sábado, 30 de abril de 2011

Reflexão do dia – Roberto Freire

“Está se dando importância maior do que se deveria à natural dança dos políticos, esse adesismo que tem sido uma praga da política brasileira desde sempre.

Assim as coisas estão longe de serem maniqueístas como o discurso do governo às vezes apresenta: não é verdade que as forças progressistas estão com eles e as forças conservadoras contra eles.

Isso é um mito que o governo espalha. É preciso que haja identidade para que partidos se unam e virem um só. Eu até posso fazer eventuais alianças eleitorais com o DEM, mas não tenho qualquer afinidade ideológica com eles para que nos filiemos ao mesmo partido e passemos a conviver eternamente,

É a dança do poder. Agora, o ritmo da dança pode mudar a qualquer momento, e é incrível que não se avalie isso, Vai faltar soro fisiológico pra todo mundo, Se a inflação recrudescer, não tem como não crescer na sociedade um sentimento oposicionista, E os adesistas dançam conforme a música,”

FREIRE, Roberto. Citado no artigo A dança do “Pudê”. Congresso em Foco, 29/4/2011

PT decide "beatificar" Delúbio

Tesoureiro do PT nos tempos do mensalão é refiliado com 60 votos favoráveis e 15 contrários

Ivan Iunes e Denise Rothenburg

Um dos últimos personagens do escândalo do mensalão ainda no ostracismo político foi resgatado ontem pelos petistas. Ex-tesoureiro do PT à época do caso, Delúbio Soares foi reabilitado pelo partido na noite de ontem, durante reunião do Diretório Nacional da legenda. Os delegados petistas decidiram aceitar o pedido de refiliação do político, cinco anos depois de ele ter admitido a prática de caixa dois durante as campanhas eleitorais de 2002 e 2004. Com o ex-deputado José Dirceu e o ex-presidente petista à época do mensalão, José Genoino, na plateia, a volta de Delúbio foi aprovada por 60 votos favoráveis, 15 contrários e duas abstenções.

Depois de cumprir o purgatório político pós-escândalo, Delúbio apresentou uma carta pedindo o perdão do partido na quinta-feira. A solicitação foi votada após o lobby de três petistas favoráveis ao ex-militante: Ricardo Berzoini (SP), um dos responsáveis por encaminhar a expulsão de Delúbio na crise do mensalão; o ex-deputado federal Virgílio Guimarães (MG) e Bruno Maranhão, que se tornou célebre por liderar uma invasão do Movimento de Libertação dos Sem Terra à Câmara, em 2006.

A principal corrente petista, formada pelas tendências Construindo um Novo Brasil, PT de Luta e de Massas e Novos Rumos, pavimentou o retorno do ex-tesoureiro. A corrente responde por quase 60% dos votos do Diretório Nacional, que tem 84 membros. Outra tendência que apoiou a reabilitação foi a Movimento PT, que tem 10 cadeiras no colegiado.

Dentro da política petista, as correntes mais à esquerda, como a Democracia Socialista e a Militância Socialista, se opuseram ao retorno. Tendência influente, a Mensagem ao Partido, do governador do Rio Grande do Sul, Tarso Genro, se dividiu. Discutido a portas fechadas, o tema ainda causa constrangimento à maior parte dos petistas. O próprio presidente eleito da legenda, o deputado estadual Rui Falcão (PT-SP), preferiu tergiversar sobre o retorno do ex-tesoureiro. “Não acho que seja vantagem nem uma desvantagem”, declarou.

Tempo

Aprovada ontem, a volta de Delúbio era dada como certa desde a quinta-feira, quando ele foi recebido em jantar na casa da senadora Marta Suplicy. “Eu mesma votei contra o Delúbio no passado. Mas, agora, o tempo passou e os erros que ele cometeu, o sofrimento e a execração pública já foram uma punição suficiente”, afirmou Marta. Assessor Especial da Presidência, Marco Aurélio Garcia fez coro. “Não acho que o Delúbio seja uma pessoa corrupta. Não fez nada em benefício próprio. Houve gestão temerária que trouxe enormes prejuízos. Mas o tempo passou.”

Presidente de honra do partido, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva evitou o encontro do diretório nacional do PT, mesmo estando em Brasília. Chegou-se a especular a participação dele no encontro como sinal de apreço a José Eduardo Dutra. Lula, porém, preferiu não comparecer — e evitar o desgaste com a volta de Delúbio. Em ocasiões anteriores, ele defendeu o retorno do ex-tesoureiro, sob argumento de que não existiria prisão perpétua no Brasil.

FONTE: CORREIO BRAZILIENSE

O Brasil avança, mas lentamente

Censo mostra país mais velho e feminino; e menos branco

O Brasil revelado pelo Censo 2010 é um país com mais renda, infraestrutura e educação, mas em ritmo lento de melhoria. Entre os maiores problemas, o saneamento básico: só 55,5% dos domicílios têm acesso à rede de esgoto. A taxa era de 47,3% em 2000 e 35,3% em 1991 - o avanço nesse setor ocorreu, portanto, num ritmo menor que nos anos 90. Para especialistas, no quadro atual de investimentos, só em 2070 o Brasil poderá sonhar com 100% de acesso a esgoto. Num país mais urbano, mais feminino e mais velho, o maior crescimento é o de cidades de médio porte, como Rio das Ostras, cuja população aumentou 180%. Pela primeira vez, brancos não são maioria.

Longe de tirar o pé da lama

Censo mostra que metade do país ainda não tem esgoto; avanço foi mais lento que nos anos 90

Lucas Ferreira e Ana Bezerra dos Santos vivem numa casa sem água e nem esgoto no Recife. A luz, clandestina, chegou este ano

Cássia Almeida, Selma Schmidt e Letícia Lins

O IBGE começou ontem a mostrar um novo retrato da sociedade brasileira, trazido pelo Censo 2010. Os mais de 190 milhões de habitantes têm hoje mais acesso à água, ao saneamento e à coleta de lixo do que há dez anos, mas o ritmo de melhora ainda é aquém do desejado. Pior: entre 2000 e 2010, período que engloba toda a era Lula, o ritmo de avanço no acesso ao saneamento básico foi ainda mais lento do que na década anterior.

Quase metade dos domicílios está fora da rede geral de coleta de esgoto: apenas 55,5% dos lares são ligados à rede. Quando se inclui a fossa séptica, esse percentual sobe para 67,1%. Há dez anos, o acesso à rede coletora de esgoto era de 47,3%. Em 1991, a parcela alcançava 35,3%.

- O esforço inicial na década de 90 foi para as grandes metrópoles, o que atinge mais residências. Na última década, o esforço foi mais para cidades médias. Isso explica um pouco essa velocidade menor nos anos 2000 - afirmou o economista Claudio Dedecca, professor da Unicamp.

Debaixo da ponte, sem esgoto nem luz

Os novos números do IBGE revelam a desigualdade entre as regiões, que é latente no Brasil. Enquanto no Sudeste a rede de esgoto atinge 81% dos lares, no Norte não chega a 13,9%. No Nordeste, também fica muito aquém da média nacional: 33,9%.

Lucas Mesquita Ferreira e Ana Bezerra dos Santos estão entre os 33,9% que não têm acesso à rede coletora de esgoto e aos 25,9% dos pernambucanos que não têm água encanada. Ele também não tinha luz até o início deste ano. O casal mora num casebre improvisado sob uma ponte, onde usa água do rio, em Recife. A casa improvisada não tinha banheiro, e eles chegavam a descartar os dejetos em sacos plásticos jogados no rio. Mas este ano construíram um barraco que serve de banheiro. Os dejetos são jogados no rio que corta a cidade:

- No começo do ano, não tínhamos luz, mas fizemos uma ligação clandestina - conta Ferreira, que é biscateiro. A mulher, Ana Bezerra, está desempregada.

A falta de saneamento pode ser observada até em áreas nobres de Recife, como a praia de Boa Viagem. Ao lado de prédios luxuosos, um esgoto a céu aberto recebe os dejetos da favela Entra a pulso, de onde segue para os rios da cidade. Quando a maré sobe ou chove, a água do canal de dejetos invade os imóveis da comunidade. O aposentado Manoel José da Silva, 69, vive há 45 anos no local e até hoje não se habitua com a imundície. A sujeita sobe pelo esgoto do seu banheiro e invade o resto da casa.

Outra moradora da comunidade, Ruth Joaquim da Silva, 44, afirma que por falta de saneamento, sua casa já foi invadida esse ano quatro vezes com a água dos dejetos da valeta que recebe os despejos da localidade. Ela tem em casa dezenas de tijolos para levantar os móveis a qualquer chuva e a geladeira vive suspensa em caráter permanente. Afirma que quando chove, o esgoto a céu aberto transborda, e invade o interior de sua casa, onde as paredes exibem marcas de meio metro deixada por dejetos.

Projeção da presidente da Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental (Abes), Cassilda Teixeira, levando em conta o crescimento da população brasileira e da rede de esgoto, mostra que só se chegará à universalização do saneamento em 2070.

