segunda-feira, 11 de outubro de 2010

Reflexão do dia – Itamar Franco

A ditadura durou 20 anos, mas ela se tornou frágil e caiu. Hoje, se há essa ditadura que o PT quer impor ao país, se acha que só ele sabe o que é bom para o país, é preciso reagir. Quando o Lula diz que "nunca antes neste país", eu penso: o que que é isso? Como é que o sr. Sarney aceita isso? Então, ninguém fez nada? Ao longo do processo, cada um de nós, o Sarney, eu, o Fernando Henrique, foi passando o bastão.

Basta ver as ações dele todos os dias. Um presidente que vai a Minas dizer que não pode ter senador de oposição, que zomba da imprensa, que zomba da Constituição, não é democrata.

O Lula gostou do poder, mas ele vai ver o que é bom depois, quando deixar o poder. Não se pode acostumar com os palácios, os aviões, os helicópteros, com o sujeito que carrega a sua mala, porque isso não é o dia a dia do homem simples, que nós todos somos. O Lula deve saber que, um dia, tudo isso acaba. O poder não é eterno. Nós já tivemos no Brasil um grande presidente que era também o "pai dos pobres" e que depois foi derrubado, não é?



(Itamar Franco, em entrevista, Folha de S. Paulo, ontem, 10/10/2010)

Matéria de princípio:: Luiz Werneck Vianna

DEU NO VALOR ECONÔMICO

Vamos para a fase decisiva da sucessão presidencial sem a presença da personalidade e do discurso que a salvaram, especialmente no final da campanha, da rotina regida pelo marketing eleitoral. Com Marina, de algum modo, o mundo da vida - no seu léxico, uma política para o século XXI com eixo na solidariedade e na cooperação social - encontrou passagem na disputa que se concentrava nos candidatos Dilma e Serra. Ambos indisfarçavelmente vindos da região sistêmica da vida social, estatísticas em punho, prometendo mundos e fundos, e chamando para si a responsabilidade de levar à frente a modernização econômica e social do país, cujos fundamentos, já conhecidos pelas práticas exitosas dos governos anteriores, não deveriam ser objeto de controvérsias. Ao eleitor cabia apenas indicar qual deles seria o mais qualificado a fim de realizar essa tarefa consensual.

A leitura das urnas, contudo, subverteu o cenário do primeiro turno. O voto da periferia, tal como visto na zona Oeste do Rio de Janeiro, em cujos bairros as famílias de baixa renda se constituem em maioria, não demonstrou ser um monopólio do PT, como era de se esperar em razão das políticas assistencialistas do governo. Nessa região, a candidata do PV rondou em torno dos 33% dos votos ("O Globo", 05/10/10, p. 14), fenômeno que se reiterou exemplarmente na cidade de Volta Redonda, outrora cidade símbolo da industrialização do país, em que ela foi a vitoriosa com 40,02% da votação contra 39,53 de Dilma e apenas 18,7 de Serra, e nos surpreendentes resultados de Recife, com seus 36,73% contra os 42,92% de votos para Dilma (Valor, 06/10/10, p. A16), em meio a um oceano de sufrágios da chapa da situação.

A pesquisa dos especialistas no estudo do voto decerto que trará mais luz sobre essa inesperada rebelião do voto popular, que dissentiu da orientação que lhe vinha das estruturas partidárias, das máquinas eleitorais dos governos, inclusive de organizações religiosas influentes, principalmente as de adesão evangélica, como, no caso do Rio de Janeiro, da poderosa Assembleia de Deus. Mas, desde logo, está claro que a religião, para o bem e para o mal, está participando do processo eleitoral, e que a identidade evangélica de Marina contribuiu em não pequena monta para o seu sucesso eleitoral nos setores subalternos da sociedade.

A votação em Marina, porém, claramente transcendeu o voto evangélico, como atesta a consulta do voto de urnas de zonas eleitorais das camadas médias. O tema do meio ambiente, com audiência crescente na sociedade, em particular na juventude, certamente teve um peso considerável, mas a questão que importa reter é que sua votação extravasou do seu nicho temático.

A insistência com que muitos analistas procuram explicar o seu voto pela religião ou pela questão ambiental - há quem fale no voto chique em Marina - deixa de fora a marcação política do seu discurso, sua ênfase nos valores republicanos, e, principalmente, em um debate cujo centro gravitava em torno de papéis a serem conferidos ao Estado, a sua opção em se dirigir à sociedade civil em busca de soluções.

Contudo, mesmo sem a candidatura de Marina, não há reversão possível ao quadro anterior, protagonizado pelas questões sistêmicas, em que o mundo popular era interpelado apenas como consumidor de bens e serviços. O inventário de boas questões trazidas por ela certamente será reapresentado ao eleitor pelos candidatos que seguem na disputa. Mas, sobre a leitura desse primeiro turno, que ora deixamos para trás, paira um risco a ser erradicado pela raiz, qual seja o de franquear o espaço republicano à ação da religião, e, sinal sinistro, a grupos religiosos fundamentalistas.

Quanto a essa decisiva questão não se pode deixar de registrar que, sob o governo Lula, em tratativas com os vértices da Igreja Católica, já foram dados passos de rendição do Estado - laico, por definição constitucional - em matéria de ensino religioso nas escolas públicas, ainda passíveis de extensão a outras designações religiosas.

Tamanha presença da religião no coração da vida republicana que é a escola pública, iniciativa ainda a ser concretizada, só encontra paralelo no regime de Vargas (um positivista sem religião), quando se permitiu, em 1931, que se instalasse no cimo da elevação conhecida como Corcovado, em plena capital federal, a estátua do Cristo Redentor. E, poucos anos mais tarde, até por pressões exercidas pela hierarquia católica, se destruísse a notável experiência, então nos seus inícios, da Universidade do Distrito Federal, projeto liderado pelo grande educador Anisio Teixeira, em razão da sua natureza laica e republicana.

Mais uma convergência - pouco notada, porém sintomática - entre as eras de Vargas e a de Lula. (De passagem, para quem quiser conhecer a posição de contestação dos republicanos liberais históricos ao ensino religioso nas escolas públicas, consultar "A Ilustração Brasileira", de Roque Spencer Maciel de Barros, clássico de 1986).

Mas, se há recuos quanto à natureza laica do Estado, na sociedade civil, em particular no mundo da vida dos setores subalternos, o quadro ainda é mais complexo: a religião, aí, é com freqüência, a principal via de comunicação da população com as agências republicanas. Nesse mundo, nas décadas de meados de 1960 a 1980, a política foi banida pela repressão do regime militar, e, no vazio que restou, infiltraram-se os administradores de clientelas, o narcotráfico e as milícias. E, à falta de república, a religião e seus diversos cultos se instituíram como um dos poucos lugares de ação autônoma nesses territórios onde vige a lei da natureza.

Às instituições republicanas cabe respeitá-los e compreender o seu papel positivo na formação civil do povo, mas sem se render em matéria de princípio, por cálculos eleitorais, a expressões de fundamentalismo religioso, como nessa intempestiva questão sobre o aborto. Esse talvez o metro que nos faltava na sucessão presidencial, a fim de discriminar com nitidez o estadista do mero oportunista com seu Maquiavel mal compreendido.



Luiz Werneck Vianna é professor-pesquisador do Iesp-Uerj. Ex-presidente da Anpocs, integra seu comitê institucional. Escreve às segundas-feiras

O Lulismo em xeque :: Alberto Aggio

Houvesse um vencedor nas eleições presidenciais do dia 3 de outubro este teria sido Lula e o neologismo que lhe corresponde. Mas, como se sabe, não foi isso que aconteceu. A arrogância com a qual Lula se conduziu, aliada a outros fatores, resultou na insuficiência de votos para que Dilma colocasse um ponto final na contenda. O comportamento de Lula não se resume a uma questão de conduta eleitoral. Ele é a expressão de uma interpretação da política que ganhou corações e mentes e se espalhou por entre os apoiadores do presidente.

Com o baque, o silêncio e o desaparecimento momentâneo de Lula se fizeram necessários porque era, enfim, o lulismo que havia sido questionado em sua essência. A campanha de Dilma terá que encontrar um novo eixo e Lula deverá de afastar providencialmente do centro da cena, sob risco de complicar mais ainda a eleição da candidata que fabricou. Não há outra razão para os jornais passarem a noticiar os desajustes internos da campanha de Dilma depois do primeiro turno.

