terça-feira, 7 de setembro de 2010

Reflexão do dia – Luiz Werneck Vianna


A cara nova da social-democracia à brasileira, se o conceito se aplica, data daí, de 2005, quando se disparou o comando de meia-volta, volver, e, em marcha batida, redescobrimos o Estado dos anos 1950/60. De lá para cá, já se passou uma campanha presidencial e estamos quase ao término de outra, sem que se discuta que social-democracia é esta, em que só cabe lugar para o Estado e sua ação paternal sobre a sociedade.


(Luiz Werneck Vianna, no artigo ‘Que social-democracia é esta?’, Valor Econômico, 6/9/2010)

Lula rebaixa a cidadania :: Merval Pereira

DEU EM O GLOBO

O mais espantoso na atuação do presidente Lula no episódio das quebras múltiplas de sigilo fiscal de pessoas ligadas ao PSDB, até mesmo a filha do candidato tucano à Presidência da República, é como ele manipula seus seguidores, explorando-lhes a boa-fé e, sobretudo, a ignorância. José Serra lamentou que Lula tenha "debochado de coisa séria" quando fez análises nada republicanas sobre o episódio. Segundo o presidente, em cima de um palanque, o episódio não passa de "futrica", e o candidato do PSDB "está nervoso" com a previsão de derrota e está usando sua família "para se fazer de vítima".

Seriam comentários ofensivos à cidadania, partidos de um presidente que deveria ser imparcial quando o assunto são as garantias dos direitos individuais dos cidadãos, sejam eles petistas ou não, lulistas ou não.

Mas o mais grave, do ponto de vista da manipulação do eleitorado, está na frase que jogou no ar como se fosse um desafio: "Cadê esse tal de sigilo que ninguém viu?"

O presidente Lula se utiliza assim da dificuldade que o brasileiro comum tem de compreender os meandros da disputa política, muito mais quando se trata de questões técnicas ligadas a computadores e senhas eletrônicas, para tentar desmoralizar a questão, reduzindo-a a uma "futrica" de perdedor.

Se o tal do "sigilo" não apareceu, é porque não existe, quer levar a crer o nosso nada republicano presidente.

É conhecida a piada que circula entre os petistas segundo a qual Lula teria dito que essa questão de dossiê não abala seu eleitorado, pois eles não sabem o que quer dizer a palavra, e muitos a confundem com "doce".

Há também o raciocínio segundo o qual como apenas 40 milhões de brasileiros declaram o Imposto de Renda, a imensa maioria dos eleitores não estaria preocupada com o assunto.

Para se ter uma noção do que esse raciocínio perverso embute, dos 130 milhões de eleitores, cerca de 60% são formados por analfabetos, analfabetos funcionais ou pessoas que não completaram o ensino fundamental.

Ora, a esta altura dos acontecimentos, todo cidadão de boa-fé e minimamente informado sabe que os dados colhidos em diversas instâncias da Receita Federal, em várias partes do país, estão espalhados em diversos documentos que circularam no comitê da candidata oficial Dilma Rousseff.

Não foram usados formalmente, nem nunca seriam, pois trata-se de material ilegal. Mas estão sendo espalhados há muito tempo em diversos blogs e continuam sendo usados com insinuações contra as vítimas dos atentados.

A própria candidata Dilma Rousseff, abusando da inteligência de seus interlocutores e seguindo por um caminho perigoso, insinuou em entrevista coletiva que os dados levantados sobre Verônica Serra seriam usados por membros do próprio PSDB contra Serra, que àquela altura ainda disputava com o ex-governador de Minas Aécio Neves a escolha do partido para concorrer à Presidência da República.

Os petistas engendraram uma pseudoexplicação que culpa a vítima, e Dilma se encarregou de tornar essa intriga em fato de campanha na sua entrevista.

A disputa entre Serra e Aécio seria a verdadeira origem do tal dossiê, que eles negavam existir e agora, diante das evidências, querem jogar no colo de Aécio Neves, numa mesquinha tentativa de confundir os eleitores.

Mais uma vez coube à chamada grande imprensa, para ódio dos governistas e seus blogueiros chapas-brancas, demonstrar que essa versão não se sustenta.

Tanto os acessos em Santo André quanto os de Formiga, em Minas Gerais, foram feitos por pessoas filiadas ao PT, o que deixa evidente o caráter político das quebras de sigilo.

Essa é uma prática comum ao Partido dos Trabalhadores e tem uma longa história, desde quando o partido era de oposição, mas já mantinha nos principais órgãos públicos uma grande influência graças aos sindicalistas enfronhados na máquina pública.

Na oposição os petistas usavam seu poder de quebrar sigilos e de conseguir documentos para fazer denúncias contra o governo de Fernando Henrique Cardoso.

No governo, montaram uma máquina de informações não apenas para difundir notícias falsas sobre seus adversários como para usar as informações como arma política de chantagem nas negociações de bastidores.

O cérebro desse esquema de informações paralelo e ilegal foi o ex-ministro e deputado federal cassado José Dirceu, que se vangloria até hoje dos métodos que aprendeu quando esteve exilado em Cuba.

À medida que vão se acumulando as evidências de que o PT não sabe disputar eleições dentro da normalidade democrática, acumulam-se também as provas de que o que um dirigente petista disse ontem na oposição não tem a mesma correspondência no futuro e em situações similares quando o partido está no poder.

Eleito em 2002, Lula reconheceu que o então presidente Fernando Henrique Cardoso havia se comportado como "um estadista" e que, se não fosse essa sua postura imparcial, talvez não vencesse a eleição.

Justamente o que não está fazendo hoje, quando se comporta como o chefe de uma facção política tentando fazer sua sucessora, sem se incomodar com as limitações que a legislação impõe.

Lula usa seu enorme carisma e sua popularidade, e o PT utiliza a máquina do Estado, para acobertar as ilegalidades cometidas e manipular o eleitorado.

Ele trabalha permanentemente para reduzir a cidadania a uma reivindicação elitista, neutralizando a política e dando pão e circo à sua massa de manobra.

Impressão digital:: Dora Kramer

DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

Um filiado ao PT diretamente envolvido na quebra de sigilo de parentes e correligionários do candidato do PSDB pode ser coincidência. Dois também, mas já fica difícil de acreditar que não seja impressão digital.

A alegação de que não se pode ligar a quebra de sigilos fiscais à campanha eleitoral porque não há conexão entre o calendário das eleições e os atos, ocorridos em 2009, é sofisma puro.

Admitir o argumento como verossímil equivale a aceitar que o presidente Luiz Inácio da Silva só tenha começado a fazer campanha para Dilma Rousseff em abril de 2010, quando ela deixou a Casa Civil para se tornar pré-candidata à Presidência da República.

Não sendo sustentadas por inépcia de raciocínio - por impossível semelhante grau de indigência mental -, determinadas hipóteses só se pode admitir que estejam pautadas pela má-fé.

Ainda assim, são divulgadas como se fossem silogismos da mais pura correção lógica.

O presidente do PT, José Eduardo Dutra, por exemplo, é um que sofisma naquele sentido. Dilma é outra. Segundo ela, em abril de 2009, quando o petista (o segundo descoberto agora) Gilberto Amarante acionou as informações sigilosas de Eduardo Jorge, vice-presidente do PSDB, nenhuma das candidaturas hoje em disputa estava definida.

É também - mas não só - por isso que é impossível estabelecer diálogo minimamente maduro com esse pessoal que de um determinado momento em diante rompeu qualquer compromisso com a racionalidade e passou a só se relacionar com a panfletagem, para não dizer com a mentira.

Ora, então quer dizer que no ano passado o PT tinha outro nome em vista? Significa que Dutra imaginava sinceramente que o candidato do PSDB pudesse ser outro que não José Serra, candidato a presidente em 2010 desde a derrota de 2002?

O PT, o governo e a campanha estão se enrolando e pior: percebem que pegaram a trilha errada ao tentar esconder informações, influir em investigações e manipular dados porque acabaram deixando pistas desnecessárias.

Agora tentam sair da enrascada aos tropeços. Lula faz piadas de mau gosto - "sigilo, cadê esse tal de sigilo?" -, Mantega expõe a Receita à desmoralização, Dilma pede calma e tenta chamar atenção para os adversários.

Deu para reclamar que não vê divulgado algo que a "intriga": o fato de o jornalista Amaury Ribeiro trabalhar no jornal Estado de Minas na época em que investigava as pessoas que tiveram os sigilos violados, para compor um livro de denúncias sobre as privatizações no governo Fernando Henrique.

Já se divulgou isso, inclusive porque o próprio comitê da campanha do PT o fez. Dutra tocou diversas vezes no assunto no Twitter, mas, como Dilma, nunca falou claro.

Querem dizer que o Estado de Minas é uma espécie de diário oficial do governo de Minas Gerais e que, por isso, Amaury estaria fazendo um serviço a mando de Aécio Neves para atrapalhar a candidatura de Serra à Presidência dentro do PSDB.

E por que não repetem em público o que falam pelos cantos?

Porque a insinuação perderia o efeito e ainda poderiam ser chamados a provar a acusação contra o amigo Aécio.

O presidente do PT pediu para que a Polícia Federal ouça Amaury Ribeiro. Naturalmente para que ele diga que o PSDB está fazendo confusão entre dossiê e informações coletadas para a confecção do tal livro e, assim, reforce as suspeitas de que a história toda surgiu de uma briga interna entre tucanos.

Muito bem, e daí? E se tiver surgido?

O que fazia Amaury Ribeiro trabalhando para o grupo de "inteligência" da campanha de Dilma? E esses petistas envolvidos diretamente no acesso às declarações de renda Receita?