- Mas é possível conseguir a universalização do saneamento em 2020. Temos recursos, tecnologia e pessoal qualificado. Portugal e Espanha conseguiram nos anos 90 - afirma a engenheira.

Para o coordenador de População e Indicadores Sociais do IBGE, Luiz Antonio Pinto de Oliveira, a universalização de rede coletora é uma meta praticamente impossível de se alcançar. Ele exemplifica com as cidades pequenas e a zona rural:

- Não é viável instalar uma rede coletora em cidades de 2 mil habitantes, por exemplo. Há outras formas de tratamento, como as fossas sépticas, mais adequadas a esses núcleos.

Engenheiro sanitarista da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Léo Heller diz que a tendência é que o ritmo do avanço do saneamento aumente na próxima década, "diante do marco legal que já foi fixado, pelo plano nacional de saneamento lançado no ano passado" e, segundo ele, não deve haver sobressaltos nos investimentos daqui para frente":

- Devemos ter uma inflexão nessa curva de crescimento. Mas não era esperado um salto muito grande na última década. Os investimentos maiores começaram a acontecer de 2005 para cá e demoram a aparecer nas estatísticas. Passamos um período grande com baixo investimento e crescimento populacional. Mas, sem dúvida, é um índice baixo para o Brasil. Deveria se exigir mais de um país que quer ser desenvolvido.

O acesso à água também melhorou na década, mas devagar. Saímos de uma cobertura de 77,8% dos domicílios para 82,9%. A dificuldade de avançar quando a cobertura fica maior explicam um pouco esse resultado, dizem especialistas. Ainda na avaliação da presidente da Abes, se não for mudada a forma de contratação, a universalização da água no Brasil só será atingida em 30 anos.

No Rio, vala negra em ponto turístico

Para alcançar a "Laje Michael Jackson", onde o astro pop gravou parte de um clipe em 1996, no alto do Morro Dona Marta, em Botafogo, Zona Sul do Rio, o turista não tem alternativa: precisa passar em frente a um valão, onde corre a céu aberto parte do esgoto da comunidade. Mesmo no Estado do Rio, onde 76,6% dos domicílios contam com rede coletora de esgoto, ainda há muito o que fazer. Apesar de inferior à Região Sudeste, a melhoria das condições de saneamento no Rio chegou a 14 pontos percentuais em dez anos, o dobro da média brasileira. Em 2000, eram 62,6% ligados à rede. Mas o paraibano José Ramos, de 41 anos, que mora no Morro Dona Marta, perto da "Laje Michael Jackson" quer mais:

- Ter um valão em frente a um monumento é feio, tira a beleza do lugar. Fizeram a urbanização, mas não concluíram o esgoto. - diz José Ramos - A comunidade tem atraído muito turista, principalmente com a UPP (Unidade de Polícia Pacificadora).

FONTE: O GLOBO

Novo presidente do PT recebeu doações de réus do mensalão

Rui Falcão, aliado de José Dirceu, declarou à Justiça Eleitoral contribuições de Genoino e João Paulo Cunha

José Mentor, envolvido no escândalo, também ajudou campanha de petista; empreiteiras deram maiores doações

Bernardo Mello Franco

SÃO PAULO - Ligado ao ex-ministro José Dirceu (Casa Civil), o novo presidente do PT, Rui Falcão, recebeu doações de outros dois réus do mensalão em sua campanha à reeleição como deputado estadual em São Paulo, no ano passado.

O deputado João Paulo Cunha (PT-SP) e o ex-deputado José Genoino (PT-SP) fizeram contribuições que somam pouco mais de R$ 16.500, segundo sua prestação de contas à Justiça Eleitoral.

O deputado José Mentor (PT-SP), que também foi investigado pela CPI dos Correios por receber dinheiro do valerioduto, integra a lista com R$ 5.710 em doações.

Os valores são modestos diante dos R$ 2,55 milhões arrecadados por Falcão, mas demonstram sua proximidade de petistas envolvidos no escândalo e reabilitados recentemente pelo partido.

Ele assumiu o comando do PT no dia em que a sigla aprovou a volta do ex-tesoureiro Delúbio Soares, acusado de operar o mensalão.

Falcão teve a maior parte das despesas eleitorais bancada por empreiteiras e pela cúpula do PT. Nove construtoras doaram R$ 1,15 milhão (45% da receita total), e o partido, mais R$ 1,02 milhão.

As contribuições atribuídas à legenda caracterizam as chamadas doações ocultas: não é possível saber a origem real do dinheiro.

O deputado estadual foi eleito para o quarto mandato com 174 mil votos. Controla a primeira-secretaria da Assembleia Legislativa, responsável pela administração e pelos contratos da Casa.

Na luta armada contra a ditadura militar, Falcão militou no Colina e na VAR-Palmares, junto à presidente Dilma Rousseff. Foi torturado e ficou preso três anos.

Fundador do PT, coordenou a campanha de Marta Suplicy à Prefeitura de São Paulo em 2000 e foi seu secretário de Governo.

Em 2010, chegou a integrar a coordenação da campanha de Dilma, mas foi afastado após o vazamento do dossiê com informações sigilosas contra tucanos. Ele nega envolvimento no caso.

FONTE: FOLHA DE S. PAULO

Presidente do PSDB ataca Kassab e faz críticas a dissidentes

Em nota, Guerra insinua que vereadores que deixaram a sigla já não seguiam as determinações da legenda

Sobre o PSD, disse que há "ética discutível" na "formação de partidos que reúnem adesismo" e conveniências pessoais

Catia Seabra

BRASÍLIA - Num gesto de apoio ao governador Geraldo Alckmin, o presidente do PSDB, deputado Sérgio Guerra (PE), minimizou a crise no diretório paulistano do partido e atacou a legenda que será criada pelo prefeito Gilberto Kassab, o PSD.

No texto, Guerra trata com naturalidade o fato de o partido ter perdido 6 dos 13 vereadores que tinha na Câmara Municipal da capital.

Diz que os dissidentes estavam no PSDB mas não atuaram com o partido em 2008, quando Kassab se reelegeu derrotando Alckmin.

Na disputa, o prefeito contou com o apoio dos vereadores e do ex-governador José Serra. Com o texto, Guerra insinua que já não havia ligação entre os gestos dos dissidentes com as determinações da legenda.

Pelo menos 2 dos 6 vereadores irão para o PSD de Kassab. Os outros ingressarão em legendas que apoiam o prefeito, como o PPS e o PV.

Na nota, em referência à nova sigla, o presidente do PSDB diz há uma "ética discutível" na "formação de partidos que reúnem adesismo, conveniências em torno de projetos pessoais e mudança de lado".

Em apoio a Alckmin, Guerra descarta crise. "O PSDB promove convenções estaduais e municipais, como fazem todos os partidos. Em praticamente todas, há acordos. Em alguns casos, há negociações e até disputas. Nada disso indica crise."

ELEIÇÕES DE 2008

Os dissidentes do PSDB paulistano deixaram o partido acusando aliados do governador de excluí-los do comando do diretório municipal. "Alguns vereadores deixaram o partido. Estavam no PSDB, mas, nas eleições municipais, não votaram conosco, apoiando o prefeito Gilberto Kassab", diz a nota.

O presidente tucano também atribui ao racha da última eleição municipal a saída de Walter Feldman, um dos fundadores do PSDB. "No caso Walter Feldman, as divergências também são dessa época e apenas se consumaram agora."

Sérgio Guerra ainda exalta a administração de Alckmin: "um governo muito bem aprovado". "PSDB confia que a sua liderança levará o partido à vitória nas próximas eleições."

O texto segue a linha do discurso de alckmistas, que buscam minimizar o impacto da saída dos vereadores. Porém, vai na contramão dos que defendem um entendimento com a ala que apoiou Kassab nas últimas eleições de modo a evitar mais baixas e, talvez, pavimentar uma possível aliança com o PSD.

Kassab decidiu criar um partido para bancar a candidatura de um sucessor à Prefeitura de São Paulo em 2012, além de sua própria campanha ao Palácio dos Bandeirantes em 2014.

FONTE: FOLHA DE S. PAULO

Projetos:: Merval Pereira

A política brasileira vive momentos de crises partidárias que não escolhem legendas, mas, no entanto, diferem entre si, e, nessa diferenciação, está a explicação para o sucesso dos situacionistas e o fracasso dos oposicionistas.

O PT acaba de escolher um novo presidente, o deputado estadual Rui Falcão, à revelia da presidente Dilma, e, mais que isso, um presidente partidário que está em litígio judicial com um dos principais ministros do governo, o do Desenvolvimento Social, Fernando Pimentel, amigo da presidente.

O enfrentamento dos dois vem desde a campanha presidencial, numa briga de poder que explodiu quando foi descoberta uma organização paralela dentro do comitê de imprensa para fabricar dossiês contra o candidato oposicionista e também para vigiar companheiros petistas.

