terça-feira, 8 de março de 2011

Aécio espera 100 dias para aumentar críticas

Senador diz que após os primeiros meses do governo fará cobranças contundentes, sobretudo em relação aos gastos

Marcelo de Moraes

Se a oposição planeja sair do canto do ringue em relação ao governo federal, um de seus principais nomes, o senador mineiro Aécio Neves (PSDB), também terá de substituir o comportamento discreto adotado até agora por um tom mais duro. Aécio está esperando a marca de cem dias do governo federal (a 10 de abril) para fazer um discurso contundente no plenário do Senado.

"Antes dos cem dias, vamos dar o sinal de largada para essa agenda propositiva nossa, que será, ao mesmo tempo, uma agenda de fiscalização dura", avisa. O ex-governador mineiro - e um dos principais pré-candidatos à sucessão presidencial - pretende cobrar, por exemplo, a tolerância do governo Dilma Rousseff com os gastos exagerados do governo anterior - especialmente no último ano, durante a campanha eleitoral.

O anúncio do corte orçamentário de R$ 50 bilhões, afirma, é fruto da desorganização dessas contas. "Faltou à equipe econômica, ao anunciar os cortes, criticar a herança maldita dos oito anos, especialmente do último, quando houve esse aumento de gastos absurdo", critica.

Mas o discurso dos cem dias é apenas parte de uma visão mais estratégica de como a oposição deverá tratar o governo e se posicionar para 2014. A ideia é "construir uma agenda propositiva, mas que não seja apenas da oposição". Esta pode exercer seu papel "se conseguir atuar em defesa de determinadas questões, determinados projetos, que atraiam setores da base do governo. Como é o caso do fortalecimento dos municípios e da segurança. Temos que buscar aliados pontuais junto a alguns temas que sejam bandeiras nossas",

Cinco ou seis temas. Mas Aécio não acha prudente abrir muito a discussão. "Temos que eleger cinco ou seis temas. Não dá para ser muito mais do que isso, para que daqui a dois anos a pessoa olhe e diga: o PSDB defende isso". E exemplifica: "Temos que fazer alguma coisa na direção dos municípios. Impedir o governo de continuar garfando o Fundo de Participação dos Municípios (FPM) através das isenções tributárias que dá", critica. "O Lula "bypassou" os municípios. A questão do Bolsa Família acaba com os prefeitos que querem intermediar as políticas sociais e ficam de fora".

A vigilância das ações do governo será outra prioridade. "Briguei muito para ficarmos com a Comissão de Infraestrutura do Senado para acompanharmos o PAC (Programa de Aceleração do Crescimento). Vamos conferir obra de aeroporto, estrada, Copa do Mundo. Chamar gente para depor, com audiência pública. Incomodar naquilo em que o governo é vulnerável", explica.

O senador entende que a administração federal tem oferecido brechas. "O governo quer passar a marca de gestão muito grande. Não acho que quem assume com quase 40 ministérios e fala em criar outros possa ter boa gestão", diz. E acredita que o caminho a ser traçado pela oposição poderá obter resultados, sem precipitação. "Temos que ter um pouco de paciência. O governo, com o tempo, vai mostrar suas vulnerabilidades", aposta.

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO

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