E a Receita, por que omitiu informações das investigações? E o ministro da Fazenda, por que não foi ao Congresso falar do caso e quando falou preferiu desmoralizar a Receita a estabelecer um elo mínimo que fosse com a campanha?

Essas pessoas todas, essa trapalhada que se houver gente séria nesse País acaba mal foi mobilizada dessa forma para que, para proteger os tucanos? É só o que falta ser dito.

O caseiro volta ao palco :: Villas-Bôas Corrêa

DEU NO JORNAL DO BRASIL

A denúncia da quebra do sigilo bancário de Verônica Serra, filha de José Serra, candidato da oposição, por filiados do PT, trouxe à baila o caso do caseiro Francenildo Santos Costa, que comentei no artigo que ora reproduzo: Só com extrema complacência ou ingenuidade em dose cavalar de palermice dá para engolir a pílula da boa-fé oficial na azarada manobra para desqualificar o depoimento do caseiro Francenildo Santos Costa, que injetou sangue novo na veia da CPI dos Bingos com o envolvimento do intocável ministro da Fazenda, Antonio Palocci, nas sujeiras da Casa do Lago, reduto da turma de Ribeirão Preto de múltiplas serventias.

Falando com desembaraço, em tom humilde e respeitoso, o caseiro confirmou que viu, com os olhos da bisbilhotice profissional, umas 10 ou 20 vezes, o ministro no ninho da luxuosa casa na área da nobreza brasiliense, conservando na memória detalhes como o carro Peugeot prata, dirigido pelo ministro, sempre recebido com os salamaleques e reverência, e tratado como chefe.

O ministro nega e jura de dedos cruzados que alguma vez tenha estado na casa suspeita. Enfatiza: Não estive lá nenhuma vez. Com toda a credibilidade justamente merecida pelo desmentido ministerial, ressalve-se que segredo como este é de levar para o túmulo, não se confessa nem sob tortura Aos fatos: aos 40 minutos do arrasador depoimento do caseiro Francenildo na CPI dos Bingos, a manobra articulada no Palácio do Planalto, com o conhecimento e a lógica aprovação do presidente Lula, reverteu o quadro, em cambalhota mortal: o pedido de liminar, encaminhado às pressas pelo líder do PT, senador Tião Viana, e acolhido pelo Supremo Tribunal Federal (STF), suspendeu a exposição do caseiro e armou um salseiro, com desdobramentos e desfecho imprevisíveis.

O governo deu a impressão de que encostara a oposição no canto do ringue, sob uma saraivada de murros. Além de calar o caseiro, a suspeita de que milhares de reais foram depositados na sua conta bancária às vésperas do seu comparecimento à CPI foi reforçada pela publicação pela revista Épo - ca, de extrato bancário, emitido às 20h28 de quinta-feira, e comprovam depósitos na sua conta na Caixa Econômica Federal no total de R$ 38.860.

Pois o pirão encaroçou. O sigilo bancário foi quebrado na marra, sem autorização da Justiça. E, por caipora coincidência, na hora em que o extrato foi emitido, o titular da conta estava na Polícia Federal para se inscrever no programa de proteção a testemunhas na esmagadora prova de violação ilegal do seu sigilo bancário.

O pior estava a caminho. O caseiro, com o testemunho da sua mãe, dona Benta Maria dos Santos Costa, desfiou o segredo doméstico que a família preservava.

Francenildo é filho do empresário municipal de Teresina, Eurípedes Soares da Silva, que resistira a reconhecer a paternidade no registro civil. Ao fim de longas tratativas, com assistência de advogado, chegou- se a acordo, e Francenildo desistiu da ação de reconhecimento de paternidade mediante a doação de R$ 30 mil em dinheiro e o restante a ser quitado em parcelas já depositadas na conta do filho na Caixa Econômica Federal.

Em poucas linhas, o resumo de história edificante encurrala o governo, com o PT de contrapeso, na denúncia de montagem de escabrosa trama para calar a testemunha incômoda que revelou a existência de um esconderijo da turma de Ribeirão Preto, às margens do romântico Lago Azul de Brasília, de múltiplos usos e conveniências, seja como alcouce de encontros e farras às trampas da alta e da baixa politicagem.

E que entre seus frequentadores de regular assiduidade, destacava-se o reverenciado chefe, ministro Antonio Palocci.

As peremptórias negativas do ministro da Fazenda, escoradas na sua credibilidade, aconselham a obedecer à regra clássica de exigir apuração exemplar antes da ofensiva exigindo a sua demissão, negada por Lula.

Mas a mancha indelével na desbotada bandeira vermelha que o PT exibirá na campanha recordará a hipocrisia da legenda popular em seus dourados tempos de requebros esquerdistas, pilhada à frente das velhacarias e burlas para desmoralizar o humilde caseiro que atendeu à convocação da CPI para contar o que é, até agora, a sua verdade.

No contra-ataque, a querela entre governo e oposição atolou no pântano da baixaria. No jogo sujo, a pausa para o pitoresco da hipótese levantada a sério pela líder do governo no Senado, senadora Ideli Salvatti, de que o caseiro poderia ter esquecido o seu extrato bancário em algum lugar, e mãos prestimosas recolheram a prenda e a encaminharam à divulgação.

Descomposturas, acusações, suspeitas, exageros, bobagens entre senadores de cabelos brancos e que azedam os debates na CPI dos Bingos não justificam os melindres registrados pela mídia. Simples rotina nos intervalos de atividade na semana de dois a três dias úteis do Congresso convertido ao modelo ético do baixo clero.

Quem tem contas a prestar, e com urgência, além da Polícia Federal, é a Caixa Econômica Federal informando o resultado da simples sindicância sobre a ilegal quebra de sigilo do caseiro Francenildo, antes que o PT complete a sua lapidação.

Primeiros sinais do ex-presidente:: Wilson Figueiredo

DEU NO JORNAL DO BRASIL

A quatro meses de passar à condição de ex-presidente, o presidente Lula anunciou a dedicação exclusiva, assim que desencarnar, à criação de um organismo muito forte, no qual pretende reunir todas as tendências políticas disponíveis para que nunca mais um presidente sofra o que sofri. Fica, bem ou mal, entendido que Lula pretende abrir sua agenda de ex-presidente com a famosa Reforma Política, que não conseguiu sequer começar nos dois mandatos que teve em mãos e deles dispôs como bem entendeu.

E também sem retroceder às estatizações, às quais teceu loas durante oito anos ininterruptos, sem mover uma palha para honrar a tese. Vê-se que não basta falar mal do antecessor para governar melhor.

A Reforma Política passa a ser, portanto, solução que contará com outras forças atuantes fora do plano parlamentar. É aí que o risco se hospeda. O Brasil é outro para quem não se satisfaz com aparências. Compreende- se a ênfase presidencial pela circunstância de que Lula estava no palanque, de onde não desce mais, e falou de Pernambuco, onde veio ao mundo (e se mandou assim que foi possível).

Neste ciclo de improvisos diários, para dar vazão a sentimentos que cultiva, deixou reiterado que o ex-presidente que já convive com ele quer marcar a saída para ser lembrado como candidato bumerangue. São perturbadores os primeiros efeitos da condição de ex-presidente.

Lula ainda tem 16 semanas para arredondar a Operação Reforma Política. O cuidado de contratar mudanças sem perder tempo já está em aplicação graças à aceitação nacional de que a teoria é diferente na prática. Sozinha, ela chove no molhado. Se ninguém denuncia, por exemplo, a presença presidencial nas sucessões estaduais de sua conveniência é porque reconhece como republicano o direito presidencial de meter a colher onde convier. Até agora, ninguém reclamou pelos canais competentes e teme os não competentes. O presidente já está polindo os excessos da desigualdade no equilíbrio federativo. Os que estão com ele são (a seu ver) mais iguais do que os outros.


Enquanto isso, investe o tempo que sobra em ajuda a candidatos do PT e a aliados correlatos.
Se ninguém protesta, em nome da Federação, é porque ela já está mais desacreditada do que suas congêneres esportivas. Políticos não abrem mão de hábitos a que se afeiçoaram na democracia, como ocorreu antes na ditadura, a começar da semana de dois dias úteis de trabalho parlamentar e de mais cinco para cuidar dos próprios interesses, dentro, ou principalmente, fora do Congresso.

Trata-se da categoria de cidadãos mais iguais do que os demais. Não abrem mão das vantagens que se tornaram a razão do mandato representativo.

Representam, aliás, muito mais o que não declaram. E, como diria o presidente na apoteose que é a sua aura, quem já viu por aí esse tal de sigilo?

A invenção do 7 de Setembro:: Isabel Lustosa

DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

Quando se deu realmente a Independência do Brasil? Porque, quando consultamos os jornais de 1822, não há nenhuma referência ao que se passou nas margens do Ipiranga em 7 de setembro? Porque aquele episódio foi escolhido em detrimento de outros, quando sabe que, em 1822, a data tomada como marco da Independência foi o 12 de outubro, dia do aniversário de dom Pedro I e de sua aclamação como imperador? Essas e outras questões foram respondidas, em artigo de enorme valor acadêmico, porém pouco conhecido, publicado em 1995, pela historiadora Maria de Lourdes Viana Lyra, sócia titular do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro.

