sábado, 23 de outubro de 2010

Do ponto de vista democrático ::Raimundo Santos

As águas turvas da eleição presidencial, particularmente as do segundo turno, não vão impor o resultado do pleito sem resistência das áreas de esquerda e de centro-esquerda defensoras da política fundada no conhecimento intelectual da circunstância hoje reunidas em torno de Serra. É provável que o pleito se decida a favor do governo por força da hegemonia popular de Lula e da movimentação de inúmeras máquinas organizadas, sobretudo as dos três níveis de governo sob seu controle, o futuro, assim, pertencendo, pelo ativismo do Presidente da República, a Dilma Roussef. Neste campo eleitoral, o presente é apresentado pela ótica do alargamento da política social originária dos anos 1990 considerado como a grande transformação realizada pelo governo Lula. É tão forte este ponto de vista que outro dia a candidata se admirava ao ver quanto o seu governo fazia no plano social e ainda se mantinha a democracia. Tal estranheza desconsidera os clássicos que repensaram radicalmente o modelo revolucionário do passado e em particular as reflexões dos inúmeros autores que nos falam de um novo reformismo para o século XXI, tempo de grandes possibilidades democráticas e de desenvolvimento, embora ainda arraste guerras, crises, sequelas patológicas (drogas, criminalidade) e elevada fragmentação social de incidência perigosa no mundo político.

Esse tipo de resistência também esteve presente nos votos adicionais decisivos à passagem de Serra para o segundo turno, contendo, como já foi observado, a ambição do campo liderado pelo Presidente da República. No entanto, à medida que apareça a hipótese de uma vitória oposicionista, o desassossego de Lula certamente o levará a tudo fazer para ganhar a eleição, ficando mais nítido, na sua militância exasperada, o descompromisso com o Estado democrático de direito, já visível desde o seu primeiro governo quando se passou a usar, de forma consciente na esquerda, a política para fins transformistas (mensalão e outros), havendo agora indícios da dificuldade em aceitar a alternância no poder. O Presidente da República – falando mais de si e dos seus feitos do que dos problemas reais e futuros – é quem fala, aliás, com muita repercussão inclusive em áreas intelectuais, da necessidade de um segundo ciclo de governos – assim parece ter sido pensada a candidatura oficial – por meio de um “terceiro mandato” até o seu retorno mais adiante.

Por mais que se pinte a candidatura oposicionista como retrocesso para a vida dos pobres e Serra como condenável defensor das privatizações dos anos 1990 -- sem a avaliação desses dois temas à luz daquele período das reestruturações requeridas pela mundialização da economia (e também tempo em que quase não houve oposição política de esquerda ao governo Fernando Henrique Cardoso) – é difícil apagar destes dias correntes o fato de que Serra significa uma interrupção do modelo Lula de conduzir o país. Tem vigorado na era Lula um estilo caracterizado pela instrumentalização dos partidos, pela imobilização dos movimentos sociais, pela desvalorização da política (substituída na eleição em grande medida pelo carisma presidencial) e ainda marcado (esse é o efeito mais demorado de constantes atitudes presidenciais) por uma corrosão da cultura política democrática que vem se generalizando (papel importante tem a nova Constituição de 1988 ao dar-lhe lastro de direitos) de modo lento desde a redemocratização que ganhou curso amplo com a anistia de 1979. Neste contexto, a candidatura oposicionista não se resume à corrida de promessas e marketing – a que Serra se deixou levar –, agora sob pressão e velocidade ainda maiores de um governo que entra em pânico diante da possibilidade de uma derrota eleitoral quando a plena vigência da democracia política pressupõe normal alternância no poder.

Muitas são as tensões que movimentam esta eleição. No entanto, no campo que apoia a candidatura Serra não há aquele medo conquanto sua derrota, como ocorreu em 2002, não ensejará ofensivas de rua nem táticas para desestabilizar governo, diferente de um cenário em que Serra ganhe o pleito. Há, contudo, uma delas que terá grande importância para o futuro que é a tensão a pesar como uma ameaça sobre o reconhecimento pleno da política, particularmente partidária, como meio para ganhar a eleição e depois conduzir a república, orientar a economia e encaminhar medidas reformistas dirigidas aos problemas urbanos e rurais. Em relação ao primeiro ponto, é bom recordar a trajetória político-partidária da candidatura oposicionista, o próprio Serra tendo que ganhar a indicação para concorrer à presidência em meio a disputa, inclusive com reticências no interior do seu próprio partido, nisso sua escolha diferindo da de Dilma. Composta a sustentação heterogênea da candidatura oposicionista, nas suas áreas de esquerda e de centro-esquerda há crença (expressa em textos e falas públicas) na tradição brasileira que entende a política como processo para obter fins e resultados (fins, no dizer Habermas ao qualificar o reformismo deste nosso tempo, pensados distante do abismo entre o “ideal” e o “possível”, “sem adiar nada para o final dos tempos”), ou seja, como caminho eficaz escolhido para ser trilhado na vigência plena da democracia. Leia-se, no discurso proferido no lançamento de sua candidatura, esta afirmação de Serra: “E esse é um bom momento para reafirmarmos nossos valores. Começando pelo apreço à Democracia Representativa, que foi fundamental para chegarmos aonde chegamos. Devemos respeitá-la, defendê-la, fortalecê-la. Jamais afrontá-la.” E ainda: "Democracia e Estado de Direito são valores universais, permanentes, insubstituíveis e inegociáveis.”

Viram-se também quantas foram as demoras e quanto custou ao candidato oposicionista e às lideranças de esquerda e de centro-esquerda que lhe são mais próximas reunir apoios partidários para a sua campanha devido ao fato de que considerável parte do campo político no qual Serra tem sua maior força (partidos, nomes de prestígio político e líderes à frente de administrações municipais e estaduais) teria sido neutralizada pela poderosa influência de Lula, como agora dizem os analistas. Daí também que o seu crescimento nas pesquisas do início do segundo turno possa estar ligado não só à retomada mais animada da campanha como também à dinamização de áreas políticas já libertas daquele constrangimento, havendo ainda registro de tendências de opinião que reagem criticamente ao modo petista de governo sem que necessariamente se identifiquem com o candidato Serra.

Mesmo que o candidato já esteja no duro jogo eleitoral em curso, o valor da política – assumida por Serra sem reservas -- é uma dimensão que escapa das águas turvas e dos palanques exaltados que consomem estas eleições exibindo os dois candidatos indiferenciados. Aos olhos de setores de esquerda e de centro-esquerda alinhados com Serra, a valorização da política é o que distingue as duas candidaturas, é o que evidencia um discurso que aparece articulado ao modo antigo em contraste com o outro novo discurso radicado na mobilização variada sem mediação da política fundada em conhecimento da circunstância, como se vê na evocação diuturna na propaganda de Dilma da figura do Presidente da República.

Agora, nos últimos dias, optou-se na campanha de Dilma pela tática da comparação entre os modelos neoliberal e o do social. Apoiar esta opção, tal como se vê na propaganda, significa compartilhar a responsabilidade intelectual da mais completa abstração dos tempos dos governos de Fernando Henrique Cardoso, como se neles não tivessem sido estruturadas muitas soluções aos problemas hoje aí ainda postos (Plano Real, certas privatizações, fomento da agricultura familiar como estratégia permanente etc.). Aliás, já passa o momento para que aflore essa discussão sobre o “neoliberalismo brasileiro” do qual, aliás, se valeu o governo Lula para obter seus êxitos (a propósito daqueles anos 1990 e de reconhecimentos ao governo Lula, ver o lema de Serra “O Brasil pode mais”) e sobre o papel de Fernando Henrique Cardoso, o presidente democraticamente eleito com rejeição em consideráveis áreas da intelectualidade brasileira como jamais se viu neste país.

Sem aquela avaliação intelectual e pública em todos os seus termos, comparar um eventual governo de Serra à época de Fernando Henrique Cardoso não é o que diferencia as duas candidaturas. O fato mais significativo para caracterizar Serra na campanha em andamento, a meu ver, é o fato de que o candidato se reivindica, em pronunciamentos conhecidos (ver o artigo sobre os 25 anos da Nova República publicado pela Folha de São Paulo e o discurso acima citado), não só descendente da Nova República como proclama sua adesão sem reservas ao Estado democrático de direito. Essa identificação – à qual às vezes o candidato consegue aludir nos palanques como sua referência – é a questão hoje ameaçada de se perder e é o que baliza ambientes expressivos do campo que apoia Serra. Está por demais difícil discernir uma questão derivada, importante para se ver o “modelo” de Serra, qual seja, a de que o ponto de vista democrático, na circunstância que vivemos, põe o candidato e um eventual governo seu diante da economia com uma orientação deliberada de administrá-la como um todo. Isso significa atenção tanto aos problemas e às possibilidades das empresas como aos problemas e às possibilidades das famílias, conquanto ambas são patrimônio nacional, como diz o Partito Democrático da Itália se referindo aos efeitos predadores da recente crise financeira e aos desafios de se buscar inovações econômico-financeiras, tecnológicas, no campo da economia verde, inclusive inovações na esfera política. Adotar de forma pública a adesão sem reservas ao Estado democrático de direito adquire significado de diretriz de postura e programática (para valer no agir político e nos planos econômico e social) e indica que já não se trabalha com a noção de projeto doutrinário de sociedade futura mas com programas reformistas conscientemente expostos em discurso público único.

Como também se diz naquele partido europeu, aliás, às voltas com o grande problema da hegemonia efetiva de Berlusconi entre os eleitores italianos, trata-se de buscar uma aliança com a sociedade, “uma aliança com o país”, e já não mais de se mover na política eleitoral com a idéia de mobilizar forças contra inimigos, sendo esta a condição para se tornar competitivo e depois ter melhores condições para exercer função de governo. Isso requer, voltando ao tema da política social, ver a melhora da situação dos menos favorecidos não apenas por meio dos sempre indispensáveis programas emergenciais, mas como parte do renovamento da economia como um todo (por exemplo, o caso da agricultura familiar). E ainda: para que seja tentada, com resultado sustentável, a realização desse tipo de reformas pressupõe contexto político favorável, para o qual são fundamentais os partidos, o Congresso, a opinião pública, uma cultura política democrática e assim por diante e, por certo, a habilidade no fazer política (reunir energias, convergências e negociar soluções) do dirigente colocado no maior posto da república. Este parece ser -- pois também existe o cenário pós-eleitoral, caso Serra ganhe o pleito, de os perdedores se proporem lastrear o país com a mais radical oposição --, o motivo de o candidato estar falando, agora no segundo turno, do seu propósito de liderar um governo de concentração democrático-reformista, com isso querendo dizer que os atributos do carisma e da sagacidade sem política tanto são precários como enfraquecem as já debilitadas instituições democráticas (os partidos, que são os primeiros interlocutores dos gestores públicos). Esse é um caminho difícil, de avanço progressivo e bem diverso da marcha carismática à medida que esta – como se viu nos últimos tempos – está em busca permanente do poder em crescente detrimento do Estado democrático de direito.

