quarta-feira, 25 de maio de 2011

Trator do governo volta a impedir ida de Palocci

Duas novas tentativas de convocar o ministro para explicar seu enriquecimento fracassam no Congresso

Isabel Braga e Adriana Vasconcelos

BRASÍLIA. A força da maioria governista venceu, novamente, a ação da oposição nas duas Casas do Congresso ontem. Em ação na Câmara e no Senado, a tropa de choque governista impediu a votação de requerimentos convocando o ministro Antonio Palocci (Casa Civil) para que explique o aumento substancial de seu patrimônio nos últimos quatro anos. No Senado, para evitar uma derrota acachapante, a oposição optou por retirar o requerimento da senadora Marinor Brito (PSOL-PA); a estratégia será reapresentá-lo em todas as 11 comissões permanentes da Casa. A oposição também não conseguiu avançar com a proposta de criação de uma CPI.

Na Câmara, pela segunda vez, os governistas evitaram a votação do requerimento na Comissão de Fiscalização Financeira e Controle. Semana passada, a estratégia foi sequer abrir a sessão, sob o argumento de que havia sessão plenária. Desta vez, a estratégia governista foi a de evitar quórum. Os deputados governistas até foram à comissão, mas não assinaram presença.

Da base aliada, o presidente da comissão, Sérgio Brito (PSC-BA), convocou nova sessão para a manhã de hoje. A oposição protestou contra as manobras governistas.

- Não permitiremos que nada seja votado (na comissão) enquanto os requerimentos não forem apreciados - disse o líder do DEM na Câmara, ACM Neto (BA).

Autor de um dos requerimentos de convocação, o deputado Vanderley Macris (PSDB-SP) também criticou:

- Mostra que o governo está absolutamente articulado na blindagem do ministro. Por que não explicar? Tem o que a esconder? Isso poderá comprometer ações dele no governo. Ele tem de se explicar ou se demitir.

Uma estratégia da oposição é esperar um "cochilo" dos governistas e tentar aprovar, no susto, a convocação de Palocci.

- Estou retirando o requerimento por estratégia. Não significa que desistimos de ouvir o ministro. Afinal, a Casa tem 11 comissões - disse Marinor.


O líder do PMDB, senador Renan Calheiros (AL), disse que preferia que o requerimento tivesse sido votado logo:

- Se votássemos, encerraríamos esta questão aqui na comissão. Está claro que o interesse da oposição é manter um palco político.


Em outra frente, os líderes de PSDB, DEM, PPS e PSOL iniciaram a coleta de assinaturas pela criação de uma CPI mista para investigar as suspeitas de tráfico de influência que pesam contra Palocci. As informações publicadas ontem no GLOBO de que o braço-direito do ministro da Casa Civil, Branislav Kontic, também mantém em atividade sua empresa de consultoria pode reforçar o pedido de CPI da oposição, para investigar se, eventualmente, ele exerceu a função de consultor enquanto era assessor de Palocci na Câmara.

- Já existe um conjunto de denúncias que tornam inevitável investigação completa: crescimento patrimonial, recebimento de recursos para entidades familiares, denúncia de que ex-assessor fez consultoria. O ministro tem esse conjunto de denúncias contra si, não pode continuar em silêncio - cobrou ACM Neto

A oposição admite a dificuldade com o "trator governista".

- Vamos buscar na base governista as assinaturas necessárias, pois sozinhos não temos o número necessário - disse o líder do PSDB no Senado, Álvaro Dias (PR).

Embora considere que uma CPI mista tem mais chances de mobilizar o Congresso e até a sociedade, o líder tucano na Câmara Duarte Nogueira (SP) disse:

- Se a gente não conseguir na Câmara, poderemos aceitar uma CPI só do Senado.

Em nova representação ao Ministério Público, ontem, a oposição solicitou investigação de emenda ao orçamento apresentada por Palocci em 2008, quando deputado federal. A emenda destinava R$250 mil à Fundação Feira do Livro de Ribeirão Preto, que tinha como vice-presidente uma cunhada de Palocci. Segundo o documento, a cunhada está no cargo até hoje.

FONTE: O GLOBO

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