Intrigada com o silêncio da documentação e das publicações do ano de 1822 sobre o 7 de setembro, Lourdes Lyra devassou essa história e estabeleceu ponto por ponto o processo e os interesses envolvidos na escolha do 7 de setembro como data da Independência. Um ponto que merece realce é que os documentos que supostamente dom Pedro I teria lido às margens do Ipiranga no dia 7 só teriam chegado ao Rio de Janeiro em 22 de setembro. Outro é que o primeiro relato detalhado do episódio do Ipiranga só foi publicado em 1826, em momento de desprestígio do imperador diante dos brasileiros que tinham feito a Independência e que se indignaram com as bases do tratado assinado com Portugal.

A Inglaterra, que representou junto à Corte do Rio de Janeiro seus próprios interesses e os da Coroa portuguesa, pressionara o imperador. Dom Pedro foi convencido a aceitar que, no tratado pelo qual Portugal reconhecia a nossa Independência, ao contrário de todos os documentos do ano de 1822 que a davam como uma conquista dos brasileiros, constasse que esta nos fora concedida por dom João VI. Este era também reconhecido como imperador do Brasil que abdicava de seus direitos ao trono em favor do filho e ao qual ainda tivemos de pagar vultosa indenização. O patente interesse de dom Pedro em conservar seus direitos à sucessão do trono de Portugal, que essa fórmula do tratado revelava, apontava no sentido de uma posterior reunificação dos dois reinos.

Um príncipe que se declarara constitucional, que desde o Fico (9 de janeiro de 1821) vinha sendo aclamado até pelos setores mais liberais, que rompera com Lisboa e convocara eleições para uma Assembleia Constituinte, tão amado que recebera da Câmara o título de Defensor Perpétuo do Brasil, fora pouco a pouco se convertendo num tirano. Primeiro, ao dissolver a Assembleia Constituinte, depois, pela forma violenta com que reprimiu a Confederação do Equador e, finalmente, pela assinatura do vergonhoso tratado.

É nesse contexto que a escolha do 7 de setembro como data da Independência ganha sentido. Segundo Lourdes Lyra, até então tinham sido consideradas as seguintes datas decisivas para o processo: o 9 de janeiro, dia do Fico; o 3 de maio, dia da inauguração da Assembleia Constituinte Brasileira; e o 12 de outubro, dia da Aclamação. Foi o esforço concentrado do Senado da Câmara (atual Câmara Municipal) do Rio de Janeiro, durante o mês de setembro de 1822, enviando mensagem à Câmaras das principais vilas do Brasil - num tempo em que eram as vilas e cidades as instâncias decisivas da política portuguesa -, que fez com que, na fórmula consagrada, constasse que dom Pedro fora feito imperador pela "unânime aclamação dos povos". Foi o apoio das Câmaras e de setores da elite e do povo do Rio de Janeiro, de São Paulo e de Minas Gerais que deu forças ao príncipe para se contrapor às decisões de Lisboa.

Segundo bem demonstra Lourdes Lyra, a opção pelo 7 de setembro casava bem com a ideia de que a Independência fora obra exclusiva de dom Pedro e essa data foi estrategicamente escolhida para a assinatura do tratado de 1825. Foi a partir de então que começaram a surgir referências mais entusiásticas ao 7 de setembro no Diário Fluminense, que fazia as vezes de órgão oficial do governo, e, em 1826, esse dia foi incluído entre as datas festivas do Império. Essa obra in progress foi reforçada ainda naquele ano pela publicação do famoso relato do padre Belchior, a primeira descrição minuciosa dos fatos que se verificaram às margens do Ipiranga por uma testemunha ocular da História. Ao lado deste, dois outros relatos publicados bem mais tarde por membros do grupo que acompanhou dom Pedro a São Paulo passariam a ser a fonte privilegiada para o estudo da data.

O coroamento da obra se deveria ao Visconde de Cairu, intelectual respeitado que se conservou sempre aos pés do trono. Em sua História do Brasil, publicada em partes entre 1827 e 1830, Cairu afirma que a Independência do Brasil foi "obra espontânea e única" de dom Pedro, que a tinha proclamado "estando fora da Corte, sem ministros e conselheiros de Estado, sem solicitação e moral força de requerimento dos povos". Estava entronizado o mito do herói salvador, e postos na sombra os outros protagonistas, como José Bonifácio, Gonçalves Ledo e os membros de todas as Câmaras que impulsionaram e sustentaram o príncipe em suas decisões. Sem esse poderoso elenco de coadjuvantes, ao contrário do que afirma Cairu, não teria ocorrido a Independência.

É interessante como símbolos forjados a partir de circunstâncias fortuitas se podem transformar com o tempo. Prova de que na memorabilia pátria menos que os fatos importam o peso que a tradição lhes imprimiu. Foi assim, durante todo o Império com a Constituição de 1824. O gesto de sua criação - ela foi outorgada, e não resultou da deliberação de uma Assembleia - não impediu que ela fosse respeitada e sacramentada até muito depois da deposição de dom Pedro I. O mesmo se deu com o 7 de setembro. A data impôs-se sobre as demais, hoje esquecidas, e continuou a ser festejada com o mesmo entusiasmo depois da abdicação, em 7 de abril de 1831, e bem depois de proclamada a República.


Cientista Política pelo IUPERJ, é historiadora da Casa de Rui Barbosa no Rio de Janeiro

Carta do PSDB

País está estarrecido com tentativa do PT de se desvencilhar das responsabilidades sobre o vazamento de dados fiscais sigilosos

Brasília – O país assistiu estarrecido esta tarde a uma nova tentativa por parte da direção nacional do PT de tentar se desvencilhar das responsabilidades e das explicações que o partido deve aos brasileiros. Não apenas aqueles que tiveram sua vida e privacidade violadas, mas a todo conjunto da sociedade que exige a apuração e punição das ações criminosas praticadas contra a filha do candidato José Serra e três integrantes do PSDB.

A nova tentativa de desviar a atenção da imprensa e da opinião pública reforça a percepção que todos temos de que as ações criminosas ocorridas no âmbito da Receita Federal têm claras motivações políticas.

A tentativa de tratar como fatos isolados os recentes episódios que causaram indignação ao país tem como objetivo evitar que a sociedade brasileira perceba o alcance das mesmas. É de suma importância para o Brasil que recapitulemos o conjunto de fatos conhecidos.

As mãos que violaram os dados fiscais de Verônica Serra, Eduardo Jorge, vice-presidente do PSDB, Ricardo Sérgio Oliveira, ex-diretor do Banco do Brasil, do ex-ministro Luiz Carlos Mendonça de Barros e do empresário Gregório Marim, são as mesmas que violaram o sigilo bancário de Francenildo Costa, que produziram dossiês contra a ex-primeira dama Ruth Cardoso e apagaram imagens gravadas por câmeras de segurança do governo.

São as mesmas mãos flagradas carregando uma mala com R$ 1,7 milhão destinados a compra de dossiê montado, à época, contra o candidato a governador José Serra. São as mesmas mãos que alugaram casa de endereço conhecido em Brasília e, contrataram pessoas de nomes já divulgados, para abrigar “um serviço de inteligência” criado para montagem de novos dossiês.

Os novos fatos apontam para a existência de um verdadeiro esquema de vazamento e manipulação de dados sigilosos envolvendo a agência da Receita de Mauá, na região do ABC de São Paulo, berço histórico do PT.

Ou seja, todos os fatos que vieram a público indicam que a violência praticada contra a filha de Serra e integrantes do PSDB são parte de uma mesma ação criminosa arquitetada para atender interesses políticos do PT.

O PSDB espera dos órgãos oficiais responsáveis uma investigação rigorosa e conclusiva. Que sejam ouvidos todos os técnicos da Receita Federal e também os técnicos responsáveis pelo sistema de câmeras de segurança do governo. Que seja trazido a público o resultado das investigações sobre a ação dos chamados aloprados na campanha de 2006 em São Paulo.

O Brasil não deve aceitar mais explicações rasteiras e fantasiosas. Atos criminosos que estarrecem a nação e atentam contra a democracia, e que devem ser banidos por completo da vida política brasileira.

Senador Sérgio Guerra
Presidente Nacional do PSDB
Brasília, 06 de setembro de 2010

‘Lula debochou de coisa séria’, diz Serra sobre quebra de sigilos em sabatina no ‘Estado’

DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

José Orenstein

Em sabatina no Grupo Estado na manhã de hoje, o candidato do PSDB à Presidência da República pelo PSDB, José Serra, reclamou da postura da Receita Federal e do governo na apuração da quebra do sigilo fiscal de familiares e políticos próximos a ele. Em crítica direta ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que, no fim de semana, indagou se haveria, de fato, o vazamento de informações sigilosas de tucanos, Serra disse que “Lula debochou de coisa séria”.

Apesar de o PSDB atuar na Justiça para trazer o tema das quebra de sigilos à campanha, Serra negou influência significativa do assunto na corrida eleitoral.

O tucano respondeu a jornalistas e internautas e foi contundente nas críticas a vários aspectos do governo Lula, como a economia e a política externa. Pressionado a assumir um discurso mais oposicionista, Serra também não poupou o PT. Disse que o partido apenas “posa de esquerda” e que “bota para fazer política externa gente com poucos neurônios”. O candidato do PSDB reclamou da aproximação do Brasil com o Irã, que classifica como regime que promove o “fascismo do século 21″.

Serra voltou a defender a criação de um Ministério da Segurança e cutucou a campanha de Dilma e do PT, que, segundo o tucano, copiam suas ideias e criam boatos contra sua candidatura. Ao comentar a situação econômica do País, o candidato do PSDB disse que ”nós estamos em franco, aberto, e só não declarado, processo de desindustrialização”, e criticou a dependência das commodities.

