domingo, 6 de março de 2011

Pibão de emergente, com dívida social

Pobreza e desigualdade são mazelas de Brasil e demais Brics, que lideram crescimento global

Fabiana Ribeiro

Na nova ordem mundial, emergentes como Brasil, Índia, China e Rússia (que juntos formam os Brics) são potências econômicas, a despeito de seus enormes passivos sociais. Uma realidade distante do que se via num passado recente, quando poderio econômico vinha junto de bem-estar social. Esta semana, o IBGE informou que a economia brasileira cresceu a uma taxa recorde de 7,5% em 2010. Com isso, o país foi alçado ao posto de sétima maior economia do planeta. China e Índia também tiveram elevadas taxas de expansão no ano passado, de 10,3% e 8,6%, respectivamente. Estima-se que os Brics, em 2050, estarão entre as cinco maiores economias do mundo.

Mas, enquanto os líderes econômicos costumavam frequentar as primeiras posições também no ranking do Índice do Desenvolvimento Humano (IDH) da ONU, os emergentes ainda têm uma longa dívida com os mais pobres - além de uma enorme desigualdade de renda. Se o Brasil hoje é a sétima maior economia, está na 70ª posição no ranking do IDH. A China, segunda maior economia do planeta, está em 89ª em desenvolvimento humano. A Índia tem o décimo maior Produto Interno Bruto (PIB, conjunto de bens e serviços produzidos pelo país em um ano), mas o 119º IDH.

Novo padrão global: dinamismo nem sempre traz bem-estar social

Um cenário que leva o economista Carlos Thadeu de Freitas, ex-diretor do Banco Central (BC), a afirmar que a nova dinâmica econômica do planeta não coloca como pré-requisito ter um alto desenvolvimento humano.

- No Brasil, estamos dando um voo de águia, e não mais de galinha. Porém, esse crescimento vem num novo padrão mundial, no qual o dinamismo econômico não traz, na mesma magnitude, o bem-estar social. Mas, quando um país como o Brasil tem perspectivas com, por exemplo, o pré-sal, certamente estamos falando de avanços econômicos, mas também sociais.

Índia e China, que tiveram excepcional desempenho econômico nos últimos anos, aumentaram a desigualdade. O Brasil, nesse quesito, foi no caminho oposto - apesar de ainda ter uma gigantesca dívida social.

- Apesar das mazelas sociais, o crescimento brasileiro traz redução da pobreza. É o crescimento a favor dos pobres. Mas emergentes, como o Brasil, chegarão ao topo com uma alta dívida social. Por isso, torna-se mais do que importante manter taxas de crescimento econômico sustentáveis a longo prazo do ponto de vista social, certamente, e ainda do ponto de vista ambiental. Tudo isso para não comprometer as gerações futuras - afirma Bruno Saraiva, economista de País do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) no Brasil.

Para se ter ideia do tamanho do gargalo social no Brasil, a média de anos de estudo no país é igual à do Zimbábue, o pior IDH do mundo. A média de escolaridade para pessoas com mais de 25 anos no Brasil é de 7,2 anos. Pelo critério do Pnud, o ideal seria o que foi registrado nos Estados Unidos em 2000, 13,2 anos.

A Rússia, por sua vez, desmantelou seu estado de bem-estar social após a queda do comunismo. No país que detêm uma das maiores reservas de petróleo e gás do mundo, a expectativa de vida ainda beira os 65 anos. No ranking do IDH, a Rússia aparece na 65ª posição. E o país tem o 11º maior PIB do planeta.

Alfredo Coutino, diretor da Moodys.com para a América Latina, frisa que, se o Brasil crescer numa velocidade de 5% ao ano, já seria capaz de ultrapassar a Inglaterra nos próximos cinco anos.

- Na próxima década, há a possibilidade de ultrapassar a França e ser a quinta economia do mundo.

FONTE: O GLOBO

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