quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

Para aprovar os R$ 545, governo cede mais no IR

O governo, na véspera da votação do mínimo, decidiu propor benefício adicional: a correção de 4,5% da tabela do Imposto de Renda não será só para 2011, mas para os próximos 4 anos. O ministro Guido Mantega disse que um valor acima de R$ 545 e incongruente com os cortes no Orçamento e traz descontrole fiscal. A presidente Dilma mandou um recado: tratará dissidentes como dissidentes.

A moeda de troca pelo mínimo

O SALÁRIO DA DISCÓRDIA

Para aprovar os R$545, governo oferece reajuste da tabela do IR em 4,5%, por quatro anos

Martha Beck

Num esforço de última hora para tentar convencer o Congresso Nacional a aprovar um salário mínimo de R$545 para 2011, o governo decidiu dar um benefício adicional aos trabalhadores e definiu que a política de valorização da renda será acompanhada de uma correção de 4,5% na tabela do Imposto de Renda (IR) não só para 2011, mas pelos próximo quatro anos. Segundo técnicos da área econômica, a ideia é ter um projeto de prazo mais longo para evitar que ao final de cada ano do mandato de Dilma Rousseff, o governo seja pressionado a reajustar a tabela das pessoas físicas.

- Uma correção de quatro anos tira o assunto do caminho - disse um técnico.

A proposta para o IR, no entanto, está diretamente condicionada ao valor do salário mínimo defendido pelo governo. Uma correção de 4,5% na tabela representa, por ano, uma renúncia fiscal de R$2,2 bilhões. Ou seja, ao final do mandato, o governo abriria mão de quase R$9 bilhões.

Depois de reunião com os partidos de oposição ontem, o secretário-executivo da Fazenda, Nelson Barbosa, afirmou que qualquer negociação sobre o IR só será feita depois do debate sobre o salário mínimo. O secretário passou a manhã em reuniões com as bancadas do PSDB e do DEM para defender os argumentos do governo e lembrou que cada real de aumento no mínimo tem um impacto de R$300 milhões no Orçamento. Segundo ele, qualquer valor acima do que propõe a equipe econômica poderia desequilibrar as contas públicas num ano de austeridade fiscal.

- Se fosse aprovado um salário mínimo de R$580 (como defendem as centrais), isso teria um impacto de R$10,5 bilhões no Orçamento. Não há espaço para esse aumento sem comprometer a recuperação das contas públicas - disse o secretário.

Salário para ajudar a diminuir juros

O secretário afirmou ainda que o valor do mínimo faz parte de um esforço do governo para conter pressões inflacionárias e ajudar o Banco Central (BC) a reduzir as taxas de juros mais rapidamente. Segundo Barbosa, as medidas que o governo vem adotando - como o corte de R$50 bilhões no Orçamento - têm condições de permitir que os juros voltem a cair já no final de 2011:

- A política do salário mínimo contribuirá para a redução dos juros, que podem voltar a cair no final deste ano - disse ele.

O secretário, no entanto, não convenceu quem apoia um mínimo acima de R$545. O líder do DEM, deputado Antonio Carlos Magalhães Neto (BA), disse que embora o governo diga que pratica uma política de valorização do mínimo, o valor fixado para 2011 não dá ganhos reais.

- É possível conceder R$15 a mais por mês aos trabalhadores - disse ACM Neto.

Já o PSDB propôs ao secretário que o governo faça ajustes no Orçamento para acomodar um mínimo maior:

- Pode haver um remanejamento da execução orçamentária para permitir esse aumento sem desequilíbrio fiscal - afirmou o líder da bancada tucana na Câmara, deputado Duarte Nogueira (SP).

O ministro das Relações Institucionais, Luiz Sérgio, admitiu que a "luta" para aprovar o mínimo será difícil:

- É uma luta que não é fácil. Mas temos confiança. O importante da vitória do mínimo é que você complete uma política de seriedade fiscal.

Numa primeira vitória para o governo, a Câmara aprovou na noite de ontem urgência para a tramitação do projeto do mínimo. Com a aprovação da urgência, o projeto será ser votado nessa quarta-feira, em sessão a partir das 13h.

FONTE: O GLOBO

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