O blog Radar Político acompanhou ao vivo os melhores lances da sabatina. Veja como foi:

12h29 – Nas suas considerações finais, José Serra diz que o Brasil tem um momento de oportunidades que podem ou não ser aproveitadas, a depender das decisões tomadas na primeira metade do mandato do presidente. Serra diz ser a favor de que todos se associem livremente, inclusive o MST, mas diz ser contra o subsídio do governo a organizações. Serra enumera o pré-sal e o “bônus demográfico”, a menor taxa de natalidade, como vantagens que permitirão o investimento maior do País no desenvolvimento. “Eu tinha um governo muito bem avaliado em São Paulo e me reelegeria com tranquilidade provavelmente. Mas me candidatei por dois motivos, primeiro porque estava tranquilo que teria uma sucessão aqui no Estado. Segundo, porque queria me dedicar a melhorar o Brasil”. Comentando sua trajetória, afirma: “Eu dediquei minha vida ao Brasil e vou continuar a trabalhar para isso”.

12h27 – Serra critica a sucessão proposta por Lula ao indicar Dilma. Ele lembra casos de continuação que não tiveram sucesso, como Maluf e Pitta, Quércia e Fleury, por exemplo. “Isso não existe”, declara o tucano sobre uma continuação de Lula com Dilma.

12h24 – O tucano comenta a odisseia de campanha por que tem passado. “Tenho tido uma disposição como nunca tive na minha vida. Não fossem os outros essa campanha seria uma maravilha”, brinca José Serra.

12h21 – Serra evita falar do estado de saúde de Dilma Rousseff. “Mas eu posso falar da minha saúde, que, tirando o mal humor de manhã, é perfeita”, diz o candidato, para risos da plateia.

12h17 – “A razão para votar na Dilma é o Lula, não tem outra. A razão para votar em mim é a competência, a experiência”, afirma o tucano, que se diz se amparar nas pesquisas qualitativas internas promovidas pelo seu partido. Segundo o candidato do PSDB, a situação eleitoral indica que “as pessoas querem o Lula, mas precisam do Serra”. Ainda sobre as qualitativas, Serra diz que em Minas Gerais a maioria das pessoas não sabem que Anastasia e Aécio Neves o apóiam na campanha à Presidência, o que segundo Serra é uma falha, mas também um potencial.

12h14 – José Serra admite ter faltado material de campanha para distribuição a aliados nos Estados do Brasil. “Faltou dinheiro”, afirmou o candidato tucano, que disse que o que se gasta na campanha de Dilma é muito mais do que já se gastou historicamente nas campanhas no País.

12h09 – Sobre a reforma da Previdência, Serra lembra atuação na época da Consituinte, quando defendia uma correção para aqueles “que ainda iam nascer”. Ele defende a criação de um grande fundo previdenciário com recursos do pré-sal para regular a situação das aposentadorias, que segundo Serra “vai ser copiada daqui a duas semanas pelo outro lado”.

12h06 – “A carga tributária é muito mais escorchante do que parece”, diz Serra. Ele afirma que o principal problema é a sonegação e a informalidade. “Aquele que não sonega paga uma barbaridade”, comenta o candidato tucano. “No Brasil a carga tributária aumenta na recessão e na expansão. Isso não dá”, comenta Serra.

12h03 – Comentando a reforma tributária, Serra mantém a mesma linha, contrária à Consituinte. Ele ressalta a necessidade de concentrar esforços em objetivos específicos, um de cada vez.

11h59 – Questionado sobre a reforma política, Serra defende a criação do voto distrital puro em municípios com mais de 200 mil habitantes. “Você inocula no País um vírus benigno de uma outra forma de fazer política”. Serra defende também a limitação da propaganda eleitoral à fórmula “candidato e câmara”. O tucano diz ser contrário à formação de uma Constituinte exclusiva para a reforma política.

11h56 – “Dentro das circunstâncias, o programa é bom. Se você soubesse o que irira acontecer em uma semana, essa quebra de sigilo, teríamos preparado outra coisa”, afirma Serra ao comentar a sua criticada inserção televisiva em que aparecia uma “favela cenográfica”. “Isso é truque petista. Quer coisa mais fantasiosa que o programa Dilma?”, questiona Serra.

11h53 – Questionado por internauta se é favorável à abertura de cassinos para financiar a Saúde, Serra se diz terminantemente contra, lembrando sua atuação no Senado para barrar a medida. “É um keynesianismo primitivo”, comenta o candidato tucano.

11h50 – Serra justifica a oposição “soft” do PSDB ao governo Lula amaprando-se numa postura “cavalheira” de seu partido. O candidato tucano cita Fernando Henrique Cardoso e a transição de poder que operou de forma imparcial, segundo Serra. Perguntado sobre sua avaliação diante da postura do PSDB como oposição, Serra diz que essa avaliação cabe aos analistas políticos e historiadores do futuro.

11h46 – “Eu acredito na razão. Acho que isso saiu de moda”, diz Serra. Ele afirma ainda que o Banco Central não tem autonomia. O tucano ressalta a importância e a necessidade de uma política comum entre Banco Central e Fazenda, como, segundo Serra, ocorre no Chile.

11h43 – Ainda na crítica ao PT, Serra cutuca: “Tucano é inepto para espalhar fofoca, pode acreditar. Petista já nasce com isso no DNA”.

11h40 – “Qualquer coisa que eu diga eles mandam email para botar medo em todas as áreas”, afirma Serra. O tucano reclama de boatos que se atribuem a ele, como o de que acabaria com os concursos. “O PT se organiza e espalha. É um coisa surrealista”, se queixa José Serra, que em seguida comenta boato sobre sua vontade de acabar com Prouni. “Isso é uma coisa organizada, uma central para espalhar esses boatos”.

11h35 – Serra lembra o período em que viveu no Chile e a polarização sob o governo Allendo quando ele era professor de economia. “A faculdade foi dividida entre marxistas e ortodoxos, e eu fui escolhido pelos dois lados”, diz o candidato para ilustrar sua posição no tratamento da política externa e da inserção econômica do Brasil no mundo.

11h30 – “O governo Lula é forte no índice de popularidade do presidente, mas é fraco no Congresso”, diz o candidato tucano à Presidência. Serra nega ter que lotear cargos uma vez no poder e diz que “conhece muito bem o Congresso”. O tucano comenta ter conversado com um ex-presidente “se um dia teria medo do Congresso”, assim com o o presidente, de quem não citou o nome, tinha.

11h27 – “Tem muita figuração, boa parte é pirotecnia, para permitir que o pessoal que se diz de esquerda ficar mais confortável de trabalhar num governo como esse. Eu disse em 2003: O PT é o bolchevismo sem utopia. Um partido que persegue fins sem ligar para o meios, que subsitui a ética individual pela ética do partido. E no entanto não tem utopia da igualdade. Isso daí o PT nunca teve, desde o seu nascimento”, afirma Serra comentando a política externa.

11h21 – Serra cita sua relação com o atual presidente colombiano e diz que a Colômbia tem combatido e reduzido a produção de coca. “Eles entraram firme nisso. A Bolívia mais do que dobrou a produção de coca. E ela vem para o Brasil”, afirma o candidato. “Por que não usar a força do Brasil para pressionar diplomaticamente a Bolívia a combater a exportação da coca para o País? Porque você está misturando política externa e política partidária. O PT posa de esquerda. Eles não tem nada de esquerda. Fazem apenas o ’saludo a la bandera’”, critica Serra. “Eles botam para fazer política externa gente com poucos neurônios”. Ainda na questão da política externa critica duramente a relação do Brasil com Irã, que vive regime classificado por Serra como “fascismo do século XXI”.

11h15 – “Drogas e armas estão soltas, e o Brasil põe a mão no bolso e sai assoviando”, afirma Serra. Ele defende a criação de um Ministério da Segurança para controlar o tráfico e a violência. “Tem tanto ministério aí para nada. O mais importante não tem”. O tucano diz ainda que é preciso por um especialista na área de Segurança à frente da pasta que seria criada numa sua eventual gestão. “Eu falei logo no começo do Ministério da Segurança porque eu sabia que eles iriam copiar”, afirma Serra em crítica à candidatura de Dilma. O candidato do PSDB defende também a unificação de dados e medidas de combate ao crime, “que não tem fronteiras. Tem que ter uma ação federal”.

11h12 – “Nós estamos em franco, aberto, e só não declarado, processo de desindustrialização”, critica Serra. Ele ataca a gestão macroenômica do governo do PT, a quem acusa não ter uma visão de planejamento e desenvolvimento do Brasil. O candidato do PSDB reclama do fato da economia do País estar baseada na exportação de commodities.

11h08 – “Eu não faria empréstimos do BNDES para fusões [de empresas]. Numa crise tudo bem, porque evita uma crise bancária. Agora, em condições normais de temperatura e pressão não faz sentido dar empréstimo subsidiado para fusões”, afirma o tucano.

11h05 – Serra lembra, como tem feito ao longo da campanha, sua iniciativa na constituição do Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT), uma medida anticíclica que ao repassar 40% , segundo o candidato, “alavancou o BNDES e alavancou o recurso industrial no Brasil”.

11h03 – “Dá para esfregar as mãos”, diz Serra, que afirma haver muito espaço para corte de gastos do governo, eliminando cabides de emprego, reduzindo custos.

11h00 – Ainda falando sobre economia, Serra comenta: “Vivemos num tripé perverso: a carga tributária mais alta do mundo em desenvolvimento; a maior taxa de juro real do mundo e a maior taxa de investimento estatal do mundo”.