Esse ponto de vista da política, mais precisamente democrático, é o que está em jogo nesta eleição na qual muitos veem os candidatos pouco diferenciados. Do ponto de vista democrático – aliás, prevalecente em outro momento de crise aguda, o mensalão, quando se preferiu dar sequência ao curso institucional-democrático --, muito depende o andamento das coisas nos cenários próximos, ganhe Dilma ou Serra. Mais que uma candidatura tucana, a candidatura Serra está colocada na encruzilhada das duas crenças -- crença na política ou na luta pelo poder a qualquer custo --, postando-se Serra como descendente de uma cultura política custosamente acumulada neste país.

Raimundo Santos é professor da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ/CPDA)

A sociedade superior à política :: Marco Aurélio Nogueira

DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

Muitos eleitores votaram em 3 de outubro com a expectativa de um segundo turno que calibrasse o debate eleitoral e reformulasse o modo como os dois principais candidatos ao Palácio do Planalto se apresentaram ao País. Acreditou-se que com mais tempo de exposição Dilma e Serra disporiam de uma situação que o primeiro turno inviabilizara. Teriam melhores condições de anunciar e detalhar suas propostas, pondo-as frente a frente num confronto substantivo.

No entanto, as três semanas de campanha, até agora, não podem ser comemoradas.

Tudo nela foi decepcionante. Serra e Dilma atuaram como se fossem candidatos a gerente do País. Não contribuíram para que a população compreenda que todo governante é um político, não um técnico ou um pai, muito menos a "mãe" a que Lula se referiu recentemente, dedicada a cuidar de seus filhos. Responde pela gestão pública, mas também coordena inúmeras atividades, zela pela Constituição, toma decisões de impacto coletivo e deve liderar a sociedade mediante um projeto que sirva de guia para a cooperação, o bem-estar e a autorrealização de todos. Em vez de assim se apresentarem, Dilma e Serra abusaram da primeira pessoa, prometeram mundos e fundos, falaram em metas e planos, mas pouco esclareceram.

Foram arrogantes e presunçosos. Não trataram os eleitores como partícipes da ação governamental, mas como espectadores, aos quais, se tudo der certo, serão distribuídos alguns direitos, benesses e vantagens.

Nenhum deles falou em democracia política, por exemplo, a não ser de modo genérico e abstrato. Não se ficou sabendo a que conceito de democracia se associam, que compromissos democráticos concretos estão dispostos a assumir, que tradução prática pretendem dar aos governos democráticos que farão. Elogiaram a democracia e seus valores, é verdade, mas nada além disso. Nem sequer a luta histórica dos brasileiros pela redemocratização veio à tona, só sendo mencionada como detalhe biográfico dos candidatos.

Também não se discutiu política. Nada se falou sobre o sistema político ou de como o futuro presidente lidará com o Estado, a administração pública, os direitos, as liberdades, os parlamentares, os adversários, a política externa e as relações internacionais. Ambos se mantiveram distantes da política: ela seria mais um problema que uma solução. A começar do PT e do PSDB, que mal apareceram. Os candidatos parecem ter concluído que falar em política - mesmo que com P grande - implicaria perda de votos e apoios, que seriam obtidos e consolidados num território alheio à política. Jogaram fora, com isso, excelente oportunidade de ajudar a população a compreender as dificuldades da vida real, a complexidade do ato de governar, a natureza agonística da política. Reduzida no palco do debate a troca de acusações, a política deteriorou-se ainda mais aos olhos do eleitor.

Dilma e Serra são quadros democráticos de qualidade, posicionados em dois pontos distintos, mas convergentes, da social-democracia. Sua biografia conta a favor deles. Têm preparo técnico para governar o País, sabem do que falam e pesam nas respectivas coligações. Como entender que tenham deixado suas campanhas naufragarem num oceano de mediocridade, absurdos e baixarias?

Uma explicação fácil, mas não equivocada, é dizer que cederam passivamente aos apelos do marketing, deixaram-se formatar sem reação, ainda que tenham centralizado as decisões de campanha e controlado seus respectivos staffs de comunicação e propaganda. Prova disso foram os debates de que participaram. Assimilados para constranger e difamar o adversário, pressioná-lo ou desequilibrá-lo, foram politicamente desastrosos e eleitoralmente discutíveis.

Outra hipótese é que ambas as campanhas se tenham deixado sugar pelo novo significado que vem sendo assumido pela política: política como sinônimo de gestão e acesso ao poder, por um lado, e como fardo, esperteza e trucagem, por outro. É um significado que brota da era em que vivemos, movida a globalização, consumo, desconstrução social e individualização, na qual tudo ganha dimensão espetacular e por isso necessita aparecer como espetáculo, mais pelo efeito que pelo conteúdo. Guerra de bastidores, pequenas e grandes agressões, artimanhas oportunistas de teor obscurantista e muito protagonismo paternalista dominaram o drama que se buscou encenar, impossibilitando a discussão aprofundada dos importantes temas que foram postos na mesa, do aborto à questão social, do desenvolvimento à reforma política.

Porém, por mais que se tenha desperdiçado uma chance de ouro para a renovação da política e do discurso eleitoral, o País que sairá do segundo turno não será necessariamente pior. A sociedade resistiu à política de má qualidade exibida pelas duas campanhas. Vetou a lógica plebiscitária e maniqueísta que se tentou imprimir às eleições, mostrou que sabe pensar além de ganhos imediatos e neutralizou a introdução enviesada de temas morais e religiosos, ainda que neste último caso também tenha deixado se excitar parcialmente por eles.

Ainda temos uma semana pela frente e algum fato novo sempre poderá surgir. Mas, salvo acidentes inesperados, a sucessão presidencial será cumprida sem atropelos ou tensões, seja quem for o vencedor. Desse ponto de vista, a sociedade amadureceu. Mostrou ser uma plataforma consistente, que se pode impor. A ruindade do debate, a indigência política das campanhas e as táticas empregadas não impediram que o País enfrentasse com serenidade e espírito cívico o processo eleitoral.

A expectativa, agora, é que a mesma sociedade que soube ser superior aos candidatos consiga processar o declínio político a que estamos assistindo e, com isso, crie condições para que a política renasça e empreste maior qualidade à democracia. Se algo assim vier a acontecer, os eventuais efeitos colaterais da disputa serão amortecidos e desarmados.


Professor Titular de Teoria Política da UNESP

Pouca margem:: Merval Pereira

DEU EM O GLOBO

Desta vez, os institutos de pesquisa têm que estar errados duplamente para que haja uma surpresa no dia 31 e Serra se eleja presidente da República. Ou então acontecer o que os especialistas chamam de “terceira onda”, o que nem sempre acontece, mas aconteceu no primeiro turno, com o crescimento de Marina Silva nos últimos dias, mas também de Serra, que pegou os institutos de calça na mão.

As pesquisas mostram, unanimemente, uma diferença de 12 pontos nos votos válidos a favor de Dilma Rousseff, e apenas o Instituto Sensus coloca essa diferença em 5 pontos, praticamente na margem de erro para um empate técnico.

O erro duplo das pesquisas tem que acontecer no desvio da metodologia, que no primeiro turno fez com que eles dessem até 8 pontos a mais para Dilma, e na curva de tendência, que foi a alegação dos pesquisadores para reduzir os danos causados pelo vexame dos resultados errados muito além da margem de erro.

Apanhados errando até na boca de urna — caso do Ibope —, os pesquisadores alegaram que as pesquisas não são ciência exata e que o que apontam é a tendência. Nesse caso, teriam acertado porque mostraram Dilma perdendo força na última semana, Marina crescendo e Serra em tendência de alta.

Hoje, as pesquisas mostram uma tendência contrária, com Dilma em ascensão um pouco além da margem de erro e Serra em queda, dentro da margem de erro.

O PSDB contesta esses resultados e garante ter levantamentos que mostram que a disputa está no mínimo empatada, quando não favorável a Serra na margem de erro. A favor da assessoria de Serra o fato de que esse mesmo acompanhamento, no primeiro turno, acertou na mosca, contra tudo o que diziam os institutos de pesquisa, que mostravam a vitória de Dilma no primeiro turno.

O problema maior para Serra é que seu esforço para vencer tem de ser muito superior ao de Dilma, e não comporta erros, por menores que sejam. A margem de manobra da candidata oficial é muito maior, além do fato de que o governo está usando toda a força de sua máquina para alavancar Dilma.

O caso de Minas é emblemático.

O ex-governador Aécio Neves deu uma demonstração de força elegendo seu candidato Antonio Anastasia e o senador Itamar Franco, do PPS. Mesmo assim, Dilma venceu em Minas com cerca de 1,5 milhão de votos de diferença. O empenho de Aécio nesse 2oturno é inegável, e pesquisas mostram que ele já conseguiu virar o resultado na capital, onde Marina venceu e Dilma ficou em segundo.

Mas no restante do estado ainda não há resultados concretos da mobilização do exgovernador, pelo menos que se traduzam em índices suficientes para virar a disputa.

Da mesma maneira em SP, onde o PSDB venceu e tem a máquina trabalhando para Serra, a diferença de 700 mil votos no 1oturno ainda não foi ampliada de maneira a compensar as vitórias de Dilma em Minas e no Rio. Em 2006, o hoje governador eleito Geraldo Alckmin venceu a eleição em SP por 3,8 milhões de votos, e com isso venceu no Sudeste, apesar de ter sido derrotado em Minas, no Rio e no Espírito Santo.

