quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

Apagão agora é em São Paulo

Depois da falta de luz no Nordeste, ontem foi a vez de São Paulo. À tarde, faltou energia em 21 bairros e até o Aeroporto de Congonhas funcionou com geradores por causa de falha no transformador de uma subestação da Transmissão Paulista. A presidente Dilma Rousseff não aceitou as explicações para o apagão do Nordeste e pediu nova investigação.

Explicação sobre apagão não convence Dilma

Presidente reúne cúpula do setor e ordena nova investigação sobre blecaute no Nordeste. Falta energia em parte de São Paulo

Chico de Gois, Gerson Camarotti, Fábio Fabrini e Ramona Ordoñez

BRASÍLIA, RIO e SÃO PAULO. A presidente Dilma Rousseff, que já foi ministra de Minas e Energia, não gostou da explicação apresentada pelas autoridades do setor elétrico na segunda-feira para o apagão que, na madrugada da última sexta-feira, deixou oito estados do Nordeste sem luz por até cinco horas. Ontem, ela convocou no fim da tarde uma ampla reunião emergencial no Palácio do Planalto para discutir o assunto e determinar que as análises sejam refeitas. O encontro começou por volta das 19h e durou quase três horas.

Interlocutores disseram que a presidente não concordou com a alegação de que a causa do blecaute teria sido uma falha no cartão eletrônico do sistema de proteção da subestação de energia de Luiz Gonzaga, na divisa entre Bahia e Pernambuco. Dilma não tinha uma hipótese para o corte de luz que afetou mais de 40 milhões de pessoas. Mas, para ela, um defeito dessa natureza não justificaria o apagão.

Dilma também estava preocupada com a velocidade de resposta do governo a ocorrências de tal magnitude. As principais punições pelo grande blecaute de novembro de 2009, por exemplo, ainda não foram consumadas - ontem mesmo foi recalculado pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) o valor da maior multa aplicada, contra Furnas Transmissão.

- A presidente Dilma está inconformada com o apagão e insatisfeita com os resultados apresentados - afirmou uma fonte do setor elétrico.

Após a reunião com Dilma, o diretor da Aneel, Nelson Hubner, disse apenas que haveria novas reuniões noite adentro para discutir o apagão no Nordeste. Ele não quis falar quais foram as determinações da presidente. Avesso a entrevistas, o presidente da Chesf, Dilton Daconti Oliveira, afirmou que não há conclusões ainda sobre as causas do blecaute e que só depois de encerrada a investigação dará novos esclarecimentos:

- Não estou desdizendo nada do que falei ontem (anteontem). Estou dizendo que preciso trabalhar hoje.

Ministério culpou cartão eletrônico pelo blecaute

Antes de chegar ao Palácio do Planalto, Hubner informou que ainda está sob avaliação uma possível multa à Chesf, que é a subsidiária da Eletrobras que administra a hidrelétrica de Sobradinho (BA), a subestação de Luiz Gonzaga e as linhas de transmissão que caíram. Mas ele garantiu que, desta vez, haverá mais rapidez na apresentação do relatório de investigação do que no apagão de 2009.

Anteontem, o secretário-executivo do Ministério de Minas e Energia, Márcio Zimmermann, afirmou que uma falha no software fez com que toda a comunicação da subestação à hidrelétrica fosse desligado. O cartão funciona como os disjuntores das residências, que desligam quando há um problema na rede externa para não pôr em perigo bens ligados à tomada, como geladeira e TVs, por exemplo.

Após o apagão do Nordeste na semana passada, um blecaute atingiu parte da cidade de São Paulo ontem à tarde. Uma falha no transformador de uma subestação da Companhia de Transmissão de Energia Elétrica Paulista (Cteep), por volta de 15h, acionou o dispositivo de segurança que fez desligar outros equipamentos, deixando sem luz bairros das zonas Sul e Oeste, além de pontos de áreas mais centrais da cidade, como a região das avenidas Paulista e Brigadeiro Luiz Antonio.

O fornecimento de energia só foi normalizado meia hora após a pane. Segundo a Secretaria de Energia do estado, o apagão atingiu 2,5 milhões de pessoas e 627 mil imóveis (unidades consumidoras). O aeroporto de Congonhas funcionou durante 15 minutos movido a geradores.

Especialistas aprovam críticas de Dilma

Para a reunião de ontem, que só terminou por volta das 22h, Dilma convocou órgãos e empresas do setor elétrico envolvidos no blecaute. Participaram o ministro de Minas e Energia, Edison Lobão, Zimmermann, Hubner, o presidente da Empresa de Pesquisa Energética (EPE), Maurício Tolmasquim, e representantes do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), da Eletrobras e da Chesf. Dilma está irritada com o fato de o blecaute ocorrer no momento em que faz mudanças no setor elétrico, tentando limitar a influência de alguns grupos políticos.

Na sexta-feira, nas primeiras horas da manhã e pouco após o religamento completo do fornecimento de luz no Nordeste, Dilma conversou com Lobão ao telefone e orientou que o assunto fosse tratado da forma mais transparente e rápida possível. Em seguida, o ministro deu entrevista coletiva. À tarde, foi chamado ao Palácio do Planalto, onde recebeu novas orientações.

A rejeição de Dilma ao relatório foi vista de forma positiva por alguns especialistas do setor. O Coordenador do Grupo de Estudos do Setor Elétrico (Gesel) da UFRJ, Nivalde de Castro, disse que a decisão da presidente indica maior rigor na condução do setor elétrico:

- Ao exigir um aprofundamento da análise (Dilma) sinaliza para as instituições e empresas do setor que o controle de qualidade será sistemático.

O especialista Raimundo Batista concorda. Para ele, em geral os apagões dos últimos anos não foram bem explicados:

- É inédito um presidente rejeitar um relatório técnico.

Colaboraram: Ronaldo D"Ercole e Adauri Antunes Barbosa

FONTE: O GLOBO

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