10h58 – “Criou-se um mito de que o Brasil surfou na crise. Isso não é veredade, quem surfou foram países como a China, a Índia, que têm projeto de nação”, diz Serra. Ele em seguida faz críticas a Dilma, que “parece não ter estudado economia”, segundo o candidato.

10h57 – Serra insiste na comparação com Dilma. “A escolha vai ficar entre alguém conhecido e testado e um envelope fechado”, declara.

10h54 – “Eu represento a certeza. Todos me conehcem, a minha vida é pública de verdade. A Dilma é a dúvida”, declara o candidato do PSDB à Presidência. “O próximo governo vai ter um desafio imenso – não vai ter a duplicação dos preços de exportação”, comenta Serra, que em seguida diz ter havido retrocesso na Segurança, Saúde e Educação.

10h52 – “O PT soltou que era para ganhar no tapete e muita gente engoliu isso”, afirma Serra ao comentar as ações do PSDB na Justiça para questionar a quebra do sigilos e a candidatura de Dilma Rousseff.

10h48 – Serra afirma que Lula fez deboche de uma situação séria, ao comentar o caso da quebra de sigilos. Atacando a candidata do PT, o tucano afirma: “Esse caso da Dilma é original. Ela sequer debate os temas do partido. Há um ocultamento biográfico”.

10h47 – O candidato do PSDB nega ter poupado Pallocci, que é seu amigo pessoal, ao demorar para lembrar o caso de quebra de sigilo bancário de Francenildo.

10h44 – Serra lembra ter falado com Lula sobre sua preocupação “com ataques sistemáticos a minha filha” em blogs “semioficiais” de apoio ao PT. O candidato do PSDB ataca “blogs sujos que recebem apoio de uma forma ou de outra do governo”. “Eu nem reclamei nem pedi nada [ao Lula], apenas informei”, diz Serra.

10h42 – “A Receita tem feito uma operação abafa. Tem procurado atrapalhar a investigação. A Receita termina sendo cúmplice disso que é uma sindicalização de um órgão de Estado”, afirma Serra ainda sobre o caso de violação de sigilos.

10h40 – O candidato abriu mão de seus cinco minutos iniciais de apresentação e responde questão da jornalista Julia Duailibi sobre a violação de sigilos pela Receita. “O que houve foi um crime”, comenta. Lembrando o caso dos aloprados de 2006, Serra diz que o episódio não deve allterar o processo eleitoral. “O PT no fundo da alma, e até na superfície, não é democrático”.

10h38 – Tem início a sabatina com o candidato José Serra, que será mediada por Roberto Godoy.

10h25 – Serra chegou à sede do Grupo Estado. A sabatina começa daqui a pouco

10h17 – O candidato José Serra está atrasado para o início da sabatina e ainda não chegou. O rabino Henry Sobel está presente na plateia.

10h05 – A sabatina deve começar em poucos minutos. O prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab, do DEM, está na sede do Estado para acompanhar a entrevista de Serra.

FHC: “Eu mudei o Brasil e este legado não está aparecendo”

Entrevista de FHC à revista ISTOÉ

ISTOÉ – O sr. está satisfeito com a campanha do PSDB?

FHC – Qualquer coisa que eu diga agora vai ser tomada como crítica à campanha. É uma posição muito incômoda para mim. Fui presidente por oito anos e não me cabe ficar estilhaçando os outros na campanha. Cada um faz o seu. Só depois dos resultados efetivos é que a gente pode dizer o que foi certo e o que foi errado. Hoje se tem a visão do marquetismo. E acho que uma sociedade como a nossa já está um pouco cansada de marquetismo. Vivemos uma época de marquetismo exagerado e é preciso voltar ao nervo político. É importante se tentar algo diferente.

ISTOÉ – O quê, por exemplo?

FHC – O que é política? É você ter convicções e tentar fazer com que os outros tenham as mesmas que você. Veja o que aconteceu no caso do Obama. Quem tinha os recursos, a máquina toda, era a Hillary, mas ele sintonizou com o país em dado momento. O Lula também está sintonizado neste momento.

ISTOÉ – E o que Serra pode fazer para sintonizar com o País?

FHC – A campanha de Serra não está sintonizada com o País, mas ele tem condições de mudar isto. É uma coisa muito pessoal, mas eu acho que o ator conta muito. Passa muito pela pessoa, pelo ator. Esta semana ele apareceu em tevê nacional (no “Jornal da Globo”) e falou com as pessoas. Se eu fosse o Serra só faria aquilo, não ficaria esperando debates. Qualquer campanha tem que ser de conversa com o País. Eu sempre conversei, o Lula também, cada um do seu jeito. Serra é um homem inteligente, preparado. Ele sabe se expressar de maneira direta, mas não está conseguindo fazer isso.

ISTOÉ – Serra não está se comunicando com o povo?

FHC – Mas eu não quero colocar toda a responsabilidade nele. É de todo mundo. É preciso mais tenacidade, motivação. Serra é professor, sabe falar de maneira clara. Há mil modos de se comunicar com o povo.

ISTOÉ – Qual é a receita?

FHC – Não há, mas nesse tipo de situação, a meu ver, você tem que convencer, ser espontâneo, fazer graça e ser contundente também. Tem que misturar tudo isto e mostrar que tem garra.

ISTOÉ – A marquetagem está atrapalhando?

FHC – Atrapalha. O povo não te pega. Por exemplo, eles fizeram o Lula ficar calado um ano, no início do governo, para não dizer bobagem. Quando o Lula começou a falar, ele ganhou. Estamos fazendo campanhas engessadas, porque a maior preocupação no campo de batalha é a couraça. Se você conseguir quebrar isso, muda o jogo.

ISTOÉ – O sr. já falou isto para o Serra?

FHC – Lógico que já falei. Falo com ele por e-mail principalmente. Eu acho que ele concorda. O problema é que, quando você está em campanha, é muita sugestão, muita pressão, muita responsabilidade. Você não tem liberdade. Agora, é possível mudar. Não há uma onda petista. Há uma onda lulista. Em governo de Estado o PT não está crescendo em nenhum lugar. Acho que nesse momento entra a vontade. Ou você entra com vontade ou não faz nada. Você tem que ter decisão, vontade de lutar.

ISTOÉ – O sr. está magoado por não ser citado na campanha de seu partido?

FHC – Quando deixei o governo eu disse que não ia mais fazer política partidária. A decisão foi minha. Não tem cabimento eu ficar me acotovelando no meu partido com outros políticos. Eu não sou caudilho, não sou personalista e nunca aceitei esse tipo de papel. A razão de eu não estar mais na campanha é que eu não quero. Se quisesse, tinha batido na mesa.

ISTOÉ – Não o incomoda ver o candidato José Serra usar a imagem de Lula em vez da sua na campanha?

FHC – Pessoalmente não, mas precisa ver politicamente o que isso significa.

ISTOÉ – O sr. está satisfeito com a forma com que seu legado tem sido tratado nesta eleição?

FHC – Eu sei o que fiz e posso dizer com orgulho: eu mudei o Brasil. Este legado não está aparecendo, mas vai aparecer. Legado pertence à história. É angustiante o problema do político que tem visão de Estado, porque o julgamento que interessa ele não vai ver. Olha o jeito como Getúlio e Juscelino saíram do governo e a maneira com que foram julgados depois. Quem faz campanha está pensando no hoje e o julgamento que me interessa não é este, é o da história.

ISTOÉ – Lula não acaba se aproveitando deste legado, ao contrário do que faz o PSDB?

FHC – Eu acho que presidentes devem pôr limites, sair das campanhas. Tenho uma visão diferente da do Lula, que não quer sair da campanha. O que o Lula está fazendo nunca se viu em nenhum lugar. O presidente virar guerrilheiro? Isso não pode, porque junto ele traz o círculo de poder. É abuso de poder político. Eu tenho uma visão mais republicana.

ISTOÉ – O sr. está pessimista com o Brasil?

FHC – Acho que economicamente o Brasil tem motores muito poderosos. O Brasil engatou com o mundo e isso começa de longe. A primeira dívida real que temos nesse ponto é com o Collor. Depois nós reorganizamos o Estado brasileiro. E ainda dizem que eu sou neoliberal… Isso me chateia.

ISTOÉ – E qual a parcela do governo Lula?

FHC – Depois que estabilizamos a moeda ele pôde acelerar as políticas sociais, que são as mesmas do nosso governo. Uma das virtudes do governo Lula é que ele se dirigiu muito mais ao povo e o povo sentiu mais a política.

A política do deboche – Editorial / O Estado de S. Paulo

Quanto mais se acumulam as evidências de que o PT é o mentor do crime continuado da devassa na Receita Federal, de dados sigilosos de aliados e familiares do candidato presidencial do PSDB, José Serra, tanto mais o presidente Lula apela para o escárnio. É assim, desenvolto diante da exposição das novas baixezas de sua gente, que ele procura desqualificar as denúncias de que as violações tinham a única serventia de reunir material que pudesse ser utilizado contra os adversários da candidata governista, Dilma Rousseff.

Do mensalão para cá, essa atitude só se acentuou. No escândalo da compra de votos no Congresso Nacional, em 2005, ele ficou batendo na tecla de que não sabia de nada e que, de mais a mais, o que a companheirada tinha aprontado - diluído na versão de que tudo se resumia a um caso de montagem de caixa 2 - era o que se fazia comumente na política brasileira. Depois, propagou e mandou propagar a confortável teoria de que as acusações eram parte de uma "conspiração das elites" para apeá-lo do poder. Mas não chegou a zombar acintosamente das revelações que iriam ficar gravadas na história de seu partido.