Como naquela ocasião, também agora a crise foi abafada com o intuito de não prejudicar o objetivo maior do partido, que anteriormente era eleger uma candidata que não havia sido escolhida pelos petistas, mas representava para eles a única chance de manter o poder.

Hoje, a presidente eleita não conseguiu impor ao partido seu candidato, o senador Humberto Costa, não se sentiu com forças para contestar a decisão e finge que está tudo bem, à espera do momento em que o exercício da Presidência lhe dê musculatura suficiente para se impor ao PT.

Caso contrário, seguirá tendo que aceitar as imposições de um PT disposto a cobrar cada palmo de terreno que considerar seu por direito político.

É bom não se esquecer que quem está por trás da manobra bem-sucedida que colocou Rui Falcão na presidência do partido é o ex-todo-poderoso José Dirceu, ele também disposto a recuperar todo o terreno perdido depois que foi cassado e acusado de "chefe da quadrilha" do mensalão pelo procurador-geral da República, em denúncia aceita pelo Supremo Tribunal Federal.

O mesmo Dirceu que, em uma palestra para sindicalistas durante a campanha presidencial, disse que a vitória de Dilma na eleição seria a primeira grande vitória do PT, pois Lula era maior do que o PT, e Dilma precisaria do partido para governar.

Ele começa a mostrar na prática o que quis dizer, e, embora o ambiente esteja fervilhando dentro do PT, tudo parece estar às mil maravilhas para consumo externo.

Até mesmo a polêmica volta do ex-tesoureiro do mensalão, Delúbio Soares, aos quadros do partido, do qual foi expulso na crise de 2005, também apoiada pelo grupo de Dirceu, está provocando menos marola do que seria de se supor.

A discussão está colocada dentro do partido, mas em termos muito amenos, como podemos ver no texto de Carlos Henrique Árabe, secretário nacional de Formação Política do PT, que, mesmo discordando, faz um apelo à unidade partidária, revelando o que realmente está em jogo para os petistas, a manutenção do poder:

"Recolocar o tema para a mesma instância é solicitar ao Diretório Nacional uma autocrítica e uma condenação da decisão tomada anteriormente. Mais do que isso, é reabrir uma questão que, a seu tempo, teve a solução que mais nos unificou."

É bem verdade que Carlos Henrique Árabe retoma um tema que não deve ter agradado a Dirceu, ainda mais agora, quando o julgamento do mensalão se aproxima da definição. Ele diz que o PT, no 13º Encontro e no 3º Congresso, encontrou um caminho de unidade "com posições críticas aos acontecimentos de 2005 e com posições de superação daqueles equívocos".

E diz que foi um erro histórico do PT se recusar a realizar um processo interno "para se constituir um juízo comum sobre o que foram os acontecimentos que produziram a crise de 2005".

Por isso, diz ele, a direção do PT não tem uma opinião comum sobre a crise. "Existem várias versões, um largo espectro de opiniões, mas não uma compreensão comum. Este fato enfraquece a defesa do partido como projeto coletivo."

Mas, afirma Árabe em seu manifesto, não houve dúvidas sobre a atuação de Delúbio Soares como secretário nacional de Finanças "documentada no processo interno. Os termos ali utilizados são duros. Invalidar a decisão anterior do Diretório Nacional é, necessariamente, recolocar todo o debate de volta".

Outro aspecto de muita importância, salienta o dirigente petista, "é que existem muitos processos constituídos por diferentes poderes públicos sobre os dramáticos acontecimentos da crise de 2005 e os seus atores. Muitos aguardam julgamento do Supremo Tribunal Federal".

Frente a eles, o PT deve ter uma posição de defesa partidária. E aí vai contar a capacidade de unir o partido. A proposta de refiliar Delúbio em nada contribui para isso.

Enquanto o PT procura a união partidária, mesmo às custas da verdade, o que fazem os principais partidos de oposição?

O PSDB se engalfinha em uma luta fratricida, em que surge o governador Geraldo Alckmin com o espírito rancoroso e vingativo que era atribuído ao ex-governador José Serra.

E a dissidência partidária centrada no DEM que alimenta o novo PSD do prefeito Gilberto Kassab não representa nenhuma tomada de posição ideológica, como foi, por exemplo, o surgimento do PSOL em discordância com o PT, mas apenas um aglomerado de políticos mal acomodados em seus partidos que viram a nova legenda como uma válvula de escape em direção às benesses governamentais.

Quando o PSDB surgiu da costela do PMDB, em protesto contra o fisiologismo que dominava aquela legenda, tinha uma proposta de renovação política que chegou ao poder com o Plano Real.

Hoje, as disputas não passam de vinganças mesquinhas ou de fisiologismo mal resolvido, sem um pingo de grandeza.

Mesmo que seja apenas o poder pelo poder, o PT é o único partido político brasileiro que tem um projeto.

FONTE: O GLOBO

Outra fusão: PSD & DEM:: Fernando Rodrigues

Pode parecer esdrúxulo. E é. Mas na micropolítica nos salões do Congresso essa é uma hipótese recorrente: a eventual aquisição hostil do DEM pelo PSD (partido novo de Gilberto Kassab).

Seria o sonho dourado dos neokassabistas. Resolveriam assim o problema incontornável de uma legenda nova nascer sem tempo de TV. A agremiação só terá amplo acesso ao horário eleitoral depois de conseguir uma bancada de deputados federais em 2014. Até lá, terá de se conformar com segundos à la "meu nome é Enéas".

A bruxaria é complexa. Funcionaria mais ou menos com a seguinte lógica política e cronológica:

1) Desidratação do DEM: dezenas de filiados continuarão a deixar, nas próximas semanas, o partido que um dia foi Arena, PDS e PFL.

2) Formalização do PSD: enquanto isso, Kassab consolidará uma bancada de deputados, senadores e governadores muito superior à do DEM pré-derrocada.

3) Infiltração: kassabistas continuam entrincheirados dentro do DEM. Esses anfíbios pretendem influir na convenção nacional marcada para 27 de setembro, quando os demistas escolhem uma nova direção nacional. Antes, farão ataques especulativos nos encontros demistas estaduais (20 de agosto) e municipais (16 de julho).

4) Aquisição hostil: em setembro, depauperado, sem bancadas relevantes no Congresso e nos Estados, o DEM será forçado a fazer uma fusão para sobreviver em eleições futuras. O PSD recém-criado se apresentará para fazer o negócio, mimetizando o cenário em que uma empresa compra a outra em estado falimentar. Ocorre uma fusão. Nasce uma nova agremiação com uma denominação ainda a ser escolhida -até porque o nome PSD está inviabilizado judicialmente.

Qual a chance desse enredo rocambolesco se tornar realidade? É pequena ou impossível de aferir. Mas a história é cada vez mais contada e ouvida aqui em Brasília.

FONTE: FOLHA DE S. PAULO

Fusão ou confusão? :: Cesar Maia

Quando dois sistemas se integram, tal fusão pode ser sinérgica (maior que a soma das partes), neutra ou disfuncional (menor que a soma das partes). A fusão de dois partidos políticos só é um processo simples quando o tamanho de um deles é insignificante perto do outro. A isto melhor seria chamar de assimilação.

Mas quando dois partidos se equivalem, a fusão é um processo complexo, ainda mais num país continental. No Brasil, alguns partidos substantivos surgiram por processos de desagregação, como o Republicano (no Império), o PSDB (saído do PMDB) e o DEM (saído do PDS).

Este é também um processo simples, porque as partes homogêneas de um partido se separam para formar outra legenda. Não é sem razão que no Brasil, durante o Império ou a República, nunca ocorreu fusões entre partidos políticos substantivos. A complexidade ocorre pelo tectonismo das partes (das placas).

No que se refere às direções nacionais, sempre haverá como compor. Mas quando os espaços de cada dirigente começam a ser definidos, termina a simplicidade. Isso sem falar nas estruturas administrativas de cada um.

Ao se desdobrar isso em níveis estadual e municipal, há muito mais. Além disso, existem as listas de vereadores por município, deputados federais e estaduais por Estado, cuja agregação produzirá riscos maiores ou menores para centenas de parlamentares.

Há ainda os espaços de liderança a serem definidos. E também, em todos os níveis, os órgãos de representação especial, como imprensa, institutos e fundações.

Tal decisão produziria uma redução pela metade das lideranças no Congresso, nas Assembleias e nas Câmaras Municipais, assim como nas estruturas respectivas. E também no uso dos microfones.

A nova legenda, independente da denominação que mantenha, terá que incorporar os programas de ambos. As diferenças desses programas abrirão uma luta ideológica, de saída, no novo partido.

Finalmente, a legislação eleitoral permite, havendo fusão de partidos, que os legisladores (vereadores, deputados, senadores) e os executivos (prefeitos e governadores) que se digam prejudicados mudem de legenda.