Fenômeno ou conceito eminentemente midiático, o lulismo não forma um conjunto de idéias claras e muito menos fundamentadas. Não se sabe precisamente os valores que o norteiam e sendo assim ele pode vocalizar aquilo que bem lhe aprouver conforme seus interesses momentâneos. O lulismo também não é um movimento social embora sua principal figura tenha emergido de um movimento sindical ascendente que depois ultrapassou os limites do chamado “sindicalismo de resultados” para ancorar no puro pragmatismo, inteiramente soldado e dependente do Estado.

Alçado ao governo, o lulismo é uma construção que data de 2002 e chega a 2010 com uma identificação visível: pós-ideológico, ele é personificação em estado líquido, estado da natureza política no qual as formas não se definem em momento algum. Em sua ainda breve trajetória, o lulismo se configurou como um ator político a partir de uma narrativa cumulativa e permanente de êxitos atribuídos a Lula, independentemente da sua aferição. Uma narrativa exitosa que não pode ser compartilhada com outros atores. Impedido de pleitear um terceiro mandato, o que Lula buscou nessa eleição, por caminhos e descaminhos, foi interpor sua candidata como representação viva e figurativa dessa narrativa.

O lulismo só pode operar com êxito num clima de unanimidade ou tendente a ela, no qual a oposição tem que ser residual ou “exterminada”. Tal como outros personalismos conhecidos, o lulismo não foi feito para desagradar e nem lidar com situações desagradáveis nas quais vêm à tona críticas e questionamentos. Contudo, em política não é possível imaginar que a busca ou a improvável conquista da unanimidade deva ser concebida como norma ou devir da política democrática nas sociedades complexas.

Cego a essa lição essencial, o lulismo abriu o flanco e foi alvejado pela votação que impôs a necessidade do segundo turno nas eleições presidenciais. Não houve a esperada homologia entre os índices de popularidade de Lula e a votação de Dilma. O resultado passou muito longe disso e mesmo dos índices que davam vantagem à candidata oficial. Os dias que se seguiram não trouxeram bom augúrio para o Presidente. A sorte, que costumeiramente lhe sorriu, não lhe jogou no colo o Prêmio Nobel da Paz, atribuído ao dissidente chinês Liu Xiaobo, para desencanto daqueles que apostavam em Lula.

Questionado, o lulismo poderá até vencer, mas terá que fazê-lo em condições inesperadas, já na defensiva e tendo que disputar com a oposição a mensagem da união de todos os brasileiros por um futuro melhor e mais justo. E esta não deve se afastar um milímetro da grande orientação que tem na democracia e no pluralismo o caminho para esta construção. E nela não cabe mais personalismos.


Alberto Aggio é professor de História da UNESP-Franca

Política e valores :: Denis Lerrer Rosenfield

DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

Independentemente do resultado final das eleições, cabe destacar dois fatos da maior importância: a existência do segundo turno e a reconfiguração da relação entre política e valores encarnada na expressiva votação de Marina Silva.

Lula e o PT foram vítimas da soberba. Acreditaram, com orgulho desmedido, que poderiam vencer as eleições em primeiro turno por mero ato de uma vontade que não precisava reconhecer limites éticos nem mesmo institucionais. O presidente, em particular nas últimas semanas, lançou-se desenfreadamente numa tentativa de eleger a sua escolhida, com total menosprezo a qualquer valor. Só contava o seu poder. Assim, tivemos expressões do tipo "sou a opinião pública", num contexto de ataque à liberdade de imprensa e aos meios de comunicação. Foi o momento subsequente às quebras do sigilo fiscal na Receita Federal de personalidades tucanas e de familiares do candidato José Serra em meio às denúncias de tráfico de influência da ex-ministra Erenice Guerra e familiares. Este último episódio tinha - como se mostrou posteriormente - um potencial explosivo por envolver uma pessoa sem personalidade própria, sendo uma mera criatura de Dilma Rousseff.

Esses dois episódios expõem uma falta de adesão a valores do atual governo, no primeiro mostrando completo desprezo pelos direitos individuais mediante a invasão da privacidade de cidadãos, o segundo exibindo o total descaso com a moralidade pública. São episódios que apresentam uma forma crua de fazer política, como se só contasse a conquista do poder, não entrando em pauta nenhuma consideração de ordem ética. O que fez o presidente? Partiu para matar o mensageiro, ou seja, os órgãos de comunicação e de imprensa que revelaram o escândalo. A inversão foi total. O problema não residia na invasão da privacidade e na falta de moralidade pública, mas nas ações que o revelaram!

Marina foi a única entre os três candidatos que soube recolocar a questão nos seus verdadeiros termos. Enquanto seus adversários se contentavam em mostrar obras, disputando pela competência gerencial, a candidata verde adotou outra via, a de mostrar que política se faz com princípios e valores. Não pretendo entrar no mérito de quais são esses princípios e valores, que podem ser, evidentemente, objeto de disputa, mas mostrar o seu comprometimento com valores, quaisquer que sejam eles. Ou seja, ela colocou o dedo na ferida: política não é apenas administração de obras, mas comprometimento com valores, com discursos de esperança eticamente válidos.

Sua atuação se fez em torno de três grandes eixos valorativos: 1) a moralidade pública; 2) os valores morais, religiosos; e c) a defesa da natureza. Seu conceito-chave foi "conservação". Conservação da moralidade pública, conservação da vida e conservação da natureza. Sob essa ótica, pode-se dizer que ela é uma "conservadora", para além das contraposições entre "direita" e "esquerda", quaisquer que sejam os seus significados.

A moralidade pública foi claramente pisoteada nestes oito anos de governo Lula, permeado por uma série de escândalos, todos caracterizados pela impunidade. Até palavras carinhosas foram utilizadas para acobertar ações criminosas, como nomear os seus autores de "aloprados". Os "companheiros" envolvidos foram preservados, numa lei do silêncio que foi a regra, mostrando cumplicidade e conivência. A disparidade ético-política foi total, pois o governo petista se colocou em clara contradição com a bandeira-mor do PT oposicionista, a ética na política. O Erenicegate recolocou na ordem do dia a moralidade pública em função de todo esse histórico, atualizado numa pessoa de confiança de Dilma. Num dos debates, Marina enfrentou publicamente esse problema, enquanto Serra sobre ele fez silêncio na ocasião.

A questão do aborto, que tanto mobilizou os setores mais conservadores da Igreja Católica e das igrejas evangélicas, exibiu também o seu comprometimento com valores morais. Não podemos esquecer que a opinião pública não se faz somente pela televisão, pelo rádio, por jornais e revistas, mas também pelo que é transmitido dentro dos recintos e espaços religiosos, por padres e pastores. Numa vida pública que expõe a falta de valores e o pouco apreço pela vida privada e pela família, a candidata verde soube galvanizar em torno de si valores morais e religiosos. Pode-se discordar deles, porém não pôr em questão a sua autenticidade.

O PT, por sua vez, foi de uma superficialidade completa a esse respeito, pois em seu PNDH-3 defendeu claramente o aborto, como se fosse uma questão já resolvida, que careceria apenas de encaminhamento legislativo. Dilma foi na mesma linha, embora tenha, no último momento, recuado diante do prejuízo eleitoral. A questão dela foi eleitoral, e não moral, religiosa, o que Marina soube capitalizar.

Discorde-se ou não das posições de Marina Silva quanto ao que entende por defesa da natureza, forçoso é reconhecer que ela soube erguer essa bandeira e sustentá-la publicamente. Embora sua atuação ministerial se tenha pautado por tentativas de inviabilizar a pesquisa de transgênicos na CTNbio e de dificultar ao extremo a construção de hidrelétricas, num país ávido por valores e princípios, ela soube se forjar uma figura política, ética. Defensora da conservação de florestas, em particular da Amazônia, ela introduziu um lema que permeou a opinião pública urbana. Apresentou uma adesão a princípios que contrastou fortemente com seus opositores.

Sua agenda política destoou das demais, preenchendo um vácuo da vida pública nacional, em que os valores morais pareciam ter desertado por conveniências eleitorais. Recuperou uma dimensão recentemente esquecida da política entre nós.

