quarta-feira, 25 de maio de 2011

Na esteira da operação abafa, governo acusa PSDB de vazar dados de Palocci

Vera Rosa

BRASÍLIA - Na tentativa de reverter o desgaste provocado pela crise política que ameaça o ministro da Casa Civil, Antonio Palocci, o governo decidiu apontar o dedo para o PSDB. Em estratégia combinada com a presidente Dilma Rousseff e com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o chefe da Secretaria-Geral da Presidência, Gilberto Carvalho, acusou ontem a Secretaria de Finanças de São Paulo de violar o sigilo fiscal de Palocci.

"Temos informações de que dados do Imposto sobre Serviço (ISS) da empresa de Palocci vazaram na Secretaria de Finanças da Prefeitura", afirmou Carvalho ao Estado.

Na tática para desviar o foco da crise e transferir para o colo do PSDB o rumoroso escândalo, que tem como epicentro a evolução patrimonial de Palocci nos últimos quatro anos, o discurso do governo, agora, é o de que o faturamento de R$ 20 milhões da empresa de consultoria Projeto, do ministro da Casa Civil, só poderia ser obtido por meio de arapongagem na Prefeitura.

Lula adotou o mesmo tom ao almoçar, ontem, com senadores do PT. "Quem acusa tem de provar", disse o ex-presidente, dando a senha de como deve ser a reação petista. Mesmo sem citarem em público o nome do secretário de Finanças, Mauro Ricardo Costa, auxiliares de Dilma fazem questão de lembrar, nos bastidores do Planalto, que ele é homem da confiança do ex-governador José Serra (PSDB). Mauro Ricardo foi secretário da Fazenda quando Serra era governador.

Na semana passada, o presidente do PT, Rui Falcão, conversou com o prefeito Gilberto Kassab (ex-DEM) sobre a suspeita de quebra do sigilo fiscal da Projeto. Antes disso, um emissário de Palocci também telefonou para Kassab e o alertou sobre os riscos de vazamentos dos valores de tributos municipais recolhidos pela Projeto, entre 2006 e 2010. A informação daria um "cálculo aproximado" sobre o faturamento da empresa. Kassab escalou assessores para acompanhar o caso. O prefeito, que deixou o DEM para fundar o PSD, tem boa interlocução com o governo Dilma e o novo partido pode vir a integrar a base aliada.

Em nota, a Secretaria de Finanças informou que "todos os acessos ao ambiente da empresa Projeto no sistema da Nota Fiscal Eletrônica de Serviços, no período de 1.º de janeiro de 2010 a 17 de maio de 2011, foram realizados pela própria empresa ou por servidores, de forma motivada para realização de procedimentos demandados pelo próprio contribuinte (retificação de lançamento e pagamento de tributo)". A Prefeitura também disse lamentar que as afirmações do secretário-geral da Presidência tenham sido feitas "sem a correspondente comprovação dos fatos".

Mérito. Sem entrar no mérito das denúncias contra Palocci, Carvalho fez ontem uma analogia entre a situação atual e a da campanha do ano passado, quando amigos e parentes de Serra, então candidato do PSDB à Presidência, tiveram o sigilo fiscal violado. À época, surgiram denúncias de que arapongas contratados pela campanha de Dilma montaram dossiê contra Serra.

"Em 2010 houve a quebra de sigilo dos dados de familiares de Serra e o foco do noticiário foi a quebra de sigilo em si, e não o conteúdo", insistiu Carvalho. "Agora, com Palocci, a situação é inversa: é tudo para o conteúdo e nada para a quebra de sigilo." O Planalto alega que as acusações contra Palocci se resumem a "luta política" para atingir Dilma. Com base nesse argumento, o governo barra iniciativas da oposição para convocá-lo a prestar esclarecimentos ao Congresso. "Nessa luta não podemos baixar a cabeça. Temos de seguir trabalhando", comentou Carvalho.

Coordenador da campanha de Dilma, Palocci não revela os clientes da Projeto, o que motiva suspeitas de tráfico de influência. Segundo a Folha de S. Paulo, dos R$ 20 milhões faturados em 2010 pela Projeto, R$ 10 milhões entraram entre novembro e dezembro. A empresa não confirmou os valores, mas informou que o maior volume de recursos ocorreu por causa da quitação de contratos quando Palocci ingressou no governo.

PETISTAS X TUCANOS

Os escândalos e a troca de farpas

Waldomiro Diniz: Em 2004, gravação revela o funcionário da Casa Civil de Lula pedindo propina. PT acusa o PSDB de manipular o Ministério Público no caso.

Mensalão: O maior escândalo da Era Lula, em 2005, escancara a troca de acusações. Petistas argumentam que PSDB não têm provas da existência do esquema.

Caseiro: Em 2005, sigilo de Francenildo Costa é quebrado dentro da CEF, após suspeita de que o PSDB pagara o acusador de Palocci.

Fogo cruzado em 2010 e sob Dilma

Sigilos dos tucanos: A revelação de que dados fiscais da filha de José Serra, Verônica, e de outros tucanos foram acessados durante a campanha faz o então candidato do PSDB à Presidência acusar o bunker de Dilma de ter produzido dossiês. Lula desafia Serra a provar acusações.

Caso Palocci: Convencido de que Serra está por trás da violação de dados da empresa de Palocci, Lula orienta PT a exigir explicações da Prefeitura, comandada por Kassab, que fica no fogo cruzado entre petistas e tucanos.

Erenice Guerra: A família da então ministra da Casa Civil é acusada de tráfico de influência. Tucanos cobram explicações

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO

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