Não é preciso analisar no detalhe para saber que alguns deputados federais e vários deputados estaduais e vereadores usarão essa circunstância para mudar de partido, sem os enormes riscos de uma nova legenda. O partido fundido ficará parlamentarmente menor que a junção das partes. Só soma tempo de TV e Fundo Partidário, o que também vai gerar atritos pelo uso.

Isso tudo leva a uma enorme disfunção ou tectonismo. Repetindo: no Brasil -no Império e na República- nunca houve fusão de dois grandes partidos. Haverá a primeira?

FONTE: FOLHA DE S. PAULO

Sérgio Guerra: "Alckmin nos conduzirá à vitória no ano que vem"

O presidente do PSDB, Sérgio Guerra, saiu em defesa do governador Geraldo Alckmin

Christiane Samarco

ENTREVISTA - Sérgio Guerra, presidente nacional do PSDB

O presidente nacional do PSDB, deputado Sérgio Guerra (PE), saiu em defesa do governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), atacando o PSD do prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab. "Alckmin tem liderança e comando comprovados e nos conduzirá à vitória na eleição municipal do ano que vem. O PSDB tem total confiança nele e não temos conhecimento de nenhuma crise ética no partido", disse Guerra em entrevista ao Estado.

A despeito de o partido ter perdido 6 dos 13 vereadores tucanos, ele nega que a regional paulista esteja encolhendo e defende a tese de que é natural que o grupo vencedor de uma eleição queira ter representação nos diretórios. "A ética discutível é a da formação de um partido - o PSD - que reúne frustrações, adesismo, conveniências em torno de projetos pessoais e mudança de lado."

Em nota divulgada ontem, Guerra nega a existência de uma crise tucana: "Neste momento, o PSDB promove convenções estaduais e municipais, como fazem todos os partidos. Em praticamente todas, há acordos. Em alguns casos, há negociações e até disputas. Nada disso indica crise".

O PSDB paulistano perdeu seis vereadores. O partido está encolhendo em São Paulo?

Não é verdade que estejamos encolhendo. O partido não perdeu nenhum deputado federal ou estadual e elegemos o senador mais votado de São Paulo - Aloysio Nunes - e o governador Geraldo Alckmin. Esses vereadores que estão deixando o PSDB foram eleitos na eleição passada. Vamos ver a repercussão disso na próxima eleição.

Para quem tinha 13 vereadores, ficar reduzido a 6 não é grave?

Não é bom, mas não é grave. A relação dos vereadores é com o prefeito e não com o governador do Estado.

O ex-deputado Walter Feldman, um dos fundadores do PSDB, também saiu do partido e o ex-deputado estadual Ricardo Montoro deu declarações de que pode fazer o mesmo.

Eu falo sobre a perda do Walter, nosso amigo, que já era dissidente há tempos. Essa perda que se consumou agora, na verdade, data da eleição de 2008, quando Alckmin e Kassab disputaram a Prefeitura.

Feldman admitiu que o problema teve origem na eleição de 2008, mas saiu falando em crise ética e responsabilizou o governador Geraldo Alckmin por ela.

O governador Alckmin foi eleito no primeiro turno, tem aprovação excelente, tem liderança e comando comprovados e nos conduzirá à vitória na eleição municipal do ano que vem. O PSDB tem total confiança nele e não temos conhecimento de nenhuma crise ética no partido. Somos referência neste tema. A ética discutível é a da formação de um partido, o PSD, que reúne frustrações, adesismo, conveniências em torno de projetos pessoais e mudança de lado.

Parte do tucanato paulista atribui a crise ao fato de Alckmin estar tomando o controle da estrutura partidária e deixando de fora aliados do ex-governador José Serra, que se queixam de isolamento.

Para mim, no PSDB todos são aliados do Serra. Todos fizemos a campanha dele para presidente da República e não nos arrependemos disso.

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO

A festança das centrais : O Estado de S. Paulo - Editorial

Houve tempo em que dirigentes sindicais responsáveis faziam do dia 1.º de maio um momento de reflexão sobre os problemas que atormentavam os trabalhadores. Em muitos países, a data foi transformada no Dia do Trabalhador para homenagear aqueles que dedicaram a vida à defesa dos direitos de seus parceiros de trabalho. Nos últimos anos, porém, as centrais sindicais brasileiras transformaram o Dia do Trabalhador num pretexto para festas e discursos demagógicos, desvirtuando seu significado original.

Dinheiro para festejar não lhes falta. Além da generosa fatia a que têm direito na partilha do dinheiro extraído anualmente do bolso dos trabalhadores na forma de imposto sindical, o que lhes garante mais de R$ 100 milhões por ano, as centrais obtiveram patrocínio de empresas estatais e de algumas companhias privadas para realizar sua festança deste domingo.

Estima-se que as duas grandes festas das centrais sindicais em São Paulo - uma liderada pela Força Sindical, com o apoio de outras quatro entidades, outra preparada pela Central Única dos Trabalhadores (CUT) - custarão R$ 5 milhões.

Alguns artistas renomados, outros nem tanto, políticos e sindicalistas se apresentarão para cerca de 2 milhões de pessoas, atraídas não para discutir as grandes questões que afetam o mercado de trabalho e angustiam os trabalhadores, mas para ver seus artistas prediletos e concorrer a prêmios valiosos, como 20 automóveis novos.

Seria muito bom se a realidade justificasse tanta festa. As condições de trabalho e de vida no Brasil e no mundo mudaram radicalmente em relação àquelas que prevaleciam no fim do século 19, quando a data foi escolhida para homenagear os trabalhadores. E continuam a mudar para melhor. Mas problemas novos surgiram.

Nos últimos anos, o avanço da tecnologia na indústria e no setor de serviços e a internacionalização das atividades econômicas e financeiras impuseram mudanças profundas nas relações do trabalho, num processo de desregulamentação que enfraqueceu os vínculos formais entre empregador e empregado.

Com muito raras exceções, os líderes sindicais não entenderam as transformações no mundo do trabalho, no exterior e no Brasil. Continuam presos a velhas palavras de ordem, que repetem como se quisessem ter a sensação do cumprimento de seu dever. Há dias, os dirigentes das centrais sindicais apresentaram ao presidente da Câmara dos Deputados, Marco Maia (PT-RS), a lista do que consideram prioritário. Os pontos são velhos conhecidos: redução da jornada de trabalho, eliminação do fator previdenciário e regulamentação do trabalho terceirizado.

Nada disseram sobre problemas graves do mercado de trabalho, que não lhes parecem causar preocupação. Alguns são tão antigos como o Brasil e outros são bastante recentes. Mas as lideranças sindicais parecem alheias às mudanças que ocorreram diante de seus narizes.

Pretendendo representar os trabalhadores em nome dos quais dizem atuar, na realidade as centrais representam, no máximo, metade dos brasileiros que vivem de seu trabalho. Dados recentes mostram que a informalidade no mercado de trabalho vem diminuindo, mas, ainda hoje, 51,5% das pessoas que vivem de seu trabalho não têm registro em carteira. Não contam com nenhum direito trabalhista e, por omissão dos sindicatos, não têm direito nem mesmo à sindicalização.

Os que mais precisam de apoio dos sindicatos são por estes inteiramente ignorados, como mostra o fato de terem sido surpreendidos pela recente onda de revoltas nos canteiros de obras de usinas hidrelétricas. Não sabiam o que ocorria em algumas das maiores aglomerações de trabalhadores do País.

Além disso, eles nada têm feito para treinar os trabalhadores de suas bases para as novas demandas do mercado de trabalho. Há empregos, mas é cada vez maior a falta de trabalhadores qualificados para ocupá-los. É preciso preparar os trabalhadores, mas, para os sindicatos, esse não é problema deles, como não são muitos outros. Por isso, a festa de Primeiro de Maio deixou de ser a festa dos trabalhadores para virar a festa das lideranças sindicais.

Mãos à obra :: Míriam Leitão

O mercado imobiliário está pressionado por gargalos: falta de mão de obra; grandes centros sem terrenos; infraestrutura precária em áreas afastadas; cartórios superlotados; preços de imóveis de alta renda subindo e os de baixa renda com limites. A alta da inflação e a dos juros tiram renda das famílias e encarecem financiamentos, apesar de o crédito imobiliário não ser ligado diretamente à Selic.

Executivos de algumas das principais construtoras do país são unânimes em afirmar que o ritmo de crescimento do seu próprio mercado deveria ser mais lento. O preço dos terrenos subiu muito, os reajustes de salários estão sendo sempre acima da inflação, os fornecedores estão esgotando sua capacidade de atender à demanda, os cartórios não conseguem processar a papelada. Tudo ajuda a aumentar os custos.

