terça-feira, 31 de maio de 2011

PMDB cobra mais poder de decisão no governo Dilma

O PMDB quer a retomada das nomeações para o segundo escalão e a presença do vice-presidente da República, Michel Temer, no centro das decisões do governo.

A presidente Dilma foi aconselhada por aliados a fazer concessões para tentar contornar a crise provocada pelo enfraquecimento de Antonio Palocci.

Aliados cobram mais poder de decisão no governo Dilma

Com Palocci enfraquecido, Michel Temer quer maior participação e cargos

Além de Lula, ministros aconselham presidente a fazer concessões a aliado e tratar melhor o vice para conter crise

Natuza Nery, Ana Flore e Márcio Falcão

BRASÍLIA - Aliados de diferentes partidos aconselharam a presidente Dilma Rousseff a trazer o vice-presidente Michel Temer (PMDB) para o centro das decisões do governo e retomar discussões com os peemedebistas sobre cargos no segundo escalão.

Essa seria, segundo visão predominante, a melhor forma de tentar contornar a crise aberta com o enfraquecimento do ministro da Casa Civil, Antonio Palocci.

A pressão por mudanças não vem só do PMDB, sócio preferencial da coalizão governista e o maior insatisfeito com a maneira como o governo dialoga com sua base.

Ministros e o próprio ex-presidente Lula aconselharam a petista a fazer mais concessões aos aliados e a tratar melhor seu vice.

Ontem, Dilma transmitiu o cargo a seu vice antes de viajar para o Uruguai. Uma foto oficial do encontro, tirada na base aérea, foi divulgada com o objetivo de desfazer a ideia de que PT e PMDB não se entendem.

Em entrevista à Folha no sábado, Temer disse que iria tirar uma "foto sorridente" com Dilma na base aérea.

O retrato divulgado pela Presidência mostra, porém, um encontro bem mais formal do que ele sugerira.

Palocci perdeu força como o principal articulador político do governo depois que a Folha revelou que ele enriqueceu fazendo negócios como consultor nos quatro anos em que também exerceu o mandato de deputado e quando chefiou a campanha de Dilma à Presidência.

A crise fez o governo sofrer uma derrota séria na semana passada, na votação do novo Código Florestal, que levou PT e PMDB para lados opostos na Câmara.

Uma discussão sobre a votação entre Temer e Palocci revelou que a crise em curso tem feições mais dramáticas do que se supunha. Na conversa, com testemunhas, não faltaram troca de ofensas e até uso de palavrões.

Em reunião para discutir os conflitos agrários no país, Temer afirmou ontem que os atritos com Palocci "ficaram no passado". O presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), disse mais tarde que na democracia é "preciso harmonizar conflitos".

Por sugestão do ministro Gilberto Carvalho, da Secretaria-Geral da Presidência, Temer foi escolhido para chefiar o grupo interministerial criado para administrar conflitos no campo.

Desde a posse de Dilma, Temer tem participado das reuniões da coordenação, mas raramente conversa com a presidente a sós. Ele não consegue contratar um assessor sem precisar do aval de Palocci, gerente da Esplanada dos Ministérios.

Durante viagem de Dilma à China, em abril, Temer reuniu ambientalistas e ruralistas para discutir o projeto do novo Código Florestal. Depois do regresso da presidente, o vice nunca mais foi chamado para debater o tema.

Antes de ser vice, Temer foi três vezes presidente da Câmara, justamente o palco da derrota na votação do projeto. É também vice-presidente licenciado do PMDB, legenda em que a bancada ruralista é muito influente.

A presidente promete fazer nos próximos dias gestos para afagar seu vice e o PMDB. Amanhã, ambos receberão em almoço os senadores da bancada. Ontem à noite foi a vez do próprio Temer se reunir com a bancada peemedebista da Casa.

FONTE: FOLHA DE S. PAULO

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