terça-feira, 31 de maio de 2011

Reconciliação chapa-branca

Após as ameaças do ministro Palocci ao vice-presidente Temer, que estremeceram as relações entre a presidente Dilma e o vice, os dois se reencontraram, na Base Aérea de Brasília. Mas a fotografia oficial, feita pelo Palácio à medida para a ocasião, não disfarçou o mal-estar, que continua.

Dilma e Temer se reconciliam em foto oficial

CRISE NO GOVERNO

Mal-estar era visível até no silêncio dos dois, na passagem do cargo na Base Aérea; vice reuniu PMDB sobre crise

Adriana Vasconcelos e Chico de Gois

BRASÍLIA. Era para ser a imagem pública da conciliação e da prova de que o mal-estar da semana passada entre a presidente Dilma Rousseff e o vice, Michel Temer, havia ficado para trás. Mas o clima passado pelas imagens oficiais e pelo silêncio de ambos não era de entusiasmo. Antes de embarcar para o Uruguai, Dilma passou o cargo para Temer, na Base Aérea de Brasília, posando para uma foto formal, com tapinhas nas costas. Só o fotógrafo da Presidência pôde registrar a cena, e apenas uma foto foi divulgada. À noite, Temer recebeu para jantar no Palácio do Jaburu os senadores do PMDB, que levaram queixas e sugestões sobre a articulação política do governo.

Na Base Aérea, Dilma pediu que o vice fosse à reunião convocada pelo ministro da Secretaria-Geral, Gilberto Carvalho, para discutir a violência no campo. No encontro, Temer comentou que estava superado o episódio da semana passada, quando ele, a presidente e o ministro Antonio Palocci (Casa Civil) se desentenderam em meio à polêmica negociação que antecedeu a aprovação do Código Florestal, que derrotou o governo.

Hoje, Dilma e Temer devem ter uma conversa mais longa. O jantar de ontem do vice foi uma prévia do almoço que a presidente terá amanhã com a bancada do PMDB no Senado.

O desentendimento em torno do Código reforça as queixas dos senadores do PMDB em relação à articulação política do governo. A avaliação é que o modelo precisa urgentemente ser alterado, sobretudo diante da fragilização de Palocci. Mas, ao contrário do que defendem até alguns petistas, o PMDB não pedirá a substituição do ministro Luiz Sérgio (Relações Institucionais).

- A gente não pode reclamar do ministro (Luiz Sérgio) porque não foi dada autonomia a ele. É preciso que ele trabalhe de forma articulada com a Casa Civil - disse ontem o presidente em exercício do PMDB, senador Valdir Raupp (RO).

Mesmo minimizando a briga entre Temer e Dilma, o presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), deixou escapar que o partido identifica o ex-presidente Lula como o principal fiador da aliança com o PT.

- Essa aliança é sólida, foi feita pelo presidente Lula, ele foi o avalizador da aliança, o aproximador. Nós, no PMDB, o consideramos um aliado - afirmou Sarney, sugerindo que Lula poderá estar mais presente na interlocução política. - A presença do presidente Lula na política é coisa da sua liderança, não coisa ocasional de governo.

Os senadores do PMDB avisariam a Temer, ontem à noite, da decisão de aprovar em plenário o acordo negociado em torno do substitutivo do senador Aécio Neves (PSDB-MG) sobre a proposta que altera a tramitação das medidas provisórias. O texto original era de Sarney, mas a proposta aprovada tenta inibir abusos do governo na edição de MPs, além de garantir mais tempo ao Senado para o debate.

Dilma reclamou do acordo em almoço com os senadores do PT, alegando que não fora consultada. Mas o líder do governo no Senado, Romero Jucá (PMDB-RR), garante que procurou o Planalto. Reservadamente, reclamou que não recebeu orientações sobre a pauta.

- Eu não falei com a presidente Dilma, mas falei com o Luiz Sérgio e a Casa Civil. O texto que ia ser votado era muito pior - disse Jucá.

Os senadores do PMDB tratariam com Temer da dificuldade na ocupação de cargos de segundo e terceiro escalões. O senador Jarbas Vasconcelos (PMDB-PE), de oposição, não irá ao almoço com Dilma. Outros independentes da bancada, porém, confirmaram presença.

- Este é um momento para selarmos a unidade e superarmos desentendimentos. O PMDB está consciente do seu papel na governabilidade, e a semana será importante para melhorarmos a convivência. O PMDB quer colaborar. A nossa aliança sobreviveu a momentos difíceis e não deve se acabar agora - disse Renan Calheiros (AL).

FONTE: O GLOBO

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