Já no ano seguinte, quando a polícia detonou a tentativa de um grupo de petistas, entre eles o churrasqueiro preferido de Lula, de comprar um falso dossiê contra o mesmo José Serra, então candidato a governador de São Paulo, o presidente incorporou ao léxico político nacional o termo "aloprados" com que, para mascarar a gravidade do episódio, se referiu aos participantes da torpeza. Agora, enquanto escondia a sua escolhida - acusada pelo tucano como responsável, em última instância, pela fabricação de novo dossiê com os documentos subtraídos do Fisco -, o presidente se abandonou ao cinismo.

No fim da semana, em um comício em Guarulhos, na Grande São Paulo, a que Dilma não compareceu, ele acusou Serra de transformar a família em vítima. Ou seja, o que vitimou a filha do candidato não foi a comprovada captura de suas declarações de renda por um personagem do submundo - cuja filiação ao PT só não se consumou por um erro de grafia de seu nome -, mas o "baixo nível" da campanha do pai, que tratou do escândalo no horário de propaganda eleitoral. E ele o teria feito porque "o bicho está em uma raiva só" diante dos resultados desfavoráveis das pesquisas eleitorais. "É próprio de quem não sabe nadar e se debate até morrer afogado", desdenhou.

O auge da avacalhação - para usar uma palavra decerto ao gosto do palanqueiro Lula - foi ele perguntar retoricamente: "Cadê esse tal de sigilo que não apareceu até agora? Cadê os vazamentos?" Se é da filha de Serra que ele falava, o sigilo vazou para os diversos blogs lulistas que publicaram informações a seu respeito que só poderiam ter sido obtidas a partir do acesso ilícito aos seus dados fiscais. E o presidente sabe disso desde janeiro, quando o ainda governador Serra o alertou para a "armação" contra seus familiares na internet. Confrontado com o fato, Lula disse, sem ruborizar-se, ter coisas mais sérias para cuidar do que das "dores de cotovelo do Serra".

Se, no comício, a sua pergunta farsesca tratava das outras pessoas ligadas ao candidato, como, em especial, o vice-presidente do PSDB, Eduardo Jorge Caldas Pereira, o sigilo vazou para membros do chamado "grupo de inteligência" da candidatura Dilma. No caso de Eduardo Jorge, aliás, a invasão não se limitou à delegacia da Receita em Mauá, no ABC paulista, a primeira cena identificada do crime. Na última quinta-feira, o Estado revelou que um analista tributário lotado na cidade mineira de Formiga, Gilberto Souza Amarante, acessou dez vezes em um mesmo dia os dados cadastrais do tucano. O funcionário é petista de carteirinha desde 2001.

Ninguém mais do que Lula, com o seu imitigado deboche, há de ter contribuído tanto para a "maria-mole moral" em que o País atolou, na apropriada expressão do jurista Carlos Ari Sundfeld, em entrevista no Estado de domingo. Nem a bonança econômica nem os avanços sociais podem obscurecer o perverso legado do lulismo. Por minar os fundamentos das instituições democráticas, essa é hoje a mais desafiadora questão política nacional.


TRE desmente PT e diz que contador não foi desfiliado

DEU EM O GLOBO

Serpro confirma que dados de filha de Serra foram abertos mais de uma vez

A Justiça Eleitoral de São Paulo desmentiu o pT e informou que o suposto contador Antônio Carlos Atella Ferreira - que usou uma procuração falsa em nome de Verônica Serra para obter ilegalmente seus dados fiacais na Receita Federal - ainda é formalmente filiado ao partido.

TRE desmente PT

Contador que usou procuração falsa sobre filha de Serra continua filiado ao partido

Germano Oliveira e Adauri Antunes Barbosa

Osuposto contador Antonio Carlos Atella Ferreira - que usou uma procuração falsa em nome de Verônica Serra para obter ilegalmente seus dados fiscais na Receita Federal - ainda é formalmente filiado ao PT, ao contrário do que informou o partido no sábado. Ontem, a Justiça Eleitoral desmentiu a versão do PT, de que ele nunca chegou a ter sua filiação concretizada por um erro de digitação de seu nome. O Cartório Eleitoral onde o contador está registrado divulgou uma certidão garantindo que o partido ainda não o desfiliou.

Segundo certidão expedida ontem pelo cartório da 183ª Zona Eleitoral, de Ribeirão Pires (SP), o Diretório do PT de Mauá oficializou à Justiça Eleitoral, em 20 de outubro de 2003, a filiação de Atella. Em 10 de janeiro de 2006, Atella mudou o domicílio eleitoral de Mauá para Ribeirão Pires, cidade vizinha, que faz parte do ABC paulista. A mudança de diretório não foi comunicada. Como Atella passou a votar em Ribeirão Pires, o Tribunal Regional Eleitoral (TRE) verificou, em 21 de novembro de 2009, que havia divergências de informações em relação ao domicílio eleitoral e excluiu o nome de Atella como eleitor filiado - o que não significa que ele tenha deixado de ser filiado ao PT.

Desfiliação não foi comunicada ao TRE

Na certidão emitida ontem pela Justiça Eleitoral está a confirmação de que Atella continua filiado ao PT. "Certifico que não há pedido de desfiliação do eleitor acima mencionado nos arquivos da Justiça Eleitoral", diz o documento assinado por Fabiana Gonzalez Mendes, chefe do cartório da 183ª Zona Eleitoral de Ribeirão Pires, onde Atella é eleitor regular.

Segundo a assessoria de imprensa do TRE de São Paulo, o PT nunca informou à Justiça Eleitoral que Atella estava desfiliado. A desfiliação precisaria ser comunicada ao TRE, informou a assessoria. O nome do suposto contador, de acordo com o tribunal, só foi excluído por divergências em seu domicílio eleitoral, e não porque o PT o tenha desfiliado.

Assim, em 29 de setembro de 2009, quando Atella foi à Receita Federal em Mauá para obter dados fiscais de Verônica - filha do candidato tucano à Presidência, José Serra - com uma procuração falsa, ela ainda era filiado ao PT.

O PT de Mauá informou que Atella não era militante ativo. Em nota divulgada sábado, disse que Atella chegou a apresentar proposta de filiação com o nome de Antonio Carlos Atelka Ferreira. Por essa versão, devido ao erro de digitação (Atelka no lugar de Atella), o contador não teve seu pedido de filiação efetivado. Mas o TRE negou que o contador tenha se filiado com o nome de Atelka.

Em nota divulgada ontem à noite, o secretário nacional de Organização do PT, Paulo Frateschi, afirma que a certidão da 183ª Zona Eleitoral de Ribeirão Pires "não contradiz a informação central" do partido sobre o registro de Atella e insistiu na versão apresentada no fim de semana: "Reafirmamos que o nome do senhor Antonio Carlos Atella Ferreira consta no cadastro do partido incorretamente grafado como Antonio Carlos Altelka Ferreira, conforme divulgado pelo PT-SP", diz a nota.

Para o PT nacional, o "esclarecimento" do TRE não contradiz a informação dada anteriormente. "Ao contrário, corrobora nossa afirmação, de que ele nunca procurou o partido para regularizar sua situação, bem como não participou de qualquer órgão de direção partidária nem de qualquer evento, seminário, reunião ou atividade promovida pelo diretório, não tendo nunca cumprido quaisquer obrigações estatutárias."

Servidora é filiada ao PMDB desde 81

Apesar de referendar a versão da seção paulista do partido, o presidente nacional do PT, José Eduardo Dutra, afirmou ontem que petistas que venham a ser culpados de irregularidades no escândalo da quebra de sigilo serão punidos:

- Não há nenhuma participação institucional do partido ou da campanha nos vazamentos. Eles (filiados envolvidos) deverão responder na Justiça e ao partido pelos atos que cometeram.

O TRE paulista informou ontem que outra funcionária da Receita de Mauá, Ana Maria Rodrigues Caroto Cano, que em 2009 acessou dados do vice-presidente do PSDB, Eduardo Jorge, de mais três tucanos e dezenas de outros é filiada ao PMDB desde 9 de setembro de 1981.

Ana Maria estava na Receita de Mauá cedida pelo Serpro, assim como Adeildda Ferreira Leão dos Santos. Ana Maria e e Adeildda usaram a senha de Antonia Aparecida Rodrigues dos Santos Neves Silva, que chefiava o escritório da Receita em Mauá, para obter os dados dos tucanos de forma "imotivada", já que eles não têm domicílio na cidade.

De 4 de agosto a 16 de novembro de 2009, as funcionárias acessaram dezenas de nomes de pessoas ligadas ao PSDB e também de empresários, como Samuel Klein, das Casas Bahia, e Ana Maria Braga, da TV Globo.

O TRE informou que as outras três funcionárias da Receita envolvidas na quebra do sigilo, Antonia Aparecida, Adeildda e e Lucia de Fátima Gonçalves Milan (que liberou os dados de Verônica com o uso da procuração falsa), não têm filiação partidária.

Colaborou Gerson Camarotti

'Não me lembro da filiação'

DEU EM O GLOBO

Atella diz ter ido a Mauá pois serviço é mais rápido

MAUÁ (SP). O suposto contador Antonio Carlos Atella Ferreira disse ontem que usou a Receita de Mauá para obter os dados de Verônica Serra porque lá os serviços ficam prontos "no mesmo dia ou no dia seguinte". Atella disse que trabalha em outra região, no Centro de São Paulo, mas que, pelo serviço rápido, buscou o atendimento de Mauá.

- No Centro de São Paulo, o serviço seria entregue após muitos dias. Em Mauá, o atendimento é rápido. Agora, você tem de perguntar à Receita por que ela funciona diferente em cada lugar - disse, afirmando que fornecer declaração é procedimento geral na Receita no ABC.