Eis por que também dificilmente assumirá compromissos eleitorais com Serra ou Dilma, pois esse tipo de capital não pode ser transferido.


Professor de filosofia na UFRGS.

Assim vão perder:: Ricardo Noblat

DEU EM GLOBO

Vejo um bando aí falando de aborto. Aposto que vários fizeram no mínimo dois ou três.
(Lula, reunido com governadores)


Dilma Rousseff estava tão convencida da vitória no primeiro turno que, na sexta-feira, dia 1o concordou em posar para fotos especiais a serem divulgadas a partir da noite do domingo, dia 3, tão logo sua eleição fosse proclamada. Nada mais natural que as fotos refletissem a condição de candidata eleita. De outra forma, não fariam sentido.

E assim foi. Cada fotógrafo admitido em sua casa, no Lago Sul de Brasília, teve o tempo cronometrado para se desincumbir rapidinho da missão. O fotógrafo Roberto Castro só pôde dispor de um minuto e quinze segundos para produzir a imagem de capa da revista IstoÉ Dinheiro.Dilma posou enrolada na bandeira nacional.

Outra revista cobrou de Dilma que posasse com a faixa de presidente. Não a que Lula usa em momentos de gala.Seria um abuso. Mas com uma cópia da faixa, providenciada para aquele momento. Aí... Bem, aí um funcionário graduado da revista jura que a foto foi feita. A direção da revista nega com veemência.

Se, por acaso, Dilma tivesse se deixado enlaçar por uma réplica da faixa presidencial, correria o perigo de superar de longe o vexame protagonizado em 1985 por Fernando Henrique Cardoso, candidato a prefeito de São Paulo que enfrentou o ex-presidente Jânio Quadros. A 72 horas da eleição, as pesquisas o apontavam como prefeito eleito.

Fernando Henrique topou sentar na cadeira de prefeito e posar para fotos a pedido da Veja e da Folha de S.Paulo. Mas impôs a condição óbvia: as fotos deveriam ser destruídas caso ele não se elegesse. Jânio ganhou. Mesmo assim, uma das fotos comprometedoras acabou sendo publicada.

Há uma porção de coisas que mesmo os políticos mais descolados não conseguem aprender. Uma: eleição só pode ser celebrada quando as urnas vomitam os últimos votos. Roseana Sarney (PMDB), governadora do Maranhão, por exemplo, se reelegeu com 50,08% dos votos válidos.

Arthur Virgílio (PSDB) foi tido como dono da segunda vaga de senador pelo Amazonas até a véspera do dia da eleição. A primeira vaga seria do ex-governador Eduardo Braga (PMDB). Por uma diferença de 28.580 votos, num total de 2.940.331 votos válidos, Arthur perdeu o lugar para Vanessa Grazziotin (PCdoB).

O valor relativo das pesquisas de intenções de voto só é levado em conta por políticos em desvantagem. São esses que repetem o mantra de que pesquisa só vale se feita no dia da eleição. Às vezes, nem pesquisa de boca de urna vale tanto. A do Ibope conferiu a Dilma muito mais votos do que ela teve.

Quase todos os políticos parecem ter faltado à aula sobre os verdadeiros limites do marketing político. A maioria pensa que o marketing opera milagres. Uma vez que se contrate um craque no assunto, basta fazer o que ele recomenda para ao cabo se dar bem. Marqueteiro não é Deus.

O baiano João Santana Filho, que comandou a campanha vitoriosa de Lula em 2006, foi escalado para tocar a de Dilma. A se considerar a fragilidade eleitoral da candidata, e sua pouca disposição para interagir com estranhos, João fez o que lhe coube de maneira inteligente, criativa e primorosa.

Protegeu Dilma ao máximo. Arranjou-lhe um púlpito para que falasse a jornalistas a prudente distância. Compensou a incapacidade da candidata de transmitir emoção com depoimentos emocionantes de cidadãos e de atores que embelezaram o programa de propaganda na TV. Foi exaltado como um mágico bem-sucedido até o último sábado.

Da noite do domingo para cá, está sob pressão para que mude o que deu certo. Joga o púlpito no lixo, João, afinal ele reforça a imagem de antipatia de Dilma! Politiza mais o programa, João, não destaque apenas a realização de obras. Empurra Dilma para o meio do povo, João, e entrega a Deus!

Pobre João! A candidata, os que a cercam e o PT comportamse desde o domingo dia 3 como se tivessem sido derrotados. Ou como se temessem uma derrota inevitável. A continuarem assim, arriscam-se, de fato, a perder.

TCU vai investigar contrato superfaturado nos Correios

DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

O contrato superfaturado pelos Correios em R$ 2,8 milhões para favorecer a Total Linhas Aéreas, revelado ontem pelo Estado, será investigado pelo Tribunal de Contas da União. O procurador Marinus Marsico, representante do Ministério Público no tribunal, defendeu a anulação dessa licitação, formalizada em setembro mesmo depois que o vencedor apresentou proposta acima do preço máximo previsto. O processo foi aprovado pelo presidente da estatal, David José de Matos, nomeado pela então ministra Erenice Guerra (Casa Civil). Matos negou haver irregularidade e disse que variações no preço máximo são comuns. Para o procurador, porém, o valor acima do estimado deveria resultar no fracasso da licitação, e não na contratação.

Procurador quer anular contrato superfaturado dos Correios

Acordo firmado por diretoria nomeada por ex-ministra da Casa Civil será investigado pelo TCU

Leandro Colon e Karla Mendes


BRASÍLIA - O contrato superfaturado pelos Correios em R$ 2,8 milhões para favorecer a Total Linhas Aéreas será investigado pelo Tribunal de Contas da União (TCU). O procurador Marinus Marsico, representante do Ministério Público no tribunal, defendeu no domingo, 10, a anulação dessa licitação, aprovada em setembro pelo presidente da estatal, David José de Matos, e sua diretoria.

"O valor acima do estimado deveria resultar no fracasso da licitação, e não na contratação", afirmou. O procurador anunciou que pedirá toda documentação do processo de contratação da empresa. "Vamos requerer mais essa documentação, juntá-la às que já recebemos dos Correios sobre outras contratações recentes e investigar todas em conjunto da maneira mais aprofundada possível", disse.

O Estado revelou no domingo detalhes da operação que levou à contratação direcionada da Total por R$ 44,3 milhões, um preço R$ 2,8 milhões acima do estipulado pelos próprios Correios em junho. Documentos obtidos pela reportagem mostram que a nova direção da estatal, nomeada pela então ministra-chefe da Casa Civil, Erenice Guerra, manobrou para ressuscitar, em agosto, uma licitação que havia sido cancelada três meses antes pelo comando demitido do órgão. Somente a Total participou da concorrência. "O fato mais sério desses eventos é a aparente restrição à competição. Será que no Brasil só existe a empresa contratada interessada no serviço?", questionou o procurador do TCU.

O presidente Davi de Matos e seus diretores aprovaram no dia 15 de setembro, um dia antes da demissão de Erenice, a contratação da Total. O contrato foi publicado no Diário Oficial da União de 4 de outubro, um dia depois do primeiro turno eleitoral. A Total vai transportar cargas no trecho Fortaleza-Salvador-São Paulo-Belo Horizonte.

O procurador do TCU ainda questionou a eliminação da Rio Linhas Aéreas do pregão realizado em 19 de agosto. A empresa chegou a fazer uma proposta inicial, mas foi excluída da disputa após uma "pane" no sistema eletrônico da concorrência. "Qual a razão de não insistir também com a outra empresa que, declaradamente, não participou do certame por motivos meramente circunstanciais?", rebateu Marinus.

Processo

Tudo começou no dia 2 de junho, quando um pregão foi feito pelo preço limite de R$ 41,5 milhões. A Total entrou sozinha e ofereceu R$ 47 milhões. A proposta foi recusada pela antiga direção dos Correios. Para conseguir o contrato de R$ 44,3 milhões, na licitação de agosto, a Total contou com o apoio do coronel Eduardo Artur Rodrigues Silva, então nomeado diretor de Operações. O coronel foi procurado pelos donos da Total para tentar reverter juridicamente o pregão revogado em junho. O objetivo, naquele momento, era tentar transformar a Total e a MTA, empresas de carga aérea, no embrião da unidade de logística que o governo pretende criar em 2011 - uma sociedade mista entre governo e empresas privadas avaliada em US$ 400 milhões.

