sexta-feira, 22 de abril de 2011

Juros: analistas esperam aperto maior

Para economistas, ajuste gradual é insuficiente; dose terá de ser mais alta no fim do ano

Vivian Oswald

BRASÍLIA. A decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) de aumentar a Taxa Selic para 12% ao ano - com o incremento de 0,25 ponto percentual na noite de quarta-feira - reforçou as dúvidas que pairam sobre o cenário econômico e já leva analistas a acreditarem que os juros terão de subir mais do que se imaginava este ano. Pela média das previsões coletadas pelo boletim semanal Focus, o mercado esperava Selic de 12,25% em dezembro, mas já há quem projete até 13%. Caso contrário, será postergada novamente a convergência ao centro da meta de inflação, de 4,5% pelo IPCA, prometida pelo BC para 2012.

No comunicado após a reunião, os diretores da instituição informaram que as condições atuais de inflação, aliadas à incerteza nos cenários doméstico e internacional, demandam um ciclo de subida dos juros mais longo. Como há aparente contradição com as sinalizações do BC até agora, para alguns analistas isso significa que o aperto monetário não só continuará no Copom em junho, com nova alta de 0,25, como deverá se estender pelo segundo semestre.

Economista aposta em mais medidas macroprudenciais

Para a maioria dos analistas, esta atuação "moderada, prolongada e persistente", como definiu a equipe econômica após a reunião, não será suficiente para conter a inflação e poderá levar à necessidade de uma dose muito maior de juros até o fim do ano.

- Se o BC não estiver certo, terá de reagir, e a reação terá de ser uma subida forte dos juros. O BC pode agir antes ou depois. Mas, se agir depois, o remédio será mais amargo. A instituição está assumindo riscos que não se vê normalmente em BCs, que são, por natureza, conservadores - disse o sócio da consultoria Tendências e ex-ministro da Fazenda Maílson da Nóbrega.

Ele alerta ainda que os custos serão disseminados:

- Se não estiver certo, o BC, o governo e a sociedade vão pagar preços altos. O BC terá posto em risco a sua credibilidade, o governo, a popularidade, e a sociedade, a renda e a piora do ambiente do negócios.

O mercado aposta em um comunicado mais firme na semana que vem, quando será divulgada a ata da reunião do Copom que deixou em evidência que nem os donos dos assentos do comitê estão convictos do rumo adotado. A diretoria votou rachada: cinco defesas de uma alta de 0,25 e duas de meio ponto.

"O desafio é a comunicação", diz o coordenador de Análises Econômicas da Fundação Getulio Vargas, Salomão Quadros:

- Ações comunicam mais do que palavras. Há rituais.

Eduardo Velho, economista-chefe da Prosper Corretora, acredita que o BC irá adotar medidas macroprudenciais nos próximos meses. Entre as opções, não descarta novo aumento do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF), do compulsório bancário e até restrição no número de parcelas em financiamentos:

- Elevar os juros em doses menores pode ser uma aposta arriscada, porque corre o risco de não vislumbrar uma redução da inflação para 2012.

Ex-ministro diz que mercado também pode estar errado

Maílson alerta que o BC não pode cair na tentação de achar que o pessimismo do mercado seja um estratagema para forçar juros mais altos e ganhar mais:

- O mercado não tem poder, não tem tanque nem tropa. Sabe fazer análises. Erra. Pode estar errado agora. Estou torcendo para o BC estar certo.

Colaborou: Bruno Rosa

FONTE: O GLOBO

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