segunda-feira, 16 de maio de 2011

Cresce pressão aliada por cargos

Partidos da base estão insatisfeitos com resistência de Dilma em fazer nomeações

Maria Lima e Gerson Camarotti

BRASÍLIA - Com o argumento de que é um governo de continuidade e que os partidos da base são os mesmos, a presidente Dilma Rousseff tem levado os dirigentes partidários de sua aliança à loucura ao resistir em fazer nomeações para cargos federais. Depois de quase seis meses de mandato, os aliados, cada um com uma lista interminável de cargos na mão, alegam que não há mais desculpa para não atender às demandas por milhares de cargos de segundo, terceiro e até quarto escalões em aberto nos estados. A lista mais conhecida, já nas mãos da presidente, é a do próprio PT, com mais de 120 cargos que os petistas pretendem ocupar. Os partidos, de fato, são os mesmos, mas, com a eleição do ano passado, houve mudanças na correlação de forças de líderes regionais. Os que ascenderam não se conformam em não poder nomear os seus. E os fortes que ficaram sem mandato também querem manter seus apadrinhados e garantir espaço para eles próprios. Mas Dilma anda resistindo e avisou que não vai aceitar ser pressionada. Pretende dar um freio no apetite dos aliados. Em frente ao Palácio do Planalto, nos salões e plenários do Congresso Nacional, o recado também já foi dado: a situação da base governista no Congresso não anda muito satisfatória para a presidente continuar freando as nomeações e desagradando aos aliados.

Mau resultado no 1o - teste de Dilma

O resultado catastrófico do primeiro grande teste de Dilma em uma votação importante, ado polêmico Código Florestal, foi uma prova disso. Há ameaças até mesmo do presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), de desobedecer a orientação do governo e incluir na pauta do Congresso a votação do veto do ex-presidente Lula àdistribuição dos royalties do petróleo entre todos os estados. Sarney, entre outras insatisfações, teria ficado inconformado com o rebaixamento de José Antonio Muniz, deslocado da presidência da Eletrobras para uma diretoria da estatal. Parlamentares da base passaram a ser avisados pelo ministro da Casa Civil, Antonio Palocci , de que não adianta ficar cobrando a nomeação para cargos, porque as demandas já estão apresentadas e agora é preciso esperar o tempo da presidente. Dilma não gostou nada da afirmação pública do novo presidente do PT, Rui Falcão, de que o partido entregou uma lista com 120 cargos. Segundo ministros, ela não esperava esse tipo de pressão pública do próprio PT. Isso porque reabre a disputa entre aliados e aumenta as insatisfações. Ela nem recebeu o novo presidente do PT até agora. Quando passou ocargo de presidente da sigla para Falcão, José Eduardo Dutra lhe repassou uma lista com pedidos de nomeação para secretarias, delegacias esuperintendências de estatais e dos ministérios nos estados.

PT apresentou uma lista de desalojados

Com a licença médica de Dutra, coube ao secretário de Organização do PT,Paulo Frateschi, coordenar uma comissão que fez um levantamento de todos os quadros do PT que estão desalojados, e esses nomes estão sendo encaixados nos cargos pretendidos: aex-governadora do Pará Ana Júlia Carepa, aex-senadora Fátima Cleide, o ex-ministro Patrus Ananias e outros nomes de maior expressão do partido. Nesta relação, Ana Júlia pode ir tanto para a presidência do Basa (Banco da Amazônia) como para diretorias da Chesf (Companhia Hidrelétrica do Rio São Francisco) ou para a superintendência do Incra em Rondônia. “Toda vez que alguém pede um desses cargos, tem de saber que esse é um governo de continuidade e dá trabalho tirar quem está lá para substituir. Se tem alguém fora do quadro técnico, é porque alguém colocou lá. E, se for tirado, esse alguém vai aparecer”, pondera um dos negociadores do governo.

Os principais cargos do segundo escalão já foram ocupados, mas são muitos os de outros níveis de governo ainda sem solução.

—Agora que foi definido o segundo escalão, vai ser mais fácil mexer nos outros cargos. Não tem sentido ter escolhido o diretor da Funasa e não escolher as delegacias (nos estados) — afirma o secretário nacional de Comunicação do PT, deputado André Vargas (PT-PR). Presidente de honra do PT no Pará, o ex-deputado Paulo Rocha disse ainda aguardar que Dilma indique uma pessoa do governo para resolver os cargos no seu estado:

—Aqui no Pará não resolveram absolutamente nada. A promessa é de começar a processar nos próximos oito dias, para distensionar essa situação.

No PMDB, pleitos de quem não se elegeu

Depois do PT, as maiores reclamações são dos peemedebistas. Ainda durante a transição, os negociadores do PMDB, entre eles o vice-presidente Michel Temer, repassaram a lista de pleitos a Palocci e Dilma. No PMDB, há uma infinidade de pleitos. Há os reprovados nas urnas ano passado, como Hélio Costa (MG), José Maranhão (PB) e Iris Rezende (GO), além de cargos nas representações dos ministérios e estatais nos estados.

— Ainda na transição, foi entregue ao governo uma lista com os pleitos do partido. Da parte do PMDB, muito pouca coisa aconteceu — confirma o ex-deputado Elizeu Padilha, um dos assessores especiais de Temer. Outro peemedebista do Congresso desabafa:

— Dilma não gosta de discutir isso, quer manter a composição antiga para não fazer barulho. E Palocci é muito lento. Há descontentamento também nos partidos menores, como oPC-doB. Os comunistas reclamam até hoje da dificuldade de arrumar alguma vaga no governo para o ex-depu-tado Flávio Dino, que foi sacrificado no Maranhão por causa do apoio de Dilma e Lula à reeleição da governadora Roseana Sarney.

— Qual a dificuldade de acomodar uma pessoa com a competência de Flávio Dino no governo? Por que oSarney não quer? Como assim? O Palocci mantém uma linha de espatifar a base e cuidar de fortalecer o nicho dele, que é o PT —afirma a deputada Perpétua Almeida (PCdoB-AC), resumindo o clima de insatisfação no histórico aliado do PT. ■

OS SEM EMPREGO

ANA JÚLIA CAREPA (PT)

Ex-governadora do Pará, perdeu a disputa pela reeleição para o tucano Simão Jatene

IRIS REZENDE (PMDB)

Ex-prefeito de Goiânia, perdeu a eleição para o governo de Goiás para o tucano Marconi Perillo

JOSÉ MARANHÃO (PMDB)

Ex-governador da Paraíba, não conseguiu se reeleger . Perdeu para Ricardo Coutinho (PSB)

PATRUS ANANIAS (PT)

Ex-ministro do Desenvolvimento Social, perdeu em Minas como vice na chapa de Hélio Costa

HÉLIO COSTA (PMDB)

Ex-ministro das Comunicações, perdeu o governo de Minas para o tucano Antônio Anastasia

FLÁVIO DINO (PCdoB)

Ex-deputado federal, perdeu a eleição para o governo do Maranhão para Roseana Sarney

FÁTIMA CLEIDE (PT)

Ex-senadora por Rondônia, não conseguiu se reeleger nas eleições de 2010

FONTE: O GLOBO

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