Há uma distorção entre os segmentos de alta e média renda em relação aos de baixa renda. Os preços dos imóveis de maior renda têm tido forte aumento, mas no mercado de baixa renda os preços não podem subir porque, do contrário, perderão benefícios e linhas de financiamento. Há impedimentos burocráticos, mesmo que os custos fiquem mais altos, como explica o presidente da MRV Engenharia, Rubens Menin:

- Há um teto de preço para o mercado de baixa renda, imposto pelo Fundo de Garantia, pelo número de salários mínimos, pelo Minha Casa, Minha Vida. A MRV é a única construtora brasileira 100% focada em baixa renda. Esse é um setor que não permite erro, é tudo contado, não pode ter inconsistência. Por isso, preferimos correr em ritmo de maratona. O ideal é que o crescimento seja moderado, por um período mais longo - afirmou.

O presidente da Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC), Paulo Simão, constata que os gargalos já estão obrigando as construtoras a reduzir o ritmo de lançamentos em todos os segmentos. Ele prevê que o crescimento do setor este ano desacelere de 11,5%, em 2010, para cerca de 6%:

- O setor passou a andar rápido demais, mas por bons motivos: novo marco regulatório, abertura de crédito, a atenção dada ao setor por agentes financeiros, nova massa de consumidores. Então quando as amarras se soltaram, foi forte demais num primeiro momento. Há gargalo de mão de obra, terrenos, burocracia, acúmulo de problema nos cartórios.

Rogério Jonas Zylbersztajn, vice-presidente da Cyrela, acha que está acontecendo no mercado imobiliário o mesmo que em outros setores da economia brasileira:

- Estamos lidando com gargalos em vários setores, não é só na construção civil. É assim no mercado de telefonia, nos aeroportos, nos hotéis, é gargalo para tudo quanto é lado. De mão de obra, por exemplo, é geral. A Cyrela nunca havia atrasado obra e agora está atrasando. E não somos só nós, mas todas as construtoras. Como bater uma estaca se não há estaca para comprar? Você abre processo de concorrência e fornecedores preferem não participar porque sabem que não conseguirão produzir. Nunca havia visto isso acontecer. A compra de elevadores, por exemplo, está atrasando. Tudo isso gera uma preocupação muito grande porque ninguém sabe como esse tipo de problema será resolvido.

A falta de mão de obra é vista como o maior gargalo. Rubens Menin, da MRV, explica que a produtividade aumentou muito nos últimos anos. Isso dificulta ganhos de escala por esse meio. Ele cita que em 2004, por exemplo, eram necessários 12 trabalhadores para construir um apartamento em um mês. Hoje, sete dão conta do recado. Rogério Jonas, da Cyrela, diz que nem mesmo no Nordeste encontra-se mão de obra disponível para treinamento.

A mesma avaliação é feita por Alexandre Dinkelmann, diretor de RI da Brookfield Incorporações:

- O principal desafio, a meu ver, está na mão de obra, principalmente a semiqualificada, como pintores, carpinteiros, bombeiros hidráulicos. A aprovação de documentos por parte de órgãos públicos também não está acompanhando o crescimento do setor. O ciclo de entrega de documentos está ficando mais longo - disse.

Uma das opções para a falta de terrenos nos grandes centros seria a construção em áreas mais afastadas, mas aí as construtoras encontram novas barreiras, pela falta de planejamento urbano.

- Falta de tudo, desde transporte para as pessoas a redes de água, esgoto, luz - diz Menin.

A alta da inflação e dos juros são vistos pelo mercado financeiro como entrave, mesmo que o crédito imobiliário não responda diretamente à Selic. O Imob, índice que mede os papéis das construtoras, apresenta queda de 7% este ano. Algumas sentiram mais os efeitos, como Cyrela (-21%), Gafisa (-16,5%) e RMV (-11%), enquanto outras tiveram valorização, como Brookfield (6,79%) e Rossi (1,76%).

- O mercado faz uma ligação muito grande entre aumento de juros e inflação e mercado imobiliário. O setor é muito dependente de crédito e se o consumidor entender que não tem como fazer um financiamento que vai durar 25 anos, ele posterga a decisão de compra - disse Armando Halfeld, analista de construção civil da Ativa Investimentos.

O INCC (Índice Nacional da Construção Civil), medido pela FGV, subiu 7,4% nos 12 meses terminados em março, acima do IPCA. O índice já sente os acordos salariais fechados em cada grande centro. No Rio de Janeiro houve alta de 7,5%, enquanto o piso subiu entre 9,5% e 10,5%. Em Salvador, houve dissídio de 9,47%.

- O que o setor viveu de 2008 para cá não é confortável, principalmente no que se refere à mão de obra. O aumento dos custos reflete a evolução dos salários. O mercado está difícil, de forma generalizada - disse Ana Castelo, responsável pela pesquisa do INCC, da FGV.

O mercado imobiliário ficou muito tempo parado e quando começou a crescer encontrou limites. Os empresários do setor não sabem ainda como removê-los.

FONTE: O GLOBO

A indexação está de volta :: Paulo Paiva

A sociedade brasileira conhece bem os efeitos nocivos da inflação, principalmente sobre os segmentos mais pobres da população. Uma das vitórias expressivas nos campos da economia e da política foi a implantação do Plano Real, que resultou na estabilidade da moeda - base para o crescimento sustentado com inclusão social que o Brasil tem experimentado desde então. A adoção do programa de metas de inflação, depois da crise do real no início de 1999, tem garantido variação média dos preços compatível com o crescimento de longo prazo. Neste ano, todavia, a expectativa é de que a inflação fique próxima do limite superior da meta. Conviver com inflação ascendente e demanda aquecida é um jogo perigoso num país que ainda não perdeu a memória da indexação.

Além de seus efeitos perversos sobre a economia, comprometendo o crescimento de médio prazo e a saudável distribuição de rendimentos, inflação em alta traz de volta a indexação que perpetua a tendência ascendente dos preços. Filme visto não muito tempo atrás. Os efeitos da Medida Provisória n.º 1.053/95, que desindexou a economia, estão nos seus estertores. A indexação está de volta, generalizando-se muito rapidamente. No âmbito dos salários e da Previdência Social, seu retorno já está consolidado. A Lei n.º 12.382/11 estabeleceu a dupla indexação do salário mínimo: no INPC dos últimos 12 meses antecedentes ao reajuste e na variação do PIB dois anos antes. Já se estima com alguma precisão que em 2012 o salário mínimo terá um aumento em torno de 14% a 15%, com impactos sobre todos os benefícios da Previdência Social com valor igual ao mínimo; sobre a remuneração dos servidores públicos nos Estados e municípios - com pesadas consequências sobre os gastos públicos; e sobre as remunerações no setor privado referenciadas em salários mínimos. Os reajustes dos salários objetos de acordos coletivos seguem a mesma lógica.

A correção dos rendimentos dos benefícios previdenciários, cujos valores estão acima do mínimo, também está vinculada à variação do índice de preços. No próximo ano o reajuste desses benefícios poderá chegar a 6,5%, se a inflação de 2011 se mantiver nas atuais estimativas.

No âmbito das concessões de serviços públicos os preços também acompanham a variação dos índices de inflação, como no caso de energia elétrica, água, transportes coletivos, etc.

No sistema financeiro, igualmente, vários produtos são indexados, como as aplicações de curto prazo, a remuneração de caderneta de poupança, etc.

Finalmente, outros preços da economia estão constantemente sendo corrigidos pela inflação passada e, em alguns casos, em frequência inferior a um ano. Quanto mais houver a combinação de demanda elevada com inflação ascendente, maior é a probabilidade de correções automáticas de preços com base nos indicadores de inflação.

A indexação opera também no campo da formação das expectativas, antecipando os aumentos esperados de preço no futuro. Ela atua como correia transmissora da inflação passada para a inflação futura, limitando a eficácia da política monetária.

A estratégia de tentar conviver com uma inflação mais alta que o centro da meta para manter elevado o consumo acende a chama da indexação, tornando a volta à estabilidade uma tarefa ainda mais árdua, com consequências perversas para os segmentos que hoje mais se beneficiam do crescimento com estabilidade - aqueles que estão na base da pirâmide.

É possível que a hora para evitar o mal já seja passada. Pagaremos no futuro próximo pela leniência de hoje. Pagarão os mais pobres e vulneráveis que não terão mecanismos para se proteger da inflação. Com o desemprego pagarão os trabalhadores. Não há indexação que garanta o poder de compra dos assalariados. Enfim, não é o valor nominal dos salários que importa, mas seu valor real, que só será protegido com moeda estável. A volta da indexação pode comprometer todo o esforço de estabilidade das últimas duas décadas.

Professor da Fundação Dom Cabral, foi Ministro do Trabalho e do Planejamento e Orçamento no governo FHC

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO

CUT se isola em defesa do fim do imposto sindical

Demais centrais, favoráveis à cobrança, vão se unir pela primeira vez no 1º de Maio

Marcelo Rehder

Os preparativos para a comemoração do 1º de Maio deixam evidente, mais uma vez, que o imposto sindical e o divisor de águas entre as centrais sindicais brasileiras. Pela primeira vez, cinco entidades se uniram para organizar um evento único no Dia do Trabalho - amanhã, na Barra Funda, zona oeste da Capital - mas a Central Única dos Trabalhadores (CUT) não aderiu. Resolveu bater firme na tecla de que é o momento de eliminar o imposto, principal fonte de financiamento do movimento sindical no Brasil.