Como as pesquisas mostram que hoje os dois candidatos estão em empate técnico no Sudeste, isso sinaliza que até o momento não houve a ampliação da vantagem de Serra para 3 milhões ou 4 milhões de votos em São Paulo. Ou então a diferença em favor de Dilma se ampliou no Rio ou em Minas.

Toda a estratégia do PSDB neste segundo turno se baseia na ampliação da vantagem em São Paulo e na reversão da situação em Minas. Até esta semana, havia um tom otimista na virada mineira, e havia até quem tivesse esperança de tirar vantagem de até 2 milhões de votos para Serra no estado, o que seria roubar de Dilma de 3 milhões a 3,5 milhões de votos neste segundo turno.

Neste momento da campanha, esse resultado parece otimista em excesso, e os tucanos mineiros já trabalham com a hipótese de reduzir a diferença em Minas, mesmo sem vencer.

Isso porque o presidente Lula está jogando todo o seu prestígio e a expectativa de poder futuro em cima dos prefeitos que, no primeiro turno, apoiaram o voto Dilmasia (Dilma e Anastasia) e, neste segundo turno, estavam tentados a seguir Aécio no apoio a Serra.

Pelas contas tucanas, para compensar a derrota acachapante que sofrerão no Nordeste — hoje Dilma, grosso modo, vence na região em todas as pesquisas por cerca de 5 a 6 milhões de votos de diferença — o PSDB tem que vencer na Região Sul com uma diferença de 2,5 milhões de votos, e abrir 3 milhões a 4 milhões de votos de frente em São Paulo.

Os votos do Norte e do CentroOeste se compensariam, zerando a conta, o que levaria a decisão para Minas e Rio. Pelas contas iniciais, a diferença que Aécio conseguisse tirar em Minas poderia compensar o tamanho da vitória de Dilma no Rio, além da esperança de que os votos de Marina fossem na sua maioria para Serra.

Como se vê, a conta que daria uma vitória para o PSDB é bastante apertada e quase não comporta margem de erro. Os estrategistas da campanha de Serra, porém, consideram que no momento a situação está empatada, e contam com a tal “terceira onda” na última semana de campanha.

O caso da agressão sofrida por Serra no Rio acabou se tornando o foco da discussão com a acusação infeliz do presidente Lula de que o candidato oposicionista teria criado uma farsa.

Como se fosse aceitável o fato de um candidato a presidente da República ser interceptado por militantes de outro partido que tentavam impedir sua manifestação.

Mesmo que não tivesse acontecido nem o “evento bolinha”, nem o “evento fita” — na peculiar definição do perito Molina —, teria havido um ato de selvageria inaceitável em uma democracia.

A repercussão do episódio pode ter efeito em setores do eleitorado no Sudeste — que é onde está se disputando a decisão final —, especialmente diante do comportamento inaceitável do presidente da República.

Assim como no 1oturno, as atitudes agressivas de Lula em diversos comícios, pregando a “extinção” de adversários e considerando-se dono da “opinião pública”, foi um dos fatores que fizeram a candidata oficial perder votos.

Mas esse mesmo eleitorado terá pela frente uma prova de fogo à sua cidadania com o feriadão.

A abstenção no Sul e no Sudeste, onde o tucano está em boa situação, pode definir a eleição, assim como no 1oturno a abstenção no Nordeste e no Norte, regiões fortes de Dilma, teve um papel importante para impedir que a eleição se resolvesse naquele domingo.

Desvio e dever:: Miriam Leitão

DEU EM O GLOBO

A grande questão não é o que acertou a cabeça de José Serra em Campo Grande, mas o que há na cabeça do presidente Lula. É assustador que ele não perceba o perigo de usar toda a sua vasta popularidade para subestimar um episódio de conflito físico entre grupos que disputam o poder.

Se ele brinca com fato grave, o que está avisando é que esse tipo de atitude é aceitável.

Não é. Cada lado tem que ter segurança e garantia de fazer a sua festa, a sua passeata, o seu comício em paz.

Quem organiza um grupo para interceptar a caminhada do grupo concorrente na disputa política sabe que há risco de que tudo fuja ao controle. O que houve já foi sério o suficiente, mas poderia ter sido ainda pior. Felizmente, há tempo de aprender com esse episódio.

A paixão eleitoral é natural, o maniqueísmo do segundo turno é emburrecedor, o confronto entre as partes só é aceitável se ficar no campo das ideias e propostas.

Quem vai com um grupo organizado para hostilizar o adversário no meio da sua caminhada sabe que os ânimos podem ficar exaltados.

Desta vez, foi uma pedra na cabeça de uma jornalista, e o rolo de fita na cabeça do candidato José Serra. Esse episódio deve ser visto pelo risco potencial de conflito generalizado.

As imagens falam por si.

O que mais poderia acontecer numa refrega de rua? No Paraná, a candidata Dilma Rousseff, no dia seguinte, foi alvo — felizmente quem lançou errou a pontaria — de balões de água.

Esse é exatamente o ponto em que o chefe da Nação precisa pedir calma aos dois lados, lembrar os valores democráticos, e a melhor atitude na disputa política.

Mas é exatamente neste momento que o presidente ofende quem foi atingido e convalida o comportamento desviante de quem agrediu. Ao tratar com leviandade um assunto sério, incentivou a militância a repetir o comportamento, escalou o conflito e deseducou o cidadão.

Essa campanha eleitoral está deixando cicatrizes nas instituições. Um presidente da República não deve fazer o que o presidente Lula tem feito. Não deve usar a máquina, a Presidência, o poder em favor de um dos candidatos dessa forma e com essa força. Claro que Lula tem um lado, um partido e uma candidata. Pode e deve explicitar isso. Seria estranho se não o fizesse.

Mas a Presidência da República não pode ser usada como braço do comitê de campanha. Existe uma linha divisória que Lula nunca quis ver. E esse comportamento errado do ponto de vista institucional se repetiu durante toda a campanha.Em alguns momentos, os atos inadequados do presidente ficaram evidentes.

Esse episódio deixou claríssimo o que não se deve fazer. Que as pessoas que vierem a ocupar este cargo no futuro vejam nas atitudes do presidente Lula de 2010 exemplos do que não fazer, não repetir.

O risco é que seja visto como natural daqui para frente o governo usar órgãos públicos para espionar adversários políticos; órgãos públicos, estatais e agências serem partidarizadas de maneira abusiva; o presidente não ter freio institucional.

Não se acostumar com o erro repetido é a única garantia que se tem em momentos assim.

Quem já viveu sem democracia sabe o valor de cada ritual, limite, processo.

Quem nunca viveu não tem como ver os riscos quando eles surgem com seus sinais antecedentes.

Por isso é natural que os mais jovens pensem ser um exagero da oposição ou concluam que o episódio de Campo Grande não foi nada.

Afinal, como ninguém se feriu seriamente, que problema tem? Podem pensar que se o presidente acha que o candidato da oposição é um farsante como aquele jogador de futebol isso é só mais um jogo, mais uma pelada no campo político. Se os mais jovens forem displicentes, é até compreensível.

Um homem nos seus 65 anos, que viu o que o presidente Lula já viu no país, só brinca se não estiver levando a sério o cargo que ocupa, a faixa que recebeu, o poder que tem.

Hoje, os riscos institucionais não vêm mais dos quartéis, como se sabe. As Forças Armadas não conspiram contra a ordem democrática e isso é um salto extraordinário que o país deu com a contribuição de inúmeras pessoas e com o sacrifício de muita gente.

Hoje, os riscos são outros, tem novas origens, e métodos diferentes.

Está em moda na América Latina demolir as instituições por dentro, minar a democracia, enfraquecendo o sistema de pesos e contrapesos, descaracterizar os poderes até eles ficarem irreconhecíveis, controlar a imprensa para não ouvir o contraditório.

Felizmente, isso não acontece em todos os países, mas os casos em que esse processo está em curso são tão notórios e assustadores que qualquer pessoa que tenha passado pela experiência da ausência de democracia é capaz de ver. Certos governantes começam fazendo chacota de coisas graves, como Hugo Chávez. Ele xingou adversários políticos ou contou piadas e pôs apelidos supostamente engraçados para desacreditálos. Isso, no princípio.

Depois, ficou muito pior. Cristina Kirchner começou falando mal dos jornais e agora fala em estatizar a imprensa.

Todos os que escolhem esse desvio político tentam intimidar a oposição para depois tentar exterminá-la.

Nenhum desses governantes do barulho da América Latina sabe o limite no uso dos órgãos e empresas públicas para objetivos políticos porque essa é uma poderosa ferramenta para minar o que mais os ameaça: o princípio da alternância no poder.

Como já escrevi nesse espaço, numa democracia não importa quem ganha a eleição, mas como se ganha a eleição. Se o presidente Lula conseguir seu objetivo tão almejado de fazer Dilma Rousseff sua sucessora, que seja pelos méritos de ambos, e não pelos erros e desvios dessa triste campanha

Declaração de voto :: Cacá Diegues

DEU EM O GLOBO

Quando, em 1960, aos 20 anos de idade, votei pela primeira vez para presidente da República, devo ter sido, entre os conhecidos de minha geração, um dos raríssimos eleitores do marechal Lott, sisudo militar fragorosamente derrotado pelo jovem e carismático Jânio Quadros. Na volta da democracia, 29 anos depois de minha estreia nas urnas, votei em Lula contra Collor. Em seguida, por duas vezes em Fernando Henrique e mais duas novamente em Lula (a perspectiva de alternância de poder faz bem ao regime democrático e obriga os mandatários a serem mais sensatos).

Não me arrependo de nenhum desses votos e, nos dois em que fui vencido, os desempenhos de Jânio e Collor no poder me deram toda razão.

Estou convencido de que vivemos, nestes últimos 18 anos, o melhor momento da história da República. A partir dos dois anos de Itamar Franco, quando tudo começou, o país viveu, durante mais os dois mandatos de Fernando Henrique e os dois de Lula, seu mais longo período de consolidação democrática, estabilidade financeira, crescimento econômico, melhoria dos serviços públicos e uma inédita distribuição de renda.

Tudo isso de maneira talvez parcimoniosa demais para nosso gosto, mas sempre permanente e regular.

