sexta-feira, 3 de junho de 2011

PMDB, a fênix? :: Roberto Freire

A crise entre PMDB e PT é o sinal de que está emergindo das contradições da base aliada do governo um PMDB com certo grau de unidade, que está exigindo mais respeito.

Mostrou-o o líder do partido na Câmara, Henrique Eduardo Alves (RN), na votação do Código Florestal, na qual a emenda da legenda desagradou o governo. “Nós somos governo”, disse Alves, retrucando as críticas e censuras que se seguiram ao gesto perpetrado na estrondosa aprovação do texto da emenda.

Expressava a afirmação de que não só o PT é governo, coisa que não parece muito clara aos adeptos do lulo-petismo.

Tratado com desprezo nos dois governos de Lula -  que estava interessado apenas no número de votos que o partido lhe garantia no Congresso e no tempo de televisão - e também nesse comecinho da gestão Dilma, o PMDB está deixando de ser uma federação, um agrupamento de facções, para voltar a ser um partido de grande porte, que quer ser considerado como tal.

Isso entra em choque com o petismo, que, narcisista, vê apenas a si próprio como digno de respeito, que é incapaz de dispensar a outro partido o mesmo tratamento que deseja receber.

É claro que nem todos os peemedebistas integram esse processo de renascimento do partido. Existem - e não em pequeno número - aqueles que apenas se saciam nos governos aos quais o PMDB garante maioria no Congresso. Esses continuam velhos como suas práticas patrimonialistas e fisiológicas, agarrados a algum naco de poder disponível na máquina do oficialismo. Em outra ponta, há gente querendo mudar esse diapasão.

Não é à toa que o ex-presidente Lula foi parar no programa do PMDB.

É uma tentativa de acabar com a vontade de liberdade desse aliado que não é mais o mesmo, que não quer mais responder, automaticamente, ao comando do Palácio do Planalto, com um Palocci desmoralizado.

Principalmente quando ele veio ameaçando demitir os ministros do partido, caso os seus deputados não votassem com o governo no Código Florestal.

O PMDB que quer ser partido já rejeita arrastar o peso do enriquecimento recorde do ministro-chefe da Casa Civil. A banda fisiológica, que não se importa com a submissão a qualquer governo, prossegue defendendo o indefensável. Mas é interessante notar que uma parte do PMDB não se contenta em ser vaca de presépio. Esse PMDB reclama da falta de articulação da base, cujo líder na Câmara, Cândido Vaccarezza (SP), é um desnorteado, e também da insignificância do ministro das Relações Institucionais, Luiz Sérgio.

A crise com o PT promete novos episódios quando o Código Florestal passar pelo Senado, sofrer as alterações que o governo quer fazer, e voltar à Câmara. A posição dos peemedebistas está cravada e não deverá mudar.

Se o Planalto quiser evitar que ele entre em vigor, a presidente terá de arcar com o ônus do veto.

Esse casamento não está à beira de uma separação, certamente. O PMDB tem o governismo nas veias e o fisiologismo é seu forte. Ambos têm sede de aparelhamento do Estado no seu DNA. Não se desvencilharão tão facilmente.

E não é demais observar que, no campo das malfeitorias, o PT está ganhando do PMDB.

Roberto Freire é deputado federal e presidente do PPS

FONTE: BRASIL ECONÔMICO

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