Ele disse não se lembrar de como se filiou ao PT:

- Não me lembro da filiação. Deve ter sido nesses shows do partido, em que as moças pedem para a gente se filiar. Ou foi algo do tipo. Não gosto do PT. Meu irmão era metalúrgico no ABC, sempre ajudou Lula e Vicentinho. Quando perdeu o emprego, essas pessoas que hoje você chama de Excelência viraram as costas a ele. Meu irmão teve de ir para o Canadá, trabalhar com faxina, embora fosse ferramenteiro.

PSDB afirma que explicações são 'rasteiras e fantasiosas'

DEU EM O GLOBO

Carta critica versão do PT de que dossiê pode ter outra origem

BRASÍLIA. O PSDB divulgou ontem uma carta aberta em que critica a versão dada pelo PT de que pode haver uma outra origem na elaboração do dossiê com a violação de sigilos fiscais de tucanos. O presidente nacional do PT, José Eduardo Dutra, pediu à Polícia Federal para investigar a participação do jornalista Amaury Ribeiro Junior no vazamento de informações sigilosas de pessoas ligadas ao candidato do PSDB à Presidência, José Serra, incluindo sua filha, Verônica Serra.

Para o presidente do PSDB e coordenador da campanha de Serra, senador Sérgio Guerra (PE), o PT tenta se "desvencilhar das responsabilidades e das explicações que o partido deve aos brasileiros". Ele frisou que as explicações são "rasteiras e fantasiosas". Em nota, Guerra disse que a nova tentativa do PT de desviar a atenção da imprensa e da opinião pública "reforça a percepção" de que as "ações criminosas" ocorreram na Receita Federal e têm claras motivações políticas.

"Uma mesma ação criminosa para atender interesses do PT"

"As mãos que violaram os dados fiscais de Verônica Serra, Eduardo Jorge, vice-presidente do PSDB, Ricardo Sérgio Oliveira, ex-diretor do Banco do Brasil, do ex-ministro Luiz Carlos Mendonça de Barros e do empresário Gregório Marim são as mesmas que violaram o sigilo bancário de Francenildo Costa, que produziram dossiês contra a ex-primeira dama Ruth Cardoso e apagaram imagens gravadas por câmeras de segurança do governo", diz a nota do PSDB.

Para os tucanos, os novos fatos apontam para um esquema de vazamento que envolve a agência da Receita Federal em Mauá, na região do ABC de São Paulo, berço histórico do PT. O partido cobrou, mais uma vez, que o governo tome providências no caso do vazamento de dados sigilosos na Receita. Os fatos, segundo Sérgio Guerra, "são parte de uma mesma ação criminosa arquitetada para atender interesses políticos do PT".

"O Brasil não deve aceitar mais explicações rasteiras e fantasiosas. Atos criminosos que estarrecem a nação e atentam contra a democracia, e que devem ser banidos por completo da vida política brasileira", conclui a nota assinada pelo presidente do PSDB.

Eduardo Jorge cobra explicação da Receita

DEU EM O GLOBO

Tucano envia petição ao órgão cobrando autoria, motivação e circunstância dos 22 acessos a seus dados cadastrais

Roberto Maltchik

BRASÍLIA. O vice-presidente do PSDB, Eduardo Jorge Caldas Pereira, enviou ontem à Receita Federal petição na qual solicita explicações sobre autoria, motivação e circunstâncias do acesso a seus dados cadastrais por um servidor da Receita na cidade de Formiga (MG). A investigação da Corregedoria já apontou que o sistema CPF foi acessado pelo servidor Gilberto Amarante, filiado ao PT, em 3 de abril de 2009, seis meses antes da devassa nas informações fiscais de Eduardo Jorge e outros importantes aliados de José Serra.

O Serpro registrou 22 acessos ao sistema CPF, que aponta nome, data de nascimento, filiação, telefone e endereço dos contribuintes. Segundo os registros, os dados foram verificados até na Delegacia da Receita em Santo André, duas horas antes de a extração das informações da declaração de Renda de Eduardo.

De acordo com a advogada do tucano, Ana Luiza Rabello, outros pedidos de esclarecimento serão enviados à PF, Banco Central, Procuradoria da República e MP, onde os dados cadastrais de Eduardo foram acessados ao longo de 2009.

As informações foram coletadas em apuração especial do Serpro, que verificou todos os acessos aos dados fiscais e cadastrais do tucano.

Sobre as alegações da Receita sobre o episódio de Formiga, afirmando que não houve quebra de sigilo e apenas acesso aos dados cadastrais, a advogada diz que foi uma explicação vazia.

- Não explica nada. Afasta o crime de sigilo fiscal, mas não a ilegalidade de um servidor público que sai acessando as informações pessoais de um contribuinte. Queremos respostas mais claras - reclama a advogada.

A petição foi entregue à Corregedoria no fim da tarde, em Brasília, após ser rejeitada em São Paulo, onde a Receita alegou que os advogados chegaram após o expediente.

PT acusa jornalista que contratou

DEU EM O GLOBO

Dutra encaminhou à PF pedido para que se apure participação de Amaury Ribeiro Jr. no vazamento de dados de tucanos

Gerson Camarotti

BRASÍLIA. A cúpula do PT deu entrevista ontem para dizer que vai pedir à Polícia Federal que investigue suposta origem mineira do dossiê com a violação de sigilos fiscais de tucanos. Dentro dessa estratégia, o presidente do PT, José Eduardo Dutra, encaminhou petição à PF para que seja apurada a participação do jornalista Amaury Ribeiro Junior no vazamento de informações sigilosas de pessoas ligadas ao presidenciável do PSDB, José Serra. Amaury, porém, trabalhou até maio deste ano para o núcleo de inteligência da campanha da petista Dilma Rousseff.

Dutra afirmou que encaminhou a petição com base em três matérias jornalísticas das revistas "Época" e "Carta Capital" e do jornal "Folha de S.Paulo" que citam a apuração conduzida pelo repórter Amaury Ribeiro Júnior sobre supostas irregularidades nas privatizações no governo FH. Para Dutra, há paralelo entre a apuração jornalística e a quebra de sigilo de tucanos ligados a Serra.

O dirigente petista acrescentou que essa relação é que justifica o pedido para que a PF apure a ligação entre os dois episódios. Ele levantou a suspeita de que o jornalista poderia ser o elo entre os dois episódios.

Mas os petistas decidiram ter o controle desse material que estava sendo investigado por Amaury. Na ocasião, ele tinha acabado de sair do jornal "O Estado de Minas". O PT sempre negou que o partido tivesse conhecimento desse dossiê. Até o fim do ano passado, Amaury trabalhava para "O Estado de Minas". Em junho deste ano, a direção do jornal informou que, quando Amaury deixou "O Estado de Minas", essa investigação não estava concluída.

- Não estamos fazendo ilação de coisa nenhuma. Nós estamos apresentando matérias que apareceram na imprensa. O PT não desconfia de ninguém, mas queremos que se investigue. Queremos que as pessoas envolvidas sejam ouvidas para saber quais documentos foram obtidos, de que maneira e se há alguma relação com o suposto dossiê - disse Dutra.

Amaury virou pivô do escândalo do dossiê depois que participou, em abril, de reunião com arapongas para formar o núcleo de inteligência da campanha petista. Amaury tinha sido contratado pelo jornalista Luiz Lanzetta, dono da empresa responsável pela comunicação da pré-campanha petista. Desde o ano passado, Lanzetta trabalhava informalmente com o PT. Dilma ainda era a chefe da Casa Civil, mas já tinha sido formado um grupo de petistas para cuidar da campanha.

Como revelou O GLOBO em 1º de junho, Lanzetta foi parar na pré-campanha de Dilma pelas mãos do ex-prefeito de Belo Horizonte Fernando Pimentel. Os dois trabalharam na eleição do prefeito de Belo Horizonte, Márcio Lacerda, em 2008, que também teve o apoio do PSDB. Ainda integrou a equipe Benedito Oliveira Neto, da companhia de eventos Dialog. Este ano, Bené, como é conhecido, foi figura frequente na mansão do QI 5 do Lago Sul, onde estava instalado o bunker de comunicação e internet da campanha de Dilma.

O acerto feito com Amaury foi para a produção de um livro-dossiê com as investigações feitas por ele contra Serra, que seria divulgado durante a campanha.

Foi dessa forma que Amaury foi integrado originalmente à campanha petista. Só em abril, com a oficialização da pré-campanha, é que houve a decisão de um grupo do PT de ampliar o núcleo de inteligência do comitê de Dilma. Foi neste contexto que Lanzetta, Bené e Amaury participaram do encontro, em abril, com o delegado aposentado da PF Onézimo das Graças Sousa.

- O jornalista Amaury não teve participação nenhuma na campanha. Pessoalmente, não o conheço. O PT tinha um contrato com a empresa do senhor Lanzetta. Foi a relação de um partido com a empresa. É público e notório que o PT tinha contrato com a Lanza, mas não podemos ter responsabilidade pelas relações dessa empresa com outras pessoas - alegou Dutra.

O presidente do PT acrescentou que o contrato da legenda com a Lanza só ocorreu em abril. Mas, bem antes, a empresa de Lanzetta já fazia trabalhos para a campanha. Em fevereiro, no Congresso Nacional do PT, Lanzetta já circulava como o responsável pela comunicação do partido. Na ocasião, Dilma ainda era a chefe da Casa Civil.

