sexta-feira, 15 de outubro de 2010

Reflexão do dia – Fernando Henrique Cardoso

"Quero ver o presidente Lula, que votou contra o Real, que fez o PT votar contra o Real, dizer que estabilizou o Brasil. Ele não precisa disso. Ele fez coisas boas que eu reconheço. Ele agiu bem na crise atual, financeira. Para que, meu Deus, ser tão mesquinho? É isso que quero perguntar a ele: ‘Lula, por que isso, rapaz?’"

( Fernando Henrique Cardoso, ontem, em S. Paulo)

O Brasil Real :: Roberto Freire

DEU NO BRASIL ECONÔMICO

A propaganda governamental tem se esmerado em apresentar a atual gestão como a responsável pelo bom momento vivido pela economia e pela mudança na qualidade de vida de parcelas significativas de nossa população, omitindo, no entanto, a razão essencial: foi a implantação do Plano Real, no governo Itamar Franco, que nos possibilitou vencer o processo de hiperinflação, que então vivíamos, e criou as bases para a estruturação de uma moeda com efetivo poder de compra e respeitabilidade internacional.

Em um delicado momento de nossa vida política, após o impeachment de Fernando Collor, Itamar Franco conseguiu não apenas superar as turbulências do momento que ameaçavam o próprio processo democrático, como estabeleceu as bases domais bem sucedido plano de estabilização econômica de nossa história, reduzindo a inflação, ampliando o poder de compra da população e remodelando os setores econômicos nacionais.

Para tanto, o então ministro da Fazenda Fernando Henrique Cardoso, adotou uma série de providências, como a desindexação da economia, visando interromper o ciclo vicioso de corrigir valores futuros pela inflação passada. Aumentou a capacidade de investimento do Estado, ao elaborar um ambicioso processo de privatização.

A troca da propriedade de grandes empresas brasileiras eliminou a obrigação pública de financiar investimentos, que era efetuado por meio da emissão de moeda sem lastro, que causavam e realimentavama inflação.

Ademais, foramas privatizações que possibilitaram a modernização de tais empresas cominvestimentos privados, ampliando a disponibilidade de serviços oferecidos à população. A aquisição de telefones celulares hoje por todos é tão somente a partemais visível desse processo.

A par dessas medidas, uma política fiscal dura com cortes de despesas e aumento percentual dos impostos federais dotou o Estado da capacidade de fazer frente às necessidades de investimentos, principalmente em educação, saúde e infraestrutura, paralisados há muito pela espiral inflacionária.

Mais dois aspectos devem ser destacados para o sucesso do Real: a abertura de nossa economia, graças à gradual redução de tarifas de importação e facilitação da prestação de serviços internacionais, que propiciou o aperfeiçoamento da indústria nacional, expondo-a à concorrência, o que permitiu o aumento da produção no longo prazo.

Essa oferta maior de produtos tenderia a acarretar uma baixa nos preços. Por fim, uma restritiva política monetária com aumento da taxa básica de juros e da taxa de depósito compulsório dos bancos, visando diminuir o fluxo financeiro, em um primeiro momento, e fortalecer o sistema financeiro nacional, posteriormente.

Todas essas medidas tiverama oposiçãomilitante do PT, que à época chamava o Plano Real de “estelionato eleitoral”. Mas fo ram precisamente tais medidas que dotaram o país não apenas de uma moeda, mas de um futuro, que estamos vivenciando hoje.

Nossa tarefa é avançar no sentido de reformas estruturantes para que o Brasil, vencidas as irresponsabilidades do atual governo, possa mais!


Roberto Freire é presidente do Partido Popular Socialista (PPS)

Acertando contas :: Merval Pereira

DEU EM O GLOBO

Já escrevi aqui diversas vezes que considero que o governo Lula promoveu um retrocesso institucional no país que talvez seja a verdadeira herança maldita que legará a seu sucessor.

A esterilização da política, com a cooptação dos partidos políticos para formar uma base parlamentar à custa de troca de favores e empregos; o mesmo processo de neutralização dos movimentos sociais e sindicais com financiamentos generosos.

Em consequência, o aparelhamento da máquina estatal, dominada pelo PT e alguns partidos aliados; a leniência com os companheiros que transgrediram a lei em diversas ocasiões, todos perdoados e devidamente protegidos.

Por fim, a própria postura do presidente Lula durante a campanha eleitoral, desprezando a legislação e menosprezando as advertências e multas do Tribunal Superior Eleitoral como se elas não tivessem significado.

Tudo isso levou o país a ficar anestesiado durante esses oito anos, num processo de centralização da liderança carismática de Lula que continua predominando na campanha eleitoral.

O quadro estava montado para que a campanha transcorresse de maneira anódina e sem debates, com a automática transferência de votos de Lula para a homologação da vitória no primeiro turno de sua "laranja" eleitoral, a candidata Dilma Rousseff que, segundo definição do próprio Lula, aparece na máquina de votar porque ele está impossibilitado de concorrer à Presidência da República pela terceira vez consecutiva.

Nas últimas semanas, dando a fatura por liquidada, o presidente Lula resolveu "acertar umas contas" com adversários escolhidos, segundo revelou a assessores próximos.

E lá se foi ele pelo país a falar mal da imprensa e fazendo campanha contra candidatos específicos: alguns, como os senadores Marco Maciel, do DEM de Pernambuco, Heráclito Fortes, do DEM do Piauí, ou Arthur Virgílio, do PSDB do Amazonas, conseguiu derrotar.

Outros, não. Exortou o eleitorado a "extirpar" o Democratas em Santa Catarina e o partido elegeu o governador e os dois senadores da oposição.

Tentou evitar a reeleição de Agripino Maia para o Senado no Rio Grande do Norte, e o DEM não apenas o elegeu como também a governadora Rosalba Ciarlini.

Deve-se a esse "acerto de contas" do presidente boa parte do clima que levou inesperadamente a eleição para o segundo turno.

A figura do presidente raivoso e rancoroso, a buscar vingança de inimigos que deveriam ser meros adversários políticos, politizou uma campanha morna e fez surgir a dúvida entre parcela de eleitores, juntamente com questões específicas como as recorrentes denúncias de corrupção no governo, com o caso de Erenice Guerra no Gabinete Civil se destacando, e o debate religioso sobre o aborto.

Mas Lula parece que não aprendeu com a lição das urnas. Ontem, em meio a uma campanha que periga transformar-se em uma guerra religiosa, teve a ousadia de dizer em cima de um palanque que foi Deus quem derrotou os políticos que acabaram com a CPMF. Nomeou-se, assim, um intermediário divino no seu "acerto de contas".

O fato é que a 15 dias da eleição o resultado é imprevisível, e a média das pesquisas, embora mantenha uma ligeira vantagem para Dilma Rousseff, mostra que as curvas estão se aproximando e o empate técnico é o resultado que melhor reflete a situação atual.

Com uma desvantagem para a candidata oficial: ela vem perdendo posições em praticamente todas as regiões do país, e só ganha no Nordeste, que representa 29% do eleitorado brasileiro, por uma boa diferença, de cerca de 30 pontos (60,1% a 31,1%).

Mas o resultado do primeiro turno foi melhor para ela: 61,63% contra 21,48% de Serra e 16,14% de Marina. Isso quer dizer que Serra cresceu 10 pontos na região, e ainda existem cerca de 6 pontos de Marina sendo disputados.

No Norte-Centro-Oeste, que representa 15% dos votos, Serra vence Dilma por 5 pontos (45,7% contra 40,7%). Mas no primeiro turno, a petista venceu por pequena vantagem - 38,89%, contra 37,97% de Serra e 20,94% de Marina.

No Sudeste, onde estão concentrados 44% dos votos brasileiros, Serra já vence por 1 ponto, tendo perdido na apuração do primeiro turno, quando Dilma obteve 40,88%, contra 34,58% de Serra e 23,18% de Marina.

Dilma cresceu menos de 3 pontos na região, e está agora com 43,3% enquanto Serra foi a 44,7%, um crescimento de 10 pontos. Restam cerca de 13 pontos dos eleitores de Marina que ainda não se definiram, segundo a pesquisa CNT/Sensus.

No Sul, que representa 14% do eleitorado, Serra teve 43,01% no primeiro turno e hoje tem 56%, enquanto Dilma caiu para 36,4% contra os 42,10% que obteve no primeiro turno.

Com relação à pesquisa do Ibope, que deu uma vantagem de 6 pontos para Dilma, há uma questão a constatar: na pesquisa de 02 de outubro para o primeiro turno, o Ibope deu Dilma com 51%, Serra com 31% e e Marina com 17%.

A realidade das urnas no dia seguinte foi Dilma 47%, Serra 33% e Marina 19%, o que demonstra que o Ibope estava com uma defasagem de 6 pontos na diferença entre Dilma e Serra, apontando para uma diferença de 20 pontos que se transformaram em 14 pontos no resultado oficial.

Se essa defasagem ainda estiver presente, a diferença apontada de 6 pontos desaparece totalmente, dando empate, na mesma linha que a pesquisa do CNT/Sensus indica.