Uma nova licitação ocorreu no dia 19 de agosto. Dessa vez, os Correios subiram de R$ 41,5 milhões para R$ 42 milhões o preço máximo para contratação. Mais uma vez, só a Total participou dos lances. Deu o preço de R$ 44,3 milhões e avisou que não poderia mais reduzir o valor, apesar dos alertas do pregoeiro. O caso foi parar nas mãos do coronel Artur, que ordenou a contratação da Total "em decorrência da variação normal de mercado e desde que haja interesse público". O parecer do ex-diretor foi submetido em 15 de setembro ao comando dos Correios. O presidente David José de Matos dirigiu a reunião que aprovou a contratação da Total por R$ 44,3 milhões, vigorando por 12 meses.

No dia seguinte, Erenice Guerra pediria demissão da chefia da Casa Civil, em meio ao escândalo envolvendo assessores e parentes dentro do governo. O coronel Artur demitiu-se no dia 19 de setembro, depois de o Estado revelar que era testa de ferro de um empresário argentino na MTA, outra empresa contratada pelos Correios e personagem da queda de Erenice Guerra da Casa Civil. Um filho de Erenice, Israel, fez lobby e cobrou propina para ajudar a MTA.

Caso Erenice tirou de Dilma mais votos do que as igrejas

DEU NA FOLHA DE S. PAULO

As acusações que derrubaram Erenice Guerra da Casa Civil e a quebra de sigilo de tucanos tiveram o triplo do peso das questões religiosas na perda de votos que Dilma Rousseff, candidata do PT à Presidência, sofreu no primeiro turno. O dado consta da mais recente pesquisa Datafolha. A petista perdeu quatro pontos (4 milhões de votos), 75% deles devido aos escândalos.

Caso Erenice mudou mais votos que temas religiosos

Escândalos pesaram 3 vezes mais entre eleitores de Dilma que mudaram de ideia

Segundo Datafolha, só 25% dos que iriam votar na petista mas alteraram a escolha o fizeram por questões religiosas

Fernando Canzian

DE SÃO PAULO - Os fatos que levaram à queda da ex-ministra Erenice Guerra da Casa Civil e a quebra de sigilo de tucanos tiveram peso quase três vezes maior na perda de votos de Dilma Rousseff (PT) no primeiro turno do que questões relacionadas à religião.

Segundo pesquisa Datafolha realizada na última sexta, cerca de 6% dos eleitores mudaram seu voto, considerando tanto Dilma quanto José Serra (PSDB), por conta dos casos que marcaram a reta final do primeiro turno.

Desse total, Dilma perdeu cerca de quatro pontos percentuais entre o total de eleitores. Aproximadamente 75% das perdas ocorreram por conta dos escândalos recentes no governo.

O restante, por questões relacionadas à religião- não exclusivamente envolvendo a posição da candidata sobre o aborto.

Já Serra perdeu dois pontos percentuais. Tanto pelo caso de quebra de sigilo de tucanos quanto pelo caso Erenice.

Os dois casos podem ter levantado suspeitas sobre irregularidades fiscais dos citados ou envolvimento de tucanos nas denúncias, por exemplo.

A perda de eleitores de Dilma, que conquistou 47% dos votos válidos no primeiro turno, foi de aproximadamente 4 milhões de eleitores. A de Serra, que teve 33% dos votos válidos, de 2 milhões.

Como a margem de erro do levantamento (feito com base em 3.265 entrevistas em todo o país) é de dois pontos percentuais, para mais ou para menos, o total de votos perdidos pode ter sido maior ou menor na mesma proporção da margem de erro.

O percentual de eleitores no país que tomou conhecimento dos casos Erenice Guerra e da quebra de sigilo de tucanos é expressivamente maior do que o do total que recebeu alguma orientação de sua igreja para que deixasse de votar em determinado candidato.

Os resultados da pesquisa, portanto, não confirmam a tese de que foi o voto relacionado a questões religiosas que levou a eleição presidencial ao segundo turno.

Tomaram conhecimento do caso Erenice 48% dos eleitores. No caso da quebra de sigilos, foram 56%.

Já o total que recebeu alguma orientação na igreja que frequenta para que deixasse de voltar em algum candidato a presidente atingiu 3%.

Os dois casos que mais pesaram na mudança de votos dos eleitores na reta final do primeiro turno tiveram influência direta de reportagens publicadas pela Folha.

O primeiro (quebra de sigilo) foi revelado pelo jornal em junho, muito antes do primeiro turno.

Em relação à queda de Erenice, o caso foi levantado inicialmente pela revista "Veja". Mas foi uma reportagem da Folha que levou à queda da ex-ministra no dia 16 de setembro, a duas semanas do primeiro turno.

As denúncias de tráfico de influência na Casa Civil foram determinantes para mudanças de voto principalmente entre os eleitores mais escolarizados e de maior renda, mostra o Datafolha.

Entre os que votaram em Marina (que teve 19% dos votos válidos), 7% dizem ter deixado de votar em Dilma por conta do caso Erenice.

Chega a 1% do total do eleitorado o percentual dos que dizem ter deixado de votar em Dilma Rousseff para votar em Marina por causa da queda de Erenice Guerra.

A taxa dos que fizeram o mesmo por recomendação da igreja não alcança 1% do eleitorado.

Acupunturista de Dilma ocupa cargo na Casa Civil

DEU NA FOLHA DE S. PAULO

Contratado como "assessor técnico" no ano passado, Gu Zhou-Ji ganha R$ 4.000 para atender aos servidores

Assessoria diz que ele pode ter acompanhado sessões feitas pelo pai; Zhou-Ji nega receber do governo para atendê-la

Matheus Leitão, Márcio Falcão e Andreza Matais

DE BRASÍLIA - A Casa Civil, sob o comando da candidata do PT à Presidência, Dilma Rousseff, contratou o filho do acupunturista dela e do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Gu Zhou-Ji, que ajuda o pai no atendimento à candidata, ganha R$ 4.000 por mês para atender servidores da pasta.

A princípio, Zhou-Ji foi nomeado como "assessor técnico" em outubro de 2009. Em abril de 2010, parou de exercer função burocrática e passou a aplicar suas técnicas terapêuticas, como ele mesmo explicou à Folha , nos "funcionários e seus dependentes". Dilma deixou o governo no final de março.

Mas o serviço de Zhou-Ji não se restringe à Casa Civil. Como assistente do pai, o acupunturista Gu Hanghu, ele ajuda no atendimento à candidata Dilma.

Segundo Zhou-Ji, ela recebe atendimento duas vezes por semana na casa dela ou no consultório do pai, em sessões particulares, para combater "o estresse" e para "recuperação do corpo" após o tratamento do câncer linfático que teve no ano passado.
É mais para a manutenção mesmo", disse ele. A assessoria de Dilma informou que Zhou-Ji pode ter acompanhado sessões terapêuticas do pai com a candidata.

Zhou-Ji nega que receba da Casa Civil para atender a petista. Segundo ele, as consultas da petista ocorrem nos finais de semana ou fora do horário de expediente. De acordo com a revista "Veja", ele tem privilégios na Casa Civil, com "horário flexível" de trabalho. Ele nega.

Especialista na medicina tradicional chinesa, Zhou-Ji é formado pela universidade de Xangai, e também faz massagem terapêutica.

Perguntado sobre o que faz na Casa Civil, diz: "Essa parte você tem de perguntar no Planalto. Eles já tem uma resposta direitinha. Primeiro, fui contratado como assistente técnico. Mas como apresentei diploma em acupuntura, passei a atender."

A então ministra Erenice Guerra, que deixou o governo após acusações de tráfico de influência, utilizava os serviços de acupuntura, segundo Zhou-Ji:

"Ela estava com problema de coluna e não frequentava só a minha sala, tinha outros atendimentos médicos", disse. Erenice assinou a nomeação do acupunturista.

