quinta-feira, 9 de junho de 2011

Despedida de companheiro

Pela segunda vez, teve tom emocionado a despedida de Palocci de um governo petista. A presidente Dilma, com voz embargada, agradeceu ao "querido companheiro" e disse que "um amigo deixa o governo". Gleisi Hoffmann assumiu a Casa Civil rejeitando a alcunha de "trator" que ganhou no Congresso. O PMDB reclamou de não ter side ouvido

Dilma se despede do "amigo" Palocci

Presidente se emociona ao falar do agora ex-ministro na posse de Gleisi na Casa Civil

Chico de Gois e Luiza Damé

Emocionada, a presidente Dilma Rousseff se despediu ontem de Antonio Palocci, um dos coordenadores de sua campanha vitoriosa e que deixou a Casa Civil anteontem, após perder as condições de continuar no cargo diante das suspeitas de tráfico de influência. Na posse da senadora Gleisi Hoffmann (PT-PR) no lugar de Palocci, o clima era de lamento, sobretudo por parte de Dilma, que, com voz embargada, agradeceu, "do fundo do coração", o que o ex-colaborador fez por ela e pelo governo.

Palocci foi o responsável pela pior crise enfrentada até agora por Dilma, mas foi aplaudido de pé na cerimônia. A presidente fez questão de chamar o ex-ministro de "querido companheiro" e "amigo". A ministra que tomou posse destacou que a presidente é um exemplo para ela e disse esperar agir da mesma forma que Dilma.

A presidente disse que se sentia triste pela saída de Palocci e enumerou os motivos para lamentar a demissão do ex-ministro: de ordem política, administrativa e pessoal. Ela lembrou que ele, juntamente com o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, e o ex-presidente do PT José Eduardo Dutra foram os responsáveis pela coordenação de sua vitoriosa campanha, e que, em sua opinião, Palocci sabe dialogar.

Numa mensagem à oposição, a quem o governo culpa indiretamente pela queda do ex-todo-poderoso ministro, Dilma observou que o enfrentamento é comum na democracia, mas disse que o governo não ficará paralisado por causa de disputas políticas.

- É do jogo democrático que enfrentemos a oposição, quase sempre ruidosa, nem sempre justa. A pressão e as críticas são da regra democrática. Mas não vão inibir as ações do meu governo. Jamais ficaremos paralisados diante de embates políticos. Sabemos travar o debate e, ao mesmo tempo, governar - discursou Dilma, respondendo aos que acusavam o Planalto de estar paralisado por causa da crise envolvendo Palocci. - Temos promessas a cumprir e vamos cumpri-las. Temos programas a executar e vamos executá-los.

Dilma começou o discurso dizendo estar triste com a saída de Palocci

- Eu estaria mentindo se dissesse que não estou triste. Tenho muitos motivos para lamentar a saída do ministro Antonio Palocci - declarou, lembrando que o ex-colaborador foi um dos artífices de sua vitória e da montagem da coligação que a elegeu. - Suas ideias, sua capacidade de articulação política e sua liderança ajudaram o governo e a mim. Agradeço, do fundo do coração, ao meu amigo Antonio Palocci por tudo o que ele fez pelo governo, por mim e pelo Brasil - discursou, emocionada.

Gleisi: "Quero agir como a presidente"

O Salão Oeste do Planalto foi pequeno para acomodar parlamentares, ministros, empresários e assessores que foram se despedir de Palocci e prestigiar Gleisi. Em algumas rodinhas, parlamentares discutiam o futuro do ministro de Relações Institucionais, Luiz Sérgio, que tem o cargo ameaçado.

Ao mesmo tempo em que lamentou a saída de Palocci, Dilma afirmou que estava satisfeita com a solução que encontrou para a Casa Civil. A presidente, que chamou a ministra de amiga, sugeriu que sua nova auxiliar se prepare bem porque, segundo Dilma, os compromissos do governo são ousados.

Gleisi foi só elogios à chefe e a Palocci, de quem destacou a capacidade de trabalhar na construção de consensos. Ela lembrou que vai trabalhar com a primeira mulher eleita presidente.

- Quero agir como a presidente, porque ela age da maneira certa, com clareza, razão e sentido público, sempre em defesa do Brasil - disse. - A presidente é um exemplo para mim e para as mulheres do nosso país, e meu objetivo aqui e agora é realizar um trabalho de futuro e de esperança, como o que vem sendo realizado pela presidente Dilma e pelo vice-presidente Michel Temer.

Gleisi deixou claro que sua função será fazer a coordenação, a gestão e o controle dos programas de governo distribuídos pelos diversos ministérios. Ela também lembrou da importância do Congresso, ao qual manifestou "apreço".

- Sou parte da força política do Parlamento. Rendo minha homenagem ao Poder Legislativo como força essencial da democracia - disse. - A exemplo da presidente Dilma, acredito que a política dá sentido à técnica, e a técnica qualifica a política.

O mundo político do Paraná baixou em peso no Planalto para a concorrida posse da substituta de Palocci, inclusive o governador tucano Beto Richa (PSDB), citado pela ministra Gleisi em seu discurso.

Dilma mostrou grande desconforto ao comandar a solenidade de queda do seu ministro mais forte. Entrou no salão com semblante carregado e não foi vista sorrindo na solenidade.

Com os braços pendidos sobre o colo e a cabeça meio reclinada em sinal de resignação, em poucos momentos Dilma foi vista comentando algo com Temer, sentado ao seu lado. Não trocou conversa com o presidente do Senado, José Sarney, outro que estava ao seu lado na cerimônia.

Único integrante do trio que coordenou sua campanha ainda no governo, o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, manteve-se durante toda a solenidade em pé atrás do púlpito, perto de Palocci.

No início e no fim do discurso de Palocci, Dilma, Sarney e Temer fizeram questão de se levantar e aplaudi-lo de pé. A maior parte dos afagos, nos discursos, foi para Palocci. E para dar boas-vindas protocolares a Gleisi Hoffmann.

Palocci, na saída, deu um rápida entrevista e disse que vai embora sem mágoa:

- Tudo o que não levo daqui é mágoa. Alegrias? Levo muitas.

FONTE: O GLOBO

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