À tripa-forra:: Dora Kramer

DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

A convicção tem suas vantagens, mas quando excessiva pode virar obsessão, levar a erros cruciais e se transformar em enorme desvantagem ao impedir o convicto, ou obcecado, de enxergar as variantes da realidade.

Foi mais ou menos o que aconteceu com o presidente Luiz Inácio da Silva, com o PT, o governo, o comando da campanha e com a candidata Dilma Rousseff na primeira etapa da eleição presidencial: não olharam para os lados, não consideraram uma segunda hipótese, apostaram tudo no vermelho 3 (de outubro).

Lula diz as coisas mais estapafúrdias e quase todo mundo acredita; natural, portanto, que quase todo mundo tenha acreditado quando ele deu por ganha a eleição em primeiro turno baseado nas pesquisas de intenções de voto e no próprio voluntarismo.

Tão certos estavam da vitória que não se prepararam minimamente para a hipótese do segundo turno. Surpreendidos, gastaram todos os recursos (públicos e privados) de uma vez só e deixaram a frustração transparecer no abatimento de quem terminou a primeira etapa com mais de 13 pontos na frente, o equivalente a cerca de 14 milhões de votos.

Pois agora com a situação beirando o empate - a estarem corretas as pesquisas - é que a candidatura governista precisaria de toda força: presença constante do presidente da República, apoios políticos esfuziantes, candidata serena administrando a vantagem de escolhida pelo presidente mais popular da história do Brasil, uma profusão de boas notícias.

No lugar disso, o que se tem?

Políticos contrariados com deslealdades do PT, petistas aborrecidos porque foram preteridos em favor de aliados, candidata de garras postas, fatos negativos e, pior de tudo, o encolhimento de Lula, criticado publicamente por seus aliados por ter exagerado na soberba na primeira etapa.

Não foi o único, e dos prudentes de última hora não se ouviu uma só palavra de reparo ao estilo presidencial apesar da quantidade de análises e alertas diários sobre as exacerbações de Lula. Quando se acreditava que iria dar certo, era aplaudido, temido, celebrado. Quando se viu que não deu, foi condenado.

E agora? Agora o PT se vê obrigado a improvisar diante da necessidade de consertar os excessos e a "economizar" aquele que é seu principal trunfo e razão única de Dilma ter tido 47 milhões de votos: o presidente Lula.

Talvez ele esteja sendo guardado para a reta finalíssima, mas se a curva se inverter nesse meio tempo será necessário recorrer aos préstimos do criador, já que a criatura sozinha não dá conta do recado.

Há um dilema no PT quanto a isso: usar Lula pode ser um risco por conta de todos os abusos da etapa inicial, mas não usá-lo, ou "economizá-lo" em excesso pode custar a eleição.

Ainda o seguinte aspecto: tivesse a história se resolvido no dia 3 Lula seria o autor de uma vitória espetacular; passando para o segundo turno será sócio fundador de um sucesso relativo ou de uma derrota inesperada.

Vaivém. Recapitulando as mudanças que o PT precisou improvisar para tentar segurar o eleitor: mudou o programa de governo; mudou o Plano Amazônia Sustentável, que fez Marina Silva deixar o Ministério do Meio Ambiente.

Mudou a posição de Dilma sobre a descriminalização do aborto; mudou a face macia da candidata; mudou o prazo para a conclusão do inquérito de Erenice Guerra, mudou a data da parada gay no Rio, para depois da eleição.

Se eleita, de início Dilma precisará responder pelo passivo.

Pé na tábua. Até hoje há quem atribua a derrota de Fernando Henrique Cardoso para Jânio Quadros na disputa pela Prefeitura de São Paulo, em 1985, à hesitação dele durante um debate para responder se acreditava ou não em Deus.

Este lembrete fala sobre falta de clareza de posições, não de religião.

O clima está nervoso :: Eliane Cantanhêde

DEU NA FOLHA DE S. PAULO

BRASÍLIA - A CNT-Sensus, com uma diferença de apenas quatro pontos entre Dilma Rousseff e José Serra, está causando o maior frisson. Na campanha petista, o clima é de ansiedade. Na tucana, quase de "já ganhou". É aí que mora o perigo para os dois lados.

A campanha de Dilma amanheceu no dia 4 atordoada e vem dando passos erráticos, enquanto a candidata expõe dois personagens conflitantes: o seu eu "assertivo" e o seu eu carola, rezando de manhã com católicos, de tarde com evangélicos, de noite com espíritas. Nunca rezou tanto na vida.

Já a campanha de Serra ressurgiu das cinzas e acha que qualquer pontinho a mais é sinal de vitória na certa. Os programas eleitorais estão mais alegres e confiantes, mas falta combinar o tom com o "adversário": o próprio Serra, que não pode ver um jornalista pela frente, seja de rádio, jornal ou TV, que já parte para o bate-boca. É o seu arraigado lado Ciro Gomes.

Quando não têm como se defender, a religiosa Dilma e o ciclotímico Serra recorrem ao expediente de Lula, que, sempre que é pego de jeito (com mensalão, aloprados, Erenice), se faz de vítima e tasca a história do preconceito das elites.

Dilma diz que é vítima de calúnias do adversário e da imprensa, quando deveria tomar satisfação de Erenice Guerra e de ministros que decidem jogar no lixo o plano de Marina Silva para a Amazônia justamente quando ela mais precisa dos votos da ex-ministra e do PV.

E Serra acusa a imprensa de reproduzir a "pauta petista" quando repórteres lhe perguntam sobre o tal "Paulo Preto" (que, segundo Dilma, fugiu com R$ 4 milhões da campanha do PSDB). Se não tem resposta, é problema dele, não da imprensa, não dos jornalistas.

Dilma em queda, Serra em alta e o resultado indefinido a duas semanas das urnas, o clima é de que a qualquer hora estoura um novo escândalo, real ou não. Ainda mais com a internet livre, leve e solta.

Confusão profunda :: Míriam Leitão

DEU EM O GLOBO

A direção atual da Petrobras é meio lunática. A empresa perdeu quase US$100 bilhões de valor de mercado, está sendo mal avaliada em relatórios de bancos, é a única ação que perde do Ibovespa em um ano. Tem suas reservas em águas profundas, área em que no mundo inteiro estão sendo reavaliadas as normas de segurança. Em vez de tratar disso, o presidente da estatal entra na briga eleitoral.

Falta do que fazer não é. Um bom gestor estaria tentando reverter problemas de imagens, aumentando a transparência da comunicação com o mercado, e divulgando ao mundo com que novos rigores está protegendo o país, a empresa, os acionistas e o meio ambiente dos riscos da exploração em águas profundas e ultraprofundas. No dia 22 de maio de 2008, o valor de mercado da Petrobras era US$309 bilhões. No mês passado, chegou a valer apenas US$146 bi. Ao ser capitalizada, principalmente com recursos da União, ela melhorou um pouco o desempenho, mas ontem estava cotada em US$214 bilhões. Segundo levantamento da Economática, a ação ON da Petrobras é a única entre 340 papéis do mercado brasileiro que perde em rentabilidade para o índice Ibovespa nos últimos 12 meses. E o segundo pior desempenho é da ação PN da Petrobras. Os bancos Itaú, Morgan Stanley, Barclays e UBS fizeram relatórios alertando sobre riscos e perda de valor de mercado da empresa. Alguns fizeram até indevidamente porque participaram do processo de capitalização. Primeiro venderam, depois disseram que não era um bom negócio.

Em vez de pensar em tudo isso, José Sérgio Gabrielli decidiu subir ao palanque e brigar por um suposto futuro do pretérito: de que Fernando Henrique teria pensado em privatizar a Petrobrás há dez anos. Ele vem há anos repetindo que houve esse suposto risco, para justificar o comportamento inadequado de pôr uma companhia de capital aberto, com sócios privados e estrangeiros, à serviço de um partido.

O fato histórico é que o presidente Fernando Henrique não vendeu, não propôs a venda e ainda enviou uma carta ao Senado - que está lá nos arquivos da Casa - se comprometendo a não privatizá-la. A carta foi enviada quando em 1995 o PT levantou o mesmo fantasma, na época em que FHC mandou para o Congresso a lei que quebrou o monopólio. A Lei do Petróleo, como já é História, se transformou numa alavanca para a empresa. A Petrobras teve mais liberdade de preços, fez acordos com inúmeros parceiros internacionais, ganhou a maioria das áreas para exploração colocadas em licitação, e elevou em muito suas reservas. Além disso, o país recebeu bilhões de investimentos de empresas que vieram para cá para pesquisar, produzir, empregar e pagar impostos. Cheio de riscos reais para enfrentar, o presidente da Petrobras se preocupa com supostos riscos que teriam ficado - se fossem verdadeiros - no passado.

A Agência Internacional de Energia divulgou esta semana um levantamento que constatou mudanças nos procedimentos na indústria do petróleo em alto-mar. Vários países estão tornando as exigências de segurança maiores. Os Estados Unidos estão levantando a proibição da exploração no mar, mas a indústria já está com novos padrões.

