sexta-feira, 1 de abril de 2011

Interferência política torna FGTS-Vale a pior aplicação

Investidores que aplicaram no FGTS-Vale foram os que mais sofreram com o conturbado processo de substituição do comando da Vale nas últimas semanas. O Bradesco, maior acionista privado da companhia, cedeu ao governo e aceitou tirar Roger Agnelli da presidência da mineradora. O resultado é que o FGTS-Vale perdeu 6,8% no mês até o último dia 28. No ano, o recuo já é de 4,89%.

A melhor aplicação foi o FGTS-Petrobras, que rendeu 6,55% no ano. Ao todo, são 254 mil trabalhadores que investiram parte de seu FGTS em ações da Vale. Em março, os fundos de renda fixa foram a melhor aplicação do mês, com ganho de 0,88%. O ganho em relação à inflação, no entanto, foi pequeno. O IGP-M registrou alta de 0,62% em março, o que anulou o rendimento de 0,62% das cadernetas de poupança. Ontem à noite, pela primeira vez, a Vale se pronunciou sobre a saída de Agnelli e informou, por meio de nota ao mercado, que contratou uma empresa de recrutamento de recursos humanos para selecionar executivos. O objetivo é formar uma lista tríplice para ser submetida aos acionistas, que escolherão o novo presidente.

Perdas no FGTS-Vale

Ingerência política faz aplicação na empresa ter o pior resultado do mês: queda de 6,81%

Lucianne Carneiro

O conturbado processo de substituição do presidente da Vale, Roger Agnelli, no mês de março, foi decisivo para o desempenho das ações da companhia nas últimas semanas. O resultado é que os investidores que têm recursos do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) aplicados na empresa foram os que amargaram as maiores perdas em aplicações financeiras em março. A perda foi de 6,81% até o último dia 28, segundo dados da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiros e de Capitais (Anbima). Em 2011, o recuo é de 4,89%. A pressão do governo para trocar o comando da empresa tem despertado no mercado temores sobre a extensão da interferência política na condução dos negócios da Vale. Com isso, suas ações estiveram entre as que mais recuaram no Ibovespa no mês passado. Os papéis ordinários (ON, com direito a voto) caíram 5,24%, para R$53,35, enquanto os preferenciais (PNA, sem voto) tiveram queda de 4,46%, para R$47,39.

- Pelos fundamentos, era para as ações da Vale estarem voando (subindo). Os preços do minério de ferro estão lá em cima e a empresa divulgou um balanço excepcional. Mas a incerteza e o impacto de uma indicação política estão pesando sobre os papéis - afirma o sócio da M2 Investimentos, Bruno Lembi.

Mais de quatro milhões de investidores da companhia têm sido afetados. Na conta estão 471 mil acionistas, além dos 254 mil trabalhadores que investiram parte de seu FGTS em ações da mineradora. O cálculo inclui ainda 3,5 milhões de beneficiários de fundos de pensão que têm investimentos em papéis da Vale.

FGTS-Petrobras é a aplicação do ano

Na última sexta-feira, o Bradesco cedeu à pressão do governo e decidiu apoiar a saída de Agnelli da presidência da Vale, após reunião com o ministro da Fazenda, Guido Mantega, e o presidente da Previ, Ricardo Flores, como informou o colunista Ancelmo Gois. A expectativa é de que as ações da Vale continuem voláteis, até que seja definido o nome do substituto de Agnelli. O assunto seria tratado em reunião do Conselho de Administração da empresa ontem, mas o encontro terminou sem uma posição oficial.

Se os investidores de Vale estão sofrendo, quem investiu no FGTS-Petrobras tem o que comemorar no ano. O rendimento em 2011, até dia 28, é o maior entre as aplicações financeiras, de 6,55%, embora tenha sido de apenas 0,07% em março.

Os fundos de renda fixa foram a melhor aplicação do mês passado, após render 0,88%. Isso ocorreu porque a expectativa do mercado para as taxas de juros no futuro foi reduzindo ao longo do mês.

- Com a mudança da postura do Banco Central, de apostar mais em medidas macroprudenciais que nos juros para conter a inflação, a curva de juros futuros foi reduzindo - explica o tesoureiro do Banco Modal, Luiz Eduardo Portella.

Os fundos DI (pós-fixados) foram a segunda melhor aplicação de março, com rendimento de 0,80%, seguidos pelos multimercados multiestratégia (que podem investir em renda fixa, variável ou câmbio), com ganho de 0,79%, pelos dados até o dia 28.

A inflação elevada, no entanto, continua corroendo parte dos ganhos do investidor. O IGP-M registrou alta de 0,62% em março, o que praticamente anula o ganho de 0,62% das cadernetas de poupança com aniversário em 1º de abril. No ano, a poupança rendeu 1,76%, frente a uma inflação acumulada pelo IGP-M de 2,43%.

Os fundos de ações indexados ao Ibovespa amargaram perda de 0,35% até o dia 28, mas tendem a fechar o mês no território positivo, já que os últimos dias foram de ganhos para a Bolsa. O Ibovespa encerrou março com alta de 1,79%, embora ainda registre queda de 1,04% no ano.

- A Bovespa deu uma recuperada nos últimos dias, mas continua indefinida. Ainda não vejo muita força na recuperação - diz o administrador de investimentos Fabio Colombo.

Já os fundos cambiais (que consideram as aplicações em euro e dólar) renderam 0,30% em março. A moeda americana perdeu 1,92% e encerrou o mês cotada a R$1,631.

Ontem, a Bolsa de Valores de São Paulo subiu pelo terceiro dia seguido. O Ibovespa, referência do mercado, avançou 0,87%, a 68.586 pontos, maior nível desde 26 de janeiro. O desempenho foi puxado pelo setor bancário.

Colaborou Danielle Nogueira

FONTE: O GLOBO

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