Assim, a festa unificada será promovida pela Força Sindical, União Geral dos Trabalhadores (UGT), Central Geral dos Trabalhadores do Brasil (CGTB), Nova Central Sindical de Trabalhadores (NCST) e Central Geral dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB). .

O ato da CUT será no Parque da Independência, no Ipiranga. “Faremos um lº de Maio sem sorteios de carros e outras bobagens que despolitizam os trabalhadores", provoca o presidente da CUT, Artur Henrique. "O ato principal terá shows e manifestações culturais que celebra nossa identidade com os povos africanos", informa o sindicalista.

No 1º de Maio unificado da Força com as outras centrais haverá sorteio de 20 carros zero quilômetro, além de shows gratuitos de música sertaneja, pagode, pop e MPB.

O presidente da Força, deputado Paulo Pereira da Silva (PDT-SP), admite que sorteios e shows garantem a presença de grande público, mas ao menos tudo o que a gente fala lá a pessoal ouve muito bem", explica o sindicalista. "E vamos ter uma participação política bastante democrática no evento."

Cobrança. Artur Henrique argumenta que a CUT, com sua posição, está cobrando o cumprimento do acordo para o fim do imposto assinado pelos presidentes das seis maiores centrais sindicais em 2008, quando foi aprovada a lei que reconheceu essas entidades. A lei definiu que as centrais receberiam 10% de todo o imposto sindical recolhido no País. Em 2010, o porcentual correspondeu a R$ 102,9 milhões.

"A CUT está em luta pelo fim do imposto sindical como sempre esteve", diz ele. "Os outros cinco signatários de acordo público com o governo pelo fim do imposto é que estão quebrando acordo público que assinaram."

O acordo defendido pela CUT previa o envio de projeto do governo ao Congresso para extinguir o imposto e criar a contribuição negocial. Neste caso, as categorias decidiriam em assembleia a sua cobrança ou não e, se ele existisse, de quanto seria.

"O imposto sindical é o único imposto a favor do movimento sindical e que tem consequências positivas para os trabalhadores", defende o presidente da UGT, Ricardo Patah. Para a ele, trocar o imposto por uma contribuição negocial não seria a melhor solução: permaneceriam os problemas da contribuição assistencial.

"Ela tem vulnerabilidades que tornam possível as "empresas adotarem práticas antissindicais para impedir que os sindicatos recebam recursos", justifica Ricardo Patah.

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO

Desagravo :: Dorany Sampaio

O velho e glorioso MDB, hoje PMDB completa neste 2011 45 anos de existência. A data foi comemorada em Brasília no dia 22 de março, com expressivo comparecimento. De fundadores presentes, Mauro Benevides e eu, se havia mais, não vi.

Foi exibido um VT sobre a história do partido, organizado pela Fundação que ostenta o nome do Dr. Ulysses. Inevitavelmente é o velho comandante quem mais aparece, na anticandidatura em 1973, ao enfrentar os cavalos e os cachorros do governo autoritário, nas diretas já, na promulgação da constituição cidadã, que presidiu com energia, sabedoria e inexcedível dedicação.

O Dicionário histórico-biográfico brasileiro, da FGV registra que por tantos atos de grandeza, de coragem, assumindo com enormes riscos à sua vida, à sua liberdade e à sua incolumidade física com estoicismo o comando da oposição no País, Ulisses "tornou-se um símbolo nacional de resistência ao regime militar".

Por tudo isso, os oradores da solenidade exaltaram a figura de Ulisses. Naquele mesmo dia, era lançado o livro de Regina Echeverria Sarney, a biografia, que não li até hoje. O blog de Sebastião Nery tem coluna com o título Mico de cemitério, onde aquele o jornalista comenta a biografia autorizada de Sarney. Estarrecido leio expressões aspeadas do biografado, ofensivas à verdade e à memória do Dr. Ulisses, como a de que ele "não tem grandeza nem espírito público". E ainda ser ele "um político menor". Quem seria maior que ele, parlamentar com 11 mandatos sucessivos, presidente por várias vezes da Câmara com gestões austeras, sem lugar para atos secretos e outras barbaridades?

O biografado foi beneficiário ostensivamente, a ditadura foi acolhida pelo MDB como candidato a vice de Tancredo. E morto este, Ulisses recusou-se a assumir a Presidência, advogando a causa do neoemedebista sem história na sigla. Não obstante Jarbas Vasconcelos em pronunciamento na tribuna já ter se constituído a voz dos indignados, faço aqui o que me é imposto pela consciência: desagravo como fundador do partido e seu presidente estadual, a memória daquele a quem, mais que a qualquer outro, o Brasil deve reverência, por sua vida de intocável honrabilidade, dedicação à causa pública e condução firme e pacífica da restauração do estado democrático de direito.

Ulisses navega triunfante, velando pelo País que tanto amou e que tanto sente a falta que faz como símbolo do homem público honrado e modelar.

Dorany Sampaio é advogado, ex-presidente da OAB e ex-deputado

FONTE: JORNAL DO COMMERCIO (PE)

Partido Democrata do Brasil? :: Arthur Virgilio

O PSDB se perde em brigas internas e, por isso, se mostra incapaz de fazer oposição focada e densa.

Divide-se em grupos, cada um com seu candidato presidencial preferido, como se a eleição de 2014 fosse amanhã e não tivesse adversário a enfrentar. O clima está longe de ser promissor ou construtivo.

Dilma Rousseff é refém da crise fiscal que fez Lula popular e a elegeu Presidente. Não toma atitudes fortes contra a valorização do real, que ameaça desindustrializar o País, porque dólar desvalorizado facilita importações e impede inflação ainda mais explosiva que a de hoje. E porque precisa de fortes entradas de dólares para cobrir o rombo das contas externas.

Daí os juros elevados. Medidas “meia-boca”. Imobilismo.

O governo anunciou cortes orçamentários de R$50 bilhões, que não realizará, e repassa mais R$55 bilhões, recolhidos no mercado a juros pesados, para o BNDES emprestar a grandes empresas a juros subsidiados. Corte mesmo só em itens como o combate ao trabalho escravo.

A “mágica” se esgotou. ¼ da renda das famílias vai para pagamento de dívidas. Idosos pendurados no crédito consignado.

Nada de reformas. A fisiologia corre solta. Há Ministros debochados. E Ministérios demais.

A máquina incha. Cargos para a companheirada, esbofeteando quem fez concurso e não será chamado. Desiludindo quem pretende submeter-se a concursos que não serão convocados.

Quatro meses de gestão e nada. Prato cheio para uma oposição coesa e fraterna. Não importa o número. O PT contava com oito senadores e poucos deputados, mas conseguia mobilizar forças da sociedade para enfrentar o governo Fernando Henrique, que é, aliás, o grande nome das oposições. Sua figura mais lúcida e generosa.

Tinha razão Tancredo. Presidência é destino e não promoção burocrática. O PSDB deveria ter predestinados a menos e companheiros humildes a mais. Poderia estar encurralando um governo nascido de estelionato eleitoral, que não tem saída econômica fácil: se correr o bicho pega, se ficar bicho come.

Mas está encurralando a si mesmo no jogo de egos. Parece o Partido Democrata dos EUA, especializado em perder eleições para os Republicanos.

Arthur Virgílio é diplomata, foi líder do PSDB no Senado

FONTE: BLOG DO NOBLAT

Projeto de prefácio :: Mario Quintana

Sábias agudezas... refinamentos... - não!
Nada disso encontrarás aqui.
Um poema não é para te distraíres
como com essas imagens mutantes de caleidoscópios.
Um poema não é quando te deténs para apreciar um detalhe
Um poema não é também quando paras no fim,
porque um verdadeiro poema continua sempre...
Um poema que não te ajude a viver e não saiba preparar-te para a morte
não tem sentido: é um pobre chocalho de palavras.

sexta-feira, 29 de abril de 2011

Reflexão do dia – Dora Kramer: Razão e sensibilidade

O projeto de concessão dos aeroportos à iniciativa privada contraria o discurso estatizante do PT, põe o partido em franca contradição com tudo o que foi dito durante a última campanha eleitoral e vai de encontro ao pensamento da presidente Dilma Rousseff que, como chefe da Casa Civil, representou poderoso entrave à execução da proposta.

E por que o projeto anda agora, depois de oito anos no aguardo de uma decisão?

Porque é chegada a hora de conquistar eleitoralmente a classe média, público alvo da privatização com vistas à melhoria dos serviços no setor aéreo.