Zhou-Ji disse não ver conflito de interesses no fato de o pai atender o presidente Lula e ele trabalhar no Planalto. "Uma coisa é fazer tráfico de influência e ganhar R$ 100 mil por mês. Eu ganho R$ 4.000, sou bom no que faço, mal consigo pagar o colégio de dois dos meus três filhos".

Ao lado do pai, ele já viajou como "convidado especial" do governo à China, em maio de 2004, na comitiva de Lula. Ele já recebeu R$ 4.000 em diárias de viagens.

Segundo Zhou-Ji, cerca de 100 servidores já são pacientes registrados em seu consultório no Planalto.

Pesquisa Datafolha deixa PT preocupado

DEU EM O GLOBO

Comando da campanha de Dilma diz que é preciso entender recado dos números; petista só lidera no Nordeste

Gerson Camarotti

BRASÍLIA. A pesquisa Datafolha divulgada ontem, que mostra uma diferença de sete pontos percentuais entre a candidata petista, Dilma Rousseff, e o tucano José Serra foi recebida como um sinal de alerta no Palácio do Planalto. Isso porque a distância entre os dois presidenciáveis já está longe da zona de conforto para os petistas. De forma reservada, a cúpula da campanha petista reconheceu que é preciso entender alguns recados dos números.

Chamou atenção o fato de Serra ter herdado a maior parte dos votos da candidata derrotada do PV, Marina Silva. Além disso, a pesquisa apontou uma queda de cinco pontos percentuais na diferença entre Dilma e o tucano no segundo turno, em comparação com a simulação anterior feita pelo Datafolha. Outra preocupação entre integrantes da campanha foi o empate e até mesmo ligeira vantagem de Serra nas regiões Sul, Sudeste, Norte e Centro-Oeste.

Mesmo assim, foi recebida com alívio a manutenção da grande vantagem de Dilma no Nordeste e entre os eleitores que ganham até dois salários mínimos e com ensino fundamental.

Segundo um coordenador da campanha, isso garante uma espécie de colchão de votos para compensar o crescimento de Serra em outras regiões.

O temor na cúpula petista é que essa mudança no voto do chamado formador de opinião possa contaminar a eleição nas próximas três semanas.

A campanha de Dilma considera esta semana fundamental.

Depois de uma primeira semana de agenda negativa, com forte abatimento por causa do resultado do primeiro turno e com a polêmica sobre o aborto, a expectativa é de que Dilma reverta o quadro. Por isso, o PT fará grande aposta na repercussão do debate de ontem.

O PT tenta reproduzir o cenário de 2006. Na época, a distância entre Lula e Geraldo Alckmin (PSDB) diminuiu, mas depois Lula ampliou sua vantagem, garantindo a reeleição com folga.

A pesquisa mostra que temos muito voto na frente de Serra.

O cenário é muito parecido com 2006. A partir de agora, Dilma ampliará a vantagem disse o líder do governo, deputado Cândido Vaccarezza (PT-SP).

Entre os tucanos, clima de alívio com ascensão de Serra

DEU EM O GLOBO

PSDB quer ampliar vantagem em SP e reverter quadro em MG

BRASÍLIA. Já na campanha do tucano José Serra, o sentimento é de alívio com a pesquisa. Apesar da discreta comemoração, observa um dirigente do PSDB, o resultado Datafolha impediu o salto alto no ninho tucano. O mais importante, para o partido, foi a queda da diferença entre Dilma Rousseff e Serra. Mas a avaliação realista é que ainda é preciso ajustar a campanha.

A imagem de Dilma está arranhada e o pessoal do PT ainda não conseguiu recuperar o ânimo depois do resultado do primeiro turno. Essa semana será decisiva aposta o presidente do PSDB, senador Sérgio Guerra (PE).

Outra grande expectativa entre os tucanos é em relação ao engajamento do senador eleito Aécio Neves (PSDB-MG). A estratégia da campanha tucana é de reverter a situação em Minas Gerais e ampliar a vantagem em São Paulo para cinco milhões de votos e conseguir neutralizar a votação expressiva de Dilma no Nordeste.

O PT usou todos os trunfos no primeiro turno. Houve até mesmo uma saturação da imagem do presidente Lula.

Agora, a Dilma vai ter que mostrar quem ela é de fato observa o deputado Indio da Costa (DEM-RJ), candidato a vice na chapa de Serra.

Dilma muda estratégia e parte para o ataque direto a Serra

DEU EM O GLOBO

Dilma Rousseff (PT) e José Serra (PSDB) partiram para o ataque no primeiro debate entre os candidatos à Presidência no segundo turno das eleições, realizado ontem à noite na TV Bandeirantes. Já na primeira pergunta, a petista acusou a campanha do tucano de tentar atingi-la com questões religiosas. Serra a acusou de ter dito que era a favor e depois mudado de opinião, e afirmou que ela tem duas caras, repetido por ele várias vezes, no que ela repetia que ele tem mil caras. Os dois também trocaram acusações sobre segurança e, principalmente, privatizações, voltando várias vezes à questão do aborto. O debate foi marcado, do começo ao fim, por troca de acusações, com os dois candidatos chegando a se exaltar em alguns momentos.

Que Dilma é essa?

No primeiro debate do 2º turno, petista parte para o ataque direto a Serra, que revida

Paulo Marqueiro, Chico Otavio, Fábio Brisolla e Marcelo Remígio

O primeiro debate entre os presidenciáveis Dilma Rousseff (PT) e José Serra (PSDB) no segundo turno, realizado ontem à noite pela TV Bandeirantes, foi de ataques do começo ao fim. Logo na primeira pergunta, exaltada, Dilma já partiu para o confronto ao abordar a questão do aborto. Em todo o primeiro bloco, os dois candidatos assumiram um tom beligerante, com acusações mútuas também sobre privatizações, segurança e corrupção.

Ao longo do primeiro turno, o programa de Serra na TV criticava Dilma e o PT, enquanto a propaganda dela se concentrava mais em pregar a continuidade do governo Lula. Ontem, no debate, ela mudou a estratégia e partiu para o confronto direto.

A petista apareceu na tela também muito diferente dos debates do primeiro turno, em que evitava confrontos.

Pesquisa Datafolha divulgada ontem mostrou que a Dilma tem 48% das intenções de voto contra 41% de Serra, uma diferença bem menor do que a que esperavam os petistas.

Ao fazer uma pergunta para Serra, Dilma disse que a campanha do tucano faz calúnias e difamações contra ela. E que o vice de Serra, Indio da Costa, tem feito ataques a ela junto a grupos religiosos. Serra devolveu a acusação com outro ataque: Eu me solidarizo com quem é vítima de ataque pessoal. Eu tenho recebido muito ataque nessa campanha.

Até blogs com seu nome fazendo ataques, não só a mim como à minha família, numa campanha orquestrada.

Agora, nós somos responsáveis por aquilo que pensamos e falamos.

A população cobra também conhecimento sobre os candidatos, qual foi sua história, etc. Creio que vocês confundem verdades, reportagens, com ataques. Por exemplo: sobre a Casa Civil, você disse que se tratava de invenção da imprensa. Aborto, você disse que era favorável, depois disse o contrário. Aí se trata de ser coerente, de não ter duas caras.

Dilma, ainda mais exaltada, aumentou o tom: Acho que você deve ter cuidado para não ter mil caras. A última calúnia contra mim, disse que minha campanha tinha aberto sigilos, hoje você é réu de (uma ação) por calúnia e difamação. Se cuida, porque pode estar dando os primeiros passos (para cair) na questão da Ficha Limpa.

Inclusive acho estranho porque você regulamentou o aborto no SUS. E sou acusada de coisas que não vou nem dizer. Mas você regulamentou e eu sou a favor da regulamentação. Entre prender e atender (as mulheres), eu fico com atender. Sua senhora me acusa de uma coisa que é antiga. Porque o Brasil está acostumado com tolerância e não com convivência que instiga o ódio.

Serra ironizou a acusação de Dilma, afirmando que a lei do aborto é de 1940, anterior ao seu nascimento: A lei não libera o aborto, só em casos de risco para a mãe e risco para a paciente. Em São Paulo, foi até implantada pelo prefeita Erundina, quando era do PT. O que eu fiz foi que isso precisava ter uma norma técnica que balizasse os casos de aborto no SUS, que fosse feito sem risco para a mãe, só isso. Mas você defendeu e passa a fazer o contrário.

