bilhões), houve a queda percentual do superávit.

Aumento expressivo com gastos de pessoal

Segundo o ministro, fixar a meta em reais dá mais clareza ao processo, pois só se tem a definição correta do PIB no final do ano, ou mesmo em março do ano seguinte. A meta em percentual do PIB deverá ainda sofrer alteração, porque o Orçamento foi feito com base num crescimento de 6,5% este ano, quando o Ministério da Fazenda já prevê um crescimento de 7%.

Sempre foi (em termos de percentual do PIB), e não é mais. Vamos chegar ao final do ano sabendo quanto é essa meta, que é de R$ 125,5 bilhões. Isso não é fazer meta menor, é uma meta fixa. É um mecanismo de previsibilidade disse ele, justificando a redução para 3,22% do PIB: Temos este ano um Pibão, e vai diminuir a meta proporcionalmente ao PIB.

Paulo Bernardo admitiu ainda haver um aumento expressivo nos gastos com pessoal, que pularão de R$ 170 bilhões este ano (já descontada a Contribuição Patronal para a Seguridade do Servidor, a CPSS) para R$ 182,8 bilhões, num aumento de 7,53%, acima, portanto, da inflação estimada de 5,5% para 2010.

É bastante expressivo (o valor da folha) disse o ministro.

Se contabilizada a CPSS, a folha baterá quase os R$ 200 bilhões, pois totalizará R$ 199,6 bilhões.

Os gastos com pessoal e encargos sociais dos três Poderes (Executivo, Legislativo e Judiciário) representam 9,7% do Orçamento (4,7% do PIB). Este ano, com a explosão de gastos, devido a reajustes acertados desde 2008, a folha representará 5,09% do PIB.

Ao falar da arrecadação, o ministro disse que há uma redução, em termos de percentual do PIB. A receita primária do governo está estimada em R$ 967,6 bilhões: aumento de 10,7% em relação a 2010, mas equivalente a 24,86% do PIB.

Em 2010, a receita foi R$ 873,9 bilhões, ou 26,28% do PIB. Também há uma queda na arrecadação de impostos em termos percentuais do PIB. Os recursos administrados pela Receita Federal totalizarão R$ 632,1 bilhões, ou 16,24% do PIB, contra 16,77% do PIB em 2010.


Mínimo e funcionalismo ficam sem reajuste real em proposta

DEU NO VALOR ECONÔMICO

Ribamar Oliveira, de Brasília

A proposta orçamentária encaminhada ontem ao Congresso Nacional pelo ministro do Planejamento, Paulo Bernardo, não prevê aumento real para o salário mínimo em 2011 nem correção geral para os salários dos funcionários públicos federais. O valor do salário mínimo fixado na proposta é de R$ 538,15, que entrará em vigor no dia primeiro de janeiro do próximo ano. Mas Paulo Bernardo acredita que, no Congresso, o valor será "arredondado" para R$ 540.

"É evidente que não vai ficar assim (em R$ 538,15), pois não tem nem como pagar. Seria mais sensato pagar R$ 540, mas deixa isso acontecer lá (no Congresso)", afirmou o ministro. Ao corrigir o valor do piso salarial apenas pela inflação estimada para o período de janeiro a dezembro deste ano, medida pelo INPC, Bernardo disse que o governo cumpriu o acordo firmado com as centrais sindicais e que valeu nos últimos cinco anos.

O acordo prevê aumento real para o mínimo igual ao crescimento da economia de dois anos anteriores. Como em 2009 o Produto Interno Bruto (PIB) apresentou crescimento negativo de 0,2%, de acordo com o IBGE, o governo decidiu não conceder reajuste real ao piso em 2011.

O ministro explicou que o acordo prevê também uma revisão das regras de reajuste do salário mínimo no início de um novo governo. "O próximo presidente da República poderá negociar com as centrais sindicais novas regras", disse Bernardo. Ele deixou claro que o atual governo não vai propor qualquer alteração no valor do mínimo e aceitará apenas o "arredondamento" do valor.

O governo também não alocou recursos para o aumento médio de 56% dos salários que os servidores do Judiciário reivindicam em projeto de lei que tramita na Câmara dos Deputados, com impacto superior a R$ 6 bilhões nas contas públicas. A proposta orçamentária encaminhada ontem prevê recursos para pagar apenas os reajustes salariais concedidos aos servidores em anos anteriores e cujas parcelas entram em vigor em 2011.

O projeto de lei orçamentária para 2011 prevê uma redução dos gastos com o pagamento de servidores ativos e inativos da União, em proporção do PIB. Essas despesas deverão atingir 5,08% do PIB este ano e cairão para 4,70% no próximo ano.

O ministro informou também que a proposta não prevê reajuste para os benefícios do Bolsa Família em 2011, cujas despesas ficarão quase constante em relação a este ano. "A explicação para isso é que atingimos um número de famílias que tinham que ser atendidas pelo Bolsa Família", explicou. Este ano, a previsão é que o programa beneficie 12,7 milhões de famílias pobres, ao custo de R$ 13,1 bilhões. No próximo ano, o número de famílias será o mesmo, com custo de R$ 13,4 bilhões.

A proposta foi elaborada com estimativa de crescimento do PIB de 5,5% em 2011 e inflação de 4,5%. As receitas totais da União foram previstas em R$ 967,6 bilhões, sendo que as receitas líquidas de transferências para Estados e municípios ficaram em R$ 802,8 bilhões. As despesas totais foram fixadas em R$ 753 bilhões e o superávit primário do governo central (Tesouro, Previdência e Banco Central) em R$ 49,8 bilhões. Como o Valor antecipou ontem, o superávit primário de todo o setor público passou de 3,3% do PIB para 3,22% do PIB por causa da revisão do valor do PIB de 2011, estimado agora em R$ 3,892 trilhões. Bernardo disse que, ao longo de 10 anos, o efeito dessa redução será neutro, pois em alguns anos, o PIB vai ser menor do que o projetado e o superávit nominal será mantido.