terça-feira, 5 de abril de 2011

A encruzilhada das ''crias'' de César Maia

Paes, Indio e Rodrigo Maia, que em 92 se uniram para eleger ex-prefeito, agora em lados opostos

Marcelo de Moraes

BRASÍLIA - Em 1992, Duda, Rodrigo e Antônio eram jovens típicos da zona sul e da Barra da Tijuca, quando se conheceram no Rio de Janeiro. Estudantes, começavam a se interessar por política. Duda estudava direito na PUC e tinha se aproximado das propostas ambientais do Partido Verde. Antônio, de importante família de arquitetos, aumentava seu gosto por políticas públicas. Já Rodrigo, nasceu e cresceu no Chile ouvindo as conversas de seu pai, no exílio forçado pela ditadura militar brasileira.

Duda, Rodrigo e Antônio se aproximaram em 1992 por conta da campanha de César Maia. Principal referência econômica do grupo liderado por Leonel Brizola que conquistou o poder no Rio, Maia tinha acabado de romper com o antigo líder. Trocou o PDT pelo PMDB e conseguiu se eleger prefeito, batendo favoritos como a petista Benedita da Silva e a pedetista Cidinha Campos, que tinha o apoio de Brizola, então governador do Estado.

Duda, Rodrigo e Antônio tiveram papel fundamental nessa campanha ajudando na mobilização de rua, especialmente entre os eleitores mais jovens. No próximo ano, duas décadas depois da entrada dos três na vida política, um ciclo se completará e deverá colocar em lados opostos os antigos companheiros.

Mal se falam. Duda agora é o prefeito do Rio, Eduardo Paes. Está no PMDB e é favorito para se reeleger. Rodrigo Maia (DEM) cumpre seu quarto mandato como deputado federal e tentará repetir a vitória obtida pelo pai, 20 anos atrás. Depois de ser candidato a vice-presidente na chapa encabeçada pelo tucano José Serra, Antônio Indio da Costa anunciou ontem filiação ao PSD, do prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab, justamente para disputar a prefeitura e fortalecer o partido entre os cariocas.

As três crias políticas de César Maia devem lutar pelo controle da cidade, substituindo o vitorioso período de hegemonia liderado pelo ex-prefeito. Depois da vitória em 1992, César elegeu seu sucessor, Luiz Paulo Conde, em 1996, já que a legislação eleitoral ainda não permitia a reeleição. Rompido com Conde, Maia derrotou o antigo aliado em 2000 e foi reeleito em 2004. Foi Eduardo Paes quem conseguiu interromper esse domínio político em 2008, com o apoio do governador Sérgio Cabral (PMDB).

Além das trajetórias diferentes, os três antigos companheiros mal se falam. Rodrigo e Indio estão rompidos desde o processo de racha do Democratas, que colocou os dois em lados opostos e culminou com a desfiliação do ex-deputado. Aliado do governo Lula, quando entrou no PMDB, Eduardo se afastou naturalmente do antigo grupo. "Eduardo se aproximou da campanha porque dizia que era fã do César Maia e queria ajudar", conta Rodrigo. As memórias sobre Indio, que chegou a namorar Daniela, irmã gêmea de Rodrigo, são ainda mais curiosas. "Ele era DJ e imitava muito bem o Michael Jackson dançando", diz o ex-cunhado.

"Quando olho para trás, vejo que fiz muito nesses 20 anos. Mas quando olho para frente, vejo que ainda posso fazer muito mais", diz Indio da Costa, relator do projeto da Lei de Ficha Limpa na Câmara. O ex-deputado recorda que nem sequer acompanhava política quando se interessou por assistir a uma palestra que César Maia faria na Universidade Cândido Mendes, no Rio, onde estudava. "A palestra seria sobre a linha amarela, um tema que me interessava."

César Maia vê com orgulho o fato de três antigos seguidores terem se tornado protagonistas da cena política carioca. "Esse é um trabalho de formação que faço desde a UFF (Universidade Federal Fluminense) como professor, com grupo de estudantes. Trabalho que continuou depois aproveitando estagiários na Secretaria de Fazenda, depois como deputado federal e mais tarde como prefeito."

O ex-prefeito conta que ainda mantém sua escola de formação de quadros políticos. O fato de três dessas crias estarem em campos opostos é comemorado por ele. "Buscar caminhos diferentes só reforça o objetivo do trabalho: formar e desenvolver iniciativas e independência de cada um."

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO

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