Vários países estão adotando novas regras. A União Europeia está preparando um relatório; a Austrália, criando um novo órgão regulador; a Rússia quer que seja criado um Global Marine Environment Protection Initiative dentro do G-20; o México decidiu adiar projetos de exploração em águas profundas à espera da evolução; e a Noruega admitiu que há uma reação da opinião pública contrária à abertura das novas frentes.

No Brasil, houve a suspensão temporária das atividades da P-33 por motivos de segurança, mas depois de pressão dos trabalhadores e reportagens na imprensa às quais a empresa tentou inicialmente reagir.

Diante da tragédia ambiental do Golfo do México, a indústria de exploração de petróleo em alto-mar mudou. Os seguros são mais caros, as exigências maiores, os riscos de dano à imagem de um desastre estão mais bem avaliados. Uma empresa que tem suas reservas no mar, e que vai crescer a produção nas próximas décadas exatamente nessa área e em águas cada vez mais profundas, tem que se debruçar sobre isso de forma incansável. Além de rever procedimentos tem que comunicar ao mercado, aos acionistas, contribuintes e consumidores que providências tomou, que procedimentos foram revistos, que garantia nos dá a todos de que a empresa está aprendendo com a tragédia do Golfo do México.

O que realmente deveria estar sendo discutido na campanha é que a mudança do atual sistema de concessões para o de partilha vai, entre outros problemas, concentrar mais ainda a receita nas mãos da União tirando dos estados. Só com a Participação Especial os estados recolheram este ano mais de R$5 bilhões. Esse dinheiro deixará de ir para eles porque a Participação Especial desaparecerá no novo sistema. Isso sem falar na briga federativa que o governo adiou para depois das eleições com a proposta de retirar royalties dos estados produtores. O sistema de partilha reduz a liberdade da Petrobras de decidir que investimentos fazer e além disso cria uma nova estatal.

Na estapafúrdia nota desta semana em que a Petrobras entrou abertamente na campanha eleitoral, há a afirmação que "no pré-sal o risco exploratório é mínimo." Quem acha que o risco em qualquer etapa do processo de exploração de petróleo em alto-mar é mínimo deve ter tido alguma amnésia sobre o que acabou de acontecer com a BP no Golfo do México. Há muito a fazer na Petrobras. O que a empresa não deve fazer é se comportar como um braço de partido político.

Ajuda de governadores eleitos contribui para crescimento de Serra

DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

Análise: Marcelo de Moraes

O primeiro turno da eleição mostrou que o candidato tucano José Serra tem um poderoso potencial de crescimento em Estados onde seus aliados foram muito bem nas urnas.

Serra não conseguiu reproduzir na corrida presidencial o mesmo desempenho obtido, por exemplo, pelos seus aliados em São Paulo, Minas Gerais e Paraná. Nesses três Estados, que concentram quase 52,5 milhões de eleitores, o PSDB elegeu no primeiro turno os governadores e já começam a influenciar no crescimento da campanha de José Serra.

Em São Paulo, Geraldo Alckmin foi eleito e agora se concentra em espalhar pelo Estado o pedido de apoio para a campanha de Serra. Essa campanha tem ainda o reforço de Aloysio Nunes Ferreira, surpresa na eleição para o Senado que acabou terminando em primeiro lugar.

Em Minas Gerais, a situação é até mais promissora para Serra. No primeiro turno, o ex-governador Aécio Neves priorizou sua eleição para o Senado e a campanha para emplacar Antônio Anastasia para o governo.

Por conta disso, não se incomodou com a existência de eleitores que aceitavam votar nos dois, mas preferiam apoiar a petista Dilma Rousseff para a Presidência no lugar de Serra.

Agora, com as duas missões prioritárias executadas no primeiro turno, Aécio e Anastasia passaram a pedir votos exclusivamente para Serra, acabando com o chamado fenômeno "Dilmasia", reunindo o voto da petista com Anastasia.

Para complicar ainda mais, o cenário da campanha petista é incerto em Minas. Se no primeiro turno Dilma bateu Serra no Estado por mais de 1,7 milhão de vantagem, terá agora muita dificuldade para repetir esse desempenho agora.

Sua campanha em Minas foi baseada numa aliança costurada diretamente pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, na qual o PT abria mão da cabeça de chapa em favor de Hélio Costa, do PMDB. Em troca, peemedebistas coligaram com o PT em torno de Dilma.

A operação causou grande insatisfação dentro do PT mineiro, que contava com dois pré-candidatos ao governo com potencial de vitória: Fernando Pimentel e Patrus Ananias. O resultado das urnas mineiras foi generoso com Dilma, a mais votada no Estado, e cruel com seus aliados locais. Hélio Costa perdeu, carregando seu vice, Patrus, e Pimentel, candidato ao Senado, para o mesmo insucesso eleitoral.

Nesse clima de insatisfação, os aliados de Dilma estão completamente desmontados para conseguir repetir em Minas a mobilização em torno de sua candidatura como ocorreu antes.

No Paraná, Serra também tem potencial para aproveitar a vitória do tucano Beto Richa na eleição para o governo estadual. Serra até venceu Dilma no primeiro turno, mas por uma margem muito estreita, de apenas 300 mil votos. Colado em Richa, pode conseguir ampliar essa diferença.

É jornalista de "O Estado de Paulo"

Agnelli: Vale é alvo de 'jogo político'

DEU EM O GLOBO

Em meio a rumor de que sairia, presidente de mineradora diz: "turma do PT está procurando cadeira"

Danielle Nogueira*

Em meio a um tiroteio de palpites sobre seu futuro na Vale num eventual novo governo do PT, o presidente da empresa, Roger Agnelli, se diz tranquilo e confiante de que terá o apoio dos acionistas para permanecer à frente da companhia. Na Zâmbia, onde viajou para inaugurar um projeto de cobre da Vale, Agnelli afirmou ontem que os rumores sobre sua substituição fazem parte do "jogo político, jogo de eleição". Segundo o presidente da maior empresa privada do país, o que está por trás do "disse me disse" é que tem muita gente do PT "procurando cadeira". O executivo aproveitou para defender a privatização da Vale e de outras ex-estatais, tema que ganhou destaque nas campanhas eleitorais.

- Eu me sinto à vontade, tranquilo (em relação a seu destino na Vale). Tem muita gente procurando cadeira, essa é a realidade. E normalmente é a turma do PT. Toda eleição acontece isso. Agora, a empresa, quem decide são os acionistas - disse Agnelli ontem na inauguração do primeiro projeto de cobre da empresa no país africano.

Os acionistas da Valepar, holding que controla a Vale, são o Bradesco (21,21%), a japonesa Mitsui (18,24%), a BNDESpar (11,51%) e a Littel (49%), que reúne fundos de pensão como Previ (Banco do Brasil) e Petros (Petrobras).

Executivo defende privatizações

Foi a primeira vez que Agnelli falou em público sobre os recentes rumores sobre seu futuro na Vale. Comenta-se nos bastidores que, caso a candidata do PT à Presidência, Dilma Rousseff, ganhe as eleições, a permanência do executivo na empresa estará vinculada à continuidade dos investimentos em siderurgia, alinhando a companhia com os projetos do governo. O próprio presidente Luiz Inácio Lula da Silva já cobrou publicamente da empresa investimentos no setor mais de uma vez.

Agnelli afirmou ontem que seu relacionamento com Lula é "aberto e transparente" e disse que a Vale "está fazendo a parte dela" nos investimentos em siderurgia. Segundo o presidente da Vale, os rumores sobre sua possível saída têm fundo ideológico:

- Tem gente no PT e mesmo no PSDB que é contra a privatização. Não há como argumentar, como discutir com ideologia, ideologia não é racional. Agora, ninguém pode questionar que uma das privatizações mais bem-sucedidas do mundo foi a da Vale. A privatização da siderurgia, das telecomunicações, da Embraer também foram benéficas para o país. Não tem como discutir com fatos.

O executivo afirmou também ter uma boa relação com Dilma, de quem se aproximou na época em que fazia parte do Conselho de Administração da Petrobras. Dilma presidia o Conselho como então ministra de Minas e Energia.

- Nunca tivemos uma aresta sequer em anos de convivência - disse Agnelli, referindo-se à Dilma.
- O governo pode fazer pressão na Vale, como pode pressionar outras empresas para investir mais ou menos, para que mude a estratégia. Quando o presidente Lula fala "vamos investir em siderurgia", eu o entendo perfeitamente. O país vai precisar de mais aço, e o setor siderúrgico investe pouco. Então, o presidente tem uma certa angústia para que os investimentos aconteçam. E a Vale está fazendo a parte dela.

A Vale tem quatro projetos de siderurgia em andamento - em Rio, Pará, Ceará e Espírito Santo - que somam US$21 bilhões em investimentos, incluindo recursos de sócios.

Sobre os rumores de sua saída da Vale, Agnelli disse não se abalar.

- A minha situação na Vale quem decide são os acionistas e qualquer decisão estará sempre fundamentada em resultados. O resto é jogo de bastidor, jogo de eleição, jogo politico, jogo de sindicato.