Em entrevista ao site G1, em junho, Amaury disse que foi ele quem convidou o delegado Onézimo para a reunião do caso do suposto dossiê. Ele disse ainda que teve dados furtados de seu computador quando estava hospedado num hotel em Brasília.

Na ocasião, ele disse que os dados faziam parte de um livro sobre as privatizações dos governos de Fernando Henrique Cardoso (1995-2002). Ele sugeriu que a subtração dos dados de seu computador era consequência da disputa de poder na pré-campanha de Dilma entre as alas paulista e mineira do PT, esta última encabeçada pelo ex-prefeito de Belo Horizonte Fernando Pimentel, também coordenador da pré-campanha. Procurado ontem pelo GLOBO, ele não retornou o pedido de entrevista.

Serra: 'Lula fez deboche de uma questão séria'

DEU EM O GLOBO

Flávio Freire

SÃO PAULO. Diante da reação do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que ao se referir ao candidato do PSDB à Presidência, José Serra, disse que "o bicho anda nervoso", o presidenciável afirmou ontem que Lula debocha ao tratar dessa maneira os crimes sobre a quebra do sigilo fiscal de tucanos e que atingiu ainda a sua filha, Verônica. No fim de semana, o presidente acusou o tucano de mentir e ironizou o episódio ao perguntar: "Cadê o tal de sigilo que ninguém viu?"

- Acho que ele (Lula) fez alusão debochada, fez deboche de questão que é bastante séria - afirmou Serra, durante sabatina promovida pelo Grupo Estado.

Tema principal da campanha eleitoral nos últimos dias, a quebra de sigilo serviu de munição para o tucano voltar a atacar o partido de sua principal candidata, Dilma Rousseff. Depois de lembrar que já havia alertado Lula sobre os acessos indevidos ao Imposto de Renda de sua filha, Serra disse que ataques sistemáticos a Verônica eram feitos em blogs "semioficiais de apoio ao PT".

- Os ataques ocorriam em blogs sujos que recebem apoio de uma forma ou de outra do governo. Eu nem reclamei nem pedi nada ao Lula, apenas informei - declarou.

Para o tucano, a direção da Receita faz de tudo para dificultar a elucidação do caso da quebra do sigilo de sua filha.

- A Receita tem feito uma operação abafa. Tem procurado atrapalhar a investigação. A Receita termina sendo cúmplice disso que é uma sindicalização de um órgão de Estado - disse o tucano

Serra afirmou ainda não ter dúvidas que se cometeram vários crimes no caso.

- O que houve foi um crime - disse Serra, lembrando do caso dos aloprados de 2006, quando petistas tentaram comprar um dossiê contra tucanos. - O PT no fundo da alma, e até na superfície, não é democrático.

Para tucano, Dilma é 'envelope fechado'

DEU EM O GLOBO

Genro de candidato quer saber se seus dados do IR também foram violados

SÃO PAULO. Além de criticar a quebra de sigilo, o candidato do PSDB à Presidência, José Serra, aproveitou a sabatina no "Estado de S.Paulo" para atacar a adversária Dilma Rousseff, do PT. Serra ironizou a falta de conhecimento sobre a trajetória política de Dilma. Segundo ele, votar na petista é como escolher um "envelope fechado" sem saber o seu conteúdo.
- A escolha é entre algo conhecido e testado e um envelope fechado. É como aqueles realejos, em que o periquito vai lá e pega um papelzinho que a gente não sabe o que tem dentro - disse, na sabatina do Grupo Estado.

Ao responder por que o eleitor deveria votar no PSDB, já que o país estaria num quadro favorável economicamente, Serra defendeu o trabalho realizado pelo governo anterior.

- Ora, o Brasil não foi criado em 2003, e nem se encerra em 2010.

Tucano quer que Cartaxo seja ouvido pela PF

Ao comentar suas propostas para uma reforma política, Serra defendeu campanhas mais simples. O tucano afirmou que os gastos com programas na TV, quando se "extrai dinheiro", aumentam as chances de problemas no processo eleitoral.

- Eu defendo voto distrital e mudanças no horário gratuito, que não tem nada de gratuito. Pagar campanha legitima a corrupção - disse ele.

Serra disse que o secretário da Receita Federal, Otacílio Cartaxo, e dirigentes do PT deveriam ser ouvidos pela Polícia Federal para dar explicações sobre o vazamento de dados sigilosos no órgão. Num corpo-a-corpo em Pará de Minas, no interior mineiro, o tucano afirmou que "esse pessoal não tem conserto", referindo-se a integrantes do governo e pessoas ligadas à candidatura de Dilma:

- A Polícia Federal deveria ouvir o secretário da Receita, os dirigentes do PT, muita gente.

Serra estava acompanhado do candidato do PSDB ao Senado por Minas, Aécio Neves, que também comentou o escândalo de vazamento.

- Tudo o que está acontecendo é sério e o PT, com a responsabilidade de ter uma candidata a presidente e um governo, deveria tratar do assunto com responsabilidade - disse.

Ontem, o empresário Alexandre Bourgeois - marido de Verônica Serra, filha do candidato - informou que ingressaria hoje com um pedido administrativo junto à Receita Federal para saber se os seus dados sigilosos também foram violados. Bourgeois quer saber se, em função disso, pode tomar alguma medida judicial. O genro de Serra disse que se a Receita não esclarecer o que aconteceu, ele pretende entrar na Justiça com um ação pedindo explicações.

Filha de Serra teve dado acessado uma 2ª vez

DEU EM O GLOBO

Depois da procuração falsa usada em 30 de setembro do ano passado, houve outro acesso em 8 de outubro

Roberto Maltchik e Vivian Oswald

BRASÍLIA. O terminal da servidora Adeildda Leão Ferreira dos Santos, na Delegacia da Receita Federal em Mauá (SP), não serviu apenas para o acesso ilegal às declarações de renda de tucanos. Horas antes de extrair esses documentos, o computador foi usado para levantar as informações cadastrais da filha de José Serra, Verônica Serra, e das quatro pessoas que mais tarde tiveram seus dados fiscais devassados. O levantamento consta de apuração especial feita pelo Serpro em todos os registros efetuados com o uso do CPF de pessoas que pudessem ser alvo de um dossiê para atacar a candidatura do tucano à Presidência.

A descoberta evidencia que a busca por informações pessoais da filha de Serra, parte delas protegidas por sigilo fiscal, ocorreu em duas frentes. A primeira, em 30 de setembro de 2009, na sede da Receita em Santo André (SP), com o uso de uma procuração fraudulenta, apresentada pelo suposto contador Antônio Carlos Atella Ferreira. Atella prestou depoimento à Polícia Federal na sexta-feira. A segunda ocorreu no dia 8 de outubro do ano passado, oito dias depois da primeira investida.

Todos os acessos às informações cadastrais, que constam do sistema CPF, ocorreram de manhã, horário em que a servidora diz que estava usando sua estação de trabalho. A descoberta põe sob enorme suspeita o álibi de Adeildda. Ela afirmou, em depoimento à Corregedoria e em nota à imprensa, que as informações privadas dos tucanos foram devassadas no horário de almoço. O advogado da servidora vai se pronunciar hoje.

As informações pessoais de Verônica Serra foram levantadas às 8h52. Duas "telas" com dados como nome, data de nascimento, endereço e telefone foram acessadas consecutivamente. O mesmo procedimento se repetiu - em horários diversos, mas sempre na manhã de 8 de outubro de 2009 - com os dados do sistema CPF de Luiz Carlos Mendonça de Barros, Ricardo Sérgio de Oliveira e Gregório Marin Preciado. O Serpro já havia detectado essa operação no caso do vice-presidente do PSDB, Eduardo Jorge Caldas Pereira.

No caso de Eduardo Jorge, as consultas ao sistema CPF, a partir do terminal de Adeildda, ocorreram às 9h33 e às 10h22 de 8 de outubro de 2009. As declarações de Imposto de Renda dele foram devassadas às 12h43 do mesmo dia. A servidora alega que trabalhou normalmente pela manhã e saiu do terminal um pouco antes de meio-dia, para comemorar o aniversário de 15 anos de casamento.

O sistema é capaz de rastrear todas as operações feitas com determinado CPF, usando como fonte o banco de dados da Receita. De acordo com o documento do Serpro, ao qual O GLOBO teve acesso, Adeildda teria manuseado três "telas" com informações cadastrais de Eduardo Jorge às 9h33.Às 10h22, foi feita nova conferência de informações. Os dados do Serpro indicam Adeildda como usuária e apontam o endereço do computador usado pela servidora.

"Só tenho certeza de que não imprimi as declarações do Sr. Eduardo Jorge, pois naquele dia, excepcionalmente, saí por volta das 11:45hs (não sei precisar ao certo, mas com certeza antes das 12:00 horas), para almoçar com meu marido e comemorar o nosso aniversário de 15 anos de casamento e só retornei por volta das 13:00/13:10hs para pegar minhas coisas e ir embora", afirma Adeildda em nota.

Catar feijão :: João Cabral de Melo Neto

Catar feijão se limita com escrever:
joga-se os grãos na água do alguidar
e as palavras na folha de papel;
e depois, joga-se fora o que boiar.
Certo, toda palavra boiará no papel,
água congelada, por chumbo seu verbo:
pois para catar esse feijão, soprar nele,
e jogar fora o leve e oco, palha e eco.

Ora, nesse catar feijão entra um risco:
o de que entre os grãos pesados entre
um grão qualquer, pedra ou indigesto,
um grão imastigável, de quebrar dente.
Certo não, quando ao catar palavras:
a pedra dá à frase seu grão mais vivo:
obstrui a leitura fluviante, flutual,
açula a atenção, isca-a como o risco.