KRAMER, Dora. Um barco a vagar. O Estado de S. Paulo, 28/4/2011

A dança do “pudê”:: Rudolfo Lago

“Freire já viu o mesmo filme algumas vezes. É a atração pelo ‘pudê’, a forma como boa parte dos adesistas costuma se referir ao poder, com a intimidade que a aproximação contínua lhes reserva”

O atual ocaso das oposições brasileiras tem sido tema frequente da coluna nos últimos tempos. É que realmente salta aos olhos a forma como o DEM desmancha-se, como o PSDB patina, como o PV não se entende e como o PSD engorda na sua tática adesista. O que acontece? Como explicar?

Fui buscar socorro para esta tarefa no presidente do PPS, o deputado Roberto Freire (SP). Independentemente do que se ache de Freire, há um fato incontestável: ao longo de uma carreira política de quase 40 anos, ele só esteve ao lado do governo com Itamar Franco, de quem foi líder, e por alguns poucos meses no início da era Lula. Ou seja, nem que seja pela vasta experiência acumulada, Freire é expert quando se fala em oposição.

O PPS, partido presidido por Freire, é filho do PCB, que tinha a alcunha de “partidão”. Com o fim do modelo soviético de socialismo, que seguia, Freire propôs a reformulação que deu no PPS: a mudança para a defesa de um socialismo democrático, e não do antigo formato comunista. Daquelas discussões, restou para quem se opôs à revisão proposta um PCB, que ainda existe fiel às ideias originais, e o PPS. Com a nova sigla, o partido chegou a sentir em determinado momento das eleições de 2002 uma chance de chegar ao poder, com Ciro Gomes. Mas a língua indisciplinada e o temperamento irritadiço de Ciro acabaram por deixá-lo pelo caminho. Mais tarde, Ciro acabou deixando o PPS pelo PSB, quando o partido de Freire resolveu romper com o governo. Hoje, com seus 12 deputados, o PPS pode ser chamado de tudo, menos de “partidão”. Padece das mesmas dificuldades que atingem as demais legendas de oposição.

Ao longo do tempo em que exerce a política no Congresso (seu primeiro mandato foi em 1972), Freire já viu o mesmo filme de hoje algumas vezes. É a atração pelo “pudê”, a forma como boa parte dos adesistas costuma se referir ao poder, com a intimidade que a aproximação contínua lhes reserva. “Está se dando importância maior do que se deveria à natural dança dos políticos, esse adesismo que tem sido uma praga da política brasileira desde sempre”, diz Roberto Freire.

Num país em que a maior parte dos partidos não tem ideologia definida, são meros ajuntamentos de conveniências políticas, a atração pelo poder torna-se mais fácil. Porque fica mais fácil adaptar-se ao discurso do momento. Da mesma forma, os governos passaram a entender que a única forma possível de governar consiste em abrigar o apoio dessas maiorias de conveniência. E adotam, com maior ou menor grau, uma posição de centro que facilite esse adesismo. “Assim”, diz Freire, “as coisas estão longe de serem maniqueístas como o discurso do governo às vezes apresenta: não é verdade que as forças progressistas estão com eles e as forças conservadoras contra eles”.

Assim, lembra Freire, há do lado do governo do PT até o PP, o partido filho da Arena e do PDS, as legendas que apoiaram a ditadura militar. E, na oposição, há o DEM, mas há também o Psol, de extrema esquerda, e o PPS, que Freire situa no campo da esquerda. Por isso, diz Freire, as notícias sobre eventuais fusões de partidos que hoje estão na oposição para que tentem, juntos, se robustecerem, devem ser vistas com reservas. “Isso é um mito que o governo espalha. É preciso que haja identidade para que partidos se unam e virem um só. Eu até posso fazer eventuais alianças eleitorais com o DEM, mas não tenho qualquer afinidade ideológica com eles para que nos filiemos ao mesmo partido e passemos a conviver eternamente”, avalia Freire.

Para quem não se importa com essas filigranas ideológicas, uma união de qualquer jeito só faz sentido se for para aproximá-lo do poder. Daí o PSD do prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab. “É a dança do poder. Agora, o ritmo da dança pode mudar a qualquer momento, e é incrível que não se avalie isso”, diz o presidente do PPS.

O primeiro problema é que a adesão gera no adesista uma expectativa de usufruir das benesses do poder: cargos, verbas, etc. E esse capital, por parte do governo, é limitado. “Vai faltar soro fisiológico pra todo mundo”, brinca Freire. Especialmente com a perspectiva da volta da inflação. Para contê-la, Dilma tem de cortar o orçamento, segurar verbas, gastar menos. Vai se dissipando o “soro fisiológico”. Se a coisa for se agravando, e a economia sair do controle, muda a dança. “Se a inflação recrudescer, não tem como não crescer na sociedade um sentimento oposicionista”, analisa Freire. Foi assim que Fernando Henrique Cardoso foi perdendo apoio no seu segundo mandato, até se tornar incapaz de fazer seu sucessor, levando José Serra a perder em 2002 a eleição para Lula. Assim, diante de uma nova perspectiva, muda a música do poder. “E os adesistas dançam conforme a música”, lembra Roberto Freire.

FONTE: CONGRESSO EM FOCO

Freire: privatização de aeroportos mostra que retórica do PT é uma fraude


Freire afirma que Dilma já está desmentindo tudo o que disse na campanha

Valéria de Oliveira

O presidente nacional do PPS, deputado Roberto Freire (SP), disse, ao comentar a privatização dos aeroportos anunciada pelo governo do PT, que tanto o ex-presidente Lula quanto a presidente Dilma Rousseff utilizaram de “profunda desonestidade” ao condenar, nas campanhas eleitorais, as concessões realizadas pelo governo Fernando Henrique Cardoso. “Isso precisa ser dito porque eles assumiram uma postura patriota e muitos eleitores os acompanharam por esse motivo; agora desfaz-se o teatro, cai a máscara”.

Freire lembrou que o governo Lula teve a oportunidade de reverter as privatizações de FHC, mas não o fez. Agora, a presidente, com menos de seis meses no poder, privatiza os aeroportos. “Era só fanfarronice”, afirmou, ao lembrar que Dilma centrou sua campanha eleitoral, principalmente no segundo turno, no terrorismo às privatizações. “Já está desmentindo tudo o que disse na campanha, no tocante às privatizações, se mostrando uma fraude, uma farsa”.

Roberto Freire salientou que o assunto não é “algo menor”, mas sim uma questão muitas vezes decisiva, “que fazia com que a militância petista ficasse embevecida”. A privatização dos aeroportos pode ser a medida mais correta a tomar, diz Freire, “mas não se pode deixar de denunciar a desonestidade de Dilma, Lula e do PT, historicamente”. Freire chamou de falsidade ideológica o discurso contra as privatizações apresentado na época das eleições.

Campanhas

Durante as campanhas eleitorais de 2006 e 2010, o PT amedrontou o eleitorado com a possibilidade de o PSDB privatizar várias estatais, entre elas a Petrobras. Dilma insinuava que os tucanos, se vitoriosos, iriam privatizar o pré-sal. Na verdade, o governo Lula já havia licitado, sem necessidade, vários blocos para a exploração da nova camada de prospecção. “É impressionante como Dilma praticou a desonestidade e o cinismo, dizendo uma coisa e fazendo outra”, disse Freire. Segundo o deputado, os petistas “nada fazem ou fazem aquilo que, na retórica, condenam, e essa decisão sobre os aeroportos é o desmascaramento total”.

A então candidata do PT dizia que o PSDB vendeu R$ 100 bilhões do patrimônio público. No entanto, durante do governo Lula, o deputado Ivan Valente (PSol-SP) apresentou projeto para reestatizar a Companhia Vale do Rio Doce, mas o relator José Guimarães, do PT, rejeitou a proposta.

No relatório, dizia Guimarães que “a privatização levou a Vale a efetuar investimentos numa escala nunca antes atingida pela empresa”. Assinalou ainda que o lucro da companhia subiu de US$ 500 milhões em 1996 para US$ 12 bilhões em 2006. Os empregos, afirmou o relator petista, passaram de 13 mil para 41 mil. A arrecadação tributária em 2005 foi de US$ 800 milhões ao câmbio da época, valor superior, em dólares, ao lucro da empresa antes da privatização. Ou seja: o PT avalizou a privatização da Vale.

FONTE: PORTAL DO PPS

BC indica que ciclo de alta do juro será mais longo

A ata da última reunião do Copom indica que o ciclo de alta da taxa básica de juros deverá durar mais do que se previa inicialmente. Essa é a interpretação majoritária dos analistas econômicos após a elevação da Selic em 0,25 ponto, para 12% ao ano. A avaliação é de que o documento devolveu à Selic o protagonismo no combate à inflação e ainda serviu para a BC mandar um recado ao governo: é preciso moderar os subsídios ao crédito.

BC indica continuidade da alta do juro

Para analistas, ata do Copom revela que o ciclo de alta da Selic vai se prolongar; BC recomenda moderação nos créditos públicos subsidiados

Fabio Graner

Para pôr a inflação de volta na meta em 2012, o ciclo de alta da taxa básica de juros (Selic) deverá durar mais do que se previa inicialmente. Pelo menos, foi essa a interpretação majoritária dos analistas econômicos sobre a ata da última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), que elevou a Selic em 0,25 ponto porcentual, para 12% ao ano.