Agnelli está na presidência da Vale desde 2001 e seu mandato expira em meados do ano que vem. A permanência ou não do executivo depende de um acordo entre acionistas da Valepar, holding que controla a Vale, com 53,5% das ações ordinárias (com direito a voto) da mineradora. O acordo, firmado na época da privatização da Vale, em 1997, exige um mínimo de 67% dos votos dos controladores para destituir o presidente da companhia. Somando as participações de Litel (que reúne fundos de pensão de funcionários de estatais) e BNDESPar, o governo teria indiretamente 61,51% dos votos, insuficientes, portanto, para definir, sozinho, o futuro de Agnelli.
O desgaste na relação entre o presidente da Vale e o Planalto se acirrou no fim de 2008, quando a empresa, no auge da crise econômica global, anunciou a demissão de 1.300 trabalhadores, o que teria irritado Lula. No ano passado, a tensão aumentou com a demissão de Demian Fiocca, ex-braço direito do ministro da Fazenda, Guido Mantega, da diretoria da Vale.

(*) A repórter viajou a convite da Vale

Gabeira entra na campanha de Serra

DEU EM O GLOBO

Rafael Galdo

Embora a decisão do PV sobre o apoio do partido no segundo turno tenha ficado para o fim de semana, está acertado que, a partir da próxima segunda-feira, o candidato verde derrotado ao governo do Rio, o deputado federal Fernando Gabeira, passa a integrar a campanha de José Serra (PSDB) à Presidência. De acordo com Gabeira, no próprio domingo, após a convenção do PV, ele espera conversar com Serra sobre seu papel nesta etapa da corrida presidencial.

O verde já gravou inclusive para o programa de TV do tucano. Segundo Gabeira, ele aparecerá no horário eleitoral dizendo conhecer o trabalho de Serra, que para ele seria o mais bem preparado para assumir o país. Em relação à posição do PV no segundo turno, porém, o deputado disse que a tendência é que o partido fique neutro, liberando seus correligionários a manifestar o apoio a quem quiser.

- Nesse caso, só não poderemos usar o símbolo do PV na campanha - afirma.

Em meio à polêmica, ministro defende PNDH

DEU EM O GLOBO

Em nota, Vanucchi diz que Programa de Direitos Humanos, que mudou, não prevê legalização do aborto

BRASÍLIA. O ministro da Secretaria Nacional de Direitos Humanos, Paulo Vanucchi, defendeu ontem o Programa Nacional de Direitos Humanos, lançado pelo presidente Lula em dezembro passado e revisado em maio deste ano. Em nota, afirmou que o programa não defende a legalização do aborto. O assunto virou um dos temas centrais da campanha presidencial. Líderes religiosos pregaram voto contra a candidata Dilma Rousseff porque, para eles, o PT e o programa do governo seriam favoráveis à legalização do aborto.

"O PNDH-3 (Programa Nacional de Direitos Humanos, terceira edição) não trata da legalização do aborto. A redação diz: Considerar o aborto como tema de saúde pública, com garantia do acesso aos serviços de saúde", argumentou Vanucchi. Ele não citou que o governo só alterou a redação do programa para amenizar a proposta sobre o aborto, após forte pressão das igrejas. O programa foi modificado seis meses após lançado por Lula, em cerimônia oficial.

Vanucchi: programa não prevê controle de imprensa

O ministro sustentou que o programa não faz restrições à religião. "O PNDH-3 preza pela liberdade e tolerância religiosa. A redação do capítulo sobre o tema diz: Respeito às diferentes crenças, liberdade de culto e garantia da laicidade do Estado", diz. Houve também a suspeita de que o programa poderia tolher a liberdade religiosa, principalmente na internet.

Vanucchi negou que o programa pregue normas para enfraquecer a propriedade privada. "O PNDH-3 trata da questão da mediação de conflitos agrários e urbanos, dentro da previsão legal e procedimento judicial. Eis a redação: Propor projeto de lei para institucionalizar a utilização da mediação das demandas de conflitos coletivos agrários e urbanos, priorizando a oitiva do Incra, institutos de terras estaduais, Ministério Público e outros órgãos públicos especializados, sem prejuízo de outros meios institucionais", diz.

Vanucchi argumenta que o programa não propõe controle da imprensa. Segundo ele, o programa propõe "a criação de marco legal, nos termos do art. 221 da Constituição, estabelecendo o respeito aos direitos humanos nos serviços de radiodifusão (rádio e televisão) concedidos, permitidos ou autorizados". A primeira versão do programa foi criticada por representantes do agronegócio, militares e pela Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e Televisão (Abert). Os comandantes militares até ameaçaram pedir demissão.

No Rio, parada transferida

DEU EM O GLOBO

No Rio, a transferência da Parada do Orgulho Gay de outubro, mês em que tradicionalmente ocorria, para novembro está causando polêmica. Para o ex-prefeito Cesar Maia (DEM), a mudança teria sido negociada pelo governador reeleito Sérgio Cabral (PMDB), a pedido da campanha da candidata do PT à Presidência, Dilma Rousseff. Mas os organizadores do evento e o estado negam.

Para Cesar, como nos últimos anos Cabral participava sempre da abertura da parada, aliados de Dilma temiam que uma nova aparição dele na passeata causasse desgastes para a petista entre os religiosos. Já a Secretaria estadual de Assistência Social e Direitos Humanos diz que partiu do Grupo Arco-Íris, ONG que realiza o evento, o pedido de transferência de data, de 10 de outubro para 14 de novembro.

O presidente do grupo, Júlio Moreira, confirma essa versão. Segundo ele, mudanças na diretoria da ONG impediriam a organização da parada em outubro. E desde o fim de agosto sua data teria sido adiada, sem interferência do estado. Mas Marcelo Garcia, ex-secretário de Assistência Social da cidade do Rio e que apoiou a parada por sete anos, contesta:

- Membros do Grupo Arco-Íris têm cargo no governo. A decisão foi uma troca política, para evitar que o evento acontecesse no meio de um segundo turno - acusa.

Dilma resiste a assinar manifesto antiaborto

DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

Evangélicos querem que petista se comprometa por escrito a não enviar ao Congresso projetos que legalizem a prática ou o casamento gay

Vera Rosa

BRASÍLIA - A candidata do PT à Presidência, Dilma Rousseff, resiste a assinar uma carta assumindo o compromisso de não enviar ao Congresso projetos de lei que permitam a legalização do aborto e o casamento entre homossexuais. Evangélicos que se encontraram com ela e com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva na quarta-feira, porém, cobram a promessa por escrito.

O comando da campanha petista avaliou ontem que, além de já ter divulgado um manifesto intitulado Carta ao Povo de Deus, em agosto, Dilma pode perder mais votos do que ganhar, ao se posicionar, por exemplo, contra o casamento gay.

Na Carta ao Povo de Deus, distribuída em templos e igrejas no primeiro turno, Dilma tentou se aproximar dos cristãos. "Cabe ao Congresso a função básica de encontrar o ponto de equilíbrio nas posições que envolvam valores éticos e fundamentais, muitas vezes contraditórios, como aborto, formação familiar, uniões estáveis (...)", escreveu ela. Além disso, Dilma já se comprometeu verbalmente a não mudar a lei que prevê o aborto em caso de estupro e risco de morte para a mãe.

A saída para o impasse, agora, será um documento de apoio à candidata escrito por pastores e políticos que integram a Frente Parlamentar Evangélica. Os signatários deixarão claro no texto que Dilma não vai interferir em questões religiosas, caso seja eleita para o Palácio do Planalto.

Nos bastidores, porém, a reunião de quarta-feira entre Lula, Dilma e evangélicos de 51 denominações dividiu o governo e o QG dilmista. O ex-ministro da Fazenda Antonio Palocci, um dos coordenadores da campanha, achava que o encontro era desnecessário e poderia criar ruídos. Na outra ponta, o chefe de gabinete de Lula, Gilberto Carvalho, incentivou a reunião.

Lula avalia que o comando petista não está conseguindo superar a agenda negativa do aborto e do casamento entre homossexuais. "Precisamos sair dessa pauta, ir para a rua", esbravejou o presidente, segundo relato de um de seus auxiliares. "Há muita hipocrisia nisso."

A preocupação com o impacto desses temas na campanha de Dilma é cada vez maior. Um dirigente do PT lembrou que a candidatura de Marta Suplicy à Prefeitura de São Paulo, em 2008, desandou de vez no segundo turno depois que homossexuais sentiram-se ofendidos com um programa de TV da petista. Nele, um locutor perguntava se o prefeito Gilberto Kassab (DEM) era casado e tinha filhos. Detalhe: o marqueteiro de Marta, hoje senadora eleita, também era João Santana, que agora assina a propaganda de Dilma.

Sensus dá Dilma e Serra em cenário de empate

DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

Pelo levantamento divulgado ontem, petista pode ter de 45% a 49%, enquanto o tucano estaria entre 41% e 45%

Daniel Bramatti


Pesquisa divulgada ontem pelo instituto Sensus atribui a Dilma Rousseff (PT) 47% das intenções de voto, contra 43% para José Serra (PSDB). Como a margem de erro é de dois pontos porcentuais, há situação de empate técnico, segundo o instituto.