Com relação a Deus, a mesma coisa.

Tem entrevista em que você diz que não sabe se acredita, depois vira uma devota. Casa Civil: tem uma pessoa que foi braço direito seu e durante meses organizou um esquema de corrupção, e você diz que não tem nada a ver.

Ao abordar a questão de segurança, Serra disse que no Rio ocorreram 11 arrastões e perguntou a Dilma por que ela é contra a criação do Ministério da Segurança, uma das bandeiras de campanha do tucano.

Acho que fundamental é perceber que ela tem três aspectos, Justiça, penitenciária e segurança. São Paulo teve uma rebelião que tomou as ruas. A secretaria penitenciária não conversava com a segurança pública.

Ele está dando receita que aqui em São Paulo fracassou. O sistema penitenciário que devia saber quando haveria rebelião não sabia. Não é passo de mágica. O Rio está fazendo grande esforço, pelas UPPs, pacificando as comunidades através de ação preventiva e de outra ação, a autoridade, criando os territórios de paz respondeu ela.

Na réplica, Serra argumentou que Dilma não respondera: Não respondeu por que é contra criar o Ministério da Segurança.

Em São Paulo, não houve rebelião significativa. Em São Paulo, os homicídios caíram 70%, acima da média nacional, fato do qual muitos governos do PT poderiam extrair lições.

Não há um enfrentamento das bases do crime, do contrabando de armas e de drogas. Nós vamos criar uma Guarda Nacional, vamos ajudar a frear a exportação de droga para o Brasil. Vamos ter um cadastro nacional de criminosos.

Voltando ao tema, Dilma argumentou que o atual governo fez parcerias com os governos estaduais na área de segurança.

Até então, (a questão da segurança) era afeita só aos governos estaduais.

Outra coisa que você precisa se informar. Já existe hoje a Força Nacional de Segurança Pública.Vamos comprar veículos não tripulados.

Eu acredito nesse caminho: investimento em ações afirmativas em locais onde o tráfico domina. O governo do qual você foi ministro não investiu em segurança. É bom você lembrar. Eu fico indignada com a questão da Erenice. Seu assessor Paulo Vieira de Souza fugiu com R$ 4 milhões de dinheiro de campanha

Ataques também sobre privatizações

DEU EM O GLOBO

O Brasil do orelhão e o da banda larga

Acusações mútuas sobre a privatização de empresas estatais marcaram o segundo bloco do debate. Enquanto Dilma usou declarações de tucanos, como Luiz Carlos Mendonça de Barros e David Zylbersztajn, na tentativa de vincular Serra à ideia de privatizar a Petrobras, Serra rebateu dizendo que o governo Lula reduziu a participação nacional no controle do Banco do Brasil, além de ter vendido dois bancos públicos.

A candidata do PT foi a primeira a abordar o tema. Em sua pergunta, quis saber de Serra se concordava com a gestão da Petrobras no governo Fernando Henrique, quando a estatal teria reduzido a participação acionária da população e arrecadado pouco.

É só chegar a campanha e o PT volta sempre a essa história. O que vocês fazem é uma coisa. O que dizem é outra. O PT colocou o Banco do Brasil na Bolsa de Nova York e aumentou a participação do capital privado.

Vocês reclamam que foram vendidas as ações da Petrobras, mas o governo Fernando Henrique continuou com o controle respondeu o candidato tucano.

Para reforçar a resposta, Serra disse que José Eduardo Dutra, atual presidente do PT e ex-presidente da Petrobras, elogiou a lei feita no governo FH com as seguintes palavras. A Petrobras não poderia estar avançando sem a lei que foi aprovada no governo anterior.

Na réplica, Dilma acusou Serra de ter mil caras e lembrou o que disseram assessores tucanos sobre a venda da Petrobras: David Zilbersztajn, que presidiu a Agência Nacional do Petróleo, é a favor que haja privatização do pré-sal, que seja passado para as empresas privadas internacionais. Isso mostra o quadro. São a favor da privatização só do pré-sal ou do pré-sal e da Petrobras? Serra respondeu que, embora cada um tenha direito a dizer o que pensa no PSDB, tem cabeça própria e não fica na sombra dos outros, numa referência à relação de Dilma com o presidente Lula.

Minha vida pública sempre foi marcada pela coerência. Não tenho departamento secreto, nada guardado no cofre, e nem fico me justificando. Lutei pelo fortalecimento da Petrobras desde líder estudantil disse ele.

Serra devolveu os ataques ao lembrar dos êxitos das políticas de privatização do governo Fernando Henrique para a área de telecomunicações.

E emendou: Qual seria o Brasil do PT no setor? O Brasil do orelhão. Ninguém teria celular.

Dilma se defendeu: Meu Brasil é o da banda larga, não o do orelhão. Banda larga para todos os brasileiros, barata, de capacidade.

Visões opostas sobre portos e aeroportos

DEU EM O GLOBO

Serra critica infraestrutura e Dilma reage defendendo o governo; ataques também sobre a venda da Nossa Caixa

A infraestrutura de portos e aeroportos no país e os programas habitacionais foram discutidos no quarto bloco do debate da TV Bandeirantes pelos candidatos Dilma Rousseff (PT) e José Serra (PSDB). Os temas serviram, mais uma vez, de combustível para a troca de acusações.

Serra atacou: disse ser o sistema portuário brasileiro um dos piores do mundo. Dilma se defendeu e culpou o governo do PSDB de não investir no setor, em função de acordos com o Fundo Monetário Internacional (FMI).

Serra citou os portos de Santos (SP) e de Salvador (BA) como uns dos mais críticos. O tucano também criticou os aeroportos.

A respeito da infraestrutura de portos e aeroportos, estudos do Ipea mostram que o Brasil é um dos países em pior situação em matéria portuária. Só em Santos há cem navios aguardando vaga disse Serra Dilma revidou e lembrou o período em que Serra foi ministro do Planejamento no governo Fernando Henrique: No Brasil, no período em que você (Serra) era ministro do Planejamento, não investiu em portos e aeroportos.

O que não fizeram ficou para a gente fazer. Fizemos o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC).

Ainda sobre infraestrutura, Dilma acusou Serra de falar mal do programa do governo federal Minha Casa, Minha Vida.

O tucano negou que tenha criticado, mas desmentiu números divulgados sobre o programa: Ela (Dilma) fala em um milhão de unidades, mas foram entregues só 150 mil disse o tucano.

Ele (Serra) tem dito que vai continuar programas do presidente Lula. Já vi você falar muito mal do Minha Casa, Minha Vida. Vocês, usuários, olhem bem para o candidato.

Candidatos divergem sobre a venda da Nossa Caixa No terceiro bloco, Dilma voltou a falar de privatização e associou Serra à venda do banco Nossa Caixa, que pertencia ao governo do Estado de São Paulo.

Serra, a Nossa Caixa, você queria porque queria vender. E o governo federal comprou.

Mostra claramente nossa diferença.

A segunda foi a Cesp (Companhia Energética de São Paulo). Você queria vender a Cesp. A nossa diferença é marcada não por falas, por disse que disse, mas pela prática. E aí é aquela questão: fala, mas não faz. Queria falar da diferença entre nós: nós financiamos empresas brasileiras, vocês financiavam grupos internacionais com dinheiro do BNDES.

Em seu comentário, Serra contestou a veracidade das informações citadas por Dilma: Ela diz uma coisa totalmente falsa. São Paulo tinha um banco, a Nossa Caixa. Eu vendi a Nossa Caixa para o governo federal, que fortaleceu o Banco do Brasil. Os recursos obtidos do Banco do Brasil foram investidos em metrô, em transportes. Não é verdade o que a Dilma diz.

Ao falar sobre saúde, Serra criticou a burocracia que vem atrasando as autorizações para fabricação de novos medicamentos genéricos. A candidata do PT afirmou que a produção dos remédios genéricos aumentou durante o governo Lula: A produção de genéricos aumentou no Brasil. Ou ele está mal informado ou não estou entendendo o que ele está falando.

Serra disse que, de fato, ela não teria entendido a pergunta: Evidente que foi um sucesso e a produção aumentou. Mas o governo tem de aprovar a produção de novos medicamentos.