A avaliação foi de que o documento devolveu à Selic o protagonismo no combate à inflação e ainda serviu para o BC mandar um recado ao governo: é preciso moderar os subsídios ao crédito, como os praticados pelos bancos públicos.

"O Copom entende, de forma unânime que, diante das incertezas quanto ao grau de persistência das pressões inflacionárias recentes, e da complexidade que envolve hoje o ambiente internacional, o ajuste total da taxa básica de juros deve ser, a partir desta reunião, suficientemente prolongado", afirmou a diretoria do BC. Foi a senha para analistas preverem pelo menos mais duas altas de 0,25 ponto, embora já haja previsões de até mais cinco elevações, sempre no ritmo estabelecido da semana passada.

O documento não se alongou em explicar a divisão do comitê na decisão (cinco diretores votaram em alta de 0,25 ponto e dois por 0,50 ponto). Apenas informou que o grupo majoritário defendeu um ajuste menos agressivo, levando em conta o esforço já feito de combate à inflação, que ainda levará algum tempo para impactar a economia, enquanto a ala derrotada entendia que o "balanço de riscos" para a inflação exigia um aperto maior.

De maneira geral, a ata expôs um BC em situação bem desconfortável com a inflação. As projeções para a alta dos preços, tanto para este ano como para 2012, pioraram nos dois cenários tradicionais (de referência, com juros e câmbio constantes, e de mercado, que levam em conta as projeções para essas duas variáveis), ficando acima de 4,5%. O cenário alternativo (que considera o cenário de mercado para juros, mas câmbio constante) projeta o IPCA "em torno" do centro da meta em 2012.

O Copom reconheceu que a atividade econômica está em moderação, embora siga com perspectivas "favoráveis". Apesar de prever moderação no ritmo do crédito, o BC cobrou do governo uma ajuda extra.

Para o ex-diretor do BC Carlos Thadeu de Freitas, o Copom voltou a dar sinais mais transparentes sobre o que pretende fazer para levar a inflação à meta. A avaliação dele é de que a Selic voltou a ser a "bala de prata".

O economista-chefe da Prosper Corretora, Eduardo Velho, avaliou que "a novidade é o reconhecimento da importância do ajuste da política monetária no curto prazo via aumento da Selic para atingir a meta central no próximo ano, e não propriamente o uso apenas das medidas macroprudenciais, com restrições nas área de crédito e compulsório, como os últimos discursos e comunicados pareciam apontar".

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO

Após mudança, Vale ajudará governo a salvar Belo Monte

Menos de um mês após ceder às pressões do Ministério da Fazenda e trocar seu presidente, a Vale anunciou ontem que entrará na construção e operação da usina hidrelétrica de Belo Monte, no Rio Xingu, a maior obra do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). A mineradora entra no Consórcio Norte Energia no lugar da Gaia, do frigorífico Bertin, que desistiu por enfrentar dificuldades financeiras. A Vale compra os 9% do negócio e vai reembolsar o Bertin em R$ 5 milhões já gastos. Além disso, injetará no consórcio entre US$ 400 milhões e US$ 500 milhões. A mineradora é uma das maiores consumidoras de energia elétrica no país e, com a entrada em Belo Monte, aumentará sua geração própria de energia de 45% do que consome para 63%.

Vale entrará em Belo Monte, como queria o governo

Empresa comprará os 9% que eram do Bertin na maior obra do PAC

Ramona Ordoñez

Menos de um mês depois de decidir pela substituição de Roger Agnelli por Murilo Ferreira em sua presidência por forte pressão do governo, a Vale anunciou ontem que participará como sócia do projeto de construção e operação da usina hidrelétrica de Belo Monte - o maior projeto do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) e considerado prioritário pela presidente Dilma Rousseff. A mineradora entra no Consórcio Norte Energia no lugar da Gaia, pertencente ao grupo Bertin, que detinha 9% do negócio e se retirou do empreendimento em meados de fevereiro por dificuldades econômicas. A Vale pagará ao Bertin em torno de R$5 milhões por gastos iniciais feitos no projeto e capitalizará o consórcio Norte Energia com um valor entre US$400 milhões e US$500 milhões.

Apesar de a troca no comando da Vale ter sido feita por influência política - Agnelli vinha desagradando ao governo Lula desde 2008, ao passo que Ferreira tem bom trânsito em Brasília - o diretor de Marketing, Vendas e Estratégia da Vale, José Carlos Martins, disse que a decisão de participar do projeto no rio Xingu, no Pará, foi exclusivamente tomada pela companhia, para atender a seus objetivos de aumentar a geração própria de energia para seus projetos. O executivo garantiu que a decisão não sofreu qualquer influência do governo federal.

- Sempre tivemos interesse no projeto, mas na época do leilão perdemos. Agora, surgiu essa oportunidade face às dificuldades do grupo (Bertin). A decisão está absolutamente dentro da estratégia da companhia de aumentar sua geração de energia renovável e limpa para atender seus projetos. Foi uma decisão econômica, não teve nenhuma ingerência política - afirmou.

O grande interesse pela fatia do Bertin - que chegou a ter oito interessados, entre eles EBX e Gerdau - deve-se ao fato de o grupo ser autoprodutor no projeto de Belo Monte. Esta condição permite que o sócio use parte da energia produzida para consumo próprio, o que explica o interesse da Vale, responsável por mais de 4% do consumo nacional. Os 9% na usina significam uma produção de energia suficiente para abastecer 1,6 milhão de residências durante um ano - quase metade dos consumidores da Light.

Com a entrada em Belo Monte, a Vale vai aumentar sua geração própria de energia, que atualmente é de 45% do total que consome, para 63%. O diretor Financeiro da Vale, Guilherme Cavalcante, explicou que os 9% do capital que serão adquiridos pela companhia vão representar o equivalente a 400 megawatts (MW) médios da energia total de Belo Monte, que terá uma capacidade total de 11 mil MW. O executivo explicou que a participação da Vale representa um investimento da ordem de R$2,3 bilhões. Todo o projeto tem custo estimado em R$25,8 bilhões - cerca de 75% serão financiados pelo BNDES.

- A participação da Vale em Belo Monte vai reafirmar o compromisso da companhia de diversificar seus investimentos, e vai garantir o fornecimento de energia para seus projetos. E o investimento tem retorno financeiro - destacou Cavalcante.

A entrada efetiva da Vale no empreendimento será concluída com o fechamento do acordo de acionistas com os demais participantes do Consórcio Norte Energia. O Bertin formou com a Chesf e a Andrade Gutierrez o pelotão de frente do consórcio montado pelo Palácio do Planalto que venceu, em abril de 2010, o leilão de Belo Monte. A usina ainda espera a Licença de Instalação (LI) do Ibama para iniciar as obras da maior hidrelétrica brasileira. A previsão é que o documento, maior preocupação do consórcio e principal entrave ao empreendimento, saia em maio, segundo o diretor de Relações Institucionais da Norte Energia, João Pimentel. A expectativa inicial era fim de abril. Boa parte da demora deve-se a condicionantes ligadas às comunidades indígenas. Segundo Pimentel, a Funai fez ainda mais exigências após o posicionamento da Comissão Interamericana de Direitos Humanos da Organização dos Estados Americanos, que solicitou ao Brasil a suspensão da construção da usina, tendo como base uma petição de cerca de 40 entidades que afirmam, entre outras coisas, que os indígenas não foram ouvidos.

Em 25 de fevereiro, em meio a especulações sobre a queda de Agnelli, a entrada da mineradora já era tida como uma possibilidade e considerada como tábua de salvação do executivo, já que a obra é prioritária para Dilma. Os problemas de Agnelli com o governo se intensificaram em 2008, quando a Vale anunciou a encomenda de 12 navios à China, por US$1,6 bilhão, num momento em que o governo trabalhava para o renascimento da indústria naval no país. Em dezembro do mesmo ano, no auge da crise financeira global, a Vale demitiu 1.300 empregados. O governo sequer foi notificado disso antecipadamente. Depois disso, ele fez mudanças no plano de investimentos da mineradora, dando prioridade, por exemplo, à construção de uma siderúrgica no Pará. Mas a medida foi considerada tímida. Também irritou o PT ao criticar publicamente a pressão por seu cargo, em pleno segundo turno da campanha presidencial.

Já a indicação de Ferreira, um ex-diretor da Vale e que assumirá o cargo em 22 de maio, agradou. De perfil técnico e com trânsito no governo, o executivo é visto com bons olhos por investidores e pelos acionistas privados, dos quais se aproximou ao longo dos 11 anos em que trabalhou na empresa. Também tem simpatia do governo, especialmente de Dilma, com quem teve contato direto quando ela era ministra de Minas e Energia.

FONTE: O GLOBO