Levando-se em conta a margem de erro, a candidata do PT pode ter de 45% a 49%, enquanto o tucano estaria entre 41% e 45%. O placar nos votos válidos (excluídos brancos e nulos) está em 52% a 48%.

A pesquisa, encomendada pela Confederação Nacional dos Transportes (CNT), indica que, apesar da proximidade dos índices dos dois candidatos, a expectativa de vitória de Dilma é maior. Para 60% dos entrevistados, ela será a próxima presidente. Outros 29% acreditam na vitória de Serra.

Segundo o Sensus, 31% dos brasileiros assistiram ao menos em parte ao primeiro debate entre os presidenciáveis no segundo turno, realizado pela TV Bandeirantes, no último domingo.

Para 15% dos entrevistados, a candidata petista se saiu melhor no confronto. Serra ganhou o debate na opinião de 12%. Não souberam responder à questão outros 69%.

Segundo o Sensus, Dilma tem praticamente o dobro das intenções de voto do adversário na Região Nordeste, onde lidera por 61% a 31%. No primeiro turno, a petista venceu em todos os Estados da região.

Na Região Sudeste, a que concentra o maior número de eleitores, há um empate técnico: 45% para o tucano e 43% para a petista. É no Sul que Serra atinge seu melhor resultado - tem 20 pontos porcentuais de vantagem (56% a 36%). O tucano também lidera no Norte/Centro-Oeste, por 46% a 41%, de acordo com o Sensus.

A divisão do eleitorado por faixas de renda mostra Dilma na liderança entre os mais pobres. Os que ganham até um salário mínimo preferem a petista por um placar de 53% a 37%. No outro extremo, entre os que ganham mais de 20 salários mínimos, Serra lidera por 70% a 15%.

O Sensus realizou 2.000 entrevistas em 136 municípios entre os dias 11 e 13 de outubro. O Estado arredondou os resultados do instituto, divulgados com uma casa após a vírgula.

Serra lidera entre os evangélicos

DEU EM O GLOBO

Ibope mostra tucano com 52% dos votos no grupo. Dilma tem 41%

Henrique Gomes Batista

A primeira pesquisa do Ibope no segundo turno, divulgada anteontem, mostrou que o candidato do PSDB conquistou grande parte do voto evangélico e católico no Brasil. Segundo a pesquisa, encomendada pela TV Globo e pelo jornal "O Estado de S. Paulo", José Serra tem a preferência de 52% dos evangélicos, contra 41% que dizem que vão votar em Dilma Rousseff (PT). Se comprar com a última pesquisa do primeiro turno, realizada pelo Ibope em 2 de outubro, o ex-governador de São Paulo mais que dobra sua intenção de voto no grupo: naquele momento, 25% dos evangélicos pretendiam votar no tucano, contra 41% dos que preferiam a petista - mesmo percentual de agora.

Dilma ainda lidera a preferência dos católicos (52% na última pesquisa, contra 50% no levantamento anterior), mas Serra cresceu fortemente: passou de 29% das intenções de votos na véspera do primeiro turno para 41% no último levantamento. No grupo que reúne adeptos de outras religiões, agnósticos e ateus, Dilma tem 47% das intenções de voto (era 42% em 2 de outubro) e Serra detém 41% (era cerca de 30% antes do primeiro turno).

A pesquisa Ibope também detalhou a religião dos eleitores. O levantamento indica que 61% da população se declaram católicas, 6% frequentam a Assembleia de Deus, 3% se declaram batista/metodista/presbiteriano. As igrejas Universal do Reino de Deus, Deus é Amor e Evangelho Quadrangular contam com 1% de citação cada uma. Outros 4% se declaram de outras igrejas evangélicas específicas, mas que individualmente não pontuaram, e 3% se declaram apenas evangélicos, sem especificar igrejas.

Entre as outras religiões, 2% são espíritas/kardecistas, 1% se declaram adventistas e 1% são testemunhas de Jeová. Outras religiões somam 1% do eleitorado captado pela pesquisa e 10% se dizem religiosos sem seguir nenhuma igreja e 3% se dizem ateus/sem religião.

O Ibope também aferiu que 2% do eleitorado receberam orientação dentro da igreja ou templo contra o voto em Dilma no primeiro turno. Metade deste eleitorado (1% no total) seguiu a orientação. Em outra pergunta, o instituto questiona se houve pedido de votos para algum candidato em cultos ou missas: 1% disse que sim, em favor da petista, e outro 1% em favor de Marina Silva (PV). De acordo com o Ibope, 10% do eleitorado vão à missa/culto diariamente e 35% ao menos uma vez por semana. A pesquisa indicou que 80% dos brasileiros são contrários à legalização do aborto.

Lula influi menos e 15% ainda podem mudar voto

O Ibope mostra ainda que a estratégia petista de diminuir a participação do presidente Luiz Inácio Lula da Silva na campanha de Dilma tem apoio estatístico: 51% dos eleitores disseram que não vão levar em conta o apoio de Lula neste segundo turno, contra 42% que dizem preferir votar na candidata apoiada pelo presidente.

O levantamento ainda indica que 15% podem mudar de decisão sobre quem votar até 31 de outubro, contra 79% que disseram que já estão decididos. O Ibope indica que 22% do eleitorado recebem Bolsa Família e 5% são atendidos por farmácias populares ou distribuição de remédios. Outros 70% dos eleitores disseram que não recebem nenhum benefício social.

Especialistas preveem uma disputa acirrada

DEU EM O GLOBO

"A cada pesquisa, cada campanha terá de rever sua estratégia", diz Ricardo Ismael

Henrique Gomes Batista e Fábio Brisolla

Especialistas de diversos setores disseram ontem acreditar que a candidata do PT, Dilma Rousseff, viveu um dos seus piores momentos no início do segundo turno e que, por este motivo, a retomada da corrida ao Palácio do Planalto começou tão acirrada com José Serra (PSDB). Cientistas políticos, antropólogos, economistas e teólogos ouvidos pelo GLOBO concordam que a situação ainda está em aberto.

Para o cientista político Ricardo Ismael, da PUC-Rio, diversos fatores contribuíram para a petista ter começado com uma margem pequena de vantagem nas pesquisas, no segundo turno:

- Dilma vinha de seus piores momentos no primeiro turno, em trajetória de queda. Esse mau momento continuou na primeira semana do segundo turno e até pode ter se agravado com a discussão moral e sobre o aborto.

Ele, entretanto, diz que ainda é cedo para dizer se a maré ainda está ruim para a petista. Diz que as quatro primeiras pesquisas divulgadas até agora - Datafolha, Vox Populi, Ibope e Sensus - refletem mais o clima da primeira semana, embora algumas tenham sido realizadas nos últimos dias, depois do debate da TV Bandeirantes e da postura mais agressiva da petista.

- Só na próxima rodada de pesquisas saberemos se Dilma continua caindo. De qualquer maneira, meu "feeling" indica que teremos uma disputa muito apertada até o final, e que, a cada pesquisa, cada campanha terá de rever sua estratégia - diz.

Ismael lembra que ela vinha perdendo apoio tanto entre as classes mais altas da população - por conta do caso Erenice Guerra - como nas camadas mais baixas, principalmente pela campanha religiosa. Eduardo Rosa Pedreira, doutor em teologia pela PUC-Rio e pastor da Comunidade Presbiteriana da Barra da Tijuca, concorda que as notícias sobre legalização do aborto afetaram parte do eleitorado:

- O perfil básico do evangélico influenciado por esse tipo de notícia é o majoritário. O evangélico típico não está preocupado com a postura ética do candidato, mas sim com sua postura moral. Por isso, você constata a existência de políticos que votam de acordo com a agenda moral evangélica, mas que são verdadeiros parasitas quando estão no poder. Prevalece uma mentalidade de gueto nesses casos. Esse grupo de evangélicos, sem dúvida, é influenciado por esse tipo de discussão (aborto) - disse ele, que defende que a igreja trate de política, como ocorre em outros grupos da sociedade civil, mas não da forma como está ocorrendo, puramente eleitoral.

Regina Novaes, antropóloga da UFRJ, concorda com o teólogo.

- Boa parte dos evangélicos é de pessoas das classes populares, que são mais influenciadas em questões polêmicas como o aborto. É possível que esses votos tenham ido para o Serra - acredita.
Mas ela minimiza o impacto no maior grupo religioso do país, os católicos:

- No caso do catolicismo, por ser a religião da maioria dos brasileiros, fica mais difícil perceber se a orientação religiosa teve peso, de fato, nas pesquisas. No caso dos católicos, o peso da religião é mais diluído.

Segundo a última pesquisa Ibope, Dilma e Serra estão empatados entre o eleitorado feminino, cada um com 46% das intenções de votos. Para Natália Mori, socióloga que integra o colegiado de gestão do Centro Feminista de Estudos e Assessoria (Cfemea), a divisão do gênero na eleição demonstra que nenhuma candidatura debateu a fundo a questão das mulheres. Ele acredita que o fraco desempenho de Dilma entre as mulheres é uma herança do apoio de Lula:

- Historicamente, Lula foi menos apoiado por mulheres que por homens. Isso deve estar influenciando, além do fato de mulheres, também historicamente, decidirem seus votos mais próximo das eleições e do fato de que não há uma candidatura feminista, como era Michelle Bachelet, no Chile.