Mas é claro que, no vendaval de paixões provocado por uma eleição como esta, nada disso é relevante para os competidores que se dilaceram.

E todos, em algum momento, perdem o pé do estribo em que se equilibram sobre a montaria de seus partidos, nessa corrida doida. Partidos que não têm muita coisa que os oponha, a não ser idiossincrasias políticas, às vezes provincianas, quase sempre nascidas em tempos imemoriais.

É uma aberração histórica, possivelmente incompreensível para os pesquisadores do futuro, que Fernando Henrique e Lula tenham precisado fazer alianças com Antonio Carlos Magalhães e o PMDB para a tal “governabilidade”, uma expressão sofisticada para indefinição programática, falta de caráter político. E uma ameaça que parece querer nos lembrar que uma força maior que o voto popular está esperando o governante na esquina, a fim de golpeá-lo se não cumprir as regras de forças ocultas, que ninguém sabe precisamente quais são e por que são.

O presidente Lula é um democrata e nessa condição exerceu seus dois mandatos. Basta lembrar seu comportamento no episódio do terceiro mandato que certamente obteria, em nome da “governabilidade”, se assim o quisesse. Bati de frente com seu governo algumas vezes, sobretudo no início dele, quando contestei as regras para a cultura estabelecidas sem participação do MinC, e, depois, durante o delírio autoritário do projeto da Ancinav.

No primeiro caso, em poucos dias o presidente tinha reconhecido o equívoco cometido por alguns de seus auxiliares e devolvido a administração cultural ao ministério da área, como cabia. No caso da Ancinav, assim que o projeto chegou a uma reunião ministerial, foi, por indicação do presidente, rejeitado por unanimidade.

Não posso deixar de gostar dele.

Lula é um protagonista do Cinema Novo, com toda a saudável complexidade do conflito brasileiro entre o arcaico e o moderno, uma pertinente representação simbólica do Brasil, um personagem de “Vidas secas” que foi parar em “Terra em transe”. Mas não gosto quando ele assume um lado Padim Ciço e se deixa anunciar “pai dos pobres” e outros sebastianismos milagreiros que não colaboram com o estágio da civilização brasileira.

Sempre que entra em cena um pai protetor elimina-se a vontade dos filhos, sua capacidade de pensar por eles mesmos.

Mas um presidente em exercício é presidente de todos os brasileiros, inclusive daqueles que lhe fazem oposição. Não pode pedir a extinção de partidos, demonizar a imprensa que não o apoia, se tornar juiz de um jogo de bolinhas de papel e balões de borracha produzido pela irracionalidade e violência de fanáticos que não devem ser estimulados. Lula vai ficar na história como um dos grandes presidentes do Brasil e já virou um ismo representativo de uma era. Não pode pisar na bola na saideira da campanha eleitoral. grande Rosa de Luxemburgo dizia que a liberdade é, antes de tudo, a liberdade de quem discorda de nós (ela acabou traída pelos radicais de seu partido socialista e assassinada pelos social-democratas de Weimar).

Décadas depois, o não menos grande Isaiah Berlin, ignorado pelos radicais do liberalismo que ele defendia, completava o pensamento de Rosa dizendo que a liberdade do lobo não pode justificar o extermínio dos cordeiros. Esses são os únicos limites intransponíveis da liberdade democrática.


Cacá Diegues é cineasta.

A aflição de Lula :: Fernando Rodrigues

DEU NA FOLHA DE S. PAULO

BRASÍLIA - Domingo que vem será escolhido o sucessor ou a sucessora de Lula.

Dilma Rousseff (PT) entra como favorita nesta reta final. José Serra (PSDB) é o azarão. Na pesquisa Datafolha do dia 21, a petista tem uma vantagem de 12 pontos sobre o tucano.

Como esta disputa tem sido marcada por erros estratégicos dos dois lados, é temerário usar os dados da pesquisa para projetar de maneira peremptória o resultado da eleição.

Além de todos os fatores imponderáveis conhecidos -a abstenção por causa do feriado prolongado, por exemplo-, há também a vaidade e soberba descontroladas dos petistas, a começar pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Passadas algumas semanas, ficou claro que Dilma perdeu a chance de vencer no primeiro turno em parte por causa da excessiva confiança de Lula e do comando do PT. O Datafolha apontava vestígios de desgaste da petista no início da segunda quinzena de setembro. Os dilmistas preferiram entrar no modo "autoengano". Nada fizeram.

Por esperteza ou incapacidade de entender a conjuntura (ou as duas coisas), Lula no final da campanha no primeiro turno aparecia em palanques berrando sua litania contra a oposição, sugerindo exterminar partidos adversários.

Agora, o momento é outro. Não há indicações de que Dilma Rousseff esteja sofrendo erosão de votos. Mas já existem sinais do retorno da empáfia lulista.

Basta assistir à cena nesta semana em que o presidente acusa Serra de ter produzido uma "farsa" no tumulto ocorrido no Rio na quarta-feira.

Ao reclamar da reação do tucano, desferindo ataques e acusando sem provas, Lula não surpreendeu por jogar no lixo outra vez o decoro do cargo. Essa é a praxe dos últimos oito anos. O marcante no momento é a aflição incontida do presidente.

Comporta-se quase como no primeiro turno, quando ele mais atrapalhou do que ajudou sua candidata no processo eleitoral.

Aécio Neves: 'O presidente sai menor do que entrou'

DEU EM O GLOBO

O senador eleito Aécio Neves (PSDB-MG) subiu o tom das críticas ao presidente Lula e disse que ele deixou de agir como chefe de Estado para se tornar cabo eleitoral de Dilma Rousseff (PT). "O presidente sai menor do que entrou nesta eleição", afirmou Aécio, comentando declarações de Lula ironizando a agressão ao candidato tucano José Serra. Aécio disse estar triste pelo comportamento de Lula, com quem, completou, sempre julgou manter "uma relação de amizade e de respeito".

"Lula sai menor do que entrou nesta eleição"

Aécio diz que presidente o decepcionou ao abandonar papel institucional para virar cabo eleitoral de Dilma

Adriana Vasconcelos e Cristiane Jungblut

BRASÍLIA e TERESINA. O senador eleito pelo PSDB de Minas, Aécio Neves, voltou a criticar ontem o comportamento do presidente Luiz Inácio Lula da Silva em relação não só à agressão sofrida pelo candidato do PSDB à Presidência, José Serra, e à investigação da Polícia Federal sobre as quebras de sigilos fiscais de tucanos. Para Aécio, Lula, como um chefe de Estado, não pode esquecer o papel institucional que ocupa para virar cabo eleitoral de sua candidata, a petista Dilma Rousseff. Aécio diz que Lula saiu menor ao misturar as funções de presidente e de cabo eleitoral nesta campanha.

— Vejo com muita tristeza a opção feita pelo presidente Lula, que abandonou seu papel institucional para virar um cabo eleitoral. Com essa postura, o presidente sai menor do que entrou nesta eleição — afirmou Aécio ao GLOBO.

Anteontem, Lula ironizou a agressão sofrida por Serra acusando o tucano de simular um ferimento na cabeça e comparando-o com o goleiro da seleção chilena Roberto Rojas, que, numa partida das eliminatórias da Copa de 1989, forjou um ferimento. A exemplo de outros petistas, Lula também insiste na tese de que as violações de sigilos fiscais de tucanos constatadas na Receita teriam sido fruto da disputa entre Aécio e Serra pela vaga de candidato tucano à Presidência.

— A democracia é maior do que uma eleição e um conjunto de forças políticas. Por isso, não posso deixar de externar minha tristeza com o comportamento de uma pessoa a quem sempre julguei manter uma relação de amizade e de respeito — acrescentou Aécio.

Embora tenha feito questão de destacar que sempre teve relação de amizade com o presidente, a quem respeitou pela sua história de vida e trajetória política, Aécio admitiu estar decepcionado com o comportamento de Lula nesta campanha eleitoral. Já durante o primeiro turno, Aécio não perdoou a forma agressiva como Lula tentou interferir na disputa estadual.

Parlamentares do DEM e do PSDB afirmaram que Lula já vinha aumentando os ataques à oposição, mas que, ainda assim, ficaram surpresos com o tom adotado anteontem. O líder do DEM na Câmara, deputado Paulo Bornhausen (SC), disse que Lula acaba incentivando a violência ao adotar o tom jocoso que adotou na quinta. Ele disse ainda que Lula extrapola, pois estaria abandonando a postura de magistrado, de chefe da República, e assumindo mais sua função de principal cabo eleitoral da candidatura petista.

— Vamos fazer um ato de desagravo no Rio a tudo que Lula está fazendo — disse Paulo Bornhausen. Ao saber que a campanha de Dilma também faria um ato no Rio, o líder do DEM brincou: — Vou usar um capacete.

Em Teresina, Aécio disse que lamenta e acha triste o fato de Lula estar agindo como chefe de facção e não como presidente da República na campanha eleitoral
Colaborou Efrém Ribeiro

Serra acusa Lula de estimular agressões do PT

DEU EM O GLOBO

Tucano diz que petistas tratam adversários como inimigos que devem ser destruídos com violência

Leila Suwwan Enviada especial PORTO ALEGRE

O ato de apoio patrocinado pelo Partido Progressista (PP) do Rio Grande do Sul se tornou ontem uma manifestação de desagravo ao candidato José Serra (PSDB) e de críticas ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que ridicularizou a agressão sofrida quarta-feira pelo tucano, no Rio. Serra disse que a atitude de Lula estimula os militantes petistas a repetir as agressões: — O presidente da República, dando aval a esse tipo de manifestação, acaba estimulando que outras se repitam. Nós não nos intimidamos. A democracia é um regime de liberdade. Todo mundo tem direito de dizer o que pensa, se locomover, se juntar, se reunir e pregar suas ideias. Essa não é a maneira de o PT enxergar a democracia — disse Serra em discurso a dezenas de aliados.

O tucano voltou a criticar a forma como o PT trata seus adversários: — Não eram militantes comuns, era gente de segurança. É uma agressão, é a concepção de que o adversário é um inimigo e precisa ser destruído, com mentira e violência.