Na minha época, a autorização demorava seis meses. Agora, demorar até um ano e meio.

Postura de Dilma surpreende assessores de Serra

DEU EM O GLOBO

Do lado da campanha petista, apreensão com menções à crença em Deus e ao caso Erenice

Leila Suwwan e Flávio Freire

SÃO PAULO. Até a metade do debate, a coordenação da campanha petista comemorava a inédita estratégia da candidata Dilma Rousseff (PT) de partir para a ofensiva no primeiro debate do segundo turno com o adversário José Serra (PSDB), que foi pego de surpresa, segundo assessores, com o novo repertório da petista. Do lado tucano, era indisfarçável a surpresa com a agressividade de Dilma.

Os coordenadores do lado dilmista acompanhavam com apreensão apenas os contra-ataques de Serra, que traziam à tona uma discussão sobre a crença em Deus e a menção aos casos de corrupção que envolvem a ex-ministra da Casa Civil Erenice Guerra, que foi braço-direito de Dilma.

Ao chegar ao estúdio, Dilma caminhou lentamente, ainda com um leve incômodo no pé torcido, e avisou que muita coisa ficaria esclarecida no debate.

Assim que abriu o debate, seus três coordenadores de palco o marqueteiro João Santana, o presidente do PT, José Eduardo Dutra, e o deputado Antonio Palocci comemoravam o que chamaram de firmeza.

Para o marqueteiro tucano, a tática do PT acabaria prejudicando Dilma, porque estaria, segundo sua análise, passando uma imagem agressiva.

Porém, do lado petista, os principais coordenadores falavam que o script estava funcionando e que Serra estaria acuado. Uma das que aprovavam a conduta de Dilma era a ministra Nilcéa Freire (Mulheres), que acompanhava na segunda fileira.

O embate direto era esperado. O Serra tem uma campanha na rua e outra no subterrâneo. Viemos aqui para acabar com essa hipocrisia, essa campanha inquisitorial disse Dutra, no primeiro intervalo.

Uma questão preocupou a campanha de Dilma. Quando Serra tentou inverter a discussão sobre o aborto para falar sobre Deus, João Santana xingou: Puta que pariu.

Além desse momento de tensão, os três assessores mascavam chicletes e acompanhavam mensagens em seus celulares com tensão, alternados por momento de piada, como nas menções de Serra a Palocci.

Nem havia começado o debate e aliados da campanha de Serra já davam sinais claros de que o segundo turno deverá ser marcado mesmo pelas polêmicas de caráter religioso. Assim como mostravam animação com a performance do tucano na pesquisa Datafolha, que indica Serra com sete pontos a menos que a petista, dirigentes dos partidos da coligação disseram que a candidatura deve manter em pauta questões como o aborto, um dos principais temas dos últimos dias. Aliados acreditam que temas sobre valores humanos ganharam repercussão com a candidatura de Marina Silva (PV), que perdeu a disputa no primeiro turno, e por isso devem ser mantidos nessa última etapa eleitoral.

O eleitor, quando votou na Marina, decidiu pela questão dos valores.

Os temas cristãos foram fundamentais para a decisão dos votos dela disse o presidente nacional do DEM, Rodrigo Maia.

Para o deputado federal Jutahy Magalhães (PSDB-BA), o debate sobre essas questões deve se intensificar no segundo turno. Segundo ele, o eleitor quer saber também sobre o que os candidatos pensam a respeito de situações que dividem os praticantes de diferentes religiões.

São temas importantes e devem ser colocadas na mesa. Acho que o eleitor tem o direito de saber quem é o seu candidato, verdadeiramente disse Jutahy.

Durante o debate, assim que críticas nesse sentido foram colocadas, os tucanos reagiram com intranquilidade.

Depois de ter seu nome citado pela petista, a mulher de Serra, Mônica Serra, evitou entrar na polêmica.

Disse apenas: Não sei do que ela está falando disse ela, sentada na terceira fila, enquanto uma de suas assessoras buscava na internet informações sobre declaração feita por Dilma ontem à tarde. A candidata do PT disse que Mônica a acusou de querer matar criancinhas.

Também citado, o candidato a vice na chapa de Serra, deputado Indio da Costa, evitou esboçar reações quando foi citado pela petista. Dilma disse que Indio tem feitos ataques seguidos contra sua candidatura. O vice de Serra não quis comentar as acusações.

Um debate em que Lula foi o grande ausente

DEU EM O GLOBO

Especialistas aprovam tom mais incisivo dos dois, mas têm dúvidas se isso renderá votos

Cristina Azevedo

Especialistas ouvidos pelo GLOBO viram no debate de ontem um corte em relação à campanha do primeiro turno, em que a candidata do PT à Presidência, Dilma Rousseff, e o candidato do PSDB, José Serra, evitavam o confronto direto.

Para eles, houve uma atmosfera de ataque e de contraataques, em que temas polêmicos antes evitados como o escândalo envolvendo a ex-ministra da Casa Civil Erenice Guerra, ex-braço-direito de Dilma foram abordados.

Mas, mesmo tornando o debate mais emocionante, esse clima de confronto pode não se traduzir em votos para nenhum dos dois candidatos, opinam.

Além disso, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi o grande ausente no debate de ontem, na análise dos especialistas ouvidos pelo GLOBO.

Se nos enfrentamentos anteriores ele era citado tanto pela candidata do PT quanto pelo do PSDB, desta vez as menções ao seu nome foram poucas de lado a lado.

Dilma já demonstra mais experiência Para Eurico Figueiredo, professor do curso de pós-graduação de Ciência Política da Universidade Federal Fluminense, o debate de ontem foi mais emocional que os anteriores, e o candidato do PSDB, José Serra, mostrou-se mais agressivo do que vinha sendo.

Serra fez duas coisas que lhe cobravam muito: mostrar sua trajetória como político profissional e tocar em pontos polêmicos, como o caso Erenice. Ele se mostrou mais agressivo e isso lhe dá uma vantagem, ao meu ver disse Figueiredo.

Para Figueiredo, Dilma foi assertiva, mas teve menos fluência do que Serra.

O professor de História Contemporânea Daniel Aarão Reis, por sua vez, acha que Dilma parecia insegura a princípio, atingida pelos ataques que vem sofrendo, e exprimiu isso com franqueza e sinceridade. No segundo bloco, no entanto, ela recuperou o autocontrole e mostrou conhecimento dos temas discutidos. Sobre Serra, Reis destaca que, embora atacado no debate sobre privatizações, teve como ponto forte a articulação e o autocontrole.

O debate mostrou também uma Dilma Rousseff já um pouco mais habituada à política.

Se não respondeu a todas as perguntas, na opinião de Figueiredo, ela demonstrou certa sagacidade política ao trazer temas que não dominava para áreas que conhecia melhor.

Foi o primeiro debate frente a frente dela, e ela já se mostrou mais experiente.

Também foi autêntica, o que permitiu conhecê-la um pouco melhor disse Figueiredo.

Serra também foi ele mesmo. Nesse sentido, o debate foi bom. Acho que ela foi bem, mas ele foi melhor.

Lula não se materializou no debate Sobre uma certa ausência do presidente Lula no debate, Figueiredo acredita que isso foi uma decisão acertada do lado de Serra, que desta vez se mostrou mais como um opositor, mas errada do lado de Dilma, que tem no presidente seu principal aliado.

Desta vez, Lula foi praticamente um fantasma, não se materializou no debate.

Reis, por seu lado, destaca que o clima de ataques e contraataques pode não contribuir para a elucidação das propostas dos candidatos.

Talvez eu esteja exagerando, mas acho que os dois candidatos estão perdendo.

Talvez Serra esteja perdendo menos, pela sua maior capacidade de articulação e por aparentar maior autocontrole disse Reis, para quem Serra se saiu melhor ao discutir a segurança e a saúde; enquanto Dilma foi melhor na discussão sobre privatizações.

Figueiredo também concorda com os resultados dúbios dos ataques de ontem: Isso pode levar a um resultado negativo para os dois afirmou.

Serra diz que rival tem duas caras; ela o acusa de espalhar calúnias

DEU NA FOLHA DE S. PAULO

Os candidatos à Presidência Dilma Rousseff (PT) e José Serra (PSDB) fizeram ontem à noite, na TV Bandeirantes, o debate mais agressivo da campanha eleitoral.