Para o economista Marcelo Neri, da FGV, as campanhas começam a "inverter papéis" neste segundo turno:

- Dilma quer agora se passar por Serra, mostrando-se uma boa gestora, e Serra quer tomar o discurso de Dilma, mostrando realizações que já fez. Mas esta eleição não está focada em temas econômicos, mas, sim, sociais - disse.

O novo resgate dos mineiros

DEU EM O GLOBO

A força do ex-governador e senador eleito Aécio Neves reuniu 450 prefeitos e líderes municipais em apoio a José Serra - muitos adeptos, no primeiro turno, do "Dilmasia”. Serra se disse "o mais paulista dos mineiros e o mais mineiro dos paulistas". Para contrabalançar o efeito Aécio, a coordenação da campanha de Dilma fez reunião ontem também em Minas.

Duelo em Minas

Aécio reúne reúne 450 líderes estaduais em apoio a Serra; Dilma desembarca lá amanhã

Adriana Vasconcelos


O ex-governador e agora senador eleito Aécio Neves voltou ontem a mostrar sua popularidade em Minas Gerais ao reunir cerca de 450 prefeitos, vice-prefeitos e líderes municipais - entre eles, representantes de partidos do governo Lula - em torno do candidato do PSDB à Presidência, José Serra. Em um megaevento na capital mineira, que lotou dois auditórios da Associação Médica de Minas Gerais, Aécio e Serra partiram para o ataque, sem poupar o PT e o presidente Lula. Amanhã, é Lula quem estará em Minas para pedir votos para Dilma Rousseff.

Aécio deixou claro que não perdoou a intervenção de Lula na disputa pelo governo mineiro. Ao agradecer a ajuda dos prefeitos na reeleição do governador Antonio Anastasia, disse que Minas "não se curva a intervenções" e disse que sua vitória só será completa com a eleição de Serra.

- Sempre que o PT teve de optar entre os interesses partidários e os nacionais, ficou com os partidários - afirmou, citando a oposição petista à eleição do ex-presidente Tancredo Neves, ao governo do ex-presidente Itamar Franco, ao Plano Real e à Lei de Responsabilidade Fiscal.

Mesmo reconhecendo avanços no governo Lula, Aécio acrescentou que parte dessas conquistas não teria acontecido sem os frutos deixados pelos governos anteriores, como os de Itamar e de Fernando Henrique. Serra não escondeu o entusiasmo: - Temos muita chance de vitória. A onda não é azul, nem vermelha, mas verde e amarela.

Tucano faz lista de obrigações com MG

Para reverter a vantagem de Dilma em Minas - estado com o maior número de municípios no país, 853 ao todo -, Serra seguiu um conselho de Aécio e assumiu o compromisso de não permitir mais que os recursos do Fundo de Participação dos Municípios (FPM) sejam reduzidos em razão de políticas de incentivos fiscais adotadas pelo governo federal.

- Minha proposta é que não seja dado incentivo sem que seja dada automaticamente a reposição das perdas dos municípios. O FPM deve ser o piso e não o teto - prometeu Serra, que agradou à plateia ao se comprometer a regulamentar a emenda constitucional 29, garantindo mais investimentos na saúde.

Enumerou compromissos com Minas, como a ampliação dos aeroportos de Confins e Pampulha, a retomada da construção do metrô de Belo Horizonte e a duplicação da BR-381 (considerada a rodovia da morte).

Itamar Franco, eleito senador, destacou que "Minas é o front da resistência ética do país". Havia dois carros de som e centenas de militantes com bandeiras com a frase "Minas é Serra". Maristela Kubitschek, filha do ex-presidente Juscelino Kubitschek, compareceu ao evento.

- Vim dar apoio formal da família Kubitschek a José Serra. José era o santo protetor da família, espero que o senhor seja o protetor da família brasileira - afirmou Maristela.

- Quero ser o mais paulista dos mineiros e o mais mineiro dos paulistas - prometeu Serra.

Como fazer 'Dilmasia' virar 'Serrasia'

DEU EM O GLOBO

BELO HORIZONTE. Uma das armas do ex-governador e senador eleito Aécio Neves (PSDB) para virar as eleições presidenciais em Minas é tentar transformar o movimento "Dilmasia" - que pregou no primeiro turno o voto casado em Antonio Anastasia (PSDB) para o governo estadual e Dilma Rousseff (PT) para a Presidência - em "Serrasia".

A articulação começou no feriado, quando Aécio ligou para vários prefeitos que pertencem à base de Dilma e os convidou para o encontro de ontem em Belo Horizonte, com a presença do presidenciável José Serra (PSDB).

Os 74 prefeitos do PR em Minas, partido que faz parte da coligação de Dilma, receberam o chamado. Pelo menos 25 compareceram, de acordo com a lista de presença do PSDB. Aécio convidou pessoalmente cerca de 28 prefeitos do PMDB eleitos por Minas. Treze ignoraram a coligação nacional do partido com o PT de Dilma e compareceram ao encontro com Serra.

- Estou seguindo o chamado do Aécio, meu parceiro. No primeiro turno, ele respeitou a aliança a favor da Dilma. Agora, o quadro é outro, estou com Serra - disse Ângelo Roncalli (PR), prefeito de São Gonçalo do Pará, onde Dilma teve 49% dos votos.

- A gente só trabalhou para eleger o Anastasia. Agora, com Aécio, vamos virar a situação em Minas - completou Zezé Porfírio (PR), prefeito de Pará de Minas, onde Dilma venceu com 40,5%.

Serra aposta em Aécio para se eleger

DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

Presidenciável tucano diz que colega mineiro é uma das figuras mais importantes da política e que será "presidente do Brasil um dia"

Eduardo Kattah e Malu Delgado

BELO HORIZONTE - Amparado pela liderança política do ex-governador Aécio Neves, o presidenciável José Serra (PSDB) deu demonstrações, ontem, de que aposta numa virada em Minas Gerais no segundo turno para eleger-se presidente da República. Aécio reuniu 398 prefeitos do Estado - de um total de 853 - em ato que em nada lembrava a apatia do primeiro turno.

Eleito senador por larga margem de votos, e tendo feito seu sucessor no Estado, Antonio Anastasia, Aécio comandou um encontro onde o engajamento pró-Serra e a farta distribuição de materiais de campanha deixavam evidente que a adrenalina era outra. Além de exibir a força política do ex-governador, a reunião revela a nova estratégia tucana: combater o chamado voto "dilmasia", que juntava Dilma Rousseff (PT) e Anastasia.

Orientado por Aécio, Serra assumiu um compromisso em relação ao Fundo de Participação de Municípios (FPM), sem mencionar aumento do porcentual de repasses a prefeitos. Ele também se autoproclamou um municipalista. "Minha proposta é que não seja dado mais nenhum incentivo (fiscal) sem que haja automaticamente a reposição aos municípios", disse Serra. A coordenação de campanha considera que os prefeitos, assim como foram fundamentais na virada de Anastasia, serão protagonistas numa eventual reversão do quadro em Minas no segundo turno.

No Estado, segundo colégio eleitoral do País, Dilma Rousseff teve uma vantagem de quase 17 pontos porcentuais sobre Serra (46,98% a 34,18%). Agora, os tucanos mineiros estão com os olhos voltados para os 21,25% dos votos válidos que Marina Silva (PV) teve no Estado. O PV é aliado de Aécio em Minas.

Novos painéis fotográficos em que Aécio e Serra se abraçam, sob o slogan "Minas é Serra, pelo Brasil", foram criados exclusivamente para o segundo turno. Prefeitos levaram ainda sacolas de adesivos, panfletos e outras peças para seus municípios.

"O mais mineiro". Bandeira de Minas nas costas, Serra disse à plateia, formada por prefeitos, vice-prefeitos, deputados e lideranças regionais: "Quero ser o mais paulista dos mineiros e o mais mineiro dos paulistas." Ao final do evento, o presidenciável assumiu a importância de Aécio para sua eleição: "Trata-se de uma das figuras mais importantes da política brasileira. É o homem que vai ser presidente do Brasil um dia. É o homem que vai me ajudar muito neste segundo turno em Minas e no Brasil." Aécio fez o ataque mais direto ao PT e ao governo federal. "O PT, sempre que teve que optar entre o interesse do Brasil e o interesse partidário, ficou com o interesse partidário", atacou o senador eleito, citando a posição petista contra o colégio eleitoral em 1985, contra o Plano Real e contra o governo de Itamar Franco. "A vitória completa da boa prática política, da seriedade e da eficiência na gestão pública, só existirá com a vitória de José Serra", prosseguiu.

"Como presidente eu vou estar ligado às prioridades do Estado. Os meus parceiros vão ser o governador Anastasia, os nossos queridos senadores eleitos Aécio Neves e Itamar Franco", discursou o tucano paulista, que desfiou inúmeros elogios a seus cabos eleitorais mineiros. Itamar, por exemplo, foi chamado de "exemplo de decoro".

