quarta-feira, 29 de junho de 2011

Dilma enfrenta sua base e não libera emendas

Apesar das ameaças de rebelião da base aliada no Congresso, a presidente Dilma avisou ontem a senadores que, em nome da austeridade fiscal, não prorrogará o prazo do decreto que libera R$ 4,6 bi de restos a pagar em emendas. Mas cobrou fidelidade da base

Dilma enfrenta a base, mesmo sob pressão, e defende austeridade fiscal

Apesar da ameaça de rebelião de aliados, presidente não prorroga emendas

Maria Lima, Gerson Camarotti e Isabel Braga

BRASÍLIA. Determinada a não ceder às ameaças de paralisação das votações, a presidente Dilma Rousseff resolveu enfrentar a anunciada rebelião de sua base. Num dia decisivo de votações, mandou a ministra de Relações Institucionais, Ideli Salvatti, levar duro recado ao Congresso: em nome de seu compromisso com a austeridade fiscal, não vai prorrogar o decreto de liberações de R$4,6 bilhões de restos a pagar de emendas de parlamentares, e quer fidelidade da base para aprovar medidas de interesse do governo.

Nos encontros com líderes e presidentes das duas Casas, Ideli ouviu ameaças de que a base pode fazer corpo mole e a chamada obstrução branca - ausência do plenário - para impedir a votação de medidas provisórias importantes que caducam nos próximos dias, caso o decreto não seja prorrogado. Ele vence amanhã, o que significa que emendas ao Orçamento de 2009 no montante de mais de R$4,5 bilhões caducam a partir de sexta-feira.

Durante um almoço com nove senadores de PSB, PDT e PCdoB no Alvorada, Dilma foi alertada sobre a rebelião na base por causa da não prorrogação do decreto, mas foi taxativa e disse que vai "enfrentar", porque, se flexibilizar agora, toda a credibilidade do governo em relação a cortes de gastos, ajuste fiscal e austeridade vai por água abaixo.

- Vou enfrentar essa rebelião! Não tenho outro caminho. O ajuste fiscal é um preceito fundamental para a credibilidade do governo, controle inflacionário e estabilidade econômica. Não abro mão disso, porque, se flexibilizar agora, será um péssimo sinal. A mensagem negativa de afrouxamento virá carregada do simbolismo de que o governo está abrindo mão do ajuste fiscal - respondeu Dilma, quando a senadora Vanessa Graziotin (PCdoB-AM) e outros senadores falaram sobre insatisfação e rebelião por causa do cancelamento das emendas.

No meio do almoço, Ideli chegou do Congresso, onde havia participado de reuniões pela manhã. Dilma quis saber o resultado das primeiras conversas e os entendimentos para a aprovação do Regime Diferenciado de Contratações Públicas para a Copa (RDC). Ideli pediu então cinco minutos de conversa reservada. Passados alguns minutos, Dilma voltou muito tensa e irritada para a reunião com os senadores, e desabafou:

- Estou me sentindo pressionada a tomar decisões que não devo tomar em beneficio dos interesses nacionais!

Um dos presentes perguntou:

- Pressionada por quem?

Dilma só apontou para Ideli, deixando claro que era pelo Parlamento. E reafirmou a disposição de comprar a briga, mas explicando que não estava indo para o confronto.

- Não se trata de um confronto com o Parlamento. Mas tenho um compromisso com o país e com a austeridade fiscal. Tivemos muito trabalho para conquistar isso e não podemos agora dar um sinal de fragilidade. Vamos zerar tudo (emendas velhas), e daqui para frente os parlamentares serão contemplados com emendas que serão aprovadas, efetivadas e pagas - prometeu Dilma.

FONTE: O GLOBO

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