A senadora eleita Ana Amélia (PP-RS) discursou na mesma linha. O ato marcou o apoio do PP gaúcho a Serra, apesar da divergência com a direção do partido, que declarou apoio à petista Dilma Rousseff.

— O presidente, do alto de sua popularidade e de seu papel institucional, não deveria ridicularizar e desconstruir o ato de um adversário. Desejo que o presidente reconsidere.

A agressão ao candidato foi um ataque aos 33 milhões de eleitores que nele votaram — disse Ana Amélia, muito aplaudida.

Serra também garantiu que, se eleito, tratará o governador eleito Tarso Genro (PT) sem preconceito, apesar do “sectarismo” do adversário.

Serra disse que não discriminou prefeitos petistas quando governou São Paulo: — Em São Paulo, tratei bem todos os prefeitos do PT, inclusive os mais sectários, mais sectários do que o próprio governador (eleito) do Rio Grande do Sul.

PSDB entra na Justiça contra petistas

DEU EM O GLOBO

Tucanos pedem investigação sobre agressões a José Serra em Campo Grande e ameaçam processar Lula

Adauri Antunes Barbosa

SÃO PAULO. Dois dias depois do incidente no Rio em que o candidato à Presidência da República José Serra (PSDB) foi atingido na cabeça, a coordenação de sua campanha entrou na Justiça Eleitoral com uma representação para apuração “de infração penal”. Mesmo com ameaças de processar também o presidente Lula e muitas críticas ao PT e à candidata Dilma Rousseff, somente dois militantes petistas são citados na representação, Sandro Alex de Oliveira Cézar, o Sandro Mata-Mosquito, e José Ribamar de Lima, diretor do Sindicato de Agentes de Combate a Endemias. Eles teriam convocado petistas para o evento em que Serra faria campanha no Rio.

Com a representação — que descreve os militantes do PT como “uma SS hitlerista” e os chama de “turba” —, a campanha tucana espera apurar um suposto crime dos petistas e ligar os fatos às declarações de Lula, que, no dia seguinte, disse que Serra simulou a agressão, após ser atingido “por uma bolinha de papel”.

— O presidente Lula, em vez de censurar os desordeiros, se permitiu caçoar da vítima — criticou o senador eleito Aloysio Nunes (PSDB-SP), um dos coordenadores da campanha tucana.

O presidente nacional do PSDB, senador Sérgio Guerra (PE), ameaçou também entrar com ação judicial contra Lula.

— Vamos cuidar disso (a representação) agora. Temos tempo para tudo. O desenvolvimento desta primeira medida jurídica poderá exigir outras — afirmou Guerra, lembrando que há evidências da relação entre o governo federal e a ação dos militantes. — Não precisa de muita explicação. Coisa do petismo, coisa do governo.

O pedido de representação encaminhado ao procurador-geral da República, Roberto Gurgel, tem como base os artigos 248, 331 e 332 da Lei Eleitoral, que não permitem que se impeça a propaganda eleitoral e preveem, em caso de condenação, prisão por até seis meses ou pagamento de multa. No documento, os advogados de Serra acusam os petistas de atuarem “nos moldes de uma SS hitlerista”.

— Eles usaram uma técnica patenteada pelos fascistas na Itália na década de 20, de trocar o debate de ideias pela desordem nas ruas e por porrada nos adversários.

Se isso continuar, vamos precisar pedir autorização do PT para existirmos politicamente — afirmou Nunes. — Uma manifestação pacífica foi brutalmente hostilizada e depois interrompida por uma tropa de choque preparada, organizada previamente e dirigida por militantes e políticos do PT.

Guerra acusou Lula: — Nossa campanha tem sido vitimada por uma ação desqualificada, autoritária e antidemocrática não apenas dos partidos que nos enfrentam de maneira geral, e do PT em particular, mas das forças que lhe dão sustentação, inclusive o presidente da República. Nossa indignação já é pública, temos agora que agir e nos preparar não apenas para a eleição, mas para defender a democracia.

O presidente do DEM, deputado Rodrigo Maia (RJ), que estava no evento em que houve o incidente com Serra, também criticou o presidente: — Ele não se portou como um presidente dos brasileiros, mas como o presidente de uma facção de um partido.

Jacob Kligerman: 'Quero uma retratação'

DEU EM O GLOBO

O médico Jacob Kligerman, que atendeu José Serra depois de ele ser atingido por petistas, disse que estuda ação contra o presidente Lula, como noticiou ontem Ancelmo Gois em sua coluna.

Paulo Marqueiro

O GLOBO: O senhor pretende entrar com uma ação contra o presidente Luiz Inácio Lula da Silva pelas declarações que ele deu em relação ao atendimento prestado ao candidato José Serra?

JACOB KLIGERMAN: Como ficou evidenciado pela reportagem da Rede Globo, não houve farsa. O que houve foi um atendimento médico qualificado. Ele (Serra) precisou vir ao meu consultório. Então quero uma retratação, porque não sou farsante. Pelo próprio Código de Ética da Medicina, eu tive o exercício da profissão criticado. Ele é presidente da República, merece respeito. Mas farei o que for compatível (com a situação).

O senhor já entrou com a ação contra o presidente ou ainda vai entrar?

KLIGERMAN: Estou estudando ainda

Que tipo de ação seria? De reparação de danos?

KLIGERMAN: Não, não é uma questão de reparação. Eu quero uma retratação. Dei atendimento, não foi farsa. Estou indignado.

O senhor ficou aborrecido também com a forma como o presidente se referiu ao senhor, dizendo que tinha sido secretário de Saúde de Cesar Maia e diretor do Inca na gestão de Serra como ministro da Saúde?

KLIGERMAN: Ter sido do Inca e secretário de Saúde não é ofensa, é orgulho. Tenho 43 anos de Inca. Além disso, não tenho ligação política com ele. Não sou membro do PSDB. Ele me procurou porque temos uma relação de amizade.

Por que ele foi ao seu consultório?

KLIGERMAN: Ele me telefonou. Estava no Aeroporto Santos Dumont. Estava tonto, nauseado. Eu não tinha como sair do consultório, então pedi que ele viesse aqui (em Botafogo). Pedi uma tomografia, que deu normal. E sugeri que parasse as atividades aquele dia e ficasse em observação.

Domingo no Rio terá Serra, Dilma e Lula

DEU EM O GLOBO

Na orla de Copacabana, amanhã, haverá atos de campanha do tucano José Serra e de militantes petistas, mas a PM não reforçará o policiamento. Lula e Dilma Rousseff (PT) percorrerão a Zona Oeste.


Dilma vai à Zona Oeste e Serra, à orla de Copacabana, amanhã

Petista fará carreata com Lula, e tucano caminhará com Aécio no Rio

Cássio Bruno

Os candidatos à Presidência, Dilma Rousseff (PT) e José Serra (PSDB), desembarcam no Rio amanhã para os dois últimos grandes atos de campanha no estado antes das eleições, no dia 31. Dilma fará uma carreata, a partir das 9h, com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, por bairros da Zona Oeste. Serra, por sua vez, caminhará a partir das 10h, na orla de Copacabana, na Zona Sul, com saída prevista do Posto 6. O tucano estará ao lado de aliados como os senadores eleitos Aécio Neves (PSDB) e Itamar Franco (PPS).

Petistas e tucanos, no entanto, podem se encontrar, novamente, depois da confusão de quarta-feira em Campo Grande, quando Serra foi agredido por manifestantes petistas. Mesmo sem as presenças de Dilma e Lula confirmadas nesta agenda da tarde, o partido organiza uma passeata também em Copacabana, às 14h, no Posto 6.

— O PT não vai à orla de manhã para evitar qualquer problema.

Não aceitaremos provocações.

Será um ato da paz — disse ontem o presidente regional do PT, deputado federal Luiz Sérgio.

Em nota divulgada ontem à tarde, Luiz Sérgio repudiou a violência e pediu reforço no policiamento: “Apelamos às autoridades policiais para que reforcem a presença nas ruas neste domingo, já que os dois candidatos a presidente da República estarão na cidade”

PM não reforçará policiamento na orla Apesar do confronto em Campo Grande, a assessoria de imprensa da Polícia Militar informou ontem que não reforçará o patrulhamento de rotina na orla. O órgão não quis divulgar o número de PMs no local.

Segundo a assessoria, em caso de tumulto, haverá aumento no efetivo com policiais do 19 º BPM (Copacabana) e do 23º BPM (Leblon).

— O PSDB avisou da utilização do espaço (orla) para a PM, para a Guarda Municipal e para o Corpo de Bombeiros. Oficialmente, a orla de Copacabana será para o nosso evento — afirmou o deputado federal tucano Otávio Leite, dizendo que não haverá reforço na segurança particular de Serra.

Em reunião ontem à noite, o PT decidiu que Dilma e Lula vão percorrer dez quilômetros na Zona Oeste, passando por 19 ruas. A saída será em Realengo e o término, no Shopping Bangu. Está prevista a participação de três mil militantes, segundo o PT.

No site do PT fluminense, a direção executiva convoca os filiados para fazerem o evento “tipo Copa do Mundo” e “o Rio recebendo a Seleção Brasileira da política”. A carreata terá a participação do governador reeleito Sérgio Cabral (PMDB) e dos senadores eleitos Lindberg Farias (PT) e Marcelo Crivella (PRB).

Integrantes de blocos de carnaval irão a Copacabana À tarde, petistas preparam o “Bloco da Dilma”, com integrantes de blocos de carnaval de rua carioca, em uma manifestação em defesa das conquistas do governo Lula e pela sua continuidade com a eleição de Dilma.

Hoje e amanhã, a programação do PT e de partidos aliados terá ainda panfletagem em São Gonçalo, em bairros da Zona Norte e na Central do Brasil.

A “Caminhada da Vitória” de Serra sairá do Posto 6, em direção ao Leme. O evento é organizado pelo candidato a vice-presidente na chapa, Indio da Costa (DEM). Além de Aécio e Itamar, são esperados os governadores eleitos Antônio Anastasia (MG), Beto Richa (PR) e Geraldo Alckmin (SP). De acordo com os tucanos, a orientação é para que militantes e simpatizantes do candidato usem camisas azuis.

Em outra frente, 16 deputados do PSDB e de partidos que compõem a aliança farão corpo a corpo pró-Serra na Baixada Fluminense, no interior e na Zona Oeste.