"Falar para Minas". Em sua fala, Anastasia destacou: "Vamos dar o nosso sangue para ver José Serra presidente do Brasil." Depois, coube a Itamar Franco dar os mais diretos conselhos eleitorais a Serra: "É preciso falar para Minas, porque, se não falar para Minas, Vossa Excelência não ganhará essa eleição." E acrescentou: "Aqui foi o front da resistência. Aqui se resistiu porque o mineiro, acima de tudo, é ética e não é corrupto" - relembrando a vitória política do projeto de Aécio em Minas, derrotando os aliados do presidente Lula.

Num ato simbólico, o presidenciável tucano recebeu o título de "amigo de JK" e o apoio formal da família do ex-presidente Juscelino Kubitscheck. "José é o santo protetor da família. O senhor vai ser o santo protetor da família brasileira", afirmou Maristela, filha de JK.

Serra evitou fazer comentários sobre a ação petista de investigar, em São Paulo, contratos da Dersa com o governo do Estado feitos quando Paulo Vieira Souza, o Paulo Preto, era diretor da entidade. Os tucanos negam que Paulo Preto tenha atuado na arrecadação de recursos ou que tenha havido desvio de doações. "Estou agora evitando um bombardeio cerrado de comerciais negativos. Tudo coisa sem pé nem cabeça. Tem cada mentira que a gente deve dar um prêmio pela imaginação da mentira."

Centro-Oeste, Sul e Sudeste são aposta do comando tucano

Os tucanos pretendem reforçar a campanha onde o presidenciável do PSDB, José Serra, apresenta boa reação nas pesquisas de intenção de voto. A lógica é apostar nas regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste, nas quais a campanha tucana teve o melhor desempenho no primeiro turno da eleição presidencial. Em relação ao Nordeste, o comando tucano acha que José Serra não conseguirá mudar o jogo. Avaliam que o teto do PSDB é no máximo de 35% dos votos.

Estados estratégicos do ponto de vista eleitoral, como Rio de Janeiro e Bahia, também receberão atenção especial. Na avaliação do comando do PSDB, nesses dois locais também haverá dificuldade para que o jogo seja revertido.A campanha no rádio e na TV continuará focando numa mensagem nacional, apesar de terem sido colocadas no ar propostas específicas para alguns Estados nos últimos dias.

'Temos uma tendência clara de vitória', diz Índio

DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

Tiago Décimo

SALVADOR - O candidato a vice na chapa do tucano José Serra (PSDB), Índio da Costa (DEM), disse ontem, em Salvador, que as últimas pesquisas revelam uma "tendência clara de vitória de sua coligação". "A gente está indo muito bem na campanha", avaliou. "Como a gente tinha, lá na primeira pesquisa, 27% e a gente veio crescendo - já estamos em 40 e muitos -, temos uma tendência muito clara de vitória."

Na visita que fez à Bahia, Índio, acompanhado pelo deputado ACM Neto (DEM), o mais votado no Estado, com 328.450 votos, fez caminhada de uma hora pelo bairro popular de Pernambués e passeou pelo Mercado Modelo, um dos principais destinos turísticos de Salvador.

Lá, tirou fotos com populares, ouviu conselhos, arriscou passos de capoeira, chegando a fazer o movimento conhecido como estrela, e participou de uma rápida reunião com pastores de igrejas batistas, na qual criticou o que chama de "excessos" do Terceiro Plano Nacional de Direitos Humanos. "O PNDH-3 ameaça a liberdade religiosa e a liberdade de imprensa e garanto que com a gente não haverá nenhum tipo restrição religiosa ou à imprensa", disse. "Se já há tanta corrupção no Brasil com imprensa livre, imagine sem."

Ele aproveitou para cortejar lideranças políticas do PMDB baiano, ainda descontentes com o apoio explícito dado pela candidata petista à Presidência, Dilma Rousseff, ao governador reeleito Jaques Wagner (PT), em detrimento à candidatura do ex-ministro da Integração Nacional Geddel Vieira Lima (PMDB), também integrante da base aliada do presidente Lula.

"Quero deixar um recado claro para o governador da Bahia e para todos os prefeitos do PT, do PMDB e dos outros partidos que apoiam Dilma: vamos tratá-los com o mesmo carinho e a mesma atenção que vamos dar a prefeituras e governos do PSDB, do Democratas e do PPS", disse.

Setores do PMDB desembarcam da candidatura Dilma

DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

Em meio à queda da petista nas pesquisas, diretório gaúcho decide recomendar [br]voto em Serra

Christiane Samarco

BRASÍLIA - Setores do PMDB lulista deram a partida na operação de desembarque da candidatura de Dilma Rousseff. Em meio à queda da petista nas pesquisas de intenção de voto, o diretório do PMDB do Rio Grande do Sul decidiu ontem, por maioria, depois de quatro horas de reunião, recomendar o voto no tucano José Serra.

Ao mesmo tempo em que algumas regionais do partido dão passos concretos em direção à Serra, líderes nacionais do PMDB que foram colocados de escanteio pela cúpula do PT na campanha de Dilma, ou atropelados pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva nas eleições estaduais, cruzam os braços no segundo turno.

Até o candidato a vice na chapa petista e presidente nacional do PMDB, deputado Michel Temer (SP), tem revelado desânimo nos bastidores. A vários interlocutores, ele se queixou de que foi marginalizado pelo PT na campanha. "Me esconderam, e agora estão tentando reparar", disse a um correligionário, destacando que os petistas só pediram sua ajuda depois que "levaram um susto". O PT estava certo de que levaria a eleição no primeiro turno. Com Lula à frente, não precisavam de mais ninguém.

Ao mesmo tempo, a presença do presidente nacional do partido no posto de vice inibe a movimentação de peemedebistas descontentes e o sentimento de revanche dos que se sentiram traídos pelo PT nestas eleições.

Um deles foi o deputado Geddel Vieira Lima, que disputou o governo da Bahia. Ele disse ter perdido a eleição para Lula, e não para o governador reeleito Jaques Wagner (PT). Geddel já avisou que o rompimento entre PT e PMDB na Bahia não tem retorno. Seus interlocutores, contudo, não têm dúvidas de que ele vai cumprir o acordo nacional pró-Dilma. Mas avisam que o apoio será "formal" e que Geddel não perderá "um minuto de seu tempo" pedindo votos para a petista.

No Pará, o senador eleito Jader Barbalho (PMDB) é outro que deve reafirmar apenas apoio formal a Dilma. O PMDB disputou o governo local com candidato próprio e Jader deve anunciar, nos próximos dias, que o partido está liberado para votar em quem quiser no segundo turno, em que a briga é entre a governadora Ana Júlia Carepa (PT) e o ex-governador tucano Simão Jatene.

Na avaliação de um correligionário de Jader, liberar o voto significa, na prática, abrir caminho para a adesão à candidatura de Jatene. Como o tucano toca a campanha em conjunto com Serra, com o discurso de que "Dilma é a Ana Júlia do Brasil", a aposta geral é que a regional do PMDB também está prestes a desembarcar da candidatura de Dilma.

Um importante dirigente nacional do PMDB adverte que a situação de Dilma é grave porque a onda que afetou a popularidade da petista não é um problema de partidos nem de lideranças políticas, e sim de opinião pública. Segundo ele, a cúpula peemedebista identifica uma onda a favor de Serra, que "nem mesmo Lula" tem poderes para conter, PMDB gaúcho. Cerca de 500 peemedebistas, entre vereadores, prefeitos, delegados e representantes do diretório e da executiva estadual do PMDB do Rio Grande do Sul participaram da reunião que decidiu ontem pelo apoio da regional ao candidato a presidente do PSDB, José Serra. Depois de quatro horas de muito bate-boca, o plenário aprovou moção do diretório estadual recomendando o voto ao tucano.

A votação foi simbólica, por maioria esmagadora na proporção de quatro votos ao tucano, para cada um destinado à petista Dilma Rousseff. Apesar de o vice de Dilma ser o presidente do partido, deputado Michel Temer (SP), a decisão não surpreendeu. Já é tradição o PMDB gaúcho apoiar candidatos tucanos ao Palácio do Planalto. Foi assim nas duas eleições de Fernando Henrique Cardoso e nas candidaturas de José Serra, em 2002, e Geraldo Alckmin, em 2006.

Um peemedebista experiente que participou do debate avalia que a regional gaúcha abriu caminho para o "efeito manada", do PMDB rumo à candidatura tucana. Segundo ele, a queda da petista nas pesquisas de intenção de voto é determinante na definição dos rumos do partido.

FHC desafia Lula a debater 'cara a cara'

DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

FHC: “Quero ver o presidente Lula, que fez o PT votar contra o Real, dizer que estabilizou o Brasil”

Em discurso inflamado para tucanos, ex-presidente classifica sucessor de 'mesquinho' e de mentir 'sem cessar' sobre o País que encontrou ao assumir mandato

Roberto Almeida

SÃO PAULO - Em sua mais contundente incursão na campanha tucana até agora, que incluiu a defesa de seu legado à frente do Palácio do Planalto, o ex-presidente da República, Fernando Henrique Cardoso, desafiou ontem o presidente Luiz Inácio Lula da Silva para um debate "cara a cara" após o fim das eleições.

