segunda-feira, 11 de abril de 2011

BC mira crescimento e mercado vê ameaças

Com Tombini, banco reduz peso de juros para conter inflação. Em 2012, CNI diz que mínimo pode ter reajuste de 14%

Vivian Oswald e Martha Beck

BRASÍLIA. Nos seus três primeiros meses de atuação, o Banco Central (BC) da presidente Dilma Rousseff deixou claro que a equação para lidar com o velho fantasma da inflação agora é outra, e nela a manutenção do crescimento ocupa posição de destaque. Por isso, a autoridade monetária optou por uma estratégia mais gradualista do que o tradicional choque de juros com o qual mercado estava acostumado. A orientação resultou num inédito consenso entre BC e Ministério da Fazenda, que trabalham avalizados pelo Palácio do Planalto. Mas representa um caminho perigoso para muitos economistas e uma atitude "quase leniente" para quem opera o dia a dia do mercado e vive do sobe e desce dos índices. O setor produtivo, por sua vez, mostra apoio à nova forma de atuação.

O BC entende que o cenário hoje é muito diferente daquele de três décadas atrás, requerendo, por exemplo, atenção especial ao impacto que juros muito elevados podem ter sobre o câmbio. Por isso, até segunda ordem, vai atacar o problema com as chamadas medidas macroprudenciais, que, teoricamente têm impacto mais suave no resto da economia mas cumprem o papel de restringir a demanda.

- O governo está arriscando em não ter uma postura mais vigorosa com aumento de juros, que é mais eficiente (no combate à inflação). Está sendo quase leniente. Só não está sendo de fato porque diz que as medidas vão surtir efeito - diz o economista-chefe da Austin Rating, Alex Agostini, sintetizando a opinião média dos agentes econômicos.

Essa queda de braço travada com o mercado deteriora as expectativas para a inflação. O BC garante não ter abandonado o receituário ortodoxo dos juros. Mas já avisou que não abre mão de esperar os efeitos do pacote de ações adotadas nos últimos meses e sinais externos mais claros antes de calibrar os juros com maior intensidade. O recado do último Relatório de Inflação é que o preço de bater forte na Selic pode ser uma recessão e esse é um mal desnecessário.

- O risco de esperar é que as expectativas contaminem a inflação, gerem indexação - disse o estrategista-chefe do banco WestLB Brasil, Roberto Padovani.

Para alguns, mercado está legislando em causa própria

Mas há quem defenda o BC. Para o ex-diretor do BC e economista-chefe da Confederação Nacional do Comércio (CNC), Carlos Thadeu de Freitas, o mercado é mais ansioso, porque trabalha em cima de apostas e quer resultados rápidos. Vai continuar pedindo o que considera a "bala de prata" - os juros. Segundo ele, houve uma mudança no olhar do BC, que já não é mais atingir a meta no ano-calendário. Para o mercado, o BC está atrasado.

- Mas, do ponto de vista mais amplo, é ganhar tempo para evitar matar uma mosca com tiro de canhão, prejudicar o setor produtivo e limitar o crescimento da economia - diz.

No início do mês, o Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi) entregou ao ministro da Fazenda, Guido Mantega, carta apoiando a estratégia oficial. "Reconhece-se que o governo tem procurado, com razão, evitar aumentos mais pronunciados na taxa de juros para não prejudicar ainda mais a atividade econômica, o desequilíbrio das contas públicas e a valorização do real", diz o documento que pede controle de gastos, ações no câmbio e medidas para elevar a competitividade.

Mas a Confederação Nacional da Indústria (CNI) já está preocupada. O economista-chefe da entidade, Flavio Castelo Branco, diz que as medidas macroprudenciais são positivas mas têm impacto sobre o custo do dinheiro e afetam a produção:

- Talvez o horizonte do BC seja mais amplo que o normal. Em 2012, se espera uma pressão forte (sobre a inflação), de 14%, pelo reajuste do salário mínimo.

Para alguns analistas, o mercado está, na verdade, legislando em causa própria. Isso porque, a partir do momento em que não tem sinais de que os juros vão subir, não sabe como apostar:

- Antes, havia o sinal do BC, os operadores trabalhavam no mercado de futuros e os juros acabavam subindo antes mesmo de o Copom fazê-lo oficialmente. Agora, não podem apostar com tanta certeza, se apostarem em alta, tem que ser uma alta menor para não errarem - diz Freitas.

No governo, a avaliação é que o cenário exige alternativas.

- Nos anos 80, o Brasil sofreu com hiperinflação. Nos 90, conseguiu crescer ainda com inflação alta. Nos anos 2000, controlou a inflação. Agora, o desafio é mais difícil, é crescer de forma sustentada. Isso exige criatividade nas políticas - diz um técnico da equipe econômica.

- A inflação é mundial, não apenas brasileira. O combate não é trivial e é preciso saber que dose de remédio aplicar - diz outro membro do governo.

Preocupada com as críticas e feliz com a equipe, o principal objetivo de Dilma é passar pelas atuais turbulências preservando o crescimento. Essa é a mensagem que o comandante do BC, Alexandre Tombini, e Mantega foram orientados a passar em encontros com agentes do mercado e com empresários.

- Tombini foi o primeiro a falar que apenas elevar juros não iria resolver o problema da inflação e ainda pode agravar o quadro cambial, pois atrairia mais dólares ao país, visão compartilhada por Mantega - disse uma fonte do Planalto.

FONTE: O GLOBO

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