Quebra de sigilo: PF ouvirá jornalista de novo

DEU EM O GLOBO

Acusado de encomendar violação de dados fiscais de tucanos em 2009 deverá ser indiciado na segunda-feira

Roberto Maltchik e Sérgio Roxo

BRASÍLIA. Desde o último dia 14, a Polícia Federal reúne provas contra o jornalista Amaury Ribeiro Jr., mas até ontem ainda não o havia indiciado como responsável pela quebra de sigilo de tucanos e familiares do presidenciável José Serra (PSDB).

Amaury é a única pessoa diretamente envolvida no escândalo ainda não indiciada, mas até o advogado dele, Adriano Bretas, diz acreditar que isso vá ocorrer segunda-feira, quando Amaury prestará novo depoimento à PF, às 10h, em Brasília.

— Este pedido para ir a Brasília é um sintoma de que haverá indiciamento — afirmou.

Amaury será ouvido pelo delegado Hugo Uruguai. No último dia 19, a PF procurara Amaury na Rede Record, emissora para a qual trabalha desde agosto deste ano. No entanto, um representante da emissora informou que o jornalista estaria viajando. Nos dois dias seguintes, a PF continuou atrás do jornalista. premiado, que sempre fez trabalhos lícitos e tem lastro moral”.

O objetivo é evitar um eventual pedido de prisão do cliente.

Citado no depoimento de Amaury à PF, Valdemir Garreta, atualmente sócio da empresa FX Comunicação Global, disse que, apesar de ser amigo do deputado estadual Rui Falcão e ter prestado serviços para a campanha dele, não tem relação com o suposto furto de dados de pessoas ligadas ao candidato José Serra do computador de Amaury.

— Não tive nenhuma relação comercial na campanha ou na pré-campanha com a empresa Lanza ou com nenhuma das empresas listadas nesse episódio — disse Garreta.

Ele afirmou que nada tem a dizer sobre a violação do sigilo de tucanos e do suposto envolvimento de Amaury, por desconhecer o tema. Amaury se referiu a Garreta como sócio da empresa de comunicação Marka, mas Garreta disse não ter participação societária nela.

À PF, Amaury, que encomendou a quebra de sigilo fiscal de tucanos, afirmou que Rui Falcão, que é coordenador de comunicação da campanha de Dilma Rousseff, teria copiado de seu computador informações sigilosas e permitido que os dados fossem levados para dentro da campanha petista.

O dossiê, de acordo com o jornalista, seria utilizado por um grupo de inteligência que estaria em gestação na précampanha de Dilma. A equipe, liderada pelo jornalista Luiz Lanzetta, foi extinta após a revelação de sua existência, no começo de junho deste ano.

No depoimento, Amaur y contou que Luiz Lanzetta, dono da Lanza Comunicação, disselhe que havia discutido com Garreta, porque Garreta exigia participar dos trabalhos de comunicação já desenvolvidos pela Lanza na pré-campanha de Dilma, querendo dividir os valores recebidos para a contratação de jornalistas que trabalhavam na campanha. Garreta negou que essa discussão tenha existido e disse que não conhece Amaury.

Erenice não consegue adiar depoimento na PF

DEU EM O GLOBO

Recurso da ex-ministra é negado

BRASÍLIA. A Polícia Federal marcou para segunda-feira, às 9h, o depoimento da exministra da Casa Civil Erenice Guerra, ex-braço-direito de Dilma Rousseff (PT). A PF tentou marcar o depoimento dela para a última quartafeira, mas um dos advogados pediu adiamento. Ontem, a defesa de Erenice fez nova tentativa de adiamento, mas sem sucesso. Erenice será ouvida pelo delegado Roberval Vicalvi.

A uma semana do segundo turno da eleição presidencial, o depoimento de Erenice está sendo aguardado com certa tensão por integrantes da campanha de Dilma. O delegado Vicalvi deverá cobrar explicações de Erenice sobre os negócios da Capital Consultoria, empresa do filho dela Israel Guerra em sociedade com Vinícius Castro, ex-assessor da Casa Civil. Os dois são acusados de intermediar negócios de empresas privadas com o governo em áreas de influência de Erenice.

Em depoimento quinta-feira, o ex-piloto de motovelocidade Luís Corsini disse que pagou propina de R$ 40 mil a Israel a título de “taxa de sucesso” por um patrocínio de R$ 200 mil da Eletrobras, em 2008. O ex-piloto disse que só obteve a ajuda com a interferência de Israel. Em 2007, quando ainda não contava com os serviços de Israel, o pedido de patrocínio foi rejeitado.

O advogado Sebastião Tojal disse que Erenice nada tem a ver com o caso.

— Ela desconhece esses fatos. Ela disse que viu (Corsini) e nem sabe quem é. Tomou conhecimento (sobre o ex-piloto) agora, lendo os jornais — disse Tojal.

Israel Guerra e Vinícius Castro também negociaram contratos para facilitar um financiamento de R$ 2,25 bilhões do BNDES para a EDRB, empresa de energia solar. A denúncia foi feita pelo lobista Rubnei Quícoli. Os dois também receberam cerca de R$ 200 mil de Fábio Baracat para ajudar a Master Top Airlines (MTA), de transporte aéreo de carga, a obter licença na Agência Nacional de Aviação Civil e, a partir daí, renovar contrato com os Correios.

Após o escândalo, Erenice teve de deixar a Casa Civil.

Para Tojal, Erenice deve ser a última a depor porque vem sendo apontada como a principal investigada no inquérito.

A PF decidiu, então, manter o interrogatório para segundafeira. A polícia está sendo cobrada a esclarecer o caso antes das eleições.

Aliado de Dilma tentou influenciar investigação

DEU EM O GLOBO

Valter Cardeal interferiu para impedir CGU de descobrir irregularidades em contratos da estatal

BRASÍLIA. Aliado da candidata do PT à Presidência, Dilma Rousseff, o diretor de Planejamento e Engenharia da Eletrobras, Valter Cardeal, tentou influenciar investigação da Controladoria Geral da União (CGU) sobre irregularidades em contratos públicos na estatal. As supostas irregularidades foram revistas pelo órgão de controle, que deixou de responsabilizar dirigentes da Eletrobras individualmente pelo caso, mas manteve sua posição em relação à empresa.

A CGU analisou mudanças autorizadas pelo diretor e pelo exministro das Minas e Energia Silas Rondeau (2005 a 2007), em contrato da Companhia Energética do Piauí (Cepisa) com a Eletrobras para execução do programa Luz para Todos, do governo federal. Os atos foram investigados pela Procuradoria da República, que denunciou ambos ao Superior Tribunal de Justiça por gestão fraudulenta e desvio de recursos do programa.

Reportagem do jornal “Folha de S. Paulo”, publicada ontem, diz que, em conversa grampeada pela PF com autorização da Justiça, Cardeal atuou contra a investigação da CGU. Nos diálogos, Rondeau e Cardeal comentam relatório de Édison Freitas, membro do Conselho Fiscal da estatal, sobre a auditoria da CGU que os responsabiliza de cometer impropriedades na gestão dos contratos. Freitas teria emitido notas técnicas cobrando providências.

Cardeal revela que interferiu junto a um assessor do ministro Edison Lobão, que sucedeu a Rondeau, sobre o assunto. Numa das gravações, diz que procurou uma pessoa identificada como Ramos para tratar do caso antes que fosse levado por Lobão ao ministro da CGU, Jorge Hage. Segundo a PF, a pessoa citada por ele é Antônio Carlos Ramos, assessor de Lobão.

O relatório inicial da CGU afirmava que os contratos não podiam ser aditados, pois a execução das obras era inferior ao estipulado por regulamento da estatal.

Ainda assim, a Eletrobras o fez. Em sua defesa, a empresa argumentou que eram necessários os aditamentos para garantir a conclusão de obras.

Vazamento de depoimento preocupa os petistas

DEU EM O GLOBO

Caso dossiê: campanha de Dilma teme desgaste na reta final do 2º turno

BRASÍLIA.O vazamento do depoimento do jornalista Amaury Ribeiro Jr. à PF causou preocupação no comando petista por ressuscitar uma disputa interna de poder na fase da pré-campanha de Dilma Rousseff entre os grupos do ex-prefeito de Belo Horizonte Fernando Pimentel e do deputado estadual Rui Falcão (PT-SP). O temor é que o episódio possa criar novo desgaste na reta final da campanha.

O comando petista tenta tirar o assunto de cena, temendo uma repercussão negativa num momento em que Dilma retomou o crescimento nas pesquisas.

Ontem, a coluna “Panorama Político”, do GLOBO, informou que o episódio causou um mal-estar na campanha e que Dilma não quer nem ouvir falar em Rui Falcão. Ele só não teria caído da campanha em junho, quando estourou o episódio, para não agravar a crise.

Apesar das negativas oficiais, integrantes da campanha confirmaram que houve um enfrentamento entre o grupo paulista e o mineiro entre os meses de março e maio deste ano. No dia 1ode junho, O GLOBO revelou que no meio dessa disputa de poder foi abortado um dossiê, cujo alvo principal seria Verônica Serra, filha do tucano José Serra.

A criação de um núcleo de inteligência e a elaboração do dossiê acabou derrubando o jornalista Luiz Lanzetta, sócio da Lanza Comunicação, empresa contratada pela campanha de Dilma.

Logo depois, também foi afastado o petista Fernando Pimentel.

O deputado Rui Falcão foi mantido no cargo de coordenador de comunicação. Mas está fora do núcleo duro da campanha e não é mais chamado para reuniões importantes.

No dia 7 de setembro, quando a polêmica já tinha perdido fôlego, o secretário de Comunicação do PT, deputado André Vargas (PR), chegou a afirmar pelo twitter que Amaury, ao deixar o jornal “Estado de Minas”, plantou, por intermédio de Pimentel, o dossiê na campanha petista. A mensagem causou grande desgaste interno na campanha petista.