A troca de ataques envolveu temas como aborto, privatizações e acusações de corrupção na Casa Civil petista e na campanha tucana.

Citando dados positivos do governo Lula, Dilma acusou o tucano de lançar calúnias e de tergiversar. Serra chamou de tró-ló-ló falas da petista, disse que ela tem duas caras ao tratar do aborto e defendeu privatizações da gestão FHC. Ambos deixaram acusações sem resposta.


Dilma e Serra trocam acusações em duelo mais agressivo da campanha

PETISTA DIZ QUE MULHER DE SEU RIVAL A ACUSOU DE SER A FAVOR DE "MATAR CRIANCINHAS" MAIS EXALTADA, EX-MINISTRA INSINUA QUE O TUCANO, SE ELEITO, PODE PRIVATIZAR A EXPLORAÇÃO DO PRÉ-SAL EX-GOVERNADOR CHAMA OPONENTE DE "DUAS CARAS" POR MUDAR DE OPINIÃO SOBRE ABORTO E PÕE EM DÚVIDA SUA CRENÇA EM DEUS

DE SÃO PAULO As promessas de "paz e amor" foram deixadas de lado. Os candidatos Dilma Rousseff (PT) e José Serra (PSDB) realizaram ontem, na Band, o embate mais duro e agressivo desta campanha.

Os ataques envolveram principalmente o aborto, contra Dilma, e as privatizações, contra Serra.

O primeiro ataque, logo na abertura do debate, partiu de Dilma. Ela acusou a campanha de Serra de atingi-la com "calúnias, mentiras e difamações". "Até com questões religiosas", afirmou.

O tucano reagiu citando as posições de sua adversária em relação ao aborto: "Você disse com clareza, e isso está filmado, que é a favor da liberação do aborto. Depois disse o contrário. É uma questão de não ser coerente, de ter duas caras"."Serra, você tem que ter cuidado para não ter mil caras", revidou Dilma. "Você [como ministro da Saúde] regulamentou o acesso ao aborto no SUS", acrescentou ela, referindo-se à criação de norma técnica para realização do aborto previsto em lei.

Dilma citou a mulher do tucano, Monica Serra, que teria declarado que a petista era "a favor de matar criancinhas". "Acho gravíssima a fala da sua senhora."

Na resposta, Serra não falou de sua mulher. Dilma voltou ao assunto. "Sua esposa disse: "a Dilma é a favor da morte de criancinhas". É tão absurda a acusação." De novo, o candidato tucano preferiu não tratar de sua mulher. Após o debate, disse não saber do que Dilma falava.

Entre os dois candidatos, a petista foi a mais exaltada e demonstrou nervosismo.Chegou a dizer que Serra poderia ser enquadrado na Lei da Ficha Limpa pelo fato de um juiz ter aceito uma denúncia de calúnia e difamação contra ele. Crimes contra a honra, porém, não tornam um político "ficha-suja".

PRIVATIZAÇÃO

No segundo bloco, o tema dos ataques foram as privatizações. Dilma, citando assessores tucanos, disse que José Serra tem planos de privatizar a exploração do petróleo localizado no pré-sal.

Lembrou que Serra, como governador de São Paulo, vendeu o banco Nossa Caixa.

E citou as privatizações realizadas por FHC: "Vocês financiavam grupos estrangeiros com dinheiro do BNDES. No limite da irresponsabilidade, financiavam grupos internacionais para comprar patrimônio público brasileiro".

Serra, então, afirmou que o PT dificultou a privatização das empresas estatais de telefonia, no governo FHC. "Sabe qual seria o Brasil do PT? O Brasil do orelhão. Ninguém teria celular."

Em seguida, o tucano disse que irá "fortalecer e reestatizar" os Correios, a Petrobras, o Banco do Brasil, a Caixa e o BNDES. "Com relação ao petróleo, não vou fazer privatização nenhuma."

Um dos temas escolhidos por Serra para tentar acuar Dilma foi a acusação de corrupção que derrubou Erenice Guerra da Casa Civil.

"Há uma pessoa, chefe da Casa Civil, seu braço direito por sete anos e três meses, que organizou um grande esquema de corrupção. Você não tem nada a ver. É tudo alheio a você", ironizou.

Dilma entrou no assunto superficialmente: "No que se refere a Erenice, fico indignada com a contratação de parente e de amigos, com critérios que não sejam técnicos".

E continuou: "Mas você deveria se lembrar de Paulo Vieira de Souza, seu assessor que fugiu com R$ 4 milhões, dinheiro da sua campanha".

Souza, conhecido como Paulo Preto, é o ex-diretor de engenharia da Dersa paulista citado no inquérito da Operação Castelo de Areia. Segundo a revista "IstoÉ", ele arrecadou R$ 4 milhões não declarados à Justiça Eleitoral.

Serra não falou sobre Souza. Depois provocou: "Estou surpreso com essa agressividade, esse treinamento. A Dilma Rousseff está se mostrando como é de verdade".

No final do debate, Dilma Rousseff disse duvidar que Serra manteria os programas sociais do governo Lula.

"Ele [no governo de SP] reduziu programas do Alckmin, como Escola de Tempo Integral e Escola da Família. Como é que a gente acredita que ele vai de fato continuar os programas do Lula?"

Serra preferiu falar sobre apoios políticos: "Ela tem dois ex-presidentes com ela, que ela não fala nunca: Collor e Sarney. Eu tenho dois: Itamar e Fernando Henrique, pessoas dignas".

Em meio às trocas de acusações, o primeiro debate do segundo turno foi pobre em programas de governo. A petista e o tucano falaram ligeiramente de propostas para a educação e a saúde, por exemplo, dois dos temas que mais inquietam os eleitores.

No 1º duelo, Dilma parte para ataque a Serra


DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

O primeiro debate entre Dilma Rousseff (PT) e José Serra (PSDB) no segundo turno da campanha eleitoral foi marcado por polêmicas em torno de temas como legalização do aborto, privatizações e corrupção. Pela primeira vez, a iniciativa de atacar partiu da petista.

O tom do confronto se revelou logo no início do evento, exibido pela TV Bandeirantes. Dilma disse estar sendo vítima de "calúnias, mentiras e difamações" e acusou o vice de Serra, Índio da Costa, de organizar grupos para atingi-la. O tucano, nesse momento, abordou a questão do aborto pela primeira vez. "Você disse que era a favor da liberação do aborto, depois disse que era contra. Aí se trata de ser coerente, de não ter duas caras", afirmou.

Em resposta, Dilma chamou o adversário de "mil caras" - termo que usou em outras duas ocasiões. A petista disse ainda que foi o próprio Serra, quando ministro da Saúde, quem "regulamentou o acesso ao aborto" no SUS (Sistema Único de Saúde).

O candidato do PSDB respondeu que apenas deu forma a uma norma técnica para balizar o atendimento de abortos relacionados a estupros ou a risco de vida para a gestante - os únicos casos em que são permitidos pela legislação. "Nunca defendi a liberação do aborto. Você defendeu e de repente muda. Com relação a Deus, é a mesma coisa. Em entrevistas, você diz que não sabe se acredita, se não acredita, e depois vira uma devota."

Os candidatos também polemizaram sobre as privatizações e a Petrobras. A petista criticou a venda de ações da estatal, promovida pelo governo Fernando Henrique Cardoso, e procurou contrapor a operação à recente capitalização da empresa.

Serra acusou o PT de ter práticas diferentes do discurso em relação a privatizações, já que o próprio governo Lula vendeu dois bancos estatais. "É só chegar a campanha e o PT volta com essa estória. O governo (Lula) também aumentou a participação privada no Banco do Brasil."

Poemas minuto - Ascenso Ferreira (1895-1965)

Filosofia

Hora de comer, —comer!
Hora de dormir, — dormir!
Hora de vadiar, — vadiar!
Hora de trabalhar?
— pernas pro ar que ninguém é de ferro!

Sucessão de São Pedro

— Seu vigário!
Está aqui esta galinha gorda
que eu trouxe pro mártir São Sebastião!
— Está falando com ele!
— Está falando com ele!