segunda-feira, 28 de março de 2011

Partido do eu sozinho

Sem espaço em seus partidos, Kassab e Marina planejam futuro em novas siglas; voos solo têm pouca chance de êxito, afirma historiadora

Bernardo Mello Franco

SÃO PAULO - Em conflito com dirigentes de seus partidos, o prefeito Gilberto Kassab (ex-DEM) e a ex-presidenciável Marina Silva (PV) devem enfrentar dificuldades para alçar voo solo a bordo de novas legendas.

A criação de siglas sob medida para a dupla esbarra em futuros problemas como pouco tempo de TV e limitação de repasses do Fundo Partidário, dividido com base nas últimas eleições.

Ainda que abriguem políticos famosos, os partidos novos são tratados da mesma forma que os nanicos.

Isso significa que Marina poderia ser obrigada a disputar o Planalto em 2014 com menos de um minuto de propaganda na TV -no ano passado, os nanicos se espremeram em 55 segundos cada.

O argumento tem sido citado por "marineiros" contrários à ruptura com o PV.

Kassab, que já formalizou sua saída do DEM, dependeria de alianças com outras siglas para não "sumir" na sucessão do governador Geraldo Alckmin (PSDB).

A missão vai esbarrar no esforço de tucanos e petistas para montar coligações em torno de seus candidatos.

A verba destinada pela Justiça Eleitoral a cada partido começaria em torno dos R$ 40 mil mensais, como mostrou reportagem publicada ontem na Folha.

Num quadro já congestionado por 27 legendas, a historiadora Marly Motta, do CPDoc da FGV (Fundação Getulio Vargas), vê pouco espaço para o lançamento de "partidos do eu sozinho".

"São aventuras com chance remota de sucesso. A política brasileira está institucionalizada. Num cenário estável como o atual, é muito difícil ser um outsider", avalia.

Kassab já deu o primeiro passo, mas depende da coleta de 490 mil assinaturas para registrar o PSD.

Marina articula a nova sigla como plano B, no caso de não conseguir destituir o presidente José Luiz Penna do comando dos verdes.

TERCEIRA VIA

Apesar das diferenças de perfil, os dois apresentam seus projetos sob o mesmo rótulo de "terceira via" e tentam evitar a personalização de suas plataformas.

Eleito à sombra do ex-governador José Serra (PSDB), o prefeito investiu na ressurreição da sigla histórica de Juscelino Kubitschek para dar uma imagem desenvolvimentista a seu partido.

A estratégia foi frustrada pela família do ex-presidente, que o acusou de usurpar a marca "JK" na internet.

A ex-senadora verde não fala abertamente na criação de uma nova legenda, mas já discutiu o plano em conversas com aliados, que descartam a hipótese de migração para outra sigla já existente.

Ainda sem sigla definida, seu "PV do B" é encampado pelo Movimento Marina Silva, mas ela afirma não ser líder da dissidência verde.

"Não existe essa história de grupo da Marina", disse, na última sexta-feira.

Para Marly Motta, uma possível ruptura provocaria danos tanto à ex-presidenciável quanto à legenda.

"Os dois podem estar se preparando para dar um tiro no pé. O PV depende de Marina, mas ela também se beneficiou da imagem do partido na campanha", avalia.

Kassab, por sua vez, aposta num projeto sem bandeiras ideológicas definidas. O manifesto do novo PSD defende ideias genéricas como o direito à propriedade e a justiça social.

"Ele não é um político carismático como Leonel Brizola, que criou o PDT em torno de seu nome. É uma estratégia bastante arriscada", afirma a historiadora.

FONTE: FOLHA DE S. PAULO

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