Diante de centenas de militantes do PSDB, em um hotel na zona norte da capital paulista, FHC pediu a Lula que, quando "perder o monopólio da verdade", vá ao instituto que leva seu nome, em São Paulo, para debater. "Presidente Lula, quando acabar as eleições, quando você puser o pijama, será bem recebido. Venha ao meu instituto, vamos conversar, cara a cara", bradou, em discurso inflamado.

O ex-presidente, dizendo-se alvo de mentiras, passou a defender suas gestões na Presidência (1994–2002). As cenas, gravadas por uma equipe da campanha do presidenciável tucano José Serra – que não esteve no evento –, devem ir ao horário eleitoral.

"Estou calado há muitos anos ouvindo. Agora quando o presidente Lula vier, como deve vir, como todo presidente democrata eleito, perder a pompa toda, perder o monopólio da verdade, está desafiado a conversar comigo em qualquer lugar do Brasil", disse FHC.

"Não é para conversar para dizer o que eu fiz, o que ele fez. Isso o povo vai julgar. É para ter firmeza, olhando cara a cara, um ao outro, e ver se um é capaz de dizer ao outro as coisas que diz", continuou o ex-presidente.

Como exemplo dos pontos que abordaria no debate com Lula, FHC citou o Plano Real, principal bandeira tucana, e disse que questionaria o petista sobre as responsabilidades pela estabilização econômica do País.

"Quero ver o presidente Lula, que votou contra o Real, que fez o PT votar contra o Real, dizer que estabilizou o Brasil. Ele não precisa disso. Ele fez coisas boas que eu reconheço. Ele agiu bem na crise atual, financeira. Para que, meu Deus, ser tão mesquinho? É isso que quero perguntar a ele: ‘Lula, por que isso, rapaz?’", bradou.

Aos militantes tucanos, o ex-presidente apostou na veemência para que seu nome, antes escondido nas campanhas, passe a ser defendido abertamente.

"Eu não tenho do que me arrepender. Eu mudei o Brasil. Eu nunca disse isso. Agora, oito anos depois do governo Lula (digo que) eu mudei o Brasil. Não mudei sozinho, mas com o povo brasileiro, com uma equipe de gente competente, com outros partidos. Tudo o que foi inovador foi plantado naquele período. Chega de ficar calado", afirmou FHC.

Privatizações. O ex-presidente elevou o tom e pediu "respeito" ao rebater nota divulgada ontem pelo presidente da Petrobrás, José Sérgio Gabrielli, que o acusou de preparar a estatal para a privatização.

"Quem é esse Gabrielli pra falar isso pra mim, meu Deus? Eu mandei uma carta ao Senado para dizer que não privatizaria a Petrobrás. Eu perdi uma cátedra porque eu defendi a Petrobrás e fui processado", anotou FHC.

De acordo com FHC, a "politicalha" voltou avançar sobre a estatal após sua saída do governo. "Por isso, perdeu já 20% do valor de mercado sob a batuta dessa gente. O mercado, assim chamado, percebeu agora – custou – que tem ingerência política", anotou.

Ao final do discurso, o ex-presidente lembrou ainda a queda da ex-ministra chefe da Casa Civil, Erenice Guerra, acuada por denúncias de lobby no Planalto. "Não queremos um Brasil de preguiçosos, não queremos um Brasil de amigos do rei. nós não queremos um Brasil de companheiras tipo Erenice", anotou FHC, que pediu "apoio total" à candidatura de Serra.

Para Vargas Llosa, Lula tem conduta 'esquizofrênica' no governo

DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

Em visita ao Brasil após prêmio Nobel, peruano diz que postura democrática do presidente não se reproduz na política externa

Em sua primeira visita ao Brasil desde que foi agraciado com o prêmio Nobel de Literatura na semana passada, o escritor peruano Mario Vargas Llosa, 74, chamou de "esquizofrênica" a conduta do presidente Luiz Inácio Lula da Silva no governo brasileiro.

"Lula fez evolução notável na política interna. Há no Brasil um desenvolvimento que impressiona o mundo inteiro, conduzido por posições democráticas admiráveis. O que lamento é que (ele) não tenha uma política internacional equivalente", disse Vargas Llosa, que criticou a relação que Lula mantém com o presidente do Irã, Mahmoud Ahmadinejad.

"Lá (Irã) estão atirando pedras em mulheres adúlteras! Como (Lula) vai legitimar um tirano assassino que representa uma forma anacrônica de fanatismo? (...) Há razões políticas, geopolíticas, mas não há razão ética ou moral que justifique esse tipo de esquizofrenia na conduta de um governante", disse o peruano.

Ele ainda se disse "desconcertado, entristecido e indignado" com o encontro entre Lula e o líder cubano Raúl Castro em janeiro, quando o dissidente político cubano Orlando Zapata morreu em razão de uma greve de fome. "Por que um democrata no Brasil vai se abraçar com um ditador repelente como o sr. Castro no mesmo momento em que está morrendo um dissidente?"

Vargas Llosa falou nesta quarta-feira a funcionários do Grupo Abril, em São Paulo, em entrevista conduzida pelo jornalista Ricardo Setti.

Ao longo de uma hora, ele tratou da sua reação ao Nobel, da relação entre política e literatura e dos motivos que o fazem estar "mais otimista" quanto aos destinos do mundo e da América Latina.

Correção política

Defensor do liberalismo na economia e na política, Vargas Llosa disse ter ficado "surpreso" com a notícia de que recebera o maior prêmio da literatura mundial, principalmente ao levar em conta os últimos ganhadores.

"A impressão é que eles não queriam dar o prêmio a pessoas controvertidas, principalmente do Terceiro Mundo. Preferiam os que seguiam uma certa correção política. Mas, posto que me deram o prêmio, parece que estavam errados", disse o peruano, provocando risos na plateia.

Vargas Llosa rejeitou a ideia de que a sua atuação política (ele escreve com frequência artigos e ensaios sobre o tema) afete negativamente a sua produção literária.

"A literatura não deve se afastar da vida. (...) Gostaria que a minha obra fosse como uma esponja que absorvesse tudo o que acontece no seu tempo. Não conheço grande literatura que tenha sido indiferente à política."

Desmonte do comunismo

Sobre os rumos da política mundial, o escritor disse estar hoje mais otimista do que há alguns anos, citando o "desmonte" do comunismo.

"Lembro-me de um discurso do Henry Kissinger (secretário de Estado americano entre 1973 e 1977), que não é um tonto, pouco antes da queda do Muro de Berlim (1989). Ele disse: 'Senhoras e senhores, tenhamos claro que o comunismo está aqui para ficar'. Mas ele desapareceu, e não porque foi derrotado pelo Ocidente, mas por uma putrefação interna, por uma incapacidade de organizar uma economia produtiva, porque o sistema de controle do pensamento e da vida o foi asfixiando."

Vargas Llosa também considera que a América Latina evoluiu substancialmente nos últimos anos, com a expansão e a consolidação da democracia.

"(Na América do Sul) hoje só temos uma semiditadura, a de Hugo Chávez, que foi derrotada nas últimas eleições e tem um fracasso econômico enorme. Dificilmente o regime vai sobreviver muito tempo."

Segundo o escritor, os avanços recentes fazem com que o continente "comece a recuperar o tempo perdido". Mas ele alerta que, apesar do progresso, "não se pode cair na ingenuidade, porque pode haver volta".

Experiência desoladora

Para o peruano, situação muito menos promissora que a América Latina tem a República Democrática do Congo, país que ele visitou durante a produção do seu último livro, O sonho do celta, ainda não publicado no Brasil.

A obra trata da vida do diplomata irlandês Roger Casement (1864-1916), que denunciou os abusos cometidos na colonização do então Congo belga pelo rei Leopoldo 2º, entre os séculos 19 e 20.

Vargas Llosa conta que a viagem ao país africano, que durou 15 dias, foi a experiência "mais desoladora, triste e deprimente" de sua vida.

"Vi um médico congolês que me disse: 'o problema número um deste país são os estupros. Aqui, há muitos anos que não se estupra por prazer sexual, o estupro é uma arma para humilhar o adversário. Te digo que num povoado não há uma só mulher que nunca tenha sido estuprada'. Ele me disse isso e começou a chorar de modo atroz."

Para Vargas Llosa, o cenário é tão grave que os prognósticos de que o país não tem solução "pode ser verdadeiro". "Mas, se é certo, a culpa maior, a responsabilidade principal de que o país tenha chegado a essa situação de espanto é a colonização belga, é o que os belgas fizeram ali", diz o escritor.

Novelha cozinha poética:: Waly Salomão [3.9.1943 - 5.5.2003]

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Até torná-la magra-enigmática
Cozinhe em banho-maria
Fogo bem baixo
E depois leve ao Departamento de Letras
Para o douto Professor dourar.