Chefe de gabinete de Lula vira réu em caso de corrupção

DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

Gilberto Carvalho e o PT são acusados em processo sobre propina em Santo André para financiar campanhas

O PT e Gilberto Carvalho, chefe de gabinete do presidente Lula, tornaram-se réus num processo em que são acusados de participar de quadrilha que cobrava propina de empresas de transporte na Prefeitura de Santo André, informam os repórteres Ana Paula Scinocca e Leandro Colon. O desvio dos cofres públicos, segundo a acusação, chegou a R$ 5,3 milhões, num esquema que seria o precursor do mensalão petista no governo federal. Segundo a ação, o hoje assessor de Lula transportava a propina para o comando do PT quando ocupava a Secretaria de Governo do então prefeito de Santo André, Celso Daniel, que era um dos principais coordenadores da campanha presidencial de Lula e foi assassinado em janeiro de 2002 - supostamente porque não aceitou que parte da propina enriquecesse os envolvidos. O dinheiro, aponta a investigação, serviu para financiar campanhas municipais, regionais e nacionais do PT. Por isso, o partido também responderá ao processo. O Ministério Público quer que o petista e os demais acusados devolvam os recursos desviados e sejam condenados à perda dos direitos políticos por até dez anos.

PT e Gilberto Carvalho viram réus em ação sobre propina em Santo André

Partido e o chefe de gabinete do presidente Lula são acusados de participação numa quadrilha que cobrava de empresas de transporte para desviar R$ 5,3 milhões dos cofres públicos; o esquema de corrupção seria precursor do mensalão petista

Ana Paula Scinocca e Leandro Colon

BRASÍLIA - Uma decisão da Justiça traz de volta um fantasma que acompanha o PT e transforma em réu o partido e o chefe de gabinete do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, Gilberto Carvalho. O assessor e o PT viraram réus num processo em que são acusados de participar de uma quadrilha que cobrava propina de empresas de transporte na Prefeitura de Santo André para desviar R$ 5,3 milhões dos cofres públicos. O esquema seria o precursor do mensalão petista no governo federal.

Na segunda-feira, a Justiça tomou uma decisão que abre de vez o processo contra os envolvidos. A juíza Ana Lúcia Xavier Goldman negou recursos protelatórios e confirmou despacho em que aceita denúncia contra Carvalho, o próprio partido, outras cinco pessoas e uma empresa. A juíza entendeu, no primeiro despacho, em 23 de julho deste ano, que há elementos suficientes para processá-los por terem, segundo a denúncia, montado um esquema de corrupção para abastecer o PT. "Há indícios bastantes que autorizam a apuração da verdade dos fatos por meio da ação de improbidade administrativa", disse.

O Estado esteve no Fórum de Santo André na quinta-feira para ler o processo e a decisão de segunda-feira. A Justiça local já enviou para a comarca de Brasília a citação do chefe de gabinete de Lula para informá-lo de que virou réu. No documento, a Justiça pede que Carvalho receba o aviso em sua casa ou no "gabinete pessoal da Presidência da República". O Ministério Público quer que o petista e os demais acusados devolvam os recursos desviados e sejam condenados à perda dos direitos políticos por até dez anos.

A decisão judicial em acolher a denúncia foi celebrada ontem pelos promotores do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) da região do ABC, responsáveis pela investigação. "Ao receber a denúncia, a Justiça reconhece que há indícios para que a ação corra de verdade. É um caminho importante para resgatarmos o dinheiro desviado", disse ao Estado a promotora Eliana Vendramini. Ela destaca que a Justiça decidiu aceitar a denúncia depois de ouvir a defesa de todos os acusados nos últimos três anos.

Daniel

Segundo a ação, o assessor de Lula transportava a propina para o comando do PT quando era secretário de governo do então prefeito de Santo André, Celso Daniel, assassinado em janeiro de 2002. "Ele concorreu de qualquer maneira para a prática dos atos de improbidade administrativa na medida em que transportava o dinheiro (propina) arrecadado em Santo André para o Partido dos Trabalhadores", diz a denúncia aceita pela Justiça. De acordo com a investigação, os recursos eram entregues ao então presidente do PT, José Dirceu.

Apontado pelo Ministério Público como mandante do assassinato de Daniel, o ex-segurança Sérgio Gomes da Silva, o Sombra, é companheiro de Carvalho na relação de réus. Somam-se ao grupo o ex-secretário de Transportes Klinger Luiz de Oliveira Souza, o empresário Ronan Maria Pinto, entre outros. "O valor arrecadado era encaminhado por Ronan ao requerido Sérgio e chegava, em parte, nas mãos de Gilberto Carvalho, que se incumbia de transportar os valores para o Partido dos Trabalhadores", afirma a denúncia. "A responsabilidade de Klinger e Gilberto Carvalho decorre da sua participação efetiva na quadrilha e na destinação final dos recursos." O dinheiro, aponta a investigação, serviu para financiar campanhas municipais, regionais e nacionais do PT . Por isso, o partido também responderá ao processo como réu.

Braço direito

Carvalho era o braço direito de Daniel na Prefeitura de Santo André, entre 1997 e 2002. O prefeito foi sequestrado no dia 18 de janeiro de 2002 depois de um jantar em São Paulo na companhia de Sombra. Dois dias depois, foi encontrado morto em uma estrada em Juquitiba, com sinais de tortura e sete tiros. Daniel era um dos principais coordenadores da campanha presidencial de Lula até então.

O Ministério Público acusa sete pessoas pelo crime. Seis vão a júri popular a partir de novembro. De acordo com os promotores, o crime foi encomendado por Sérgio Sombra. A Justiça já decretou que ele irá a júri popular. Para os investigadores, Celso Daniel morreu porque não aceitou que a propina, direcionada apenas para o PT, fosse usada para enriquecer os envolvidos.

''Eu estou com a consciência absolutamente tranquila''

Carvalho sustenta ainda não ter sido citado, mas diz que já se manifestou sobre o caso várias vezes, inclusive em CPI

O chefe de gabinete do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, Gilberto Carvalho, disse ontem ao Estado que a Justiça de Santo André já enviou carta precatória à Justiça do Distrito Federal, mas que ele ainda não foi citado. "Meu advogado está preparando minha defesa", disse Carvalho.

O homem de confiança do presidente Lula afirmou que já se manifestou sobre o caso publicamente várias vezes. "Já falei também por duas vezes a uma CPI e ao Ministério Público", disse. "Eu estou com a consciência absolutamente tranquila." Gilberto Carvalho foi ouvido pela Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) dos Bingos aberta no Senado em 2005.

O Estado procurou ontem o advogado do PT no caso, Luiz José Bueno de Aguiar. Deixou recado com a secretária, mas não houve resposta até o fechamento da edição.

Satiagraha. O nome de Gilberto Carvalho também apareceu ao longo da Operação Satiagraha, da Polícia Federal, em 2008. À época, o chefe de gabinete de Lula foi acusado de tráfico de influência. Carvalho teria sido procurado pelo advogado e ex-deputado Luiz Eduardo Greenhalgh, apontado como lobista do grupo do banqueiro Daniel Dantas. Em 29 de maio, Greenhalgh conversou com Gilberto Carvalho, que lhe prometeu ajuda para obter informações sigilosas na Polícia Federal sobre o inquérito contra Dantas. Carvalho negou tráfico de influência.

Conselheiro de Lula, Gilberto Carvalho já foi secretário-geral do PT e secretário de Comunicação e Governo da Prefeitura de Santo André. No ano passado, foi cotado para presidir o partido.

Assessor de Lula era braço direito de Celso Daniel

Entre 1997 e 2002, o hoje chefe de gabinete do presidente Lula, Gilberto Carvalho, era o braço direito do então prefeito de Santo André Celso Daniel. O prefeito foi sequestrado no dia 18 de janeiro de 2002 depois de um jantar em São Paulo na companhia do ex-segurança Sérgio Gomes da Silva, o Sombra. Dois dias depois, foi encontrado morto em uma estrada em Juquitiba, com sinais de tortura e sete tiros. Daniel era um dos principais coordenadores da campanha presidencial de Lula até então.

O Ministério Público acusa sete pessoas pelo crime. Seis vão a júri popular a partir de novembro. Segundo os promotores, o crime foi encomendado por Sérgio Sombra. A Justiça já decretou que ele irá a júri popular. Para os investigadores, Daniel morreu porque não aceitou que a propina, direcionada apenas para o PT, fosse usada para enriquecer os envolvidos.

Ao Congresso, ex-delegado identificou ''pagador'' de dossiê

DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

Rosa Costa / BRASÍLIA

Os dados revelados pela Polícia Federal sobre o esquema de montagem de dossiês para abastecer a campanha da candidata do PT à Presidência da República, Dilma Rousseff, difere do que foi dito pelo ex-delegado Onésimo Sousa à Comissão Mista de Controle das Atividades de Inteligência em dois pontos: a PF não identificou quem é o "pagador" das despesas do comitê de Dilma e não informou sobre viagens internacionais feitas pelos encarregados de procurar no exterior documentos comprometedores contra o candidato do PSDB, José Serra, e seus familiares.

O ex-delegado da Polícia Federal foi ouvido pela comissão no dia 17 de junho. No depoimento, ele disse que Bené, como é conhecido o empresário Benedito de Oliveira Neto, foi apresentado como sendo "a pessoa encarregada de efetuar os pagamentos", caso ele tivesse fechado o contrato de R$ 1,6 milhão com os jornalistas Amaury Ribeiro Jr. e Luiz Lanzetta, para que investigasse José Serra e os petistas Rui Falcão e Valdemir Garreta.

Segundo ele, Bené estava presente nessa conversa, ocorrida no fim de abril, num restaurante em Brasília. Ele disse que foi convidado por Lanzetta, "em nome do coordenador da campanha de Dilma, o ex-prefeito de Belo Horizonte Fernando Pimentel", para investigar vazamento de informações no comitê central da candidata. Mas que o tema passou a ser outro, sobre a montagem de dossiês, logo no início do encontro.

Fernando Pimentel não compareceu. "Eles pediram desculpas pela ausência do ex-prefeito, parece que ele teria um outro compromisso", informou Onésimo. "Mas quando expuseram o que queria eu perguntei: vocês querem editar o Aloprados 2", contou, referindo-se ao esquema montado pelo PT há quatro anos para inviabilizar a vitória de José Serra ao governo de São Paulo.

Dinheiro vivo. Ao responder ao deputado Gustavo Fruet (PSDB-PR), Onésimo disse no depoimento que, se aceitasse o contrato, o pagamento seria feito em dinheiro vivo "através da pessoa que se intitulava o pagador, que estava lá presente". É ele o jovem empresário Benedito de Oliveira, que tem chamado a atenção pela quantidade de contratos firmados com o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Uma das suas empresas, a Dialog, está sob investigação do Tribunal de Contas da União (TCU) e da Controladoria-Geral da União (CGU) pela suspeita de irregularidades em licitações. Aos 35 anos, Bené tornou-se uma espécie de patrocinador do comitê de Dilma.

O delegado contou, ainda, que tentando convencê-lo a aceitar a tarefa de preparar o dossiê, um dos seus interlocutores falou das vezes em que foi procurar dados fora do País, viajando na primeira classe. "Um deles me disse que viajava, que foi ao exterior levantar esses dados e que ia em avião de primeira classe, tentando talvez me entusiasmar e não me entusiasmou nada", contou. "E um falou que teria conseguido dois tiros fatais contra um candidato."

Autor do requerimento convidando o ex-delegado a depor em audiência pública, o senador Álvaro Dias (PSDB-PR) questiona por que a Polícia Federal omite dados sobre o pagador e as viagens internacionais.

"O pagador deve ser o mesmo ligado ao PT que pagava pelo flat do jornalista Amaury Jr.", deduz o senador. "A demora, sob o ponto de vista da investigação policial, é compreensível, mas não justifica a omissão em pontos importantes do depoimento." Dias disse não ter dúvidas de que Amaury, Lanzetta e Benedito Oliveira tentaram encontrar "um bode expiatório para encobrir o esquema de dossiês fabricados pelo PT".

Assessor da campanha de Dilma hospedou repórter

DEU NA FOLHA DE S. PAULO

Jorge Siqueira, prestador de serviço, atua na equipe do PT desde a pré-campanha

Jorge Luiz Siqueira, integrante da campanha de Dilma Rousseff (PT) como prestador de serviço, é o dono do flat em Brasília onde o jornalista Amaury Ribeiro Jr. se hospedou na época em que se reunia com o "grupo de inteligência" da candidata.

Amaury, pivô da quebra de sigilo de pessoas ligadas ao PSDB, disse à Polícia Federal que sua estadia havia sido custeada por alguém chamado Jorge, do PT.

Segundo o jornalista, foi nesse imóvel que o deputado estadual licenciado Rui Falcão (PT-SP) teria copiado o material de seu computador. O deputado nega.

Siqueira era gerente de despesas da Lanza - que foi desligada da campanha petista depois de revelada a atuação do grupo - e, com a saída, migrou para a nova contratada, a Pepper. Siqueira não foi localizado para comentar o caso.

Pivô da quebra de sigilo usou flat de assessor ligado ao PT

Jorge Luiz Siqueira, dono do imóvel, atuava na Lanza na pré-campanha

Segundo depoimento à PF, Amaury disse que foi neste local que um petista copiou dados de seu computador


Fernanda Odilla, Valdo Cruz, Márcio Falcão e Silvio Navarro

BRASÍLIA, SÃO PAULO - O jornalista Amaury Ribeiro Jr., pivô da quebra de sigilos de tucanos ligados a José Serra (PSDB), ficou hospedado em flat de um contratado da Pepper, empresa prestadora de serviços da campanha de Dilma Rousseff (PT).

Amaury usou o apartamento de Jorge Luiz Siqueira quando se reuniu com o "grupo de inteligência" da pré-campanha petista, no restaurante Fritz. Na ocasião, foi discutida a elaboração de um dossiê contra tucanos.

À época do encontro, o responsável pela comunicação da pré-campanha era o jornalista Luiz Lanzetta, dono da Lanza Comunicação.

Siqueira trabalhou quatro anos como coordenador-geral de logística do Ministério da Agricultura. Deixou o cargo em maio do ano passado e passou a trabalhar na Lanza.

Na época, Siqueira era gerente de despesas da Lanza.

À Polícia Federal Amaury se referiu a Jorge como "responsável pela administração de gastos da casa do Lago Sul" usada nessa fase.

Depois da revelação de que Lanzetta estava montando o "grupo de inteligência", a Lanza deixou a campanha. Siqueira, então, foi incorporado pela Pepper Comunicação Interativa, assim como a maioria dos contratados para trabalhar na campanha.

A assessoria da Pepper confirmou a informação.

Segundo a Folha apurou, Siqueira cedeu seu apartamento para Amaury a pedido de Lanzetta. Ele emprestava o flat para a campanha para hospedagens provisórias.

Amaury disse à PF que foi nesse local que o deputado Rui Falcão (PT-SP) teria copiado de seu computador dados do sigilo dos tucanos.

O deputado nega.

Siqueira e Lanzetta têm outro amigo em comum ligado à campanha de Dilma: o empresário Benedito Rodrigues de Oliveira Neto, o Bené, cuja família detém duas empresas -Dialog e Gráfica Brasil- que ganharam mais de R$ 200 milhões em contratos com o governo.

Bené foi o responsável por negociar o aluguel de uma casa no Lago Sul, região nobre de Brasília, onde trabalhou a equipe de imprensa da petista. Lanza e Pepper dividiram o espaço.

Bené esteve na reunião com integrantes do então "grupo de inteligência" no restaurante Fritz, em Brasília. Também participaram Lanzetta, Amaury e um delegado da PF aposentado.

A Folha tentou falar ontem com Lanzetta, mas ele não foi localizado. A reportagem tentou também contatar Siqueira, mas a assessoria da Pepper informou que ele estava em São Paulo por problemas pessoais.

E-mails pró-Dilma circulam em estatais

DEU NA FOLHA DE S. PAULO

Funcionários da Petrobras e da Eletrobrás usam correio eletrônico corporativo para defender voto em petista

Empresas dizem que prática é proibida e será investigada; autores de mensagens não responderam à Folha

Catia Seabra
São Paulo
Pedro Soares
Rio

O correio eletrônico de estatais tem sido usado para pregação de voto para a Presidência da República, apesar de a prática ser proibida.

No dia 14, circulou no mailing corporativo da Petrobras uma mensagem em defesa do voto na candidata petista Dilma Rousseff.

Destinado "aos jovens eleitores petroleiros", o e-mail chegou a diferentes Estados e inclui foto do candidato do PSDB José Serra empunhando uma arma.

No dia 21, o correio eletrônico da Eletrobrás foi usado para circulação de um e-mail sob o título "Gabrielli prova a Miriam como o Serra ia vender a Petrobrax".

No e-mail, a técnica Simone de Castro Rodrigues reproduz uma carta do presidente da Petrobras, Sergio Gabrielli, ao blog da jornalista Miriam Leitão.

INVESTIGAÇÃO

Petrobras e Eletrobrás informaram, por meio de suas assessorias, que o uso de correio eletrônico para fins políticos contraria as normas internas das empresas.

Ainda segundo as estatais, os casos serão investigados e os servidores estão sujeitos a sanções administrativas.

De autoria de Flavio Eduardo Tschiedel, geofísico-sênior da Petrobras, o e-mail enviado a petroleiros continha até uma foto em que Serra assistia ao naufrágio de uma plataforma. "Petroleiros, não se deixem enganar pelo tró-ló-ló do PSDB de Serra!", diz o e-mail, segundo o qual, "a cara do governo PSDB era a Plataforma P-36 inclinada a 30 graus".

"Conclamamos todos os petroleiros a eleger Dilma Presidente", encerra.

Tschiedel trabalha na Unidade de Negócios da Petrobras no Espírito Santo.

Segundo a assessoria da empresa, a prática é proibida por norma interna e "o correio encaminhado pelo jornal foi repassado à área competente, que vai apurar".

Esse não é o único caso de uso de e-mail da Petrobras a vir à tona. Na semana passada, um coordenador da Gerência de Patrocínios da estatal, Claudio Jorge Oliveira, disparou e-mails convidando "caros amigos" a participar de encontro da candidata petista com artistas.

Ele é subordinado ao petista Wilson Santarosa, gerente de comunicação da Petrobras. Indagada sobre o caso -registrado pelo jornal "O Globo"-, a Petrobras informou que "teve conhecimento" do uso do e-mail da empresa para envio de mensagens favoráveis à candidata.
A Folha tentou entrar em contato com os funcionários que enviaram e-mails, mas eles não foram localizados.

Lula chama de fracasso planos Collor e Bresser

DEU NA FOLHA DE S. PAULO

Presidente não cita Real durante crítica

Simone Iglesias

BRASÍLIA - O presidente Luiz Inácio Lula da Silva criticou ontem o "academicismo" de teses econômicas postas em prática por governos anteriores.

Lula chamou os planos Collor (do governo Fernando Collor), Verão e Bresser (José Sarney), todos criados para tentar controlar a inflação, de fracassos e disse que seu governo é motivo de orgulho.

"Temos que ter muito orgulho da situação que o Brasil está atravessando.

Encontramos um jeito de governar sem o academicismo das teses colocadas em prática, sobretudo na área econômica, e que, quando fracassavam, os prejuízos ficavam por conta dos que não tinham nada a ver com as teses", disse Lula.

"Até hoje pagamos os prejuízos dos planos Collor, Verão, Bresser, plano não sei das quantas. As pessoas vão inventando planos e, quando vem a conta, quem inventou já não está mais no governo", disse, em audiência com o presidente da Abrinq (Associação Brasileira da Indústria de Brinquedos), Synésio Batista da Costa.

O presidente não fez nenhuma referência ao Plano Real, criado no governo Itamar Franco pelo então ministro da Fazenda FHC -e ao qual se opôs.

Acordar, viver:: Carlos Drummond de Andrade

Como acordar sem sofrimento?
Recomeçar sem horror?
O sono transportou-me
àquele reino onde não existe vida
e eu quedo inerte sem paixão.

Como repetir, dia seguinte após dia seguinte,
a fábula inconclusa,
suportar a semelhança das coisas ásperas
de amanhã com as coisas ásperas de hoje?

Como proteger-me das feridas
que rasga em mim o acontecimento,
qualquer acontecimento
que lembra a Terra e sua púrpura
demente?
E mais aquela ferida que me inflijo
a cada hora, algoz
do inocente que não sou?

Ninguém responde, a vida é pétrea.