terça-feira, 8 de março de 2011

Oposição agora fala em obstruir e endurecer

Líderes de PSDB e DEM prometem deixar de lado o POB, "partido da oposição branda"

Marcelo de Moraes

Depois de passar os três primeiros meses do governo Dilma Rousseff amargando derrotas no Congresso e atravessando graves crises internas, os partidos de oposição ensaiam uma tentativa de reorganização. Por enquanto, a oposição formou um "novo" partido, o POB, Partido da Oposição Branda, que criou menos problemas ao Planalto do que os próprios governistas - a começar pelo PDT.

Mas a ideia é deixar esse comportamento moderado para trás a partir de agora. PSDB e DEM terão eleições entre março e maio para homologar seus novos dirigentes e já planejam aumentar o tom crítico ao governo. O plano é tentar expor publicamente os problemas da administração da presidente Dilma Rousseff e endurecer o relacionamento com o governo em plenário, com obstruções regimentais (como nas MPs 508 e 509, de créditos suplementares).

O grande problema para a oposição tem sido "curar as feridas" provocadas pela terceira derrota seguida na disputa presidencial. O PSDB ainda administra os efeitos da divergência interna que levou à candidatura presidencial do ex-governador de São Paulo José Serra em detrimento da então governador mineiro Aécio Neves.

Com a derrota de Serra para Dilma, Aécio ganhou força para postular a vaga em 2014, mas Serra trabalha por uma nova candidatura e o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, também surge como uma opção. Também ajuda a dividir o partido o fato de, em maio, o PSDB escolher seu presidente. A tendência é que o deputado Sérgio Guerra (PE) seja mantido no posto, com apoio de Aécio e, possivelmente, de Alckmin - mas o próprio Serra poderá também ser indicado para o cargo.

Racha sério. No Democratas, o racha foi ainda mais sério, mas se aproxima de um desfecho. Um grupo dissidente, liderado pelo prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab, tentou assumir o controle da legenda, mas acabou derrotado. Em 15 de março, o senador José Agripino Maia (RN) será escolhido presidente e já sabe que parte dos insatisfeitos do partido deixará a legenda, a começar por Kassab.

A "nova fase" da oposição começou com a iniciativa de questionar na Justiça a aprovação pelo Congresso do uso de um decreto presidencial para regulamentar o reajuste do valor do salário mínimo. Apesar da baixa probabilidade de reverter a decisão, o movimento teve o caráter mais emblemático de tentar fustigar o governo.

Na prática, o gesto também teve o sentido de deixar para trás o comportamento tímido da oposição durante a sessão de votação do mínimo. Na ocasião, um inusitado acordo de procedimentos com o governo vetou manobras de obstrução em troca de serem permitidas a votação das emendas de PSDB e DEM que propunham um valor maior para o mínimo. Sem votos e sem obstrução, a oposição viu, nessa discussão, o governo ter muito mais trabalho para contornar dissidências de sua base (como o PDT) do que com seus adversários diretos.

"O problema é que tanto DEM como PSDB passaram os últimos meses resolvendo questões internas", reconhece o atual presidente do DEM, deputado Rodrigo Maia (RJ). "Agora, é a hora da reorganização de nossas estratégias", diz. Para Maia, porém, é preciso focar as ações, agora, nas deficiências do governo em vez de deflagrar a campanha presidencial de 2014.

"É muito cedo. Esse processo precisa ser construído. Mas é claro que o tom crítico em relação ao governo federal será cada vez mais forte", promete.

Ação de minoria. Para o líder do PSDB na Câmara, deputado Duarte Nogueira (SP), recursos regimentais contra o governo, como a obstrução das propostas de votação, deverão ser cada vez mais usados.

"Por sermos em número menor, temos que usar os instrumentos regimentais de que a minoria dispõe no Congresso", diz. "Mas a oposição tem feito seu trabalho. Reconhecemos que somos minoria, mas expomos a posição do governo na votação do mínimo quando propuseram um valor mais baixo do que o que defendemos. A vitória do governo no mínimo foi uma derrota